Para responder a esta pergunta, é necessário examinar a questão do "observador e a coisa observada" — sendo "observador" não só a percepção visual, mas também o que está atrás dela: memória, pensamento, idiossincrasias, preconceitos, um estado condicionado. Ele é o censor, o experimentador, o juiz, o avaliador. Todo esse feixe de "memórias" constitui o observador. E esse observador está sempre a se modificar, a mudar; não é um observador estático, a não ser sob pressão, tensão, necessidade. Há sempre um processo modificador em ação dentro do próprio observador. E enquanto existir "observador", existirá "coisa observada" — o oposto.
Quando uma pessoa diz que sente cólera, ciúme, que é violenta — está existente o observador, a afirmar que a pessoa é violenta; a violência está separada do observador. O observador, portanto, separou-se daquilo a que chama "violência". Diz ele, então, "Tenho de dominá-la, de encontrar meios e modos de reprimir, de mudar, de sublimar esta qualidade, esta violência; mas o observador criou a violência; ele é que é violento, e não a coisa que observa como violência. Portanto, o observador é a coisa observada. Isto é, o observador separa-se da coisa observada e cria uma distancia entre si e aquilo a que observa. O experimentador, que exige experiência, com essa própria exigência separa-se da experiência e, desse modo, cria a ânsia, o desejo de mais experiência e, portanto, conflito. Ele, o experimentador, criou um espaço entre si e a coisa a que quer experimentar. Mas o experimentador é a coisa que quer experimentar. Assim, quando diz: "preciso mudar, percebo a necessidade de mudança", ele, o observador, o experimentador, o pensador projeta um padrão, uma ideia daquilo que deveria ser, e querendo tornar-se isso, cria o conflito, contradição, porque se separou da coisa que deseja observar. Pode esse observador existir sem movimento de espécie alguma? Porque todo movimento de sua parte, para efetuar uma mudança dentro de si mesmo, cria o oposto e ele se vê enredado no conflito do oposto. Mas o observador é a coisa observada e, ao perceber isso, que significa então mudança?
Espero que isso não esteja abstrato demais; veremos.
Vemos, pois, que a total inação é mudança radical. Inação total por parte do observador e, portanto, inexistência do observador. Se você se examinar, sem ser teoricamente, nem por meio das palavras do orador, se se observar realmente verá isso ocorrer em si mesmo. O padrão do oposto se fixou através de milênios bom e mau, Deus e Diabo, etc. etc. Esta luta constante entre o bom e o mau continua existente porque o observador é tanto o bom como o mau, e o cultivo do "bom" é cultivo do observador e não do "bom". Assim, se compreendemos isso, se o observamos em nós mesmos, verificamos que só é possível a mudança quando não há nenhum movimento por parte do observador. Por conseguinte, a inação total é revolução total.
Jiddu krishnamurti — A essência da maturidade