Interrogante: Se eu, o observador olho uma árvore como "coisa observada", a árvore e eu somos uma só e a mesma coisa?
Krishnamurti: Você ouviu isso, mas não ESCUTOU. Há enorme diferença entre "ouvir" e "escutar". Você não aprendeu a coisa; apenas ouviu dizer sobre ela, e ela se tornou uma ideia. É isso o que ocorre imediatamente: a ideia, o dizer "A árvore sou eu? Eu, o observador, olho a árvore, e a árvore sou eu". Mas, é claro que a árvore não É você.
Você já olhou uma árvore, a beleza do pôr do Sol, sem nenhum observador? De ordinário, quando olha uma coisa, que ocorre realmente? Suas lembranças acodem aos borbotões. "Ah! Que maravilhoso poente contemplei outro dia na Califórnia; aquela luminosidade de montanha!" Ou o pôr do Sol lhe absorve inteiramente e, temporariamente, você fica silencioso. Nesse silêncio você se lembra daquele prazer e diz: "Eu gostaria de repetí-lo" — tal como o prazer sexual. É isso o que acontece: a coisa se torna uma repetição, porque nela você pensa, deseja repetir aquele prazer; e nessa armadilha você fica aprisionado. Mas, para olharmos realmente uma árvore, ou as dobras de uma montanha, o pensamento como memória tem de cessar. Se temos botânicos conhecimentos, estes mesmos conhecimentos nos impedem de olhar a árvore. Quando você olha a árvore sem o "observador", a árvore não é você, e você não é a árvore; não há espaço entre o observador e a coisa observada. Você não diz então: "Sou a árvore", ou "Devo identificar-me com a árvore". Isso nada significa.
Jiddu Krishnamurti — A importância da transformação