Senhor, já notou, no seu pensar, que existe um intervalo entre dois pensamentos? Por mais triviais e por mais lúcidos que sejam esses pensamentos, existe intervalo, não existe? Não há pensamento contínuo. Se observar lucidamente, notará que há um vazio, um intervalo. O mero seguir, analisar, o estar cônscio de determinado pensamento, será completamente inútil se não tivermos compreendido ou observado o intervalo entre dois pensamentos. Porque, afinal de contas, quando sigo até o fim um determinado pensamento, por mais insignificante que ele seja, a mente que o leva até o fim continua a ser trivial, um espírito limitado, medíocre, que está julgando, comparando, condenando; e quando essa mente segue um pensamento, não pode compreendê-lo. (...) Se observo porém que existe um intervalo entre os pensamentos, se minha mente se interessa por esse intervalo e o observa com lucidez, verei então desvanecerem-se os pensamentos triviais, sem que os julgue, compare, discipline, refreie. Porque, naquele intervalo não há função de pensamento. Existe um intervalo, que apenas pode durar um segundo; mas no momento em que você deseja prolongar esse segundo para dez segundos, você colocou em ação a mediocridade.
(...) O estarmos cônscios desse intervalo é suficiente, mas desde que o busquemos, que não procuremos criá-lo, prolonga-lo. E isso, positivamente, implica em autoconhecimento infinito, não é exato? Porque esse intervalo não pode ser conservado, é possível apresentar-se, nele, um sentimento novo e diferente. Mas no momento em você busca esse intervalo e procura prolonga-lo, a mente está intervindo nele; e quando a mente intervém, influencia, condiciona. Assim, pois, quanto mais cônscios estamos do processo do pensamento e do intervalo, tanto maior o nosso autoconhecimento — autoconhecimento que não nos veio de nenhum livro, que não está de acordo com nenhum padrão de pensamento, mas que é a compreensão de nós mesmos, tais como somos, momento por momento, dia após dia, mês por mês. Esse é um “processo” extremamente difícil. Sem aquele conhecimento, não se pode compreender a influência que condiciona, e é por isso que a mente está sujeita a toda espécie de influência e interferência, vivendo perpetuamente num estado de imitação, de dependência e de temor.
JK - Autoconhecimento - Base da Sabedoria