K: Buscamos por causa de nosso vazio, dirigimos-nos para o exterior a fim de preenchermos este vazio ou para fugirmos dele. Tal movimento em direção ao exterior, fugindo à pobreza interior, é conceitual, especulativo, dualista. É conflito, e não tem fim. Portanto, não busquemos o exterior! Mas a energia que se dirigia para o exterior, volta-se da busca exterior para a busca interior; e fica a buscar, a explorar, pedindo uma certa coisa que agora chama "interior". os dois movimentos são essencialmente idênticos. Ambos devem terminar.
P: Você está simplesmente a pedir-nos que nos contentemos com esse vazio?
K: De modo nenhum.
P: Por conseguinte, o vazio permanece, e uma espécie de perene desespero, que se torna maior ainda, se nem ao menos é permitido buscar!
K: É desespero ver esta verdade que o movimento para fora e para dentro nenhuma significação tem? Isso é contentar-se com O QUE É? É aceitação do vazio? Nada disso. Assim, pois, acabamos com o movimento para fora, com o movimento para dentro, com a aceitação; negamos todo movimento à mente que se vê frente a frente com o vazio. Então a própria mente está vazia, PORQUE O MOVIMENTO É ELA PRÓPRIA. A mente está vazia de todo movimento e, por conseguinte, não existe entidade alguma para iniciar qualquer movimento. Deixemos a mente vazia. Deixemos a mente SER vazia. A mente depurou-se do passado, do futuro e do presente. Depurou-se do "vir a ser", e "vir a ser" é tempo. Portanto, nela não há tempo; nela não há medida. E, ENTÃO, isso é o vazio?
P: Esse estado aparece e desaparece frequentemente. Ainda que não seja o vazio, decerto não é o êxtase que você fala.
K: Esqueça o que foi dito. Esqueça também que ele aparece e desaparece. Quando ele aparece e desaparece, pertence ao tempo; existe então o observador que diz: "Ei-lo aqui — foi-se". Esse observador é a entidade que mede, compara, avalia; portanto, não é o vazio a que nos referimos.
P: Você está me anestesiando? — e riu-se.
K: Quando não há medida nem tempo, existe algum limite ou contorno do vazio? Você pode então chamá-lo de vazio ou nada? Então, tudo existe nele, e nada está contido nele.
Jiddu Krishnamurti - A outra margem do caminho