A menos que a mente descubra a fonte do pensamento, ver-se-á sempre de novo enredada num sistema de vida que levará finalmente ao conflito, uma vida que é violência. Aquela fonte precisa ser descoberta. Enquanto existir observador e coisa observada, haverá contradição, distância, intervalo de tempo, separação entre ambos, e o pensamento tem de existir.
(...) Enquanto houver observador e coisa observada, e, entre ambos, intervalo de tempo, distância, espaço — essa separação dará origem ao pensamento. Só quando o observador é o objeto observado, e não há observador nenhum, não há pensar.
Objetivamente, vejo, no começo da primavera, uma árvore em que ainda não despontam as folhas novas, formando com seus galhos nus, delicado desenho contra o fundo azul do firmamento. Vejo-a: Eu, o observador, e aquela árvore — observador e coisa observada. A árvore não sou eu. É algo existente no exterior. Nela penso quanto é delicada, bela, escura — uma forma negra contra o céu limpo. O observador tem certas “memórias” a respeito daquela árvore, sua espécie, seu nome, a lembrança dos fatos acumulados em relação a ela. O observador é a memória, a entidade que sabe; com esse saber, sua memória, experiência, conhecimentos, olha a árvore. O observador está então pensando. Enquanto existe observador e coisa observada, no pensamento, na ação, é isso o que acontece.
Consideremos outro exemplo: as relações entre os cônjuges. É relativamente fácil olhar uma árvore, mas o caso se torna muito mais complexo quando esposa e marido olham um para o outro. Há sempre o “observador” e o “objeto observado”. O observador, que convive com aquela outra pessoa, recorda-se dos prazeres, sensuais e outros, do companheirismo, das ofensas das lisonjas, dos confortos — de tudo o que constitui o fundo dessa relação. Cada um tem uma imagem do outro. Dessa imagem, dessa memória, dessas experiências, desses prazeres, nasce o pensamento. A relação é entre as duas imagens. Isso também está perfeitamente claro e, portanto, pode-se ver que, enquanto há observador e objeto observado, o pensamento inevitavelmente funciona. Aí se encontra a fonte da ação-pensamento. Enquanto há divisão, separação, o pensamento necessariamente começa a funcionar; isso não significa que o pensamento se identifica com o objeto a fim de pensar; pelo contrário, só está a identificar-se com o objeto a fim de pacificar o pensar; mas existe sempre “processo” de pensar naquele estado de relação.
Está, assim, descoberta a origem do pensar. Mas, quando o pensador, o experimentador, o observador é o objeto observado, a experiência, o pensamento, não há, nesse estado, nenhum pensar. E é nessa maneira de vida que se encontra a paz. Se uma pessoa é séria, não fragmentariamente, intermitentemente, quando lhe convém, quando isso lhe proporciona conforto ou prazer; se deseja seriamente encontrar uma maneira de vida em que haja paz, em que não exista contradição e, portanto, não exista conflito nem esforço, terá de investigar o processo do pensar e a origem do pensar. Isso não significa que não se deva fazer uso do pensamento. Naturalmente, temos de fazer uso dele; mas, o pensamento — quando dele nos servimos sem compreender como se origina e como termina — cria mais conflito, mais confusão, como ocorre atualmente. Mas, naquela claridade que vem quando o observador é o objeto observado, o pensamento perdeu a imensa importância que tinha para nós. A paz não é um fim em si, um ideal que temos de lutar para alcançar, uma coisa que precisamos obter, para vivermos tranquilos. Ela vem, naturalmente, sem esforço e sem luta de nossa parte, quando o pensamento compreendeu a si próprio. Isso não significa que o pensamento põe, então, fim ao pensar — pois isso seria falta de maturidade, infantilidade. Mas, ao ser compreendido o inteiro processo do pensar, alcança-se um estado que se pode chamar “pacífico”, mas esta palavra não é o fato. É somente a base de que necessitamos. Estamos apenas lançando as bases, pois, sem bases adequadas, o pensamento, a mente, não pode, de modo nenhum, funcionar numa dimensão completamente diferente.
Jiddu Krishnamurti — Encontro com o eterno
Está, assim, descoberta a origem do pensar. Mas, quando o pensador, o experimentador, o observador é o objeto observado, a experiência, o pensamento, não há, nesse estado, nenhum pensar. E é nessa maneira de vida que se encontra a paz. Se uma pessoa é séria, não fragmentariamente, intermitentemente, quando lhe convém, quando isso lhe proporciona conforto ou prazer; se deseja seriamente encontrar uma maneira de vida em que haja paz, em que não exista contradição e, portanto, não exista conflito nem esforço, terá de investigar o processo do pensar e a origem do pensar. Isso não significa que não se deva fazer uso do pensamento. Naturalmente, temos de fazer uso dele; mas, o pensamento — quando dele nos servimos sem compreender como se origina e como termina — cria mais conflito, mais confusão, como ocorre atualmente. Mas, naquela claridade que vem quando o observador é o objeto observado, o pensamento perdeu a imensa importância que tinha para nós. A paz não é um fim em si, um ideal que temos de lutar para alcançar, uma coisa que precisamos obter, para vivermos tranquilos. Ela vem, naturalmente, sem esforço e sem luta de nossa parte, quando o pensamento compreendeu a si próprio. Isso não significa que o pensamento põe, então, fim ao pensar — pois isso seria falta de maturidade, infantilidade. Mas, ao ser compreendido o inteiro processo do pensar, alcança-se um estado que se pode chamar “pacífico”, mas esta palavra não é o fato. É somente a base de que necessitamos. Estamos apenas lançando as bases, pois, sem bases adequadas, o pensamento, a mente, não pode, de modo nenhum, funcionar numa dimensão completamente diferente.
Jiddu Krishnamurti — Encontro com o eterno