Tenha a bondade de considerar esta questão com liberdade, e não com resistência, com superstição, com suas crenças. Evidentemente, existe causa e efeito. A mente é o resultado de uma causa, você é o produto de ontem, e de muitos, muitos milhares de dias passados; causa e efeito são um fato óbvio. A planta contém em si, ao mesmo tempo, a causa e o efeito. É especializada; uma determinada semente não pode tornar-se algo diferente. A semente de trigo é especializada, mas nós, entes humanos, somos diferentes, não é verdade? O que se especializa pode ser destruído, qualquer coisa que se especializa tem de perecer, biológica e psicologicamente; mas, quanto a nós, o caso é diferente, não é verdade? Vemos que a causa se torna o efeito e que o efeito se torna uma nova causa, e isso é muito simples. Hoje é o resultado de ontem, e amanhã será o resultado de hoje; ontem foi a causa de hoje, e hoje é a causa de amanhã. O que foi feito se torna causa, e temos assim, um processo infinito. Não há causa separada de efeito, não há divisão entre causa e efeito, porque a causa e o efeito se entrelaçam; e logo que perceba o processo de causa e efeito, como ele realmente opera, pode o indivíduo ficar livre dele. Enquanto nos preocuparmos só com a conciliação dos efeitos, a causa se assimila com padrões e estes se tornam então o motivo determinante da ação; mas existirá, em algum momento, uma linha de demarcação, onde a causa termina e o efeito começa? Não existe, por certo, porque causa e efeito estão em movimento constante. Na realidade, não há causa e efeito, mas apenas um movimento do “que foi”, através do presente, para o futuro; e, para a mente que está cativa nesse processo no qual “o que foi” faz do presente uma passagem para “o que será”, só há resultados. Isto é, Para a mente em tais condições só interessa resultados, só interessa a conciliação dos efeitos, e, por conseguinte, para essa mente não há fuga possível, das suas próprias “projeções”. Assim, enquanto o pensamento está preso no processo de causa e efeito, a mente só é capaz de operar dentro da sua própria clausura e, portanto, não há liberdade. Só há liberdade quando percebemos que o processo da causa e efeito não é estacionário, estático, mas está sempre em movimento; uma vez compreendido, esse movimento cessa — e dá-se, então, a possibilidade de passarmos além.
Assim sendo, enquanto a mente funcionar apenas em reação a estímulos do passado, tudo quanto ela faça só irá aumentar o seu infortúnio; mas, logo que perceba e compreenda o fato representado por todo esse processo de causa e efeito, essa mesma compreensão do fato a libertará dele. Só assim é a mente capaz de conhecer o que não é resultado nem causa. A verdade não é um resultado, a verdade não é uma causa; é algo sem causa. Tudo o que tem causa é produto da mente, tudo o que tem efeito é produto da mente; e para se conhecer o incausado, o eterno, o que está fora do tempo, cumpre que a mente, que é efeito do tempo, deixe de operar. O pensamento, que é efeito e causa, deve deixar de funcionar, pois só então é possível conhecer aquilo que está além do tempo.
Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?