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quarta-feira, 4 de setembro de 2013

Um novo olhar sobre a questão do Karma

Tenha a bondade de considerar esta questão com liberdade, e não com resistência, com superstição, com suas crenças. Evidentemente, existe causa e efeito. A mente é o resultado de uma causa, você é o produto de ontem, e de muitos, muitos milhares de dias passados; causa e efeito são um fato óbvio. A planta contém em si, ao mesmo tempo, a causa e o efeito. É especializada; uma determinada semente não pode tornar-se algo diferente. A semente de trigo é especializada, mas nós, entes humanos, somos diferentes, não é verdade? O que se especializa pode ser destruído, qualquer coisa que se especializa tem de perecer, biológica e psicologicamente; mas, quanto a nós, o caso é diferente, não é verdade? Vemos que a causa se torna o efeito e que o efeito se torna uma nova causa, e isso é muito simples. Hoje é o resultado de ontem, e amanhã será o resultado de hoje; ontem foi a causa de hoje, e hoje é a causa de amanhã. O que foi feito se torna causa, e temos assim, um processo infinito. Não há causa separada de efeito, não há divisão entre causa e efeito, porque a causa e o efeito se entrelaçam; e logo que perceba o processo de causa e efeito, como ele realmente opera, pode o indivíduo ficar livre dele. Enquanto nos preocuparmos só com a conciliação dos efeitos, a causa se assimila com padrões e estes se tornam então o motivo determinante da ação; mas existirá, em algum momento, uma linha de demarcação, onde a causa termina e o efeito começa? Não existe, por certo, porque causa e efeito estão em movimento constante. Na realidade, não há causa e efeito, mas apenas um movimento do “que foi”, através do presente, para o futuro; e, para a mente que está cativa nesse processo no qual “o que foi” faz do presente uma passagem para “o que será”, só há resultados. Isto é, Para a mente em tais condições só interessa resultados, só interessa a conciliação dos efeitos, e, por conseguinte, para essa mente não há fuga possível, das suas próprias “projeções”. Assim, enquanto o pensamento está preso no processo de causa e efeito, a mente só é capaz de operar dentro da sua própria clausura e, portanto, não há liberdade. Só há liberdade quando percebemos que o processo da causa e efeito não é estacionário, estático, mas está sempre em movimento; uma vez compreendido, esse movimento cessa — e dá-se, então, a possibilidade de passarmos além.

Assim sendo, enquanto a mente funcionar apenas em reação a estímulos do passado, tudo quanto ela faça só irá aumentar o seu infortúnio; mas, logo que perceba e compreenda o fato representado por todo esse processo de causa e efeito, essa mesma compreensão do fato a libertará dele. Só assim é a mente capaz de conhecer o que não é resultado nem causa. A verdade não é um resultado, a verdade não é uma causa; é algo sem causa. Tudo o que tem causa é produto da mente, tudo o que tem efeito é produto da mente; e para se conhecer o incausado, o eterno, o que está fora do tempo, cumpre que a mente, que é efeito do tempo, deixe de operar. O pensamento, que é efeito e causa, deve deixar de funcionar, pois só então é possível conhecer aquilo que está além do tempo.   

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando?


terça-feira, 6 de agosto de 2013

Karma e Reencarnação

Atém-se a mente a conclusões, condicionando-se dessa forma ao passado. É mister vigilância desse condicionamento resultante da causa-efeito. Não é estática a causa-efeito, mas o é a mente quando se prende a uma causa-efeito do passado imediato. “Karma” chama-se esse aprisionamento à causa-efeito. Como o próprio pensamento é resultado de múltiplas causas-efeitos, deve ele soltar-se desses vínculos com que se prendeu. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 145-146)

O problema da causa-efeito não é para ser observado superficialmente e ser deixado para trás. É a cadeia contínua da memória, com sua atividade condicionadora, que deve ser observada e compreendida; ficar cônscio de que essa cadeia foi criada, e acompanhá-la através de todos os estratos da consciência, é difícil; cumpre, entretanto, investigá-la profundamente e compreendê-la. (Idem, pág. 146)

Pergunta: Julgais que “karma” é a ação recíproca entre o ambiente falso e o falso “eu”?

Resposta: “Karma” é uma palavra sânscrita, que significa praticar, fazer, obrar, implicando também causa e efeito. Ora, karma é escravidão, é reação nascida do ambiente que a mente não compreendeu. (…) (A Luta do Homem, pág. 48)

Torna-se, pois, necessário descobrir o que gera essa falta de compreensão, o que impede o indivíduo de perceber o exato significado do ambiente, quer se trate de ambiente passado, quer(…) do atual. (…) (Idem, pág. 48)

A maioria dos espíritos está sob a influência da vaidade, do desejo de causar impressão em outros, com ser alguém; (…) ou fugir do ambiente, ou expandir a própria consciência (…), ou está sob a influência de preconceitos nacionalistas. Esses desejos todos impedem a mente de perceber diretamente o verdadeiro valor do ambiente; (…) (Idem, pág. 49)

Quando verificamos que somos, com efeito, (…) orgulhosos e presunçosos, começa a presunção, pela própria consciência que dela temos, a dissipar-se (…) Mas, se tentardes, encobri-la, ela criará novos males, novas reações falsas. (A Luta do Homem, pág. 49)

Dessarte, para vivermos cada momento num eterno presente, sem o fardo do passado nem do presente, sem essa lembrança deformadora gerada pela falta de compreensão, deve a mente enfrentar as coisas de maneira original, i.e., prescindindo da tradição. (…) Assim, pois, (…) sabereis o que é viver sem conflito (…) (Idem, pág. 49-50)

Pergunta: Pratiquei uma ação iníqua e pecaminosa, que me deixou com verdadeiro sentimento de culpa. Como poderei superar esse sentimento?

Krishnamurti: Senhor, que entendeis por “pecado”? Os cristãos têm um conceito de pecado que vós não tendes, mas vós vos sentis “culpado” ao possuirdes mais dinheiro, ao terdes uma casa maior (…) Quando passeais num carro confortável e avistais uma interminável fila de ônibus (…) (O Homem Livre, pág. 139)

Por que deveis sentir-vos “culpado”? Se estais vivendo intensamente, com todo o vosso ser, se percebeis plenamente tudo o que se passa ao redor de vós e dentro de vós, tanto consciente como inconscientemente, onde há lugar para a “culpa”? O homem que vive fragmentariamente, que está interiormente dividido, esse, sim, sente “culpa”.

Uma parte dele é boa, outra parte corrupta; uma parte procura ser nobre, e a outra é ignóbil; uma parte é ambiciosa, cruel, e a outra fala de paz e de amor. Essas pessoas sentem-se “culpadas” porque se acham ainda dentro do padrão que elas próprias fabricaram. Enquanto houver atividade egocêntrica, não podereis superar o sentimento de culpa. (…) (O Homem Livre, pág. 139)

Pergunta: Pratiquei más ações no passado. Como agora alcançar a paz de espírito?

Krishnamurti: Todos nós cometemos erros (…) Todos temos ofendido outras pessoas e cometido erros graves. E eles deixaram uma marca, um pesar, um arrependimento. E, como pode uma pessoa ficar livre do erro que cometeu? (…) (Poder e Realização, pág. 46)

(…) Nessas condições, a própria ocupação da mente com um erro já cometido torna-se outro erro. (…) Portanto, se me preocupo constantemente com aquela falta, aquele erro (…); se minha mente se mantém ocupada com o caso - ele se torna uma idéia fixa, uma nova barreira (…) (Idem, pág. 47)

Mas, se, ao contrário, eu souber enfrentar os erros, as faltas que cometi, haverá então liberdade (…) Não posso, depois de cometer um erro, reconhecê-lo e, em seguida, largá-lo, i.e, não me ocupar mais com ele? Porque com isso se dá liberdade à mente: estar cônscio do erro cometido, reconhecê-lo, fazer o que tem de ser feito e soltá-lo, não mais ocupar-se com ele. (Idem, pág. 47-48)

Pergunta: Está (…) claro (…) que a consciência do “eu” é resultado do ambiente. Mas (…) não surgiu pela primeira vez na vida presente?

Krishnamurti: Sugere isso a idéia de “karma”. Sabeis o que ela significa: que arcais com um fardo, o fardo do passado, no presente. Isto é, trazeis para o presente o ambiente do passado, e, porque levais esse fardo, influenciais também o futuro, moldais também o futuro. (A Luta do Homem, pág. 34)

Se refletirdes sobre isso, vereis que tem de ser assim, porque, se vossa mente está pervertida pelo passado, o futuro forçosamente será também desfigurado: porque, se não compreendestes o ambiente de ontem, ele se estende necessariamente ao dia de hoje; e, conseqüentemente, como não compreendeis o dia de hoje, é claro que não compreendeis, tampouco, o de amanhã. Vê-se, assim, o indivíduo, colhido num círculo vicioso e daí a idéia de contínuo renascimento, (…) da memória, (…) da mente continuada pelo ambiente. (A Luta do Homem, pág. 34-35)

Mas, afirmo que a mente pode ficar livre do passado, do ambiente passado, dos obstáculos do passado, e que, conseqüentemente, podeis ficar livres do futuro, porque vivereis, então, no presente, dinamicamente, intensamente, supremamente. (Idem, pág. 35)

No presente está a eternidade, e, para tal compreender, deve estar a mente liberta da carga do passado; e para alcançar essa libertação, requer-se intensa investigação do presente, não a preocupação sobre como subsistirá o “eu” no futuro. (Idem, pág. 35)

Pergunta: Aceitais a lei da reencarnação e do karma como válida (…)?

Krishnamurti: Como provavelmente a maioria de vós crê na reencarnação e no karma, peço-vos que não oponhais resistência ao que vou dizer. (…) Em primeiro lugar, a crença, de qualquer espécie, é a negação da verdade. A mente que crê não é uma mente que perscruta (…) nunca pode achar-se em estado de “experimentação”. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 201-202)

Ora, que se entende por reencarnação? Que é que se reencarna? De duas, uma: ou é um entidade espiritual, ou é uma coisa que representa apenas uma acumulação de experiência, de conhecimentos, de memória, não só individual, mas também coletiva, a qual toma forma de novo, numa outra vida. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 202-203)

(…) Existirá em vós uma entidade espiritual, algo que não é da mente, que está além da sensação, algo que não é do tempo (…) imortal? (…) Se dizeis que há em vós uma entidade espiritual, esta, sem dúvida, é produto do pensamento (…) (Idem, pág. 203)

Falaram-vos a respeito dela; não é uma “experiência” vossa. Assim (…) também estais condicionado pela idéia de uma entidade espiritual (…) Ainda que vós mesmo tenhais descoberto (…), ela por certo está ainda compreendida no domínio do pensamento; e o pensamento é resultado do passado, (…) é acumulação, memória. (…) (Idem, pág. 203)

Ora, se não existe entidade espiritual, que é então que se reencarna? E se existe entidade espiritual, pode ela reencarnar-se? (…) Se ela nasce, se é um “processo” no tempo, se progride, então, de certo, não é nenhuma entidade espiritual; se não é do tempo, então não pode reencarnar, tomar uma nova vida. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 203-204)

Nessas condições, se não existe entidade espiritual, então o “vós” é apenas um feixe de lembranças acumuladas; (…) A acumulação das experiências do passado, em conjunção com o presente, constitui o “vós”, tanto o consciente como o inconsciente, tanto o coletivo como o individual - esse feixe todo é o “vós”; e o feixe pergunta: “Reencarnar-me-ei, terei continuidade?” Que acontecerá depois da morte? (…) (Idem, pág. 204)

(…) Ora, perguntais se o “vós” tem continuidade - o “vós” que é o nome, a propriedade (…) as lembranças, as idiossincrasias, as experiências, os conhecimentos acumulados. Tem isso continuidade? Isto é, o pensamento condicionado tem continuidade? O pensamento, é claro, tem continuidade; (…) Tendes continuidade em vossos filhos, vossa propriedade, em vosso nome; (…) isso sem dúvida continua (…) (Idem, pág. 204)

Mas essa continuidade não vos satisfaz (…) Desejais continuar como entidade espiritual, e não apenas como pensamento, como um feixe de reações (…) Mas, sois alguma coisa mais do que isso? Sois mais do que vossa religião, vossa crenças (…) divisões de casta (…) superstições, tradições e esperanças do futuro? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 204-205)

(…) Assim, quando investigais o problema da reencarnação, estais interessado, não no que está além, mas na continuidade do pensamento identificado como “vós”; e isso, de certo, tem continuidade. (Idem, pág. 205)

A morte é sempre o desconhecido; mas o conhecido teme o desconhecido (…) A continuidade é criadora? Aquilo que é contínuo pode descobrir alguma coisa fora de si mesmo? (…) O que continua nunca pode ser criador. É só no findar que se encontra o novo. Só quando o conhecido deixa de existir, há criação, há o novo, o desconhecido; (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 205)

Mas, enquanto estivermos apegados ao desejo de continuidade, que é pensamento identificado como “eu”, esse pensamento continuará, e tudo o que continua tem em si a semente da morte e da deterioração, e não é criador. Só o que termina pode ver o que é novo, fresco, o todo, o desconhecido. (…) (Idem, pág. 205-206)

(…) Mas não ousais largar o velho, porque temeis o novo; porque temeis a morte é que tendes tantos meios de fuga. (…) Mas não vos caberia averiguar se aquilo que continua pode, em algum tempo, conhecer o atemporal? O que continua implica um processo de tempo - o passado gerando, (…) com o presente, o amanhã, o futuro (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 206)

(…) Só quando a mente findar, quando não estiver identificada como “eu”, conhecereis o que está além do tempo; mas o mero especular é desperdício de energia (…) Assim, aquilo que tem continuidade nunca pode conhecer o real, mas o que finda conhecerá o real. Só a morte pode mostrar o caminho para a realidade - não a morte da velhice, nem a morte da doença, mas a morte de cada dia, o morrermos a cada minuto, para vermos o novo. (Idem, pág. 207)

Compreendestes o que eu disse acerca da reencarnação? (…) Mas, se pensardes deveras no que acaba de ser dito, percebereis a extraordinária profundeza do findar, do morrer. (…) Morrer significa apenas o findar do passado, que é memória (…); refiro-me ao findar da acumulação psicológica que constitui o “eu” e o “meu”. E nesse findar do pensamento identificado, encontra-se o novo. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 207-208)

Desejais agora que eu responda à pergunta relativa ao karma. (…) Evidentemente, existe causa e efeito. A mente é o resultado de uma causa, vós sois o produto de ontem e de muitos milhares de dias passados (…) A planta contém em si (…) causa e efeito. É especializada; uma determinada semente não pode tornar-se algo diferente. O que se especializa pode ser destruído, qualquer coisa que se especialize tem de perecer, biológica e psicologicamente; (…) (Idem, pág. 208)

Vemos que a causa se torna efeito, e o que foi efeito se torna uma nova causa (…) Hoje é o resultado de ontem, e amanhã será o resultado de hoje; ontem foi a causa de hoje, e hoje é a causa de amanhã. (…) Não há causa separada do efeito (…), porque a causa e o efeito se entrelaçam; e, logo que o indivíduo percebe o processo da causa e efeito, como ele realmente opera, pode ficar livre dele. (Idem, pág. 208)

(…) Assim, enquanto o pensamento estiver preso no processo de causa e efeito, a mente só é capaz de operar dentro de sua própria clausura e, portanto, não há liberdade. Só há liberdade quando percebemos que o processo de causa e efeito não é estacionário, estático, mas está sempre em movimento; uma vez compreendido, esse movimento cessa - e dá-se, então, a possibilidade de passarmos além. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 209)

(…) A verdade não é um resultado, uma causa; é algo sem causa. Tudo o que tem causa é produto da mente, tudo o que tem efeito é produto da mente; e para se conhecer o incausado, o eterno, o que está fora do tempo, cumpre que a mente, que é efeito do tempo, deixe de operar. O pensamento, que é efeito e causa, deve deixar de funcionar, pois só então é possível conhecer aquilo que está além do tempo. (Idem, pág. 209)

Pergunta: Credes na reencarnação e no karma?

Krishnamurti: Vejamos (…) Pois bem, que entendeis por reencarnação? Que é que nasce de novo? (…) Vamos averiguar o que é que volta ou reencarna. (…) Ao dizerdes “eu renascerei”, deveis saber o que é esse “eu”. (…) (Nosso Único Problema, pág. 52-53)

(…) Que é esse “eu” que deverá renascer? (…) Ou o “eu” é uma entidade espiritual, ou é apenas um processo de pensamento. Ou ele é uma coisa atemporal, a que chamamos espiritual (…) ou está compreendido na esfera do tempo (…) da memória (…) (Idem, pág. 53-54)

(…) Ora, por espiritual entendemos uma coisa que não está sujeita a condicionamento (…) não é projeção da mente humana, (…) não está encerrada na esfera do pensamento, (…) não está sujeita à morte. Pois bem, será o “eu” uma entidade espiritual dessa ordem? (Idem, pág. 54)

(…) Se é uma entidade espiritual, tem de estar fora do tempo e, por conseguinte, não pode renascer ou continuar. O pensamento não pode_pensá-lo; (…) Se o pensamento é capaz de pensar o “eu”, então este faz parte do tempo; (…) esse “eu” não é livre do tempo; logo, não é espiritual. (…) (Nosso Único Problema, pág. 54)

Pergunta: Acreditais no karma e na reencarnação?

Krishnamurti: (…) Abordaremos primeiro a idéia do karma (…) Se o pensamento está agrilhoado, limitado, então toda ação nascida dele está também agrilhoada, limitada. (…) Se odiais, o resultado disso é futuro ódio e violência (…) Se o pensamento é acanhado, pessoal, deve sempre criar (…) futura limitação (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 92-93)

(…) O resultado pode ser sempre alterado ou modificado, de acordo com a nossa compreensão (…) O pensamento não pode escapar de sua ação e reação limitadas, até compreender o processo de sua própria servidão. (Idem, pág. 93)

Considerando, por exemplo, um hindu; o pensamento que ele expressa é limitado pelas crenças e tradições de um hindu. A idéia da reencarnação envolve o renascimento do “eu”. (…) A esse “eu” é atribuída a faculdade de continuar a nascer várias vezes até alcançar a perfeição, a realidade, a libertação. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 94-95)

Se pensais que sois uma entidade espiritual ou realidade, o que significa isso? Não implica um estado imortal, fora do tempo, um estado eterno? Se ele é eterno, então não tem crescimento; pois aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. (…) (Idem, pág. 95)

Se essa essência espiritual é supostamente amor, inteligência, verdade, então como pode ser cercada por essas trevas que confundem, (…) violência e ódios, (…) febril busca das exigências do “eu”? (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 95)

Como expliquei, o pensamento condicionado deve continuar a criar futuras limitações para si próprio. O “eu” não é somente uma forma particular, física, mas, além de sua aparência externa, há o eu psicológico. (…) (Idem, pág. 96)

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Por que a mente se apega a crenças, conceitos e dogmas?

A mente repleta de conhecimentos, crenças, teorias, não está, por certo, livre para investigar o verdadeiro. Mas, se pudermos compreender e dissolver o condicionamento, os preconceitos e dogmas que nos estão enevoando a mente, talvez então esta se torne livre para descobrir, pois, assim, a própria verdade atuará sobre o problema, em vez de ficar a mente lutando por uma solução por meio de seu próprio condicionamento — que não pode leva-la a parte alguma.
Eis porque acho muito importante saber escutar. Pouquíssimos de nós somos capazes de escutar verdadeiramente; pouquíssimos dentre nós ouvimos ou vemos as coisas com verdadeira clareza, porque tudo o que observamos ou ouvimos é imediatamente interpretado, traduzido pela mente, de acordo com nossas próprias ideias e peculiar temperamento. Pensamos estar compreendendo, mas não estamos, por certo. De tal maneira estamos sendo distraídos por nossas opiniões e conhecimentos, pelo aprovar ou reprovar, que nunca vemos o problema como ele de fato é. Mas, se pudermos desembaraçar-nos de nossos peculiares pontos-de-vista e, escutando, seguindo o funcionamento da mente, perceber o fato tal qual é, acho que veremos então manifestar-se um processo completamente diferente, o qual nos habilitará a considerar os nossos problemas com plena liberdade e clareza.
(...) Por certo, só a mente que está livre, por inteiro, de toda e qualquer autoridade, consciente ou inconsciente, é capaz de descobrir se existe uma realidade que transcende as meras concepções mentais. A mente livre é aquela que se libertou de toda crença, de todos os padrões de pensamento, conscientes ou inconscientes. Na atualidade, todo o nosso pensar resulta de nosso especial condicionamento, nossas experiências, lembranças, temores, esperanças, acumulados através do tempo. Em tais condições, é bem óbvio que a mente não está livre. Só existe liberdade quando o processo do pensamento, no seu todo, foi compreendido e transcendido; e só então se torna possível o surgir de uma mente nova, regenerada.
Assim sendo, pode a mente libertar-se de seu próprio condicionamento, para considerar de maneira nova os seus problemas? Pode ser livre a mente? — não como cristã, hinduísta, sueca, comunista ou seja o que for, nem puramente no sentido de abandonar um dado ideal, crença ou hábito, porém livre para descobrir o que significa transcender todas as influências e contradições, mentais e sociais.
Como está reagindo agora a mente? Reagir, concordando ou discordando, é de todo vão, uma vez que tal reação é produzida por nosso próprio fundo, nosso acervo de saber e crença. Mas, “experimentar” o que está se passando em nós mesmos, isso parece-me verdadeiramente proveitoso. Ora, pode-se investigar inteligentemente, pacientemente, para descobrir se há alguma possibilidade, de libertarmos a nossa mente de todo parcialismo, toda influência, habilitando-a, assim, a transcender suas próprias atividades? Do contrário, nossa vida será sempre muito superficial, vazia — e talvez quase todos estejamos nesse caso. Temos um enorme acervo de informações, conhecimentos, inumeráveis crenças, credos, dogmas, mas na realidade somos muito superficiais e infelizes.
(...) A mente agora é estéril, não criadora, no lídimo sentido da palavra, não é exato? Ela é uma coisa artificial, constituída das acumulações da memória. Enquanto existir inveja, ambição, busca interesseira, não pode haver o estado criador. Parece-me, por conseguinte, que o mais que podemos fazer é compreendermos a nós mesmos, as operações de nossa mente; e esse processo de compreensão representa uma volumosa tarefa. Não é coisa que se faz esporadicamente, que se deixa para mais tarde, para amanhã, mas deve ser feita todos os dias, a cada momento, continuamente. Compreender a si mesmo é estar cônscio, espontaneamente, naturalmente, dos movimentos do pensar. Começa-se, assim, a perceber todos os ocultos motivos e intenções que nutrem os nossos pensamentos, e resulta, daí, a libertação da mente dos processos que a tolhem e limitam. Ela está então tranquila; nessa tranquilidade pode manifestar-se, de modo espontâneo, algo que não é produto da mente.

(...)Pergunta: Dizeis que, para se operar a transformação, precisamos compreender todo o nosso fundo. Isso quer dizer que precisamos compreender a reencarnação e Karma?

Krishnamurti: Karma é uma palavra sânscrita, que significa ação. E, quanto à reencarnação, sabeis o que significa!
Acho bem óbvio que a mente que crê em alguma coisa, que se mantém apegada a algum desejo psicológico ou esperança resultante do medo, vive sempre presa nesse padrão da crença; e a luta que se trava dentro do padrão de qualquer crença não significa de modo nenhum transformação. O homem que simplesmente crê na reencarnação não compreendeu o problema da morte e do sofrimento e, porque crê em tal teoria, está tentando fugir ao fato da morte.
A palavra karma implica numerosos problemas. Precisamos compreender os motivos de nossas ações — as influências, as compulsões, as causas produtoras da ação. Tudo isso, por certo, faz parte do fundo que precisamos compreender; e a crença na reencarnação faz também parte desse fundo. A mente que crê é incapaz de compreensão, porquanto a crença, evidentemente, é uma fuga à realidade.

(...)Pergunta: Li um livro americano que parece provar convincentemente, por meio da hipnose, que a reencarnação é um fato. Que comentais sobre isso?

Krishnamurti: Aí está uma questão um tanto complexa, e acho necessária examiná-la convenientemente. Todos sabemos que existe a morte. O organismo físico tem de acabar-se, uma vez que se consome pelo uso; e desejamos saber se há continuidade após a morte. Todas as coisas que conhecemos e experimentamos tem fim e, por essa razão, indagamos o que será de nós depois. Este problema surge em todo mundo. No Oriente, a reencarnação é aceita como crença, e o autor desta pergunta diz que se escreveu um livro que prova, por meio da hipnose, que uma pessoa teve vidas anteriores; e queremos, portan­to, saber se a reencarnação é um fato. Não sei se credes que o pensamento é independente do corpo, independente do organismo físico. Temos um organismo, reações ner­vosas e pensamentos; e, assim, perguntamos se o pensa­mento continua após a morte.
Ora, que acontece quando fazemos tal pergunta? O fato verdadeiro é que desejamos continuar a existir, não é exato? — ou, também, achamos preferível o aniquilamento. Tanto num como noutro caso, a mente sele­cionou a teoria que melhor lhe convém. Se credes, ou não, na reencarnação, isso pouco importa; mas pode-se descobrir a verdade a esse respeito, a verdade a respeito da morte? A todos nos agrada pensar que existe uma al­ma eterna, e aceitamos várias crenças que nos ensinam que a alma é uma entidade espiritual que transcende o organismo físico. Mas a crença numa ideia, por mais con­fortante e animadora que seja, não nos dá perfeita com­preensão da morte. Sem dúvida, a morte é algo totalmen­te desconhecido, algo completamente novo, e, por mais ansiosamente que investiguemos esta questão, não encon­traremos resposta satisfatória. Tudo o que conhecemos está encerrado nos limites do tempo, e o que somos é apenas uma acumulação de memórias e experiências do passado. Determinamos nossa própria entidade por meio da me­mória — memória de "minha casa", "meu nome", "minha família", "meu saber", "minha pátria" — e queremos que esse "eu" tenha continuidade no futuro. Ou, ainda, di­zemos: "A morte é o fim de tudo" — o que também não representa solução alguma.
Pois bem. Pode-se descobrir a verdade acerca da morte? Sabe-se que buscamos a continuidade do "eu". O pensamento vive numa perpétua busca de permanência e, por essa razão, dizemos que deve haver alguma forma de continuidade. O pensamento é contínuo, não? E en­quanto existir o desejo de continuidade, fortaleceremos cada vez mais a ideia do "eu" e de "minha própria impor­tância". Pode ser que o pensamento continue, assuma outra forma, e a isso se chama reencarnação. Mas, aquilo que tem continuidade poderá conhecer o imensurável, o atemporal? Poderá ser criador? Ora, por certo Deus, a Verdade, ou como o chamardes, não pode ser encontra­do nos limites do tempo. Deve ser algo inteiramente no­vo, e não coisa criada pelas nossas próprias esperanças e temores. E, todavia, a mente deseja a permanência, não é verdade? Por conseguinte, diz: "Deus é permanente" e "eu terei continuidade depois desta vida".
Como vedes, o problema não é a reencarnação, mas, sim, o fato de buscarmos a permanência, nesta vida e de­pois dela. Enquanto a mente buscar a segurança, em qual­quer sentido que seja, através do nome, da família, da posição, da virtude, etc., continuará a existir o sofrimen­to. Só a mente que morre dia a dia, de momento a mo­mento, para tudo o que acumulou — só essa mente pode conhecer a verdade. E, então, talvez descubramos que não existe divisão entre a vida e a morte, porém, unica­mente, um estado todo diferente, em que o tempo, tal co­mo o conhecemos, não existe.

(...)Pergunta: Se alguém deseja encontrar a liberdade, na direção por vós indicada, não é também necessário que tal pessoa renuncie à igreja, ou a quaisquer organizações religiosas em que se interessa?

Krishnamurti: Se uma pessoa deseja libertar-se, deve abandonar, renunciar, ou colocar de lado organizações que exigem crença? É claro que deve. Se uma pessoa pertence a uma organização que exige crença, que se baseia no medo, no dogma, nesse caso sua mente é escrava de tal organização e não pode ser livre. Só a mente que é livre — e este é um problema verdadeiramente complexo e difícil — pode descobrir se existe uma realidade, se há Deus, e não a mente que crê em Deus.
Ora, porque nos apegamos aos dogmas, às crenças, aos rituais impostos pelas religiões? Se compreendermos isso, então todas essas coisas cairão por si, como as folhas no outono, sem esforço algum.
Porque pertenceis a uma dada organização religiosa? Necessitamos, é óbvio, de organizações — para entrega de correspondência, fornecimento de leite etc.; mas por que razão a mente se apega a dogmas? Não é porque, no dog­ma, na crença, ela encontra segurança, apoio? Porque vi­ve incerta, temerosa, insegura, a mente projeta uma cren­ça ou se apega a um dogma oferecido por tal igreja ou tal organização. A mente se apega ao dogma, à crença, como meio de fuga à sua própria incerteza, sua insuficiên­cia interior. Procura encher o seu vazio com dogmas, com crenças, superstições, rituais. Podeis renunciar a uma crença ou abandonar um dogma; mas, enquanto não compreenderdes vossa pobreza, vossa insuficiência interior, enquanto a mente não tiver compreendido o seu próprio vazio, o mero renunciar à religião organizada é sem sig­nificação. Só terá significação quando compreenderdes o elemento interior que vos força a apegar-vos à conclusão, à crença. Eis porque é tão importante conhecermos a nós mesmos, sabermos porque cremos, porque rejeitamos, porque renunciamos. Só no autoconhecimento existe a sabedoria — não nas crenças, não nos livros, porém na integral compreensão da estrutura de nossa mente. Só a mente livre pode compreender o que se encontra além do tempo.

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill