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sábado, 7 de abril de 2018

O mecanismo da crença na reencarnação

O mecanismo da crença 
na reencarnação

PERGUNTA: A ideia da morte só me é suportável, se posso crer numa vida futura. Mas dizeis que a crença é um obstáculo à compreensão. Peço-vos ajudar-me a perceber a verdade, nesta questão.

KRISHNAMURTI: A crença numa vida futura, é o resultado de nosso desejo de conforto, consolação. Se há ou não há uma vida futura, isto só se pode descobrir quando a mente não busca conforto numa crença. Se me vejo aflito pela morte de meu filho e desejo vencer esta aflição, creio na reencarnação, na vida eterna, etc.; e então a crença se me torna uma necessidade. É óbvio que a mente, nesse caso, nunca descobrirá o que é a morte, visto que só lhe interessa adquirir uma esperança, uma consolação, uma garantia.

Agora, se há ou não há continuidade, após a morte, este é um problema completamente diverso. Vê-se que o corpo se acaba; pelo uso constante, o organismo físico se consome. Que subsiste então? — A experiência acumulada, o conhecimento, o nome, as memórias, a identificação do pensamento como "eu". Mas isto não vos satisfaz; dizeis que deve haver outra maneira de continuação — a alma permanente, o Atman. Se há esse Atman que continua a existir, ele é criação do pensamento, e o pensamento que criou o Atman faz parte do tempo; esse Atman, portanto, não é espiritual. Se profundardes bem esta matéria, vereis que só existe pensamento, identificado como "eu" — minha casa, minha mulher, meus filhos, minha virtude, meu insucesso, meu sucesso, etc. — e quereis que isso continue. Dizeis: "Quero terminar meu livro antes de morrer", ou "Desejo aperfeiçoar as qualidades que me tenho esforçado para desenvolver, e para que terá servido esforçar-me tanto, em todos estes anos, para realizar uma coisa, se, no final de tudo, o que se me oferece é o aniquilamento?". A mente, pois, que é produto do conhecido, deseja continuar no futuro; e porque existe esta incerteza que chamamos a morte, sentimos medo e desejamos garantias.

Ora, a meu ver, o problema tem de ser considerado de outra maneira, ou seja, descobrindo cada um por si mesmo, se é possível, enquanto vivo, "experimentar" o estado que chamamos "a morte". Isto não significa suicidar-se, porém, sim, experimentar realmente aquele estado extraordinário, aquele momento sagrado de estar morto para todas as coisas de ontem. Em verdade, a morte é o desconhecido, e não há racionalização, nem crença ou descrença, que possa produzir essa extraordinária experiência. Para alcançar essa interior plenitude de vida, que também inclui a morte, a mente deve livrar-se do conhecido. O conhecido tem de deixar de existir, para que o desconhecido possa existir.

Krishnamurti, Terceira Conferência em Madanapale
26 de fevereiro de 1956, Da Solidão à Plenitude Humana

sábado, 18 de julho de 2015

Diálogo sobre a existência de vidas passadas

Pergunta: Quando um homem normal morre, o que acontece com ele?

Maharaj: Segundo sua crença, assim acontece. Como a vida antes da morte é apenas imaginação, assim é a vida depois. O sonho continua. 

P: E o que acontece com o homem realizado?

M: O homem realizado não morre porque ele nunca nasceu. 

P: Ele aparece assim aos outros. 

M: Mas não para si mesmo. Em si mesmo ele é livre das coisas físicas e mentais. 

P: Não obstante, você deve conhecer o estado do homem que morreu. Ao menos de suas próprias vidas passadas. 

M; Até encontrar meu guru, eu sabia muitas coisas. Agora não sei nada, pois todo conhecimento está apenas no sonho e não é válido. CONHEÇO-ME, e não encontro nem vida nem morte em mim, apenas puro ser, não ser isto ou aquilo, mas simplesmente ser. Mas no momento em que a mente, extraindo de seu estoque de memórias, começa a imaginar, preenche o espaço com objetos e o tempo com eventos. Como nem mesmo conheço o nascimento, como posso conhecer nascimentos passados? É a mente que, em movimento, vê tudo se movendo e, tendo criado o tempo, inquieta-se sobre o passado e o futuro. Todo o universo está estabelecido na consciência, a qual surge quando há ordem e harmonia perfeitas. Como as ondas estão no oceano, assim estão todas as coisas físicas e mentais na Consciência. Por conseguinte a própria Consciência é essencial, NÃO SEU CONTEÚDO. Aprofunde e amplie sua Consciência de você mesmo e todas as bençãos fluirão. Não necessita buscar nada, tudo virá naturalmente e sem esforço. os cinco sentidos e as quatro funções da mente — memória, pensamento, compreensão e individualidade —; os cinco elementos da terra — água, fogo, ar e éter —; os dois aspectos de criação — matéria e espírito —, todos estão contidos na Consciência. 

P: Ainda assim, você deve acreditar ter vivido antes. 

M: As escrituras dizem assim, MAS NÃO SEI NADA SOBRE ISTO. CONHEÇO-ME COMO EU SOU; como eu apareço ou aparecerei não está dentro de minha experiência. Não é que não me lembre. É QUE NÃO HÁ NADA PARA LEMBRAR. A reencarnação implica um ser que encarna. NÃO HÁ TAL COISA. O pacote de memórias e esperanças, chamado o "eu", imagina-se existindo eternamente e cria o tempo para acomodar sua falsa eternidade: para ser, eu não necessito de nenhum passado ou futuro. Toda a experiência nasce da imaginação; eu não imagino, assim nenhum nascimento ou morte acontecem para mim. APENAS AQUELES QUE PENSAM QUE NASCERAM PODEM PENSAR EM RENASCER. Você está me acusando de ter nascido: declaro-me inocente!

Tudo existe na Consciência e a Consciência nem morre, nem renasce. É a própria realidade imutável. 

Todo o universo da experiência nasce com o corpo e morre com o corpo; tem seu começo e fim na Consciência, mas a Consciência não conhece nenhum começo nem nenhum fim. Se você pensar cuidadosamente e meditar sobre isto por bastante tempo, você verá a luz da Consciência em toda sua claridade, e o mundo desaparecerá gradualmente de sua visão. É como olhar para uma vareta acesa de incenso; você verá a vareta e a fumaça primeiro; quando você percebe o ponto em brasa, você compreende que ele tem o poder de consumir montanhas de varetas e de encher o universo de fumaça. Atemporalmente, o ser se atualiza sem esgotar suas possibilidades infinitas. Na metáfora da vareta de incenso, a vareta é o corpo e a fumaça é a mente. Enquanto a mente está ocupada com suas contorções, não percebe sua própria fonte. O guru vem e volta sua atenção para a fagulha interior. Por sua própria natureza, a mente está voltada para fora; sempre tende a buscar a fonte das coisas entre as próprias coisas; ser dito que busque a fonte interior é, de alguma maneira, o início de uma nova vida. A Consciência toma lugar da consciência; na consciência há o "eu", que é consciente, enquanto que a Consciência é unificada; a Consciência é consciente de si mesma. O "eu sou" é um pensamento, enquanto que a Consciência não o é; alguém pode ser cônscio de ser consciente, mas não consciente da Consciência. Deus é a totalidade da consciência, mas a consciência está além de tudo: do ser e do não-ser. 

P: Eu comecei com a pergunta sobre a condição de um homem depois da morte. Quando seu corpo é destruído, o que acontece à sua consciência? Ele leva com ele seus sentidos de visão, audição, etc., ou os deixa para trás? E se ele perde seus sentidos, o que acontece à sua consciência? 

M: Os sentidos são meros modos de percepção. Quando os modos mais grosseiros desaparecem, emergem estados mais finos de consciência. 

P: Não há nenhuma transição para a Consciência depois da morte? 

M: Não pode haver nenhuma transição da consciência para a Consciência, porque a Consciência não é uma forma de consciência. A consciência pode apenas tornar-se mais sutil e refinada e é o que acontece depois da morte. Quando os diferentes veículos do homem morrem, os modos de consciência induzidos por eles também se dissipam.

P: Até que apenas reste a inconsciência?

M: veja-se falando da inconsciência como de algo que vai e vem! Quem existe para ser consciente da inconsciência?[...]

Nisargadatta Maharaj 

terça-feira, 15 de abril de 2014

Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências!

Que é a morte? Que significa isto — morrer? Morrer deve ser a mais maravilhosa das experiências! Deve significar que uma coisa chegou completamente a seu fim. O movimento que fora desencadeado — conflito, luta, confusão, desesperos e frustrações — cessou subitamente. A atividade do homem que quer tornar-se famoso, que é arrogante, violento, brutal — essa atividade é interrompida. Já notaram que tudo o que tem continuidade psicológica se torna mecânico, "repetitivo"? Só quando cessa a continuidade psicológica, surge alguma coisa totalmente nova; isso podem observar em si mesmos. Criação não é a continuidade do que É ou do que FOI, mas o findar dessa continuidade. 

Ora, pode-se morrer psicologicamente? Entendem essa pergunta? Podem morrer para o conhecido, morrer para o que FOI — não com o fim de se tronarem outra coisa — sendo esse morrer o fim do conhecido, a libertação do conhecido? Afinal de contas, a morte é isso. 

O organismo físico, naturalmente, morrerá; dele se abusou, foi submetido a maltratos e frustrações; comeu e bebeu coisas de toda espécie. Vocês sabem de que maneira vivem, e pelo mesmo caminho continuam até ele (o organismo físico) perecer. O corpo, por motivo de acidente, de velhice, de doença, da tensão da constante batalha emocional, no interior e no exterior, se deforma, torna-se feio, e morre. Nesse morrer há autocompaixão, e ela existe também quando outra pessoa morre. Quando morre alguém que pensamos amar, não há em nossa tristeza uma grande porção de medo? Porque nos vemos sós, abertos a nós mesmos, sem ninguém para nos amparar, nos dar conforto. Nossa tristeza é toda mesclada dessa autocompaixão e desse medo e, naturalmente, nessa incerteza, aceitamos qualquer espécie de crença. 

A Ásia inteira crê na reencarnação, no renascer em outra vida. Se indagamos o que é que vai renascer na próxima vida, nos deparamos com dificuldades. Que é que vai renascer? Sua pessoa? Que é você? — um monte de palavras, de opiniões, apegos as suas posses, aos seus móveis, seu condicionamento. Esse monte de coisas, que chamam de sua alma, vai renascer na próxima vida? Reencarnação implica que o que hoje são determina o que serão na próxima vida. Portanto, comportem-se bem! — não amanhã, mas hoje, porque pelo que hoje fazem irão pagar na próxima vida. Os que creem na reencarnação pouco se importam com o seu comportamento; trata-se de uma mera crença, sem nenhum valor. Reencarnem-se hoje, renovem-se hoje, e não na próxima vida! Mudem completamente ESTA VIDA, agora; mudem-na com uma grande paixão, façam a mente despojar-se de todas as coisas, de todos os condicionamentos, de todos os conhecimentos, de tudo o que pensar ser "correto"; esvaziem-na. Saberão então o que significa morrer; saberão então o que é o amor. Porque o amor não pertence ao passado, ao pensamento, à cultura; não é, tampouco, prazer. A mente que compreendeu o inteiro movimento do pensamento se torna sobremaneira quieta, absolutamente silenciosa. Esse silêncio é o começo do novo.

Krishnamurti — A questão do impossível

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Uma imensidão além de qualquer medida


O que acontece quando você perde alguém por morte? A reação imediata é uma sensação de paralisia, e quando você sai desse estado de choque, há o que chamamos sofrimento. Ora, o que essa palavra sofrimento significa? O companheirismo, as palavras felizes, os passeios, as muitas coisas agradáveis que vocês fizeram e esperavam fazer juntos – tudo isso é levado num segundo, e você é deixado vazio, nu, solitário. É a isso que você faz objeção, é contra isso que a mente se rebela: de repente ser deixado por sua própria conta, completamente só, vazio, sem nenhum apoio. Ora, o que importa é viver com esse vazio, apenas viver com isso sem qualquer reação, sem racionalizar, sem correr para médiuns, para a teoria da reencarnação e todas essas estúpidas tolices; viver com isto com todo o seu ser. E se você entrar nisto passo a passo, descobrirá que existe um fim para o sofrimento, um fim verdadeiro, não apenas um fim verbal, não o fim superficial que chega pela fuga, pela identificação com um conceito ou o compromisso com uma ideia. Então você descobrirá que não existe nada para proteger, porque a mente está completamente vazia e não está mais reagindo no sentido de tentar preencher esse vazio; e quando todo o sofrimento chegar ao fim, você terá iniciado outra viagem; uma viagem que não tem fim nem começo. Existe uma imensidão que está além de toda medida, mas você não pode entrar nesse mundo antes do fim total do sofrimento.

J. Krishnamurti, The Book of Life

segunda-feira, 19 de agosto de 2013

A verdadeira reencarnação

Cabe-lhe também descobrir o que é a morte — não no último minuto, prostrado pela doença, inconsciente, sem lucidez; a isso todos estamos sujeitos: velhice, doença e morte. Impende-nos descobrir o que é a morte enquanto está novo, vigoroso, ativo, frequentando diariamente seu escritório e de lá voltando para casa — sua “prisão particular”.

O organismo pode durar mais, conforme a espécie de vida que levamos. Se nossa vida, do nascimento à morte, é uma batalha, o corpo se desgasta mais rapidamente. O coração está sujeito a constante tensão. Isso é um fato incontestável. Para se descobrir o que é a morte, não deve haver medo; e a maioria de nós teme a morte, deixar nossas famílias, largar as coisas que acumulamos, ou nossos conhecimentos e nossos livros. Não sabendo o que acontece ao morrermos, a mente — isto é, o pensamento — diz que deve haver outra espécie de vida. A vida deve continuar de alguma maneira, nossa vida individual. Eis aí toda a estrutura da crença — da sua crença na reencarnação. O que é que renascerá na próxima vida: sua acumulação de conhecimentos, seus pensamentos e atividades, as ações belas ou feias que praticou? Se você acredita realmente em karma, então, o que importa é o que agora, nesta vida, você faz, como agora se comporta, porque na próxima vida pagará suas culpas.

Assim, se realmente você se acha enredado nessa crença, deve prestar toda a atenção a sua vida de agora. Cabe-lhe descobrir o que significa morrer — não fisicamente, que é inevitável — morrer para tudo o que conhece, para sua família, seus apegos, para todas as coisas que você acumulou, para seus acostumados prazeres e temores, morrer a cada minuto, para você ter sempre uma mente nova, pura e, por conseguinte, “inocente”. Haverá, assim, “encarnação” em cada novo dia. Encarnar todos os dias é muito mais importante do que encarnar na vida futura. Essa “encarnação” lhe dará uma mente sobremodo “inocente”. A mente “inocente” nunca pode ferir-se. Por conseguinte, a mente que se fere deve morrer, cada dia, para seus ferimentos, para que possa, em cada manhã, achar-se renovada, lúcida, sem máculas nem cicatrizes. Eis a verdadeira maneira de viver.

Jiddu Krishnamurti — 31 de janeiro de 1971


sexta-feira, 16 de agosto de 2013

Sabem o que significa reencarnação?

Vocês já viram a morte. Já viram pessoas morrerem e serem transportadas para o túmulo, mas não sabem o que significa morrer, sabem? Vocês têm teorias e crenças a respeito da morte, cobre o que acontecerá depois da morte ou dizem: “Acredito na reencarnação”. Todos vocês acreditam na reencarnação, não?

Vozes:  Acreditamos.

Sabem o que isso significa — reencarnação? Escutem, bem quietos. Vocês adotaram a suposição de que, após a morte,  vocês renascerão; acreditam nisso. O que é “vocês”? — O dinheiro depositado no banco, a casa, o emprego, lembranças, disputas, ansiedades, dores, medo — “vocês” não são tudo isso? Negam que isso seja “vocês”, dizendo que o “eu” é muito superior a essas coisas? Se dizem que o “eu” não é o seus móveis, suas famílias, seus empregos, mas uma coisa infinitamente superior, quem é que o diz, e como sabem que existe “uma coisa infinitamente superior”? O pensamento é quem o diz e, portanto, essa coisa “infinitamente superior”, esse “superego”, esse Atman, está ainda no campo do tempo, no campo do pensamento, e o pensamento é “vocês” — seus móveis, sua conta bancária, seu apego à família, à nação, a seus livros, a seus desejos impreenchidos. Se realmente acreditassem — com o coração e não com a mente desprezível de vocês — que na vida futura reencarnarão, estariam vivendo hoje de maneira totalmente diferente, porque, pelo que hoje fazem, terão de pagar amanhã, na “vida futura”.

Ao morrerem, perderão o saldo bancário, pois não poderão leva-lo com vocês; poderão retê-lo até o último minuto, e a maioria das pessoas quer retê-lo até o último instante — é de fazer rir, não? Assim, como realmente não sabem nada sobre a morte, vamos aprender o que ela é — aprender, e não apenas repetir o que o orador diz, porque, se o repetirem, verão que são meras palavras — nada.

O organismo físico, decerto, perecerá. O cientista poderá dar-lhe mais uns cinquenta anos, ao fim deles, o organismo morrerá, porque está sendo submetido a constante uso e abuso. O organismo vive sujeito a tensões e pressões de toda espécie; dele se abusa com bebidas, drogas, comidas impróprias, incessante luta. Tais excessos cansam o organismo, de onde os colapsos cardíacos, as doenças, etc.

O corpo perecerá, e que mais morrerá com ele? Sua mobília, seu saber, suas esperanças, desesperos e preenchimentos. Que é, pois, a morte? Aprendam, por favor. Estamos aprendendo juntos. Para descobrirem o que é a morte, devem morrer, não? Se são ambiciosos, devem morrer para as suas ambições, seus desejos de poder, posição, prestígio; morrer para os seus hábitos, suas tradições. Compreendem? Não se podem discutir com a morte, dizer-lhe: “Preciso de mais uns dias, não acabei de escrever meu livro; quero mais um filho, etc.” Nada se pode alegar; portanto, abstenham-se de argumentar, de justificar.

Morram completamente para toda e qualquer coisa: sua vaidade, suas ambições, as imagens que tem de si mesmo, de seu guru, de sua esposa. Se o fizerem, compreenderão o significado da morte, saberão o que é uma mente morta para o passado. Só a mente que morre todos os dias tem a possibilidade de transcender o tempo.

(...) Morram, pois, cada dia, para conhecerem a beleza da vida, a beleza da Verdade, e não precisaram aprender nada de ninguém, porque vocês estarão aprendendo.


Jiddu Krishnamurti — Bombaim 14 de fevereiro de 1971  

domingo, 11 de agosto de 2013

Por que dizemos que algo deve existir além desta vida?

Sabendo inevitável a morte, a maioria de nós tem fé na reencarnação, na ressurreição, ou noutra forma de continuidade após a morte, porque o que desejamos é só a continuidade; assim sendo, a crença, a fórmula, a esperança, o dogma têm, por sua vez, enorme influência em nossa vida. Não estamos interessados no fato que é a morte, porém só nos interessa saber se há vida após a morte. Dizemos: "Que adianta lutar, cultivar a virtude, tentar tornar-nos divinos (sabeis com quantas ninharias nos ocupamos) para acabar morrendo?" Por esta razão, dizemos que algo deve existir além desta vida. 

Ora, que é este "algo" que desejamos continue a existir? Compreendeis? Com palavras diferentes, em diferentes esferas, esperanças de variada natureza, etc., as religiões de todo o mundo prometem uma certa espécie de continuidade após a morte. Mas, abstraindo de tudo isso, que é que desejamos continue a existir? Nossa vida de cada dia, não? A vida que conhecemos. E que é essa vida que conhecemos? É a vida de companhia, a vida de torturas, incertezas, esperanças, de cada dia; a agonia do isolamento, as disputas, a assiduidade ao escritório, dia após dia, durante trinta ou quarenta anos; a pequenina mente que possuímos, a vida condicionada, o prazer de viajar e ver coisas novas; a doença, a dor, o vazio, o tédio de nossa existência — eis tudo o que conhecemos.

Ora, que é isso a que estamos tão desesperadamente apegados? É, evidentemente, a memória das coisas passadas. Mas, não é horrível percebermos que estamos apegados a algo já passado, ido, acabado, morto? É só isso o que conhecemos e por isso lhe estamos apegados. Estamos apegados ao conhecido. Nosso caráter, nossos livros, os quadros que pintamos, as experiências, os prazeres e ansiedades que tivemos, nossos velhos sentimentos de culpa — tudo isso pertence ao passado, a que estamos aferrados. É só o que conhecemos e queremos que subsista após a morte. Se perdi minha mulher, desejo reencontrá-la no além, etc. O que tememos, pois, é perder o conhecido, ou seja, o passado — o passado, que atravessando o presente, cria o futuro; a isso é que estamos apegados. 

(...) Ora, quando nos apegamos a uma coisa passada, já estão mortos a nossa mente, o nosso coração, o nosso ser inteiro. Ainda que se trate de um profundo deleite, um intenso prazer, se a isso nos apegamos, nossa mente se torna uma coisa pequenina e feia, incapaz de viver realmente. Assim é nossa vida. Porque tememos o findar desta nossa chamada "vida", inventamos ou esperamos uma continuidade após a morte. Mas, quando uma pessoa está consciente de tudo isso e de não mais fugir; quando está olhando, observando, escutando, percebendo, sem escolha, tudo o que se passa em seu interior — vê-se, então, frente-a-frente com a questão da morte, que, em verdade, é o desconhecido. Não conheceis a morte; a seu respeito só tendes meras ideias. Tendes ideias, temores, ansiedades, e o terrível sentimento de solidão, de isolamento. E a pessoa que bem percebe isso pergunta a si própria: "Posso morrer para tudo o que é conhecido, morrer para o passado, não pouco a pouco, não conservando o que é agradável e rejeitando o desagradável, porém, morrer tanto para o prazer como para a dor, quer dizer, por fim ao passado sem discussão?"

Ao chegar a morte, não há discutir, não há dizer-lhe: "Deixe-me alguns dias mais". Em chegando a morte, vós partis. Da mesma maneira devemos esvaziar nossa mente de todo o pretérito. No esvaziar da mente, de bom grado, com naturalidade e sem esforço, estamos, então, talvez, libertados do conhecido, havendo, assim, a compreensão do desconhecido. 

A maioria de nós não sabe o que é o amor. Conhecemos a dor e o prazer de amar, mas não vemos o fato que é o amor como vemos o fato que é uma montanha; desse modo, o amor é, para nós, algo desconhecido, tal como a morte. Mas, com a mente livre do conhecido apresenta-se-nos aquilo que não se pode conhecer mediante palavras, experiências, visões, qualquer forma de expressão. Se não conhecemos o amor, se não conhecemos a extraordinária plenitude e riqueza da morte, jamais saberemos o que é viver sem tortura, sem ansiedade, sem as aflições de cada dia. 

Jiddu Krishnamurti — O descobrimento do amor   

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Karma e Reencarnação

Atém-se a mente a conclusões, condicionando-se dessa forma ao passado. É mister vigilância desse condicionamento resultante da causa-efeito. Não é estática a causa-efeito, mas o é a mente quando se prende a uma causa-efeito do passado imediato. “Karma” chama-se esse aprisionamento à causa-efeito. Como o próprio pensamento é resultado de múltiplas causas-efeitos, deve ele soltar-se desses vínculos com que se prendeu. (O Egoísmo e o Problema da Paz, pág. 145-146)

O problema da causa-efeito não é para ser observado superficialmente e ser deixado para trás. É a cadeia contínua da memória, com sua atividade condicionadora, que deve ser observada e compreendida; ficar cônscio de que essa cadeia foi criada, e acompanhá-la através de todos os estratos da consciência, é difícil; cumpre, entretanto, investigá-la profundamente e compreendê-la. (Idem, pág. 146)

Pergunta: Julgais que “karma” é a ação recíproca entre o ambiente falso e o falso “eu”?

Resposta: “Karma” é uma palavra sânscrita, que significa praticar, fazer, obrar, implicando também causa e efeito. Ora, karma é escravidão, é reação nascida do ambiente que a mente não compreendeu. (…) (A Luta do Homem, pág. 48)

Torna-se, pois, necessário descobrir o que gera essa falta de compreensão, o que impede o indivíduo de perceber o exato significado do ambiente, quer se trate de ambiente passado, quer(…) do atual. (…) (Idem, pág. 48)

A maioria dos espíritos está sob a influência da vaidade, do desejo de causar impressão em outros, com ser alguém; (…) ou fugir do ambiente, ou expandir a própria consciência (…), ou está sob a influência de preconceitos nacionalistas. Esses desejos todos impedem a mente de perceber diretamente o verdadeiro valor do ambiente; (…) (Idem, pág. 49)

Quando verificamos que somos, com efeito, (…) orgulhosos e presunçosos, começa a presunção, pela própria consciência que dela temos, a dissipar-se (…) Mas, se tentardes, encobri-la, ela criará novos males, novas reações falsas. (A Luta do Homem, pág. 49)

Dessarte, para vivermos cada momento num eterno presente, sem o fardo do passado nem do presente, sem essa lembrança deformadora gerada pela falta de compreensão, deve a mente enfrentar as coisas de maneira original, i.e., prescindindo da tradição. (…) Assim, pois, (…) sabereis o que é viver sem conflito (…) (Idem, pág. 49-50)

Pergunta: Pratiquei uma ação iníqua e pecaminosa, que me deixou com verdadeiro sentimento de culpa. Como poderei superar esse sentimento?

Krishnamurti: Senhor, que entendeis por “pecado”? Os cristãos têm um conceito de pecado que vós não tendes, mas vós vos sentis “culpado” ao possuirdes mais dinheiro, ao terdes uma casa maior (…) Quando passeais num carro confortável e avistais uma interminável fila de ônibus (…) (O Homem Livre, pág. 139)

Por que deveis sentir-vos “culpado”? Se estais vivendo intensamente, com todo o vosso ser, se percebeis plenamente tudo o que se passa ao redor de vós e dentro de vós, tanto consciente como inconscientemente, onde há lugar para a “culpa”? O homem que vive fragmentariamente, que está interiormente dividido, esse, sim, sente “culpa”.

Uma parte dele é boa, outra parte corrupta; uma parte procura ser nobre, e a outra é ignóbil; uma parte é ambiciosa, cruel, e a outra fala de paz e de amor. Essas pessoas sentem-se “culpadas” porque se acham ainda dentro do padrão que elas próprias fabricaram. Enquanto houver atividade egocêntrica, não podereis superar o sentimento de culpa. (…) (O Homem Livre, pág. 139)

Pergunta: Pratiquei más ações no passado. Como agora alcançar a paz de espírito?

Krishnamurti: Todos nós cometemos erros (…) Todos temos ofendido outras pessoas e cometido erros graves. E eles deixaram uma marca, um pesar, um arrependimento. E, como pode uma pessoa ficar livre do erro que cometeu? (…) (Poder e Realização, pág. 46)

(…) Nessas condições, a própria ocupação da mente com um erro já cometido torna-se outro erro. (…) Portanto, se me preocupo constantemente com aquela falta, aquele erro (…); se minha mente se mantém ocupada com o caso - ele se torna uma idéia fixa, uma nova barreira (…) (Idem, pág. 47)

Mas, se, ao contrário, eu souber enfrentar os erros, as faltas que cometi, haverá então liberdade (…) Não posso, depois de cometer um erro, reconhecê-lo e, em seguida, largá-lo, i.e, não me ocupar mais com ele? Porque com isso se dá liberdade à mente: estar cônscio do erro cometido, reconhecê-lo, fazer o que tem de ser feito e soltá-lo, não mais ocupar-se com ele. (Idem, pág. 47-48)

Pergunta: Está (…) claro (…) que a consciência do “eu” é resultado do ambiente. Mas (…) não surgiu pela primeira vez na vida presente?

Krishnamurti: Sugere isso a idéia de “karma”. Sabeis o que ela significa: que arcais com um fardo, o fardo do passado, no presente. Isto é, trazeis para o presente o ambiente do passado, e, porque levais esse fardo, influenciais também o futuro, moldais também o futuro. (A Luta do Homem, pág. 34)

Se refletirdes sobre isso, vereis que tem de ser assim, porque, se vossa mente está pervertida pelo passado, o futuro forçosamente será também desfigurado: porque, se não compreendestes o ambiente de ontem, ele se estende necessariamente ao dia de hoje; e, conseqüentemente, como não compreendeis o dia de hoje, é claro que não compreendeis, tampouco, o de amanhã. Vê-se, assim, o indivíduo, colhido num círculo vicioso e daí a idéia de contínuo renascimento, (…) da memória, (…) da mente continuada pelo ambiente. (A Luta do Homem, pág. 34-35)

Mas, afirmo que a mente pode ficar livre do passado, do ambiente passado, dos obstáculos do passado, e que, conseqüentemente, podeis ficar livres do futuro, porque vivereis, então, no presente, dinamicamente, intensamente, supremamente. (Idem, pág. 35)

No presente está a eternidade, e, para tal compreender, deve estar a mente liberta da carga do passado; e para alcançar essa libertação, requer-se intensa investigação do presente, não a preocupação sobre como subsistirá o “eu” no futuro. (Idem, pág. 35)

Pergunta: Aceitais a lei da reencarnação e do karma como válida (…)?

Krishnamurti: Como provavelmente a maioria de vós crê na reencarnação e no karma, peço-vos que não oponhais resistência ao que vou dizer. (…) Em primeiro lugar, a crença, de qualquer espécie, é a negação da verdade. A mente que crê não é uma mente que perscruta (…) nunca pode achar-se em estado de “experimentação”. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 201-202)

Ora, que se entende por reencarnação? Que é que se reencarna? De duas, uma: ou é um entidade espiritual, ou é uma coisa que representa apenas uma acumulação de experiência, de conhecimentos, de memória, não só individual, mas também coletiva, a qual toma forma de novo, numa outra vida. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 202-203)

(…) Existirá em vós uma entidade espiritual, algo que não é da mente, que está além da sensação, algo que não é do tempo (…) imortal? (…) Se dizeis que há em vós uma entidade espiritual, esta, sem dúvida, é produto do pensamento (…) (Idem, pág. 203)

Falaram-vos a respeito dela; não é uma “experiência” vossa. Assim (…) também estais condicionado pela idéia de uma entidade espiritual (…) Ainda que vós mesmo tenhais descoberto (…), ela por certo está ainda compreendida no domínio do pensamento; e o pensamento é resultado do passado, (…) é acumulação, memória. (…) (Idem, pág. 203)

Ora, se não existe entidade espiritual, que é então que se reencarna? E se existe entidade espiritual, pode ela reencarnar-se? (…) Se ela nasce, se é um “processo” no tempo, se progride, então, de certo, não é nenhuma entidade espiritual; se não é do tempo, então não pode reencarnar, tomar uma nova vida. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 203-204)

Nessas condições, se não existe entidade espiritual, então o “vós” é apenas um feixe de lembranças acumuladas; (…) A acumulação das experiências do passado, em conjunção com o presente, constitui o “vós”, tanto o consciente como o inconsciente, tanto o coletivo como o individual - esse feixe todo é o “vós”; e o feixe pergunta: “Reencarnar-me-ei, terei continuidade?” Que acontecerá depois da morte? (…) (Idem, pág. 204)

(…) Ora, perguntais se o “vós” tem continuidade - o “vós” que é o nome, a propriedade (…) as lembranças, as idiossincrasias, as experiências, os conhecimentos acumulados. Tem isso continuidade? Isto é, o pensamento condicionado tem continuidade? O pensamento, é claro, tem continuidade; (…) Tendes continuidade em vossos filhos, vossa propriedade, em vosso nome; (…) isso sem dúvida continua (…) (Idem, pág. 204)

Mas essa continuidade não vos satisfaz (…) Desejais continuar como entidade espiritual, e não apenas como pensamento, como um feixe de reações (…) Mas, sois alguma coisa mais do que isso? Sois mais do que vossa religião, vossa crenças (…) divisões de casta (…) superstições, tradições e esperanças do futuro? (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 204-205)

(…) Assim, quando investigais o problema da reencarnação, estais interessado, não no que está além, mas na continuidade do pensamento identificado como “vós”; e isso, de certo, tem continuidade. (Idem, pág. 205)

A morte é sempre o desconhecido; mas o conhecido teme o desconhecido (…) A continuidade é criadora? Aquilo que é contínuo pode descobrir alguma coisa fora de si mesmo? (…) O que continua nunca pode ser criador. É só no findar que se encontra o novo. Só quando o conhecido deixa de existir, há criação, há o novo, o desconhecido; (…) (Que Estamos Buscando?, pág. 205)

Mas, enquanto estivermos apegados ao desejo de continuidade, que é pensamento identificado como “eu”, esse pensamento continuará, e tudo o que continua tem em si a semente da morte e da deterioração, e não é criador. Só o que termina pode ver o que é novo, fresco, o todo, o desconhecido. (…) (Idem, pág. 205-206)

(…) Mas não ousais largar o velho, porque temeis o novo; porque temeis a morte é que tendes tantos meios de fuga. (…) Mas não vos caberia averiguar se aquilo que continua pode, em algum tempo, conhecer o atemporal? O que continua implica um processo de tempo - o passado gerando, (…) com o presente, o amanhã, o futuro (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 206)

(…) Só quando a mente findar, quando não estiver identificada como “eu”, conhecereis o que está além do tempo; mas o mero especular é desperdício de energia (…) Assim, aquilo que tem continuidade nunca pode conhecer o real, mas o que finda conhecerá o real. Só a morte pode mostrar o caminho para a realidade - não a morte da velhice, nem a morte da doença, mas a morte de cada dia, o morrermos a cada minuto, para vermos o novo. (Idem, pág. 207)

Compreendestes o que eu disse acerca da reencarnação? (…) Mas, se pensardes deveras no que acaba de ser dito, percebereis a extraordinária profundeza do findar, do morrer. (…) Morrer significa apenas o findar do passado, que é memória (…); refiro-me ao findar da acumulação psicológica que constitui o “eu” e o “meu”. E nesse findar do pensamento identificado, encontra-se o novo. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 207-208)

Desejais agora que eu responda à pergunta relativa ao karma. (…) Evidentemente, existe causa e efeito. A mente é o resultado de uma causa, vós sois o produto de ontem e de muitos milhares de dias passados (…) A planta contém em si (…) causa e efeito. É especializada; uma determinada semente não pode tornar-se algo diferente. O que se especializa pode ser destruído, qualquer coisa que se especialize tem de perecer, biológica e psicologicamente; (…) (Idem, pág. 208)

Vemos que a causa se torna efeito, e o que foi efeito se torna uma nova causa (…) Hoje é o resultado de ontem, e amanhã será o resultado de hoje; ontem foi a causa de hoje, e hoje é a causa de amanhã. (…) Não há causa separada do efeito (…), porque a causa e o efeito se entrelaçam; e, logo que o indivíduo percebe o processo da causa e efeito, como ele realmente opera, pode ficar livre dele. (Idem, pág. 208)

(…) Assim, enquanto o pensamento estiver preso no processo de causa e efeito, a mente só é capaz de operar dentro de sua própria clausura e, portanto, não há liberdade. Só há liberdade quando percebemos que o processo de causa e efeito não é estacionário, estático, mas está sempre em movimento; uma vez compreendido, esse movimento cessa - e dá-se, então, a possibilidade de passarmos além. (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., pág. 209)

(…) A verdade não é um resultado, uma causa; é algo sem causa. Tudo o que tem causa é produto da mente, tudo o que tem efeito é produto da mente; e para se conhecer o incausado, o eterno, o que está fora do tempo, cumpre que a mente, que é efeito do tempo, deixe de operar. O pensamento, que é efeito e causa, deve deixar de funcionar, pois só então é possível conhecer aquilo que está além do tempo. (Idem, pág. 209)

Pergunta: Credes na reencarnação e no karma?

Krishnamurti: Vejamos (…) Pois bem, que entendeis por reencarnação? Que é que nasce de novo? (…) Vamos averiguar o que é que volta ou reencarna. (…) Ao dizerdes “eu renascerei”, deveis saber o que é esse “eu”. (…) (Nosso Único Problema, pág. 52-53)

(…) Que é esse “eu” que deverá renascer? (…) Ou o “eu” é uma entidade espiritual, ou é apenas um processo de pensamento. Ou ele é uma coisa atemporal, a que chamamos espiritual (…) ou está compreendido na esfera do tempo (…) da memória (…) (Idem, pág. 53-54)

(…) Ora, por espiritual entendemos uma coisa que não está sujeita a condicionamento (…) não é projeção da mente humana, (…) não está encerrada na esfera do pensamento, (…) não está sujeita à morte. Pois bem, será o “eu” uma entidade espiritual dessa ordem? (Idem, pág. 54)

(…) Se é uma entidade espiritual, tem de estar fora do tempo e, por conseguinte, não pode renascer ou continuar. O pensamento não pode_pensá-lo; (…) Se o pensamento é capaz de pensar o “eu”, então este faz parte do tempo; (…) esse “eu” não é livre do tempo; logo, não é espiritual. (…) (Nosso Único Problema, pág. 54)

Pergunta: Acreditais no karma e na reencarnação?

Krishnamurti: (…) Abordaremos primeiro a idéia do karma (…) Se o pensamento está agrilhoado, limitado, então toda ação nascida dele está também agrilhoada, limitada. (…) Se odiais, o resultado disso é futuro ódio e violência (…) Se o pensamento é acanhado, pessoal, deve sempre criar (…) futura limitação (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 92-93)

(…) O resultado pode ser sempre alterado ou modificado, de acordo com a nossa compreensão (…) O pensamento não pode escapar de sua ação e reação limitadas, até compreender o processo de sua própria servidão. (Idem, pág. 93)

Considerando, por exemplo, um hindu; o pensamento que ele expressa é limitado pelas crenças e tradições de um hindu. A idéia da reencarnação envolve o renascimento do “eu”. (…) A esse “eu” é atribuída a faculdade de continuar a nascer várias vezes até alcançar a perfeição, a realidade, a libertação. (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 94-95)

Se pensais que sois uma entidade espiritual ou realidade, o que significa isso? Não implica um estado imortal, fora do tempo, um estado eterno? Se ele é eterno, então não tem crescimento; pois aquilo que é capaz de crescimento não é eterno. (…) (Idem, pág. 95)

Se essa essência espiritual é supostamente amor, inteligência, verdade, então como pode ser cercada por essas trevas que confundem, (…) violência e ódios, (…) febril busca das exigências do “eu”? (…) (Palestras em Ojai e Saróbia, 1940, pág. 95)

Como expliquei, o pensamento condicionado deve continuar a criar futuras limitações para si próprio. O “eu” não é somente uma forma particular, física, mas, além de sua aparência externa, há o eu psicológico. (…) (Idem, pág. 96)

Não existe entidade espiritual identificada como “eu”

Pergunta: A crença na teoria da reencarnação não ajuda a vencer o temor da morte?

Krishnamurti: Que entendeis por temor, e que entendeis por morte? Não estou tergiversando. Por que tendes medo da morte? Evidentemente, vós temeis a morte porque ainda não vos preenchestes. Amais alguém e há o perigo de perder essa pessoa; estais escrevendo um livro e podeis morrer sem o terdes terminado; estais construindo a vossa casa e a morte pode chegar, antes de concluída a obra: desejais fazer alguma coisa e a morte pode desferir-vos o seu golpe. Que temeis? Temeis, evidentemente, partir de súbito, não vos preencherdes, temeis ser obrigado a findar. Não é o findar que vos faz ter medo? Não estamos, por ora, tratando da morte – discutiremos a seu respeito mais adiante.

Estamos tratando do que se entende por temor. É bem evidente que o medo só existe em relação com alguma coisa. Há temor em relação com o vosso preenchimento. A questão pois, é esta: há preenchimento? Podeis dizer que estou fazendo rodeios, dando uma explicação palavrosa. Mas não é tal; a vida não é coisa a que possamos dar respostas categóricas de “sim” ou “não”. A vida é muito mais complexa, muito mais bela e sutil.

Aquele que deseja uma resposta pronta, é melhor que tome um narcótico, seja o narcótico da crença ou o do divertimento, porque então não terá mais problemas. Para compreender a vida, o homem precisa explorar, descobrir, e essa exploração, esse descobrimento são negados quando a mente está amarrada a alguma crença? Em tal caso, é impossível compreender este problema em sua totalidade.

Que se entende por temor? O temor existe em relação com alguma coisa, essa coisa é o preenchimento de nosso “eu”, em qualquer medida, grande ou pequena. É possível o preenchimento do “eu”? Que se entende por “eu”? Vamos examinar esse assunto com muita atenção, para ver o que é esse “eu”. O “eu”, evidentemente, é um feixe de lembranças, que inclui aquela coisa que chamo eterna, permanente. Essa parte não física do “eu”, ainda que eu a chame Atman, é memória, está sempre compreendida na esfera do pensamento. Isso não podeis negar, não é verdade? Se podeis pensar em alguma coisa, ela ainda está dentro da esfera do pensamento.

O que o pensamento produz, é sempre produto dele próprio, e portanto coisa do tempo. Não há dúvida de que esse todo é o “eu”, o “ego”, quer superior, quer inferior – todas as divisões estão na esfera do pensamento. Por conseguinte, a memória, qualquer que seja o nível em que fixeis o vosso pensamento, é sempre memória. O “eu”, portanto, é um feixe de lembranças, e nada mais. Não existe entidade espiritual identificada como “eu” ou distinta do “eu”; porque, quando dizeis que existe uma entidade espiritual separada do “eu”, ela é ainda um produto do pensamento e por conseguinte está ainda compreendida na esfera do pensamento, - e pensamento é memória. Assim, o “vós” e o “eu”, superior ou inferior, qualquer que seja o ponto em que o fixemos, é memória.

Ora, enquanto existe memória, que é o desejo de vir a ser, há sempre um objetivo para se alcançar; é assim que se verifica a continuação da memória, do “eu” e do “meu”. Isto é, enquanto há um objetivo para se realizar, em proveito do “eu’, e do “meu”, e portanto haverá sempre temor.

O temor só desaparece quando não há mais continuação do “eu” – sendo o “eu” memória. Em outras palavras: enquanto estou em busca de preenchimento, essa mesma busca gera temor da incerteza. Por isso temo a morte. Quando não tenho o desejo de me preencher, não há mais temor. O desejo de preenchimento desaparece logo que compreendo o processo do preenchimento. Não posso simplesmente afirmar que não tenho desejo de preenchimento, pois isso não passa de repetição de uma verdade, sendo, portanto mentira. Enquanto houver qualquer atividade do “eu”, há de haver o temor da morte, o temor de findar, o temor de não continuar.

Que entendemos por morte? É claro que tudo aquilo que é submetido a uso constante chega a um fim; qualquer máquina que funciona constantemente se gasta. De modo idêntico, o nosso corpo, que está em uso constante, chega a um fim, por doença, acidente ou pela idade. Isso é inevitável: pode durar cem anos ou dez anos, mas, visto que está em uso constante, tem de gastar-se. Reconhecemos e aceitamos esse fato, porque o vemos suceder sempre.

Mas existe o “eu” que não é o meu corpo, o “eu” que é minha compreensão acumulada, as coisas que fiz nesta vida, as coisas pelas quais lutei, as experiências que acumulei, as riquezas que juntei – não o “eu” físico, mas o “eu” psicológico, que é memória e que desejo continue a existir, que não desejo que finde. Em verdade, não é a morte que tememos, mas esse findar. Desejamos continuidade. Isto é, desejais que vossas lembranças persistam, com todas as suas riquezas, suas tribulações, sua fealdade, sua beleza, etc. – quereis que tudo isso persista.

Assim, se alguém vos garante essa continuidade, vós o abençoais, o venerais, e fugis de todo aquele que vos aponta a necessidade de compreender aquele “eu”. Na morte, é o fim psicológico que nos causa medo, não é verdade? Não sabeis, na realidade, o que é a morte. Vedes passar enterros, vedes sem vida uma coisa que era antes cheia de vida e de atividade, e não sabeis o que há além. Vedes essa coisa inanimada, desnuda, que se decompõe, e desejais saber o que acontece além – isto é, desejais uma garantia de continuidade de vossas lembranças. Assim, de fato, não estais interessados em saber o que há além, não estais interessados em descobrir o desconhecido: o que desejais é ter certeza da continuidade de vossas lembranças.

Não vos interessa a morte, interessa-vos apenas a vossa própria continuidade como memória. Só quando tiverdes interesse, podereis saber o que é a morte; mas não vos interessa descobrir o significado, a beleza do que está além, não vos interessa o desconhecido, porque só vos interessa o conhecido e a conservação do conhecido. Por certo, o desconhecido só pode ser visto quando o não tememos, o que significa que enquanto estiverdes apegado ao conhecido e desejardes que o conhecido persista, nunca chegareis a conhecer o desconhecido. É muito significativo, não achais? – o fato de que entregastes a vossa vida ao conhecido e não ao desconhecido. Têm-se escrito livros sobre a morte, porque o que interessa é a continuidade.

Ora, não sabeis que aquilo que continua não tem renascimento, não tem renovação? Uma coisa que se repete constantemente, que está ligada a uma cadeia infinita de causa e efeito, sem dúvida não tem renovação. Ela subsiste, simplesmente; sofre alguma modificação, alguma alteração, mas continua essencialmente a mesma. O que é sem cessar a mesma coisa, nunca será novo. Isto é, desejo que o dia de ontem continue, através de hoje, no amanhã; e esse processo do passado que se transporta, através do presente, para o futuro, é o “eu”.

É esse “eu” que quero que persista, e essa continuidade, obviamente, não tem renovação, porque tudo que continua conhece o medo do fim. Por conseguinte, quem deseja continuar a existir sempre, sempre estará nas garras do temor. Só no desconhecido há renovação; é no desconhecido que há criação, e não na continuidade.

Assim, precisais sondar o desconhecido, mas para tanto não podeis ficar apegado à continuidade do conhecido; porque o “eu” e a constante repetição do “eu” recaem no campo do tempo, com suas lutas, suas realizações, suas lembranças. O “eu”, que é um feixe de memórias identificadas como “eu”, quer existir sempre; e não há dúvida de que a continuidade permanente no tempo é um fator de deterioração... Só no desconhecido se encontra renovação, um estado de novo; precisais, pois, investigar o desconhecido. Isto é, precisais investigar a morte, assim como investigais a vida, com suas relações, sua variedade, suas profundezas, seus desgostos e alegrias.
O conhecido é memória e tem continuidade; e pode o conhecido estabelecer relação com o desconhecido? Não pode, evidentemente. Para investigar o desconhecido, a mente precisa tornar-se o desconhecido. Estais muito familiarizados com o “eu”, o “meu”, com vossos companheiros, vossa memória, vossas organizações religiosas, vossas vaidades e paixões – todas essas coisas constituem a vossa vida.

Superficialmente, essas coisas vos são bem conhecidas, e com essa mentalidade do conhecido vos chegais ao desconhecido, procurais estabelecer relação entre o conhecido e o desconhecido. Desse modo, não tendes relação direta com o desconhecido e, por isso, temeis a morte.

Que sabeis acerca da vida? Pouquíssimo. Não conheceis a vossa relação com a propriedade, com vosso vizinho, vossa esposa, vossas idéias. Conheceis apenas as coisas superficiais, e desejais fazer continuar essas coisas superficiais. Por Deus, que vida deplorável! Não é a continuidade uma coisa estúpida? Só o homem tolo deseja subsistir – nenhum homem que tenha chegado a compreender o sentimento das riquezas inerentes à vida, desejaria a continuidade.

Quando compreenderdes a vida, encontrareis o desconhecido; porque a vida é o desconhecido, a vida e morte são a mesma coisa. Não há divisão entre vida e morte; são os insensatos e os ignorantes que fazem a divisão, os que só se preocupam com o seu corpo e sua insignificante continuidade. Essas pessoas se valem da teoria da reencarnação como um meio de esconder o medo que sentem, como uma garantia de sua continuidade estúpida e banal. É óbvio que o pensamento continua; mas, por certo, o homem que procura a verdade não dá importância ao pensamento, pois o pensamento não conduz à verdade.

A teoria do “eu” que continua a existir, pela reencarnação, para chegar à verdade, é uma ideia falsa, inverdadeira. O “eu” é um feixe de lembranças, e isso é tempo, e a mera continuação no tempo não leva ninguém ao eterno, que está fora do tempo. Só se extingue o temor da morte, quando o desconhecido penetra em vosso coração. A vida é o desconhecido, assim como a morte é o desconhecido, como a verdade é o desconhecido. A vida é o desconhecido; mas nós nos aferramos a uma insignificante expressão dessa vida, e isso a que nos apegamos é simples memória, um pensamento que não se completou; por conseguinte, aquilo a que nos apegamos é uma coisa irreal, sem validade alguma. A mente se apega a essa coisa vazia, chamada memória, e memória é a mente, o “eu, qualquer que seja o nível em que nos agrade fixá-lo.

Assim, a mente, que está na esfera do conhecido, não pode chamar a si o desconhecido. Só quando há o desconhecido, um estado de incerteza absoluta, ocorre a cessação do temor, e com ela a percepção da realidade.

J. Krishnamurti: Paz no Coração - (páginas 68 a 76 )

Sobre a crença na reencarnação

Uma forma de segurança religiosa é a crença na reencarnação, a crença em vidas futuras, com tudo o que a crença implica. Digo que quando um homem está preso por uma crença ele não pode conhecer o preenchimento da vida. O homem que vive plenamente atua partindo daquela fonte em que não existe reação, mas somente ação; mas o homem que procura segurança, fuga, precisa agarrar-se a uma crença porque dela lhe deriva um apoio contínuo, encorajamento à sua falta de compreensão.(1)

O que acontece quando você perde uma pessoa por morte? A reação imediata é um sentimento de paralisia, e quando se sai desse estado de choque, existe aquilo que chamamos sofrimento. Agora, o que significa essa palavra? Sua companhia, as palavras confortantes, os passeios, as muitas coisas boas que você fez e esperava ainda fazer, juntos – tudo que isto lhe é tirado em segundos, e você é deixado vazio, nu, e solitário. É isso que incomoda, e contra isso é o que a mente se rebela: ser repentinamente abandonada, totalmente sozinha, deixada sem qualquer apoio. Agora, o que importa é viver com esse vazio, justamente isso, viver com ele sem nenhuma reação, sem racionalizar, sem fugir por meios de médiuns, por teorias de reencarnação e toda essa bobagem estúpida, e viver isso com todo seu ser. E se você for passo a passo, notará que existe um fim no sofrimento – um final real, não só um final verbal, não, o final superficial que vem por fuga, por identificação com um conceito, ou compromisso com uma ideia. Então você notará que nada existe onde se proteger, porque a mente está completamente vazia, já não está reagindo, no sentido de tentar preencher esse vazio, então, todo sofrimento terá chegado ao fim, e terá início outra viagem – uma viagem que não tem fim e nem começo. Existe uma imensidão que está além de toda medida, mas você não pode entrar neste mundo sem a eliminação total do sofrimento.(2)

Você quer que eu lhe dê garantia que você viverá outra vida, porém nisso não existe felicidade ou sabedoria. A procura por imortalidade através da reencarnação é essencialmente egoísta, e portanto não verdadeira. Sua procura por imortalidade é só outra forma do desejo de continuidade de reações auto-defensiva do ego contra a vida e a inteligência. Tal ânsia só pode conduzir à ilusão. Assim o que importa é, não se há reencarnação, mas a percepção perfeita do que acontece no presente. E você só pode fazer isso quando sua mente e coração já não estiverem se protegendo contra a vida. A mente é esperta e sutil em sua autodefesa, e tem que descobrir por si mesma a natureza ilusória da auto-proteção. Isto significa que você tem que pensar e agir de forma totalmente nova. Você precisa se libertar da rede de falsos valores que o meio lhe impôs. Deve haver incondicional desnudamento. Então existe imortalidade, a realidade.(3)

Vamos descobrir o que você quer dizer com reencarnação – a verdade disto, não o que você acredita, não o que alguém lhe contou, ou o que seu instrutor disse. Certamente, é a verdade que liberta, não sua própria conclusão, sua própria opinião... Quando você diz, "eu" reencarnarei”, você tem que conhecer o que é esse "eu"... É o “eu” uma entidade espiritual? É o “eu” alguma coisa contínua, é o “eu” algo independente da memória, experiência, conhecimento? Ou o “eu” é uma entidade espiritual, ou é somente um processo do pensamento. Ou é atemporal, algo que nós chamamos espiritual, não mensurável em termos de tempo, ou está dentro do limite do tempo, do campo da memória, do pensamento. Ou uma coisa ou outra! Vamos descobrir se isso está além da medida do tempo. Eu espero que você esteja acompanhando tudo isso. Vamos descobrir se o “eu” é em essência algo espiritual. Vejamos, por "espiritual" nós queremos dizer, algo incapaz de ser condicionado, algo que não é a projeção da mente humana, algo que não está dentro do limite do pensamento, algo que não morre. Quando nós falamos de uma entidade espiritual, obviamente, nós queremos dizer algo que não está dentro do campo da mente. Agora, é o “eu” uma entidade espiritual? Se for uma entidade espiritual, deve estar completamente além do tempo, então não pode reencarnar ou ter continuidade... Aquilo que tem continuidade nunca pode renovar-se. Enquanto o pensamento continua através da memória, do desejo, da experiência, nunca pode se renovar, portanto, aquilo que continua não pode conhecer o real.(4)

(1)Krishnamurti - Itália e Noruega
(2)Krishnamurti – O Livro da Vida
(3)Krishnamurti - O Livro da Vida
(4)Krishnamurti - O Livro da Vida

Você acredita em reencarnação?

Pergunta: Acreditais na reencarnação? É ela um fato? Podeis fornecer-nos provas oriundas de vossa experiência pessoal?

Krishnamurti: A ideia da reencarnação é tão velha como as montanhas; a ideia de que o homem, por meio de múltiplos renascimentos, passando por inúmeras experiências, chegará finalmente à perfeição, à verdade, a Deus. Ora, o que é isso que renasce, o que é isso que continua? Para mim, essa coisa que supostamente continua nada mais é que uma serie de camadas de memórias, de certas qualidades, certas ações incompletas que foram condicionadas, obstruídas pelo medo nascido da auto-proteção. Agora, essa consciência incompleta é o que nós chamamos o ego, o "eu". Como expliquei no começo, em minha ligeira palestra de introdução, a individualidade é o acúmulo dos resultados de várias ações que foram obstruídas, oprimidas por certos valores e limitações herdados e adquiridos. Espero não estar tornando tudo muito complicado e filosófico; procurarei simplificar o assunto.

Quando falais no "eu", entendeis por tal um nome, uma forma, certas idéias, certos preconceitos, certas distinções de classe, qualidades, preconceitos religiosos, e assim por diante, que foram desenvolvidos por meio do desejo de auto-proteção, de segurança e de conforto. Para mim, portanto, o "eu", baseado numa ilusão, não tem realidade alguma. Portanto, a questão não é saber se existe a reencarnação ou não, se existe ou não uma futura possibilidade de crescimento, mas sim se a mente e o coração podem libertar-se dessa limitação do “eu”, do “meu”.

Haveis perguntado se acredito ou não na reencarnação porque esperais, através da minha garantia, poder postergar o entendimento e a ação no presente, e que chegareis eventualmente a perceber o êxtase da vida ou da imortalidade. Desejais saber se, sendo forçados a viver num ambiente condicionado com limitadas oportunidades, podereis um dia, através dessa miséria e desse conflito, chegar a compreender aquele êxtase da vida, a imortalidade. Visto a hora estar adiantada, sou obrigado a resumir e espero que reflitais sobre o que se segue.

Afirmo que existe a imortalidade; para mim, é uma experiência pessoal, entretanto, ela só poderá ser percebida quando a mente não está procurando um futuro em que haverá de viver mais perfeita, completa e ricamente. A imortalidade é o infinito presente. Para entender o presente com o seu pleno, rico significado, a mente tem que se libertar do hábito da aquisição auto-protetora, e quando ela está por completo desnuda, somente então há a imortalidade.

Jiddu krishnamurti — Palestras no Brasil — segunda edição

segunda-feira, 20 de maio de 2013

Por que a mente se apega a crenças, conceitos e dogmas?

A mente repleta de conhecimentos, crenças, teorias, não está, por certo, livre para investigar o verdadeiro. Mas, se pudermos compreender e dissolver o condicionamento, os preconceitos e dogmas que nos estão enevoando a mente, talvez então esta se torne livre para descobrir, pois, assim, a própria verdade atuará sobre o problema, em vez de ficar a mente lutando por uma solução por meio de seu próprio condicionamento — que não pode leva-la a parte alguma.
Eis porque acho muito importante saber escutar. Pouquíssimos de nós somos capazes de escutar verdadeiramente; pouquíssimos dentre nós ouvimos ou vemos as coisas com verdadeira clareza, porque tudo o que observamos ou ouvimos é imediatamente interpretado, traduzido pela mente, de acordo com nossas próprias ideias e peculiar temperamento. Pensamos estar compreendendo, mas não estamos, por certo. De tal maneira estamos sendo distraídos por nossas opiniões e conhecimentos, pelo aprovar ou reprovar, que nunca vemos o problema como ele de fato é. Mas, se pudermos desembaraçar-nos de nossos peculiares pontos-de-vista e, escutando, seguindo o funcionamento da mente, perceber o fato tal qual é, acho que veremos então manifestar-se um processo completamente diferente, o qual nos habilitará a considerar os nossos problemas com plena liberdade e clareza.
(...) Por certo, só a mente que está livre, por inteiro, de toda e qualquer autoridade, consciente ou inconsciente, é capaz de descobrir se existe uma realidade que transcende as meras concepções mentais. A mente livre é aquela que se libertou de toda crença, de todos os padrões de pensamento, conscientes ou inconscientes. Na atualidade, todo o nosso pensar resulta de nosso especial condicionamento, nossas experiências, lembranças, temores, esperanças, acumulados através do tempo. Em tais condições, é bem óbvio que a mente não está livre. Só existe liberdade quando o processo do pensamento, no seu todo, foi compreendido e transcendido; e só então se torna possível o surgir de uma mente nova, regenerada.
Assim sendo, pode a mente libertar-se de seu próprio condicionamento, para considerar de maneira nova os seus problemas? Pode ser livre a mente? — não como cristã, hinduísta, sueca, comunista ou seja o que for, nem puramente no sentido de abandonar um dado ideal, crença ou hábito, porém livre para descobrir o que significa transcender todas as influências e contradições, mentais e sociais.
Como está reagindo agora a mente? Reagir, concordando ou discordando, é de todo vão, uma vez que tal reação é produzida por nosso próprio fundo, nosso acervo de saber e crença. Mas, “experimentar” o que está se passando em nós mesmos, isso parece-me verdadeiramente proveitoso. Ora, pode-se investigar inteligentemente, pacientemente, para descobrir se há alguma possibilidade, de libertarmos a nossa mente de todo parcialismo, toda influência, habilitando-a, assim, a transcender suas próprias atividades? Do contrário, nossa vida será sempre muito superficial, vazia — e talvez quase todos estejamos nesse caso. Temos um enorme acervo de informações, conhecimentos, inumeráveis crenças, credos, dogmas, mas na realidade somos muito superficiais e infelizes.
(...) A mente agora é estéril, não criadora, no lídimo sentido da palavra, não é exato? Ela é uma coisa artificial, constituída das acumulações da memória. Enquanto existir inveja, ambição, busca interesseira, não pode haver o estado criador. Parece-me, por conseguinte, que o mais que podemos fazer é compreendermos a nós mesmos, as operações de nossa mente; e esse processo de compreensão representa uma volumosa tarefa. Não é coisa que se faz esporadicamente, que se deixa para mais tarde, para amanhã, mas deve ser feita todos os dias, a cada momento, continuamente. Compreender a si mesmo é estar cônscio, espontaneamente, naturalmente, dos movimentos do pensar. Começa-se, assim, a perceber todos os ocultos motivos e intenções que nutrem os nossos pensamentos, e resulta, daí, a libertação da mente dos processos que a tolhem e limitam. Ela está então tranquila; nessa tranquilidade pode manifestar-se, de modo espontâneo, algo que não é produto da mente.

(...)Pergunta: Dizeis que, para se operar a transformação, precisamos compreender todo o nosso fundo. Isso quer dizer que precisamos compreender a reencarnação e Karma?

Krishnamurti: Karma é uma palavra sânscrita, que significa ação. E, quanto à reencarnação, sabeis o que significa!
Acho bem óbvio que a mente que crê em alguma coisa, que se mantém apegada a algum desejo psicológico ou esperança resultante do medo, vive sempre presa nesse padrão da crença; e a luta que se trava dentro do padrão de qualquer crença não significa de modo nenhum transformação. O homem que simplesmente crê na reencarnação não compreendeu o problema da morte e do sofrimento e, porque crê em tal teoria, está tentando fugir ao fato da morte.
A palavra karma implica numerosos problemas. Precisamos compreender os motivos de nossas ações — as influências, as compulsões, as causas produtoras da ação. Tudo isso, por certo, faz parte do fundo que precisamos compreender; e a crença na reencarnação faz também parte desse fundo. A mente que crê é incapaz de compreensão, porquanto a crença, evidentemente, é uma fuga à realidade.

(...)Pergunta: Li um livro americano que parece provar convincentemente, por meio da hipnose, que a reencarnação é um fato. Que comentais sobre isso?

Krishnamurti: Aí está uma questão um tanto complexa, e acho necessária examiná-la convenientemente. Todos sabemos que existe a morte. O organismo físico tem de acabar-se, uma vez que se consome pelo uso; e desejamos saber se há continuidade após a morte. Todas as coisas que conhecemos e experimentamos tem fim e, por essa razão, indagamos o que será de nós depois. Este problema surge em todo mundo. No Oriente, a reencarnação é aceita como crença, e o autor desta pergunta diz que se escreveu um livro que prova, por meio da hipnose, que uma pessoa teve vidas anteriores; e queremos, portan­to, saber se a reencarnação é um fato. Não sei se credes que o pensamento é independente do corpo, independente do organismo físico. Temos um organismo, reações ner­vosas e pensamentos; e, assim, perguntamos se o pensa­mento continua após a morte.
Ora, que acontece quando fazemos tal pergunta? O fato verdadeiro é que desejamos continuar a existir, não é exato? — ou, também, achamos preferível o aniquilamento. Tanto num como noutro caso, a mente sele­cionou a teoria que melhor lhe convém. Se credes, ou não, na reencarnação, isso pouco importa; mas pode-se descobrir a verdade a esse respeito, a verdade a respeito da morte? A todos nos agrada pensar que existe uma al­ma eterna, e aceitamos várias crenças que nos ensinam que a alma é uma entidade espiritual que transcende o organismo físico. Mas a crença numa ideia, por mais con­fortante e animadora que seja, não nos dá perfeita com­preensão da morte. Sem dúvida, a morte é algo totalmen­te desconhecido, algo completamente novo, e, por mais ansiosamente que investiguemos esta questão, não encon­traremos resposta satisfatória. Tudo o que conhecemos está encerrado nos limites do tempo, e o que somos é apenas uma acumulação de memórias e experiências do passado. Determinamos nossa própria entidade por meio da me­mória — memória de "minha casa", "meu nome", "minha família", "meu saber", "minha pátria" — e queremos que esse "eu" tenha continuidade no futuro. Ou, ainda, di­zemos: "A morte é o fim de tudo" — o que também não representa solução alguma.
Pois bem. Pode-se descobrir a verdade acerca da morte? Sabe-se que buscamos a continuidade do "eu". O pensamento vive numa perpétua busca de permanência e, por essa razão, dizemos que deve haver alguma forma de continuidade. O pensamento é contínuo, não? E en­quanto existir o desejo de continuidade, fortaleceremos cada vez mais a ideia do "eu" e de "minha própria impor­tância". Pode ser que o pensamento continue, assuma outra forma, e a isso se chama reencarnação. Mas, aquilo que tem continuidade poderá conhecer o imensurável, o atemporal? Poderá ser criador? Ora, por certo Deus, a Verdade, ou como o chamardes, não pode ser encontra­do nos limites do tempo. Deve ser algo inteiramente no­vo, e não coisa criada pelas nossas próprias esperanças e temores. E, todavia, a mente deseja a permanência, não é verdade? Por conseguinte, diz: "Deus é permanente" e "eu terei continuidade depois desta vida".
Como vedes, o problema não é a reencarnação, mas, sim, o fato de buscarmos a permanência, nesta vida e de­pois dela. Enquanto a mente buscar a segurança, em qual­quer sentido que seja, através do nome, da família, da posição, da virtude, etc., continuará a existir o sofrimen­to. Só a mente que morre dia a dia, de momento a mo­mento, para tudo o que acumulou — só essa mente pode conhecer a verdade. E, então, talvez descubramos que não existe divisão entre a vida e a morte, porém, unica­mente, um estado todo diferente, em que o tempo, tal co­mo o conhecemos, não existe.

(...)Pergunta: Se alguém deseja encontrar a liberdade, na direção por vós indicada, não é também necessário que tal pessoa renuncie à igreja, ou a quaisquer organizações religiosas em que se interessa?

Krishnamurti: Se uma pessoa deseja libertar-se, deve abandonar, renunciar, ou colocar de lado organizações que exigem crença? É claro que deve. Se uma pessoa pertence a uma organização que exige crença, que se baseia no medo, no dogma, nesse caso sua mente é escrava de tal organização e não pode ser livre. Só a mente que é livre — e este é um problema verdadeiramente complexo e difícil — pode descobrir se existe uma realidade, se há Deus, e não a mente que crê em Deus.
Ora, porque nos apegamos aos dogmas, às crenças, aos rituais impostos pelas religiões? Se compreendermos isso, então todas essas coisas cairão por si, como as folhas no outono, sem esforço algum.
Porque pertenceis a uma dada organização religiosa? Necessitamos, é óbvio, de organizações — para entrega de correspondência, fornecimento de leite etc.; mas por que razão a mente se apega a dogmas? Não é porque, no dog­ma, na crença, ela encontra segurança, apoio? Porque vi­ve incerta, temerosa, insegura, a mente projeta uma cren­ça ou se apega a um dogma oferecido por tal igreja ou tal organização. A mente se apega ao dogma, à crença, como meio de fuga à sua própria incerteza, sua insuficiên­cia interior. Procura encher o seu vazio com dogmas, com crenças, superstições, rituais. Podeis renunciar a uma crença ou abandonar um dogma; mas, enquanto não compreenderdes vossa pobreza, vossa insuficiência interior, enquanto a mente não tiver compreendido o seu próprio vazio, o mero renunciar à religião organizada é sem sig­nificação. Só terá significação quando compreenderdes o elemento interior que vos força a apegar-vos à conclusão, à crença. Eis porque é tão importante conhecermos a nós mesmos, sabermos porque cremos, porque rejeitamos, porque renunciamos. Só no autoconhecimento existe a sabedoria — não nas crenças, não nos livros, porém na integral compreensão da estrutura de nossa mente. Só a mente livre pode compreender o que se encontra além do tempo.

Krishnamurti — Verdade Libertadora — ICK

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Entrando na mansão da morte, enquanto vivos


Pergunta: Quando morremos, renascemos nesta Terra, ou passamos para um outro mundo?

Krishnamurti: Esta questão interessa a todos nós, moços e velhos, não é verdade? Examiná-la-ei pois com certa profundeza e espero que tenhais a bondade de seguir-me, não apenas ouvindo as minhas palavras, mas tendo a experiência real disso que vou examinar junto convosco. Todos sabemos que a morte existe, os mais velhos, principalmente, e bem assim os jovens que a observam. 

Os jovens dizem: "Esperemos que ela chegue, e saberemos lidar com ela" — e os velhos, como já se aproximam da morte, recorrem a vários meios de consolação. 

Tende a bondade de seguir o que estou dizendo, aplicando-o a vós mesmos, e não a outras pessoas. Como sabeis que ides morrer, tendes certas teorias a esse respeito, não é verdade? Credes em Deus, credes na ressurreição ou Karma, ou reencarnação; dizeis que nascereis de novo, aqui ou noutro mundo. Ou racionalizais a morte, dizendo-a inevitável, pois atinge a todo mundo; à arvore definha e nutre o solo, e surge uma nova árvore. Ou, ainda, estais tão mergulhado nas vossas diárias preocupações, ansiedades, ciúmes, invejas, vossa competição e vossa riqueza, que não vos sobra tempo para pensar na morte. Entretanto, ela está sempre presente no espírito; consciente ou inconscientemente, ela lá está.

Antes de mais nada, podeis libertar-vos das crenças, das racionalizações ou da indiferença que tendes cultivado em relação à morte? Podeis libertar-vos dessas coisas agora? Porque o que importa é "entrarmos na mansão da morte" enquanto estamos vivos, plenamente conscientes, ativos, gozando saúde, e não que fiquemos esperando a chegada da morte, que pode arrebatar-nos repentinamente num acidente, ou lentamente, pela doença, privando-nos pouco a pouco a consciência. Quando chega a morte, esta hora deve ser um momento extraordinário, tão vital como o viver. 

Pois bem, posso eu, podeis vós, "penetrar na mansão da morte" enquanto vivos? Este é o problema, e não o indagar se há reencarnação ou se existe um outro mundo, onde tornaremos a nascer — pois tudo isso é falta de madureza, infantilidade. O homem que vive não faz perguntas sobre o que é o viver nem tem teorias sobre o viver. Só os semivivos é que falam da finalidade da vida. 

Assim, podemos, vós e eu, enquanto estamos vivos, conscientes, ativos, na posse de todas as nossas atividades, quaisquer que estas sejam, saber o que é a morte? E a morte é então diferente do viver? Para nós, em geral, viver é o contínuo existir daquilo que julgamos permanente. Nosso nome, nossa família, nossos haveres, nossos interesses econômicos e espirituais, a virtude que cultivamos, as coisas que adquirimos emocionalmente — queremos que tudo isso tenha continuidade ininterrupta. E o momento que chamamos "a morte" é o momento do desconhecido e, por conseguinte, sentimo-nos atemorizados e procuramos consolo, alguma espécie de conforto, desejamos saber se há vida após a morte, e uma dúzia de outras coisas mais. Todos esses problemas são irrelevantes, são problemas para os preguiçosos, os que não querem descobrir o que é a morte enquanto vivos. E podemos nós dois, vós e eu, descobri-lo?

Que é a morte? Ela é, sem dúvida, a cessação de todas as coisas que conhecemos. Se não é a cessação de tudo que conhecemos, não é a morte. Se já conheceis a morte, não há então o que temer. Mas, sabeis o que é a morte? Isto é, podeis, enquanto estais vivo, por fim a esta luta perene para achar no impermanente algo que continue a existir? Podeis conhecer o incognoscível, o estado que chamamos morte", enquanto estais vivo? Podeis afastar para o lado todas as descrições do que acontece após a morte, lidas em livros ou ditadas pelo vosso desejo inconsciente de conforto, e provar ou experimentar aquele estado, que deve ser extraordinário, agora mesmo? Se esse estado pode ser experimentado agora, então viver e morrer é a mesma coisa. 

Posso eu, pois, que tenho muita instrução, vastos conhecimentos, que tive experiências inumeráveis, lutas, amores, ódios — posso "eu" terminar? O "eu" é a memória registrada de tudo isso; e pode esse "eu" terminar? Antes que algum acidente ou doença ponha fim à nossa vida, podemos, vós e eu, enquanto estamos aqui, sentados, conhecer esse fim? Se puderdes conhecê-lo não mais fareis perguntas fúteis a respeito da morte e da continuidade, ou se há um outro mundo além deste. Sabereis então a resposta, de vós mesmo, porque terá despontado para vós o Desconhecido. Lançareis fora, então, todas  essas cantinelas de reencarnação, e todos os vossos temores — o medo da solidão e da dependência — terão findado. Isso não são palavras vãs. É só quando a mente deixa de pensar em termos de sua própria continuidade, que desponta o Desconhecido. 

Krishnamurti — Realização sem esforço – pág. 87 à 90 – 21 de agosto de 1955

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill