Só pode haver revolução, quando
há SER, do qual pode resultar ação verdadeira. Enquanto, porém, a mente se
encontra aprisionada no perene processo de VIR A SER, não pode haver revolução,
nem transformação, e não pode haver amor; apenas infelicidade, mais ódios, e
maiores guerras. Que deve, pois, fazer a mente? Ela não pode passar para o
outro estado. A mente que é, em sim, o processo de vir a ser, não pode passar
para o outro estado e assimilá-lo; ELA NÃO PODE TORNAR-SE O SER. Não pode
buscar o SER. No momento em que ela está consciente DO SER, está morto O SER;
já não é O SER uma coisa vital, já não exulta, já não vive, já não age
construtivamente. Que deve então fazer a mente, reconhecendo a sua
IMPOSSIBILIDADE de promover uma revolução em si mesma? (...) só pode
verificar-se esta revolução quando há SER e não VIR A SER. Assim, pois, todo e
qualquer esforço que fizerem para revolucionar O SER, constitui justamente uma
negação da revolução. Isto é, se faço um esforço para compreender aquele
"estado de ser", em que há revolução radical, o ser se torna um
estado morto. Assim, quando minha mente compreende essa coisa, inteiramente,
ela, a mente, se torna muito tranquila; não faz, então, mais esforço para ser
ou não ser;(...) A se torna tranquila, e compreende-se então, na sua
totalidade, o processo do VIR A SER.
A mente não pode chamar a si O
SER. O SER apenas pode manifestar-se quando a mente está de todo tranquila, quando
não persegue alguma coisa, quando não busca um resultado, quando não quer
tornar-se virtuosa. Porque, o "eu" é VIR A SER, o "eu" é O
QUE VEM A SER; e enquanto existir o "eu" não pode haver SER. O
"eu" pode colocar vestes diferentes, de cores diversas, e pensar que
está se modificando, que está produzindo revolução; mas, no centro, continua
presente o "eu", e ele não pode extinguir-se por meio da disciplina,
de controle, de sacrifício, da observância de exemplos. O "eu" existe
em virtude do próprio esforço que faz, para ser ou não ser. (...)
Toda vez que a mente faz um
esforço, esse próprio esforço vai reforçar o "eu" — o "eu"
que se identifica com o Estado, com o partido, com a virtude, com certo sistema
de pensamento, com a religião, com qualquer coisa, enfim. Por conseguinte, não
há, através desse processo, revolução nenhuma, não há transformação; há
tão-somente mais desgraças, maior confusão, mais guerras, mais ódios. Quando
reconheço isso, quando minha mente reconhece isso, há então tranquilidade; há
aquele silêncio tão essencial AO SER; e, só então, há uma possibilidade de
revolução radical.
(...) É só quando a mente já não
está buscando engrandecer-se, já não está à procura de um resultado, já não
está tentando produzir uma ação por meio de ideias — só então, existe a
possibilidade de uma revolução que não procede da mente, que não é produto do
pensamento. Tal é a revolução do SER, da verdade, do Amor. Isto não é uma coisa
sentimental, uma superstição, uma miragem religiosa. Não é um mito, mas uma
realidade que pode ser descoberta por cada um de nós. Esta Realidade pode
encontrar-se apenas quando estamos possuídos de um sério empenho, quando
sabemos escutar a algo que é verdadeiro e deixar essa Verdade operar e
purificar a nossa mente de todos os seus pensamentos.
Jiddu Krishnamurti —
Autoconhecimento — Base da Sabedoria