Krishnamurti: De maneira muito simples. Primeiro deixe-me concluir o que estava dizendo. Voltarei a sua pergunta.
Senhor, que é que há para conhecermos a respeito de nós mesmos? Condicionamento, herança racial e genealógica, peculiaridades, inclinações e tendências psicológicas, pressões do ambiente, uma deixe de "memórias" (o que sou — um devaneio). Não há muito o que aprender. Mas só posso dizer que não há muito o que aprender, após observar a mim mesmo. Mas, se dizemos "Não há muito o que aprender acerca de nós mesmo", não saímos do lugar em que estamos. Portanto, uma das perguntas fundamentais é esta: "Como pode a mente humana, condicionada como está, descondicionar-se?"
E qual a origem desse condicionamento? È bastante fácil descobrir-se, não? Observem-se os animais, como são agressivos, a fim de sobreviverem. Eis a origem do condicionamento. Observem as aves, como se fazem senhoras de seus domínios; os direitos territoriais sobrelevam os direitos sexuais — e aí está a origem da agressão. E nós também temos propriedades: a propriedade é para nós imensamente importante, tal como os direitos sexuais, etc. Mas, uma questão muito mais importante: "Há possibilidade, para uma mente tão condicionada como a nossa, de libertar-se imediatamente (não gradualmente, porém imediatamente) de todo o seu condicionamento? Dizemos que só é possível por meio da meditação — não de uma meditação "falsificada", nem da meditação de indivíduos de longas barbas ou barbas curtas, de longas cabeleiras ou cabeças raspadas: a meditação que existe quando estamos aprendendo, sem acumulação, sobre nós mesmos. Então, dessa meditação nasce uma maneira de vida completamente pacífica, não agressiva, que não exige que vivamos na sociedade ou fora da sociedade. Essa meditação produz sua ação própria, na qual nenhum conflito existe.
Interrogante: A meditação constitui uma maneira de vida?
Krishnamurti: Decerto; mas, para compreender a meditação temos de observar — observar como olhamos uma árvore, se há espaço entre nós e a árvore, entre o observador e a coisa observada — a árvore; ou, quando o observador se separa da sua avidez e diz: "Eu não sou a avidez, e tenho de livrar-me da avidez", e há um espaço entre o observador e a coisa observada e, em seguida, o conflito. Mas o observador é a coisa observada e, porque, sendo ávido, diz "Não devo ser ávido", criando assim uma dualidade. A meditação, pois, é uma coisa maravilhosa e não pode ser aprendida de ninguém; essa é a sua beleza. Não é uma coisa que se aprende, uma técnica e, por conseguinte, dispensa toda autoridade. Assim, se você deseja compreender-se, observe sua maneira de andar, de falar, o que diz, sua "tagarelice", seu ódio e ciúme. Se de tudo você está consciente, sem selecionar, isso faz parte da meditação, e ao caminhar, ao viajar, simultaneamente você medita. Esse movimento é, então, infinito, eterno.
Jiddu krishnamurti - A essência da maturidade - ICK
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