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quinta-feira, 19 de abril de 2018

A liberdade do mecanismo formador de hábitos


A liberdade do mecanismo formador de hábitos

[...] Psicologicamente, não pode haver nenhuma liberdade se não for compreendido inteiramente o mecanismo defensivo do pensamento. E a liberdade — que não é reação a alguma coisa, nem tampouco significa o oposto de não-liberdade — é essencial, porque só em liberdade podemos fazer descobrimentos. Só a mente livre pode perceber o verdadeiro.

A verdade não é uma coisa que tem continuidade e que pode ser mantida pela prática ou a disciplina, porém algo perceptível num clarão. Esse percebimento da verdade não ocorre por meio de nenhuma forma de pensar condicionado e, por conseguinte, é impossível ao pensamento imaginar, conceber ou formular o verdadeiro.

Para se compreender integralmente o que é verdadeiro, necessita-se de liberdade. Para a maioria de nós, a liberdade é apenas uma palavra, ou uma reação, ou uma ideia intelectual de que nos servimos como fuga à nossa escravidão, nosso sofrimento, nossa entediante rotina diária; mas isso de modo nenhum é liberdade. A liberdade não se obtém por meio de busca, pois não se pode procurar a liberdade — ela não é para ser achada. Só vem a liberdade quando compreendemos a totalidade do mecanismo da mente que cria suas próprias barreiras, suas próprias limitações, suas próprias projeções, provindas de um fundo condicionado e condicionante. Muito importa à mente religiosa compreender o que se encontra além da palavra, além do pensamento, além de toda experiência; e para compreender o que transcende qualquer experiência, para “ficar com isso”, vê-lo com profundeza, num clarão, a mente deve ser livre. Sobre tudo isso já falamos e vimos como a ideia, o conceito, o padrão, a opinião, o juízo, ou qualquer disciplina formulada, impede a liberdade de espírito. E essa liberdade traz sua própria disciplina — que não é a disciplina do conformismo, da repressão ou ajustamento, porém uma disciplina não produzida pelo pensamento, por um motivo.

Decerto, num mundo confuso onde há tanto conflito e sofrimento, urge compreender que a liberdade é o requisito primordial da mente humana — e não o conforto, não o passageiro momento de prazer ou a continuidade desse prazer: uma liberdade total, pois só desta pode surgir a felicidade. Porque a felicidade não é um fim em si; como a virtude, ela deriva da liberdade. A pessoa livre é virtuosa; mas o homem que apenas pratica a virtude pelo ajustar-se ao padrão social nunca saberá o que é liberdade e, por conseguinte, jamais será virtuoso.

[...] liberdade não é uma coisa para ser buscada; não resulta de pensamento ou de anseios emocionais, histéricos. A liberdade vem sem ser buscada, quando há plena atenção. A atenção total é a qualidade própria de uma mente que não tem limites, não tem fronteiras e, por conseguinte, é capaz de receber toda e qualquer impressão, de ver e ouvir todas as coisas. E isso é possível, não é algo sobremodo difícil. Só é difícil porque nos achamos senhoreados pelos hábitos...

A maioria de nós tem hábitos inúmeros. Temos hábitos e idiossincrasias, de ordem física, e ao mesmo tempo hábitos de pensamento. Cremos nisto e não cremos naquilo; somos patriotas, nacionalistas; pertencemos a um certo grupo ou partido e observamos tenazmente o seu especial padrão de pensamento. Todas essas coisas se tornam hábitos; e a mente gosta de viver mergulhada nos hábitos, porquanto os hábitos dão-nos certeza, sentimento de segurança, sentimento de não temermos. Uma vez firmada numa série de hábitos, a mente parece funcionar um pouco mais livremente, mas na realidade ela é irrefletida, desatenta.

[...] observai, como num espelho, a vossa própria mente, para verdes quanto está enredada em seus hábitos. Os hábitos, que dão o sentimento de segurança, só podem tornar a mente embotada; por mais sutis que eles sejam, e quer estejamos cientes deles, quer não, eles invariavelmente obscurecem a mente. Isso é um fato psicológico; quer gosteis, quer não, é isso que acontece.

Em parte devido a nossa educação escolar, em parte devido ao condicionamento que a sociedade psicologicamente nos impõe, e também em virtude de nossa própria indolência, a nossa mente funciona numa série de hábitos. Se não aprovamos determinado hábito de que estamos conscientes, lutamos para quebrá-lo, e quando quebramos um hábito formamos outro. Parece não haver momento em que estejamos livres do hábito. Se vos observardes, vereis quanto vos é difícil não vos enredardes no hábito.

[...] mediante conflito ou resistência podeis eliminar um certo hábito, mas isso não liberta vossa mente do mecanismo formador de hábitos; o mecanismo que os cria não deixa de existir. E eu estou falando, não como livrar-nos de determinado hábito, porém sobre o deixarmos de criar hábitos.

[...] O importante é dar-vos conta de todo esse mecanismo, sem resistir-lhe, sem rejeitá-lo, sem desejardes ficar livre dele — estando, apenas, inteirado de cada movimento inerente a esse hábito.

[...] quando se introduz o fator tempo, não há possibilidade de libertação do hábito. Ou de pronto quebramos um hábito, ou ele continua existente, embotando de maneira gradual a própria mente, criando-se com isso novos hábitos.

Observai vossos próprios hábitos e vossa atitude em relação a eles.

Temos hábitos de pensamento, hábitos sexuais — oh, uma infinidade de hábitos, que tanto podem ser conscientes como inconscientes; e é sobretudo difícil percebermos os hábitos inconscientes. Socialmente e na escola e no colégio, somos educados nesse elemento do tempo. Toda a nossa psicologia baseia-se no tempo...

Ora, é possível a mente libertar-se instantaneamente dessa ideia de “chegar gradualmente a uma parte”, de gradualmente transcender uma coisa, gradualmente tornar-nos livres? Para mim, a liberdade não é uma questão de tempo; não há nenhum amanhã, no qual ficaremos livres de um hábito ou adquiriremos uma certa virtude. E se não há nenhum amanhã, também não há medo. Há só um “viver completo” agora; o tempo deixou de existir completamente e, por conseguinte, não há formação de hábito. Com a palavra “agora” refiro-me ao presente imediato, e esse estado “imediato” não é uma reação ao passado nem um evitar do futuro. Há só o momento de total percepção, toda a nossa atenção está aqui, no agora. Ora, por certo, toda existência se acha no agora; quer experimenteis imensa alegria, quer intenso sofrer, seja o que for, tudo isso só acontece no presente imediato. Entretanto, por meio da memória, a mente acumula a experiência do passado e a projeta no futuro.

Conscientizai-vos de vossa própria mente; observai como é que ela opera, pois, assim, podereis ir muito longe.

Poderemos libertar-nos do passado? O passado, na realidade, é a essência do hábito, constituído de todos os conhecimentos, sofrimentos, insultos, das inumeráveis experiências que tivestes, não só individualmente, mas também racial e coletivamente. Precisais sair dessa estrutura do passado, psicologicamente, realmente, porque, do contrário, não há liberdade. Mas não podeis fazê-lo se existe, na vossa mente, a ideia da continuidade. Para a maioria de nós, a continuidade importa muito; mas, afinal de contas, a continuidade, nas relações, é simples hábito. É a continuidade do pensamento que sustenta as limitações da mente; e é possível destruirmos, “numa explosão”, essa ideia da continuidade e ficarmos livres do passado?

Se não estamos livres do pretérito, não há liberdade nenhuma, porque, assim, a mente nunca está nova, fresca, ilesa. Só a mente nova, “inocente”, é livre. A liberdade nada tem que ver com a idade da pessoa, nada tem que ver com a experiência; e quer-me parecer que a própria essência da liberdade reside na compreensão de todo o mecanismo do hábito, consciente e inconsciente. A questão não é de acabar com o hábito, porém, antes, de ver-lhe totalmente a estrutura. Deveis observar como se formam os hábitos e como, pela rejeição de um hábito ou pela resistência a ele, outro hábito se forma. O relevante é estardes totalmente apercebido do hábito; porque então, como vós mesmos vereis, já não há formação de hábitos. O resistir ao hábito, o combatê-lo, ou rejeitá-lo, só pode dar-lhe continuidade. Quando lutais contra um hábito, dais vida a ele e, também, o próprio batalhar contra ele se torna um novo hábito. Mas, se ficais simplesmente apercebido de toda a estrutura do hábito, sem resistência nenhuma, verificais então que estareis livre dele e que, nessa liberdade, ocorre uma coisa nova.

É só a mente embotada, sonolenta, que cria o hábito e a ele se apega. A pessoa atenta de momento em momento — atenta para o que ela própria diz, atenta para o movimento de suas mãos, de seus pensamentos, de seus sentimentos — deixa de formar hábitos. É muito importante compreender isso, porque, evidentemente, enquanto a mente está empenhada em quebrar um hábito e, com esse próprio “mecanismo” criando outro hábito, ela nunca poderá ser livre; e só a mente livre pode perceber algo além de si própria. Essa mente é religiosa. Quem se limita a frequentar a igreja, a recitar orações, a apegar-se a dogmas, ou a abandonar uma seita para ingressar noutra, não tem uma mentalidade religiosa, mas, simplesmente, entorpecida. Religiosa é a mente livre, e a mente livre acha-se num estado de constante “explosão”; e nesse estado de constante explosão há o percebimento daquela verdade que ultrapassa as palavras, o pensamento, e toda experiência.

Krishnamurti, Saanen, 31 de julho de 1962,
O homem e seus desejos em conflito

quinta-feira, 5 de abril de 2018

É possível quebrar o mecanismo dos hábitos?


É possível quebrar o mecanismo dos hábitos?

PERGUNTA: Como se pode pôr fim aos hábitos?

KRISHNAMURTI: Se pudermos compreender, na sua totalidade, o mecanismo do hábito, talvez tenhamos a possibilidade de pôr fim à formação dos hábitos. Pôr fim a um determinado hábito, apenas, é relativamente fácil, mas o problema não fica resolvido. Todos temos vários hábitos, dos quais estamos ou não estamos apercebidos; por consequência, devemos descobrir se nossa mente se deixou apanhar na armadilha do hábito, e a razão por que cria hábitos.

O nosso pensar não é, pela maior parte, “habitual”? Desde crianças, nos têm ensinado a pensar numa certa direção, como cristãos, comunistas, hinduístas, etc., e não ousamos desviar-nos dessa direção, porque qualquer desvio, em si, representa temor. Assim, o nosso pensar é basicamente “habitual”, condicionado; nossa mente está funcionando dentro de rotinas fixas, e naturalmente temos também hábitos superficiais, que procuramos reprimir.

Ora, se a mente cessar de todo de pensar pela rotina dos hábitos, poder-se-á então considerar o problema relativo a um hábito superficial, de maneira toda diferente. Compreendeis? Se estais agora investigando, procurando descobrir se vossa mente pensa sob a influência dos hábitos, se esse descobrimento vos interessa deveras, então qualquer hábito, como, por exemplo, o de fumar, terá significação toda diferente. Isto é, se vos interessa investigar o processo do hábito, que se acha num nível, mais profundo, sabereis atender ao hábito de fumar de um modo completamente diferente. Estando bem claro para vós, interiormente, que desejais pôr fim não só ao hábito de fumar, mas ao inteiro mecanismo de pensar pela rotina dos há­bitos, já não lutais contra o movimento automático de apanhar um cigarro, etc., pois sabeis que quanto mais combatemos um hábito, mais vitalidade lhe damos. Mas, se estais atento e bem apercebidos desse hábito, sem combatê-lo, vereis que ele desaparecerá por si, no tempo próprio; a mente não está mais ocupada com ele. Estais prestando atenção?

Interiormente, percebo com toda a clareza que desejo deixar de fumar, mas o hábito vem sendo nutrido há vários anos; devo lutar contra ele? Ora, é bem certo que toda luta contra um hábito lhe dá mais vida. Notai bem isto, por favor: Quando combato uma coisa, dou mais vitalidade a essa coisa. Se combato uma ideia, dou mais vida a essa ideia; se luto contra vós, dou-vos mais vitalidade para lutardes contra mim. Devo perceber com toda a clareza esse fato, e só posso vê-lo com clareza se estou dando atenção ao inteiro problema do hábito, e não apenas a um dado hábito. Estou então considerando o problema do hábito num nível completamente diferente.

Assim, a questão agora é esta: Porque é que a mente só pensa em termo de hábito — o hábito das relações, o hábito das ideias, o hábito das crenças, etc.? Por quê? Porque, essencialmente, ela está buscando um estado de certeza, segurança, permanência, não é verdade? A mente detesta a incerteza e necessita, portanto, dos hábitos como meio de segurança. Mas nunca está livre do hábito a mente que se sente segura e, sim, só aquela que se acha em completa insegurança — o que não significa ir acabar num asilo ou manicômio. A mente que se acha na mais completa insegurança, incerteza; que está sempre a investigar e a descobrir algo; que morre para cada experiência, cada aquisição, e por conseguinte se acha sempre num estado de “não saber” — só essa mente pode ser livre do hábito.

Krishnamurti, 20 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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sexta-feira, 19 de julho de 2013

Por que razão a mente se deteriora?

Numa destas manhãs, vi quando um morto era levado para ser cremado. Envolto em vistoso pano cor de vermelho purpúreo, o corpo oscilava ao ritmo dos quatro mortais que o transportavam. Que espécie de impressão lhe causa um corpo morto? Você não desejaria saber por que há deterioração? Você compra um motor novo em folha e, passados poucos anos, está completamente gasto. O corpo também se gasta; mas, você não desejaria investigar um pouco mais além, para descobrir porque razão a mente se deteriora? Mais cedo ou mais tarde ocorrerá a morte do corpo, mas a maioria de nós já tem a mente morta, já se verificou a deterioração; por que a mente se deteriora? O corpo se deteriora porque o mantemos em uso constante, e o organismo se gasta. Doença, acidente, velhice, má alimentação, deficiências hereditárias — tais são os fatores responsáveis pela deterioração e morte do corpo. Mas, por que deve a mente deteriorar-se, envelhecer, tornar-se pesada, embotada?

Ao ver um corpo morto, isso não lhe dá o que pensar? Embora nosso corpo deva morrer, por que deve a mente deteriorar-se? Nunca lhe ocorreu esta pergunta? Pois a mente, com efeito, se deteriora; vemos isso acontecer não só com as pessoas idosas, mas também com as pessoas jovens. Vemos como, nos jovens, a mente já está se tornando embotada, pesada, insensível; e, se pudermos descobrir por que razão a mente deteriora, então talvez descubramos algo verdadeiramente indestrutível. Talvez compreendamos, então, o que é a vida eterna, a vida que não tem fim, que não está no tempo, a vida que é incorruptível, que não degenera como o corpo que se transporta para o cais à beira do rio, onde é cremado e suas cinzas lançadas ao rio.

Mas, por que a mente se deteriora? Você já refletiu a esse respeito? Como você ainda é muito jovem — e se a sociedade, ou seus pais, ou as circunstâncias ainda não lhe tornaram embotado — você possui uma mente nova, ardorosa, curiosa. Você deseja saber por que existem as estrelas, por que morrem os pássaros, por que caem as folhas, como voa o avião a jato; muitas coisas você deseja saber. Mas, esse impulso vital para investigar, descobrir, é depressa sufocado, não é verdade? Sufocado pelo medo, pelo peso da tradição, por sua própria incapacidade para enfrentar essa coisa extraordinária que se chama a vida. Você já não notou quão rapidamente é destruído o seu ardor, através de uma palavra áspera, um gesto depreciativo, pelo medo de um exame, a ameaça de um pai — significando isso que a sua sensibilidade já está sendo destruída e sua mente se tornando embotada?

Outro caso de embotamento é a imitação. Pela tradição, você é obrigado a imitar. O peso do passado lhe força a se ajustar, a estabelecer uma linha de conduta e, com esse ajustamento, a mente se sente protegida, em segurança; você se instala numa rotina bem “lubrificada”, para que possa deslizar suavemente, livre de perturbações, sem o mais ligeiro estremecimento de dúvida. Observe os adultos que lhe rodeiam e verá que a mente deles não quer ser perturbada. Eles querem paz, ainda que seja a paz da morte; mas a verdadeira paz é coisa muito diferente.

Você já notou que, quando a mente se fixa numa rotina, num padrão, sempre o faz inspirada pelo desejo de segurança? É por esta razão que ela segue um ideal, um guru. Quer segurança, ausência de perturbação e, por isso, adormece. Quando lê, em seus livros de história, a respeito dos grandes líderes, santos, guerreiros, você não se surpreende desejando igualá-los? Isto não significa que não haja grandes homens no mundo; mas o instinto é imitar os grandes homens, procurar tornar-se igual a eles — e este é um dos fatores de deterioração, porque, então, a mente se coloca num molde. Igualmente, a sociedade não deseja indivíduos alertados, ardorosos, revolucionários, porque tais indivíduos não se ajustarão ao padrão social estabelecido e há sempre o perigo de que quebrem esse padrão. É por isso que a sociedade se empenha em prender sua mente em seu padrão, e é por isso que a chamada educação lhe estimula a imitar, a seguir, a se ajustar.

Ora, pode a mente deixar de imitar? Isto é, pode deixar de formar hábitos? E pode a mente que já se acha enredada no hábito, dele ficar livre?

A mente é o resultado do hábito, não? Ela é o resultado da tradição, do tempo — sendo “tempo” a repetição, a continuidade do passado. E pode a mente, a sua mente, deixar de pensar em termos daquilo que foi — e daquilo que será, que é, na verdade, uma projeção do que foi? Pode sua mente se libertar dos hábitos e deixar de criar hábitos? Se você penetrar bem profundamente neste problema, verá que pode. E quando a mente se renova sem formar novos padrões, novos hábitos, sem tornar a cair na rotina da imitação, permanece, então, fresca, jovem, “inocente”, sendo, portanto, capaz de infinita compreensão.

Para essa mente, não há morte, uma vez que já não existe processo de acumulação. É o processo de acumulação que cria o hábito, a imitação, e, para a mente que acumula, há deterioração, morte. Mas, para a mente que não está cumulando, juntando, que está morrendo a cada dia, a cada minuto — para essa mente não há morte. Ela se acha num estado de “espaço infinito”.

Assim, pois, deve a mente morrer para tudo o que acumulou, todos os hábitos e virtudes imitadas, para todas as coisas de que se acostumou a depender, para ter o sentimento de segurança. A mente então já não está aprisionada na rede de seu próprio pensar. No morrer para o passado, a cada instante, a mente se torna fresca, nova, nunca se deteriorará nem colocará em movimento a “onda da escuridão”. 

Krishnamurti - A cultura e o problema humano

quinta-feira, 2 de agosto de 2012

Inventariando o processo formador de hábitos

A maioria de nós tem inúmeros hábitos. Temos hábitos e idiossincrasias, físicos, e, ao mesmo tempo, hábitos de pensamento. Cremos nisto e não cremos naquilo; somos patriotas, nacionalistas; e observamos tenazmente o seu especial padrão de pensamento. (…) Uma vez firmada numa série de hábitos, a mente parece funcionar um pouco mais livremente, mas, na realidade, ela é irrefletida, “não cônscia”.(1)

Em parte por nossa educação escolar, em parte pelo condicionamento que a sociedade psicologicamente nos impõe, e também por nossa própria indolência, a nossa mente funciona numa série de hábitos. Se não aprovamos determinado hábito de que estamos bem cônscios, lutamos para quebrá-lo, e, quando quebramos um hábito, formamos outro. Parece não haver momento em que a mente esteja livre do hábito.(2) 

Consideremos um hábito muito simples, que muita gente tem: o hábito de fumar. Se você fuma e deseja abandonar o hábito, a idéia de abandoná-lo cria uma resistência contra o fumar. Agora, pelo conflito ou pela resistência, você pode quebrar um hábito, mas isso não liberta sua mente do processo formador de hábitos; o mecanismo criador dos hábitos não deixou de existir.(3)

Temos hábitos de pensamento, hábitos sexuais - uma infinidade de hábitos, que tanto podem ser conscientes como inconscientes; e é sobretudo difícil ficarmos cônscios dos hábitos inconscientes.(4)

Se não estamos libertos do passado, não há liberdade nenhuma, porque, assim, a mente nunca está nova, fresca, “inocente”. (…) A liberdade nada tem que ver com a idade da pessoa (…) com a experiência; e quer-me parecer que a própria essência da liberdade reside na compreensão de todo o mecanismo do hábito, consciente e inconsciente.(5)

Mas, como, de que maneira e em que nível irá se realizar essa revolução? (…) E se observa, também, que a mente, o próprio cérebro se tornou mecânico e, por conseguinte, repetitivo: lhe ensine certo padrão de comportamento, certas normas de conduta, atitudes, desejos, ambições, etc., e ele ficará funcionando dentro desse canal, desse padrão.(6)

O problema, pois, consiste no seguinte: Meu pensamento está condicionado, fixado num padrão; e a qualquer estímulo, que é sempre novo, o meu pensamento só pode reagir de acordo com o seu condicionamento, transformando o novo no velho, modificado. Dessa maneira, o meu pensamento nunca pode ser livre. Meu pensamento, que é o produto de ontem, só é capaz de reagir nas mesmas condições de ontem.(7)

A mente subordinada à autoridade, sujeita à compulsão, não pode absolutamente ter ordem. Veja, pois, que o ajustamento a um padrão, por melhor, mais nobre e mais completo que seja, não produz ordem. Por conseguinte, temos de investigar, dentro de nós mesmos, todo esse “processo” de submissão a um padrão de vida, pois é isso, de fato, o que está acontecendo. Você está na sujeição de uma idéia, como nacional de um país, como hinduísta, como muçulmano. (…) Você está submisso a uma idéia e, portanto, ajustado a uma tradição.(8)

Ora, essa mente, até onde posso ver, funciona tão só como atividade egocêntrica; quer meditando em Deus, quer buscando satisfação sexual, praticando o ideal da “não-violência”, se lançando a reformas sociais. (…) E é possível a mente se libertar dessa atividade egocêntrica, sem compulsão, sem a disciplina do ajustamento a um padrão?(9)

Portanto, qual é a condição interna necessária para sermos nós mesmos, para sermos espontâneos? A primeira condição interna necessária, é que o mecanismo formador de hábitos deve cessar. Qual é a força motriz atrás desse mecanismo?(10) 
O desejo dá uma falsa continuidade ao nosso pensamento, e a mente apega-se a essa continuidade, cujas ações são apenas o seguimento de padrões, ideais, princípios, e o estabelecimento de hábito. Assim, a experiência jamais é nova, fresca, alegre, criativa.(11)

Se existe esse hábito (da vaidade), quando dele vocês se tornarem conscientes, ele desaparecerá se realmente vocês amam todo esse processo de viver. (…) Mas aqueles de vocês que se acham profundamente interessados, (…) observem como este ou qualquer outro hábito cria uma cadeia de memórias que se tornam cada vez mais fortes, até que somente permanece o “eu”, o “mim”. Esse mecanismo é o “eu”, e, enquanto existir esse processo, não pode haver o êxtase do amor, da verdade.(12)

O poder-motor que está por trás da vontade é o medo, e, quando começamos a compreender isso, o mecanismo do hábito intervém, oferecendo novas fugas, novas esperanças. (…) Quando há apenas medo, sem nenhuma esperança de fuga, nos mais negros momentos, na mais completa solidão do medo, aí surge, como do interior de si próprio, a luz que o dissipará. (13)

O ciúme, em quase todos nós, tornou-se um hábito e, como todo hábito, tem continuidade. Quebrar o hábito significa, meramente, estar cônscio do hábito. (…) Estar cônscio de um hábito significa não o condenar, porém, simplesmente, observá-lo. (…) Nesse estado de total percebimento (…) você descobrirá ter eliminado completamente aquele sentimento habitualmente identificado com a palavra “ciúme”.(14)
É só a mente embotada, sonolenta, que cria o hábito e a ele se apega. A mente que está atenta momento a momento - atenta para o que ela própria está dizendo, atenta para o movimento de suas mãos, de seus pensamentos, de seus sentimentos - descobrirá que se terá acabado a formação de hábitos. (…) A mente que se limita a freqüentar a igreja, a recitar orações, que está apegada a dogmas ou que abandona uma seita para ingressar noutra, não é uma mente religiosa. (…) Religiosa é a mente livre, num estado de constante “explosão”.(15)

Um indivíduo é hinduísta, cristão, alemão, russo, suíço, americano, etc., com o respectivo conjunto de hábitos, do qual em geral está inconsciente. Como poderá o indivíduo ficar cônscio desse condicionamento? Como você pode se tornar cônscio do inconsciente, onde se encontra essa imensa série de hábitos não revelados? Como pode ficar cônscio do padrão inconsciente que se acha profundamente enraizado em você? Você procurará um psicanalista (…) para que ele lhe “arranque” o padrão do inconsciente? Isso adiantará? Ou você mesmo se analisará?(16)

O importante é romper essa muralha de condicionamento, de hábito. E muitos de nós achamos que poderemos rompê-la por meio da análise, quer feita por nós mesmos, quer por outrem; mas isso não é possível. A muralha do hábito só pode ser rompida quando a pessoa está completamente cônscia, sem escolha, negativamente vigilante.(17)

Existe um “método de quebrar o hábito”? Ora, método implica tempo, movimento de um ponto de partida para um ponto de chegada. Se você ver por si mesmo que o tempo não lhe liberta do hábito e que, por conseguinte, os métodos e sistemas para nada servem, ficará então frente a frente com a realidade, o fato de que sua mente está enredada no hábito.(18)

E, então, que acontece? Você não está procurando modificar o hábito, não está tentando quebrá-lo. Está simplesmente em presença do fato de que sua mente funciona na rotina do hábito. (…) Se você não tentar alterá-lo, o próprio fato lhe dará uma extraordinária energia, com a qual você pode quebrá-lo completamente. Compreende? (…) Por conseguinte, sua atenção é completa, toda a vossa energia se concentrou, e essa energia destroça totalmente o fato.(19)

Não sei se você já se observou no ato de fumar. Com “se observar” quero dizer “estar cônscio de cada movimento que você faz”: como a sua mão vai ao bolso, retira um cigarro, coloca-o na boca, volta ao bolso para apanhar os fósforos, acende o cigarro, e como, então, “você puxa umas fumaças” e atira fora o fósforo. O importante é se dar conta de todo esse processo, sem lhe resistir, sem rejeitá-lo, sem desejar ficar livre dele - estando, apenas, totalmente cônscio de cada movimento inerente ao hábito.(20)

De modo idêntico, você pode estar cônscio do hábito da inveja, do hábito de adquirir, do hábito do medo; e então, observando, você poderá ver o que está implicado nesse hábito. Verá instantaneamente tudo o que a inveja implica; mas não poderá ver tudo o que a inveja implica, se, na sua observação da inveja, entrar o elemento tempo.(21)

Pensamos que podemos nos libertar da inveja gradualmente e nos esforçamos por afastá-la pouco a pouco, introduzindo assim a idéia do tempo. Dizemos: “Tentarei me livrar da inveja amanhã, ou um pouco mais tarde” - e, entrementes, continuamos invejosos. (…) Ou quebramos um hábito imediatamente, ou ele continua existente, embotando gradualmente a mente e criando novos hábitos.(22)

Se pudermos compreender, nos seu todo, o processo do hábito, talvez tenhamos a possibilidade de pôr fim à formação dos hábitos. Pôr fim a determinado hábito, apenas, é relativamente fácil, mas o problema não fica resolvido. Todos temos vários hábitos, dos quais estamos ou não estamos cônscios; por conseqüência, devemos descobrir se nossa mente se deixou apanhar na armadilha do hábito, e a razão por que cria hábitos.(23)

O nosso pensar não é, na maior parte, “habitual”? Desde crianças, nos têm ensinado a pensar numa certa direção, como cristãos, comunistas (…) e não ousamos nos desviar dessa direção, porque qualquer desvio, em si, representa temor. Assim, o nosso pensar é basicamente “habitual”, condicionado; nossa mente está funcionando dentro de rotinas fixas, e naturalmente temos também hábitos superficiais, que procuramos suprimir.(24)

Se você está agora investigando, procurando descobrir se sua mente pensa sob a influência dos hábitos, (…) então qualquer hábito, como, por exemplo, o de fumar, terá significação toda diferente. Isto é, se lhe interessa investigar o processo do hábito, que se acha num nível mais profundo, você saberá atender ao hábito de fumar de um modo completamente diferente.(25)

Estando bem claro para você, interiormente, que deseja pôr fim não só ao hábito de fumar, mas ao inteiro processo de pensar pela rotina dos hábitos, você já não luta contra o movimento automático de apanhar o cigarro, etc., pois sabe que, quanto mais combatemos um hábito, mais vitalidade lhe damos. Mas, se você está atento e bem cônscio desse hábito, sem combatê-lo, verá que ele desaparecerá por si, no tempo próprio; a mente não está mais ocupada com ele.(26)

A mente detesta a incerteza e necessita, portanto, dos hábitos como meio de segurança. Mas nunca está livre do hábito a mente que se sente segura, e, sim, só aquela que se acha em completa insegurança. (…) A mente que se acha na mais completa insegurança, incerteza; que está sempre a investigar e a descobrir algo; que morre para cada experiência, cada aquisição, e por conseguinte se acha sempre num estado de “não saber” - só essa mente pode ser livre do hábito.(27)

A questão não é de acabar com o hábito, porém, antes, de ver totalmente a estrutura do hábito. Você deve observar como se formam os hábitos e como, pela rejeição de um hábito ou pela resistência a ele, outro hábito se forma. O relevante é estar totalmente cônscio do hábito; porque então, como você mesmo verá, já não há formação de hábitos. O resistir ao hábito, o combatê-lo, ou rejeitá-lo, só pode dar continuidade ao hábito. (…) Mas, se você fica simplesmente cônscio de toda a estrutura do hábito, sem resistência nenhuma, verá então que estará livre do hábito e que, nessa liberdade, ocorre uma coisa nova. (28)

Podem-se quebrar hábitos, sem se criar outro hábito? Meu problema, por certo, não se refere à possibilidade de abandonar um hábito doloroso, ou de conservar um hábito aprazível, mas sim à possibilidade de me tornar livre de todo o mecanismo formador de hábitos. (…) Isto é, posso quebrar, abandonar o pensamento, o padrão que se formou, que se criou através de séculos, sem criar um novo padrão? É isso o que, em geral, gostamos de fazer. (…) Se sou hinduísta, quebro esse padrão e me torno comunista.(29)

Por conseguinte, para eu poder ser livre de todos os padrões, torna-se necessária uma revolta isenta de qualquer incentivo e de qualquer idéia nova. Tal revolta é criadora; esse estado é o “estado de criação”, é o estado puro, não adulterado, não corrompido; porque, aí, não há (…) esperança, (…) oposição, sujeição a nenhum padrão.(30)

A formação da idéia a que a mente se apega, a adesão a uma crença, um hábito, um prazer - tudo isso cria, (…) forma o molde em que a mente se aprisiona. (…) O pensamento é o criador do padrão; o pensamento é sempre condicionado; (…) porque o que penso é resultado do meu acervo mental, e todo pensar é reação a esse fundo. A questão, pois, não é de saber “como me libertar de um padrão ou hábito de pensamento”, mas, sim, “se a mente pode ficar livre da criação de idéias.” (…) Só então há possibilidade de quebrar o padrão e ficar inteiramente livre de todos os padrões.(31)

Em geral, não estamos nada cônscios de nossos hábitos e, por isso, eles se tornaram inconscientes. No momento em que você se torna cônscio de um hábito, você o “arrancou” do inconsciente (…) Mas, no momento em que me torno plenamente cônscio desse hábito e não lhe resisto, mas me limito a observá-lo, então foi ele “arrancado” do inconsciente.(32)

Ora, é porque quase todos os nossos hábitos são inconscientes, que nós não os despedaçamos, não os “dinamitamos”. (…) A questão, pois, é de como estarmos cônscios, plenamente cônscios de todos os hábitos “animalescos”.(33)

Textos de Krishnamurti, extraídos de: Seleta de Krishnamurti
Fontes das citações:
(1) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155
(2) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155
(3) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155-156
(4) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 156-157
(5) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 158
(6) Uma Nova Maneira de Agir, 1ª ed., pág. 90-91
(7) Da Insatisfação à Felicidade, pág. 26
(8) A Suprema Realização, pág. 178
(9) O Homem Livre, pág. 146
(10) Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 87-88
(11) Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 88
(12) Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 93-94
(13) Palestras em Ommen, Holanda, 1937-1938, pág. 104
(14) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 151
(15) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 158
(16) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 163
(17) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 164
(18) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 175-176
(19) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 176
(20) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 155-156
(21) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 156
(22) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág.156
(23) Realização sem Esforço, pág. 68
(24) Realização sem Esforço, pág. 68-69
(25) Realização sem Esforço, pág. 69
(26) Realização sem Esforço, pág. 69
(27) Realização sem Esforço, pág. 70
(28) O Homem e seus Desejos em Conflito, 1ª ed., pág. 158
(29) Poder e Realização, pág. 73
(30) Poder e Realização, pág. 75
(31) Poder e Realização, pág. 75
(32) O Homem e seus Desejos em Conflito, lª ed., pág. 162-163
(33) O Homem e seus Desejos em Conflito, lª ed., pág. 163
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill