Um passado profundamente vergonhoso não pode ser posto de lado, mas pode ser transcendido ao se aprender a viver num nível superior. O equilíbrio é uma parte necessária das qualidades a serem desenvolvidas no Caminho Longo. É corretivo contra ideias erradas e proteção contra emoções de ordem inferior. O homem comum não se sente especialmente obrigado a corrigir suas falhas, acabar com suas fraquezas ou erradicar qualidades repreensíveis; o homem que segue o Caminho Longo sente-se obrigado a fazê-lo todos os dias. Muitos se ressentem do fato de serem chamados a um TRABALHO e preferem a ILUSÃO de que serão beneficiados por um MILAGRE.
Durante os anos que se passam entre o momento em que inicia conscientemente a Busca e aquele em que encontra um Instrutor, ele deve trabalhar muito, melhorando seu caráter como um todo e livrando-se das falhas cuja existência conhece. É da máxima importância, por exemplo, disciplinar o temperamento, desenvolver o autocontrole e aprender como superar a tentação de ceder à raiva. As falhas menores, como a impulsividade e a negligência, devem também ser verificadas e equilibradas pelo cultivo deliberado da discriminação e da prudência.
Olhando para seu passado no Caminho Longo, o homem honesto com ele mesmo pode sentir desânimo; mas precisa lembrar que todos os acontecimentos, pensamento e ações foram passos na sua INSTRUÇÃO e, portanto, PRODUTIVOS. Ao examiná-lo e avaliá-lo, deve ter isso em mente e, assim, aceitá-lo com mais CALMA. Ao mesmo tempo, a instrução deve ser levada ao CORAÇÃO e usada como uma base que contribui para o futuro. As lições não devem ser ignoradas, mas também não precisam oprimi-lo. A maioria das pessoas vive numa atmosfera que mistura tendências negativas com positivas. A mixórdia resultante lhes obscurece o caminho. Mesmo quando dá-se o vislumbre, a visibilidade é logo obscurecida. É necessário um trabalho de purificação.
Devemos começar a auto-reforma enfrentando a nós mesmos em nossa pequena existência humana. Estamos falhando no relacionamento com os outros? Há elementos negativos em nossa vida que nos tornam melancólicos, insatisfeitos, infelizes?
Os que consideram esse regime austero demais para aceitá-lo voluntariamente estão dando primazia à sua natureza inferior. É de se perguntar o que leva a mais erros na vida, se a fragilidade humana ou a tolice humana. A infelicidade que surge da primeira mostra a necessidade de praticar o domínio de si mesmo. Os infortúnios que advêm da segunda indicam claramente que a inteligência deve ser desenvolvida.
Deve estar preparado para testemunhar tanto o surgimento, na superfície, das qualidades negativas que tinham ficado inertes ou só em parte ativas, quanto a ênfase que acontecimentos exteriores dão àquelas já em total atividade. Terá que lidar com essas qualidades, em geral por uma por vez, e fazê-lo REPETIDAMENTE, até que estejam transformadas por completo. Tudo faz parte do trabalho de purificação, que resulta da cooperação de seu próprio eu superior. Assim, É ALGO QUE NÃO DEVE LASTIMAR, mas esperar, algo que não deve lamentar, mas tratar com CALMA.
Quando um homem começa a olhar para si mesmo com horror, ele começa a pôr fim ao seu sonambulismo.
Paul Brunton — Práticas para a busca espiritual