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sexta-feira, 1 de maio de 2015

O nascimento de uma ciência de conscientização

Sou contra todas as assim chamadas religiões porque elas não são de maneira nenhuma religiões. Sou pela religião, mas não pelas religiões.

A religião verdadeira só pode ser uma, exatamente como a ciência. Você não tem um físico Maometano, um físico Hindu, um físico Cristão; isso seria bobagem. Mas foi isso que as religiões fizeram – elas transformaram o mundo inteiro num hospício.

Se a ciência é uma, então porque a ciência do interior não seria uma também?

A ciência explora o mundo objetivo e a religião explora o mundo subjetivo. O trabalho delas é o mesmo, só a direção e a dimensão delas são diferentes.

Numa era mais iluminada não haverá tal coisa como religião, haverá somente duas ciências: a ciência objetiva e a ciência subjetiva. Ciência objetiva lida com as coisas, ciência subjetiva lida com o ser.

É por isso que digo que sou contra as religiões, mas não contra religião. Contudo, essa religião ainda está pra nascer. Todas as antigas religiões farão tudo ao seu alcance para matá-la, para destruí-la – porque o nascimento de uma ciência de conscientização será a morte de todas essas assim chamadas religiões que têm explorado a humanidade por milhares de anos.

O que irá acontecer com suas igrejas, sinagogas, templos? O que irá acontecer com seus sacerdotes, seus papas, seus shankaracharyas, seus rabis? É um grande negócio. E essas pessoas não irão permitir facilmente o nascimento da verdadeira religião.

Mas chegou o momento na história humana quando as garras das antigas religiões estão afrouxando.
O homem está apenas formalmente dando atenção ao Cristianismo, Judaísmo, Hinduísmo, Maometismo, porém basicamente qualquer um que tenha alguma inteligência não está mais interessado em todo esse lixo. Ele pode ir a sinagoga e para a igreja e para a mesquita por outras razões, mas essas razões não são religiosas; essas razões são sociais. Vale a pena ser visto na sinagoga; é respeitável, e não há nenhum dano. Isso é exatamente como se associar ao rotary clube ou ao lions clube. Essas religiões são clubes antigos que têm um jargão religioso em torno delas, mas olhe um pouco mais fundo e você descobrirá que todas elas são pura embromação sem nenhuma substância dentro.

Sou pela religião, mas essa religião não será uma repetição de qualquer religião que você esteja familiarizado.

Essa religião será uma rebelião contra todas essas religiões. Ela não irá levar o trabalho delas adiante; ela irá encerrar completamente o trabalho delas e iniciar um novo trabalho – a real transformação do homem.

Você me pergunta: Qual é o erro fundamental de todas essas religiões? Existem muitos erros e eles são todos importantes, mas primeiro eu gostaria de falar sobre o mais fundamental. O erro mais fundamental de todas as religiões é que nenhuma delas teve coragem suficiente para aceitar que existem coisas que não sabemos. Todas elas fingiram saber de tudo, todas elas fingiram conhecer tudo, que todas elas eram oniscientes.

Porque isso aconteceu? – porque se você aceitar que você é ignorante sobre alguma coisa então dúvidas surgem nas mentes de seus seguidores. Se você é ignorante a respeito de alguma coisa, quem sabe? – você pode ser ignorante também sobre outras coisas. Qual é a garantia? Para torná-la a toda prova, todos eles fingiram, sem exceção, que são oniscientes.

A coisa mais bonita sobre a ciência é que ela não finge ser onisciente."

O S H O

segunda-feira, 6 de abril de 2015

Os três graus de homem

"O homem de consciência cósmica é, necessariamente, a mais sublime expressão do homem: o elo que liga o visível aos mundos superiores. Ele age, vê e sente através de seu ser interior. O abstrativo pensa. O instintivo simplesmente age. Eis aqui três graus de homem. Enquanto instintivo ele fica abaixo do nível; como abstrativo ele o atinge e como Consciência Cósmica, o ultrapassa. A Consciência Cósmica abre ao homem sua verdadeira vocação: o Infinito chega ao seu alcance. Ele apreende um relance do seu destino". — Balzac
"A natureza não dá saltos". É necessário que haja uma passagem gradual da consciência simples para a autoconsciência e dessa para a Consciência Cósmica. É necessário que haja um caminho de passagem gradual. É absolutamente certo que a passagem da consciência simples para a autoconsciência e dessa para a Consciência Cósmica normalmente se dá por um súbito e, muitas vezes, terrível salto. Mas as condições não se devem atropelar e passar umas por sobre as outras.

(...) Possuindo apenas a consciência simples, o homem ainda não tingiu a sua condição de homem; ele é simplesmente um alalus-homo. A autoconsciência lhe confere a condição pela qual o conhecemos. Com a Consciência Cósmica, ele é o que realmente vemos dele (ou melhor, o que dele não vemos, pois qual de nós realmente vê a esses homens?) em Jesus, Maomé, Balzac, Whitman. Quando a raça tiver atingido a Consciência Cósmica, como no passado remoto atingiu a autoconsciência, terá início uma nova partida ou um novo nível. O homem entrará na posse de sua herança e de sua verdadeira obra.

(...) O homem que vive completamente, ou quase completamente, no plano da consciência simples flutua na corrente do tempo tal como o fazem os animais, levado pelas estações, pela comida, pela sobrevivência, etc., tal como uma folha é levada pela corrente, não com autodeterminação, mas conduzida por outras influências e ao sabor das forças naturais, como ocorre aos animais e plantas. O homem totalmente autoconsciente conduz o seu destino. Ele sente que é um ponto fixo. Julga todas as coisas em referência a esse ponto. Mas, fora dele não há nada que seja fixo. Ele confia em quem chama de Deus e não confia em si próprio; é um deísta, um ateu, um cristão, um budista. Crê na ciência, mas a ciência muda constantemente e dificilmente lhe dirá algo, em qualquer caso, que não seja conhecido. Então, ele está fixado a um ponto e nele se move livremente. O homem que possui a Consciência Cósmica, estando consciente de si mesmo e consciente do Cosmo, de seu sentido e de sua direção, está fixado simultaneamente dentro e fora em "suas essência e propriedades". A criatura com consciência simples é apenas um ramo que flutua, que se move livremente sob qualquer influência. O homem autoconsciente é um ninho, pivotado pelo seu centro, fixado a um ponto, mas movendo-se livremente nele. O homem com Consciência Cósmica é o mesmo ninho, mas magnetizado. Ele ainda está fixado ao seu centro, mas fora dele encontrou algo REAL e PERMANENTE.

Quando a raça por inteiro tiver atingido a Consciência Cósmica, nossa ideia de Deus se realizará no homem.

A "ressurreição" não é em relação à assim denominada morte, mas em relação à vida que está "morta", no sentido de jamais ter penetrado na vida verdadeira.

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica

sábado, 4 de abril de 2015

O pensamento é um estágio preliminar de aproximação do Divino

A seguinte passagem pode ser considerada um resumo justo da filosofia de Plotinus, tal como compreendida pelos neoplatonistas:

As almas humanas que desceram à corporalidade são as que se permitiram escravizar pela sensualidade e dominar pela luxúria. Agora, acham-se perdidas do seu verdadeiro ser e, afanando-se pela independência, assumem uma falsa existência. Precisam voltar atrás e como não perderam a sua liberdade, a conversão ainda é possível. 

Aqui, chegamos à filosofia prática. Percorrendo o mesmo caminho que lhe serviu para a descida, a alma deve refazer os degraus que a levam de volta ao Deus supremo. Em primeiro lugar, deve retornar a si mesma. Isso se alcança pela prática da virtude, cujo fim é a semelhança com Deus e que conduz a Deus. Na ética de Plotinus, todos os antigos esquemas de virtude acham-se alterados e reorganizados em séries graduadas. O estado mais baixo é o das virtudes civis, seguido pela purificação e por último por todas as virtudes divinas. As virtudes civis simplesmente enfeitam a vida, sem elevar a alma. Essa tarefa pertence às virtudes purificadoras, pelas quais a alma se liberta da sensualidade, volta a si mesma e então ao "nous"(¹). Por meio de práticas ascetas o homem uma vez mais se converte em um ser espiritual, livre de todos os pecados. Entretanto, ainda há um escalão mais alto: não basta ser sem pecado; é preciso converter-se em "Deus". Isto se alcança pela contemplação do Ser primevo, do Único ou, em outras palavras, por uma aproximação extasiada desse Único. O pensamento não pode chegar a isso, pois atinge apenas o "nous" e é, em si mesmo, uma espécie de movimento. O pensamento é um estágio preliminar de aproximação de Deus. É apenas em estado de perfeita passividade e repouso que a alma pode reconhecer e tocar o Ser primevo. Assim, para atingir este fim mais alto a alma necessita passar por um currículo espiritual. Iniciando na contemplação das coisas corpóreas, em sua multiplicidade e harmonia, retira-se para dentro de si mesma, nas profundezas de seu próprio ser, atingindo, então, o "nous", o mundo das ideias. Mas o Mais Alto, o Único, ainda não termina aí. Ainda há uma voz que diz: "Nós não nos fizemos a nós mesmos". O último estágio é alcançado quando, na mais alta tensão e concentração, no silêncio e no esquecimento de todas as coisas, a alma acha-se apta a perder-se em si mesma. Então, ela pode ver a Deus, a fonte da vida, do ser, a origem de todo bem, a raiz da alma. Nesse momento, ela desfruta a benção mais indescritível; é como se fosse banhada pela divindade, mergulhada na luz da eternidade.

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana

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(¹) Nous, termo filosófico grego que não possui uma transcrição direta para a língua portuguesa, e que significa atividade do intelecto ou da razão em oposição aos sentidos materiais. Muitos autores atribuem como sinônimo a Nous os termos "Inteligência" ou "Pensamento".

Pela razão, não podemos conhecer o Infinito

(...) Você me pergunta como podemos conhecer o Infinito. Eu repondo que não é pela razão. A tarefa da razão é distinguir e definir. Assim, o Infinito não pode fazer parte de seus objetivos. O Infinito só pode ser apreendido por uma faculdade superior à razão, que nos faz entrar em um estado no qual você já não é o seu eu finito, estado no qual a essência divina lhe é comunicada. Esse é o êxtase (Consciência Cósmica). É a sua mente, liberta de sua consciência finita. O semelhante só pode apreender o semelhante. Assim, quando você deixa de ser finito, você se torna uno com o Infinito. Na redução de sua alma ao eu mais simples, sua essência divina, você realiza essa união — essa identidade. 

Mas essa condição sublime não tem duração permanente. Só podemos desfrutar dessa elevação de vez em quando (misericordiosamente posta ao nossa alcance), elevação que se acha acima dos limites de nosso corpo e do mundo. Eu próprio, até agora, só a desfrutei por três vezes e Porfírio não foi contemplado nem uma só vez. Tudo aquilo que contribui para purificar e elevar a mente, ajudá-lo-á a atingi-la e facilitará a aproximação e a reincidência desses felizes intervalos. Há, pois, diferentes caminhos pelos quais podemos alcançar esse fim (¹). O amor à beleza, que exalta o poeta; a devoção ao Único e o desejo de ciência, que constituem a ambição do filósofo; o amor e as orações de uma alma devotada e ardente que busca a perfeição moral de purificação. Esses são os grandes caminhos que conduzem ao que está acima do presente e do particular, quando nos vemos face a face com o Infinito, que brilha além das profundezas da alma.

Plotinus, 204 à 274 D.C.
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(¹) Plotinus (como ele mesmo nos diz) havia passado por três períodos de iluminação, quando escreveu esta carta a Flacus, ou seja, quando tinha 56 anos de idade. Porfírio nos conta que entre 59 e 64 anos (ou seja, durante os seis anos de duração da relação deles) ele havia passado por quatro períodos de iluminação, o que perfaz um total de sete. É importante observar que os conselhos de Plotinus quanto ao que se deve fazer para facilitar o surgimento da Consciência Cósmica coincidem com os ensinamentos de Gautama, Jesus, Paulo de Tarso e outros.

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica

Sobre os homens de consciência cósmica

Não devemos pensar que um homem se torne onisciente ou infalível apenas porque possuí a consciência cósmica. O mais importante desses homens encontra-se, sob certo aspecto, exatamente na mesma posição de uma criança, embora em plano muito mais elevado, que apenas acabe de tornar-se autoconsciente. Esses homens acabaram de alcançar uma nova fase de consciência, sem haver tido, ainda, a oportunidade de explorá-la ou de fazer-se senhores dela. É certo que alcançaram um nível mental mais elevado, mas nesse nível certamente existirá um certo grau de sabedoria e de tolice, tal como existe no nível da consciência simples ou da autoconsciência. Assim como um homem autoconsciente pode estar abaixo, em inteligência moral, de um animal mais elevado que possua apenas consciência simples, assim também podemos supor que um homem com consciência cósmica, em certas circunstâncias, pode ocupar uma posição apenas ligeiramente mais elevada do que outro que tenha passado a vida inteira no plano da autoconsciência. Por outro lado, é ainda mais evidente que, por mais especial que seja a faculdade, os primeiros que a adquirem, vivendo em países e épocas diferentes, passando os anos de autoconsciência em diferentes ambientes, sendo educados com pontos de vista totalmente diversos, necessariamente interpretam de forma diferente as coisas que veem no novo mundo em que penetram. O fantástico é que todos vejam o novo mundo com a mesma clareza. O ponto principal é que esses homens e essa nova consciência não devem ser condenados, pois nem os homens, nem a nova consciência são absolutos. Pois pudesse o homem (elevando-se sempre de um plano a outro) atingir uma posição moral e intelectual tão mais elevada do que a dos melhores homens de hoje em dia, que estão muito acima dos simples moluscos, permaneceria tão longe da infalibilidade e da bondade absoluta ou do conhecimento absoluto como se acha hoje. Aspiraria de igual modo a atingir uma posição mental mais elevada do que a que tem hoje, e haveria  iguais possibilidades para crescimento e melhoria.  

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana

A passagem da autoconsciência à consciência cósmica

A passagem da autoconsciência para a consciência cósmica, quando considerada do ponto de vista do intelecto, parece ser um fenômeno exclusivamente paralelo à passagem da consciência simples para a autoconsciência. 

Em ambas as situações aparecem dois elementos principais:
  1. consciência adicional.
  2. faculdade adicional
Consciência adicional — Quando um organismo que possui apenas consciência simples atinge a autoconsciência, compreende, pela primeira vez, que constitui uma criatura separada, ou ego, existindo em um mundo que está separado dele. A chegada da nova faculdade o instrui sem nenhuma nova experiência ou processo de aprendizagem. 

Faculdade adicional — Simultaneamente, ele adquire um enorme poder crescente para acumular conhecimento e novas ações. 

Assim, uma pessoa que possuía apenas autoconsciência, quando atinge a consciência cósmica:

a) Conhece, sem aprendizagem (pelo simples fato da iluminação), certas coisas, como, por exemplo: (1) que o universo não é uma máquina morta e sim uma presença viva; (2) que em sua essência e tendências ele é infinitamente bom; (3) que a existência individual é contínua, além do que pode ser chamado de morte

Simultaneamente:

b) Aumenta consideravelmente tanto a sua capacidade de aprendizagem como a de iniciação. 

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana

Do surgimento da Consciência Cósmica

Como ficou dito, ou implícito, para que um homem possa adquirir a Consciência Cósmica tem que pertencer ao nível mais alto do mundo da Autoconsciência. Não é que ele necessite possuir um intelecto extraordinário (essa faculdade em geral é sobrestimada e nessa questão não parece ser tão importante quanto as outras), embora tampouco possa ser um deficiente. Necessita ter boa compleição física, boa saúde, e acima de tudo deve possuir uma natureza moral exaltada, fortes simpatias, um coração cálido, coragem, força, extraordinário sentimento religioso. Quando tudo isso foi alcançado e o homem atingiu a idade necessária para chegar ao topo da autoconsciência mental, então, um dia, surge a Consciência Cósmica. Qual é a sua experiência? Devemos desconfiar um pouco dos detalhes, pois esse escritor só os conhece em poucos casos e o fenômeno é sem dúvida variado e diverso. O que aqui expomos é verdadeiro quanto a certos casos e provavelmente aproxima-se da verdade absoluta em outros, de modo que pode ser aceito como correto. 

a) De repente, sem aviso prévio, a pessoa tem a sensação de estar envolta por uma chama ou nuvem rosa, ou talvez a impressão de que a própria mente está cheia dessa nuvem de neblina.

b) No mesmo instante, ele sente-se invadido por uma emoção de alegria, segurança, triunfo, "salvação". Essa última palavra não deve ser tomada em seu sentido comum, pois o sentimento, quando totalmente desenvolvido, não expressa aquele ato particular de salvação, mas uma salvação não especialmente necessária, pois o esquema de construção do próprio mundo basta para isso. Esse êxtase, que ultrapassa qualquer outro pertencente à vida meramente autoconsciente, invade os "poetas" e ocupa suas vidas, tal como ocorre com Gautama, em seus discursos preservados nos "Suttas", com Jesus, nas "Parábolas", com Paulo, nas "Epístolas", com Dante, no fim do "Purgatório" e começo do "Paraíso", com Shakespeare, nos "Sonetos", com Balzac, em "Serafita", com Whitman, em "Folhas", com Edward Carpenter, em "Rumo à Democracia", deixando aos "cantores" os prazeres e penas, amores e ódios, alegrias e tristezas, a paz e a guerra, a vida e a morte do homem autoconsciente. Embora os "poetas" também possam tratar desses assuntos, fazem-no do novo ponto de vista, como está expresso em "Folhas": "Jamais voltarei a referir-me, dentro de uma casa, ao amor ou à morte" (193: 75) — isto é, do antigo ponto de vista, com as antigas conotações. 

c) Acompanhando simultânea ou instantaneamente a sensação acima referida e as experiências emocionais, surge na pessoa uma iluminação intelectual impossível de ser descrita. Como um clarão, apresenta-se à sua consciência uma clara concepção (uma visão) do sentido do universo. Não se trata simplesmente de crer; mas ele vê e sabe que o cosmo, o qual para a mente consciente parece ser formado por matéria morta, na verdade é uma presença viva. Vê que os homens, ao invés de serem remendos da vida, espalhados pelo infinito mar de substância não-vivente, são, na verdade, partículas de morte relativa no infinito oceano da vida. Vê que a vida que se acha no homem é eterna, como toda vida é eterna; que a alma do homem é tão imortal como Deus; que o universo está tão bem construído e ordenado que todas as coisas funcionam juntas, sem incertezas, para o bem de cada uma delas e do conjunto; que o princípio fundamental do mundo é aquilo que chamamos amor e que a felicidade de cada indivíduo é, a longo prazo, inevitavelmente certa. A pessoa que passa por essa experiência aprenderá, em poucos minutos, mais do que seria possível em meses ou mesmo anos de estudo, e muitas coisas que nenhum estudo poderia ensinar. Ela obtém, especialmente, a concepção do Todo, ou pelo menos de um imenso TODO que ultrapassa qualquer concepção, imaginação ou especulação oriunda da autoconsciência comum. Tal concepção torna pobres e mesmos ridículas as antigas tentativas para mentalizar o universo. 

Esse despertar do intelecto foi muito bem descrito por um escritor, falando sobre Jacob Behmen, com as seguintes palavras: "Os mistérios sobre os quais ele falava não se referiam a ele, ele os OBSERVAVA. Ele viu a raiz de todos os mistérios, O QUE ESTÁ POR BAIXO, de onde brotam todos os contrastes e princípios discordantes, a rigidez e a maleabilidade, a severidade e a complacência, a doçura e o amargor, o amor e a pena, o céu e o inferno. Ele viu tudo isso em sua origem e tentou descrever em sua essência e encontrar uma correspondência com os resultados eternos. Ele os viu no ser de Deus; daí o nascimento ou crescimento da manifestação divina. A natureza mostrou-se a ele sem véus — ele sentiu-se em casa, no âmago das coisas. O seu próprio livro, que era ele mesmo (tal como Whitman: "Isso não é um livro; quem o toca, toca um homem"), o microcosmo do homem, com sua tripla vida, evidenciou-se para ele" (79. 852)

d) Juntamente com a elevação moral e a iluminação intelectual vem o que deve ser chamado, por falta de melhor termo, de uma consciência da imortalidade. Não se trata de uma convicção intelectual, como ocorre quando da solução de um problema, ou de uma experiência como o aprendizado de algo que antes desconhecíamos. É bem mais simples e elementar e poderia melhor ser comparado à certeza de uma individualidade distinta, que cada um possui, que advém com e pertence à autoconsciência.

e) Com a iluminação, o medo da morte, que assalta a tantos homens e mulheres ao longo de suas vidas, desaparece; não como resultado de um raciocínio, e sim, apenas, porque se desvanece. 

f) Podemos dizer o mesmo sobre a consciência do pecado. Não é que a pessoa escape do pecado, mas ela não vê no mundo pecado do qual deva esquivar-se. 

g) Uma das características mais especiais da iluminação reside de fato de ser instantânea. Só podemos compará-la a um clarão de luz na escuridão da noite, revelando a paisagem que se achava escondida.

h) O caráter anterior do homem que atinge a nova vida é um elemento importante do caso.  

i) Assim também ocorre com a idade em que se dá a iluminação. Se, por exemplo, ouvimos referências a um caso de consciência cósmica ocorrido aos vinte anos, em princípio deveríamos duvidar da veracidade do relato e, caso nos víssemos obrigados a dar-lhe crédito, deveríamos pensar que esse indivíduo, caso vivesse, seria um verdadeiro gigante espiritual. 

j) O encanto acrescentado à personalidade da pessoa que alcança a consciência cósmica é sempre uma característica do caso. 

i) Ao escritor parece evidente que, com a consciência cósmica, como se apresenta no instante em que ocorre e um certo tempo depois, há uma mudança na aparência do sujeito que passa pela iluminação. Esta mudança é semelhante à provocada em uma pessoa que passa por grande alegria. Mas, em certos casos (os mais pronunciados), parece ser bem mais notável do que isso. Nesses grandes casos, nos quais a iluminação é intensa, a mudança citada também é intensa e pode chegar a ser uma autêntica "transfiguração". Dante diz que foi "trans-humanizado em Deus". Não se pode, absolutamente, pôr em dúvida que se ele tivesse sido visto naquele momento, teria demonstrado os sinais do que chamamos "transfiguração". 

Richard Maurice Bucke em, Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana. 

Consciência Cósmica e Alucinação

Parece que a apreensão da consciência cósmica se verifica de forma mais ou menos agitada, pois no princípio o indivíduo teme que o novo sentido seja um sintoma de alguma forma de insanidade. Maomé sentiu-se muito temeroso. Penso que tanto Paulo como os outros que serão mencionados adiante se sentiram assim afetados. 

A primeira indagação que todos se fazem, depois de ter experimentado o novo sentido, é: o que vejo e o que sinto representam a realidade ou estou sofrendo de uma alucinação? Embora a nova experiência pareça ainda mais real do que os antigos ensinamentos da consciência simples e da autoconsciência, isso a princípio não infunde confiança, pois é sabido que a alucinação, quando se apresenta, toma conta da mente com segurança à da realidade. 

Seja ou não verdade, cada pessoa que passou pela experiência crê forçosamente em seus ensinamentos, aceitando-os como tão absolutos como outros ensinamentos que possa ter recebido. Entretanto, isso não bastaria para demonstrar a sua veracidade, pois poderíamos dizer o mesmo sobre as alucinações de um demente. 

Como, então, saberemos que se trata de um novo sentido, fato revelado, e não uma forma de insanidade, lançando o sujeito na alucinação? Em primeiro lugar, as tendências da mencionada condição são de todo diferentes e até mesmo opostas às da alienação mental. Essas últimas caracterizam-se por ser amorais ou até mesmo imorais, enquanto que as primeiras são altamente morais. Em seguida, enquanto que em todas as formas de insanidade se reduz a inibição, que algumas vezes chega mesmo a desaparecer, na consciência cósmica ela sofre um aumento. Essa última afirmação pode ser amplamente provada pela vida dos homens aqui citados como exemplo¹. Em terceiro lugar, não importa o que digam os escarnecedores da religião, é certo que a civilização moderna, em sua maioria, continua apegada aos ensinamentos do novo sentido. Os "mestres" são ensinados por ele e o resto do mundo por eles, através de seus livros, seguidores e discípulos, de tal forma que se considerássemos o que aqui denominamos consciência cósmica como uma forma de insanidade, enfrentaríamos o fato (absurdo) de que toda a nossa civilização, incluindo as mais importantes religiões, estaria mergulhada na alucinação. Mas, sem alimentar absurda alternativa, podemos sustentar que a evidência da realidade objetiva que corresponde a essa faculdade é a mesma que temos quanto à realidade de qualquer outro sentido ou faculdade. Exemplifiquemos com a visão: Sabemos que a árvore que está lá do outro lado do campo, a meia milha de distância, é real, não uma alucinação; sabemos disso porque todas as outras pessoas que possuem o sentido da visão podem vê-la também, e se fosse uma alucinação só seria visível para nós mesmos. Utilizando o mesmo raciocínio, estabelecemos a realidade do universo objetivo, registrando a consciência cósmica. Todas as pessoas que possuem a faculdade relatam as mesmas experiências ou fatos. Caso três homens olhassem a árvore e meia hora depois lhes fosse solicitado desenhá-la ou descrevê-la, os três desenhos ou descrições não seriam idênticos, discrepariam num ou noutro detalhe, mas corresponderiam em seus traços gerais. Assim ocorre com os relatos daqueles que passaram pela consciência cósmica: são semelhantes na essência, embora divirjam mais ou menos nos detalhes (e essas divergências bem que podem ser o resultado de nossa má interpretação). Não há registro de uma pessoa que tenha passado pela consciência cósmica, negando ou disputando com os ensinamentos de outra que tenha experienciado o mesmo. Embora Paulo, devido as suas experiências anteriores, estivesse pouco predisposto a aceitá-los, tão logo sofreu a consciência cósmica percebeu que os ensinamentos de Jesus eram verdadeiros. Maomé aceitou Jesus não só como o maior dos profetas, mas como alguém que se achava num plano superior ao de Adão, Noé, Moisés e os outros. Ele diz: "E enviamos Noé e Abraão e pusemos na semente deles a profecia e o livro; e alguns deles foram guiados, embora muitos deles fossem trabalhadores da abominação! Então, seguimos suas pegadas com nossos apóstolos; e os seguimos com Jesus, o filho de Maria; e lhe demos o evangelho; e pusemos no coração de seus seguidores a bondade e a compaixão" (153. 269). E Palmer dá seu testemunho: "Maomé vê o nosso Senhor com veneração especial e chega ao ponto de chamá-lo de 'Espírito' e 'Palavra' de Deus e de 'Messias' (152.51). Walt Whitman aceita os ensinamentos de Buda, Jesus, Paulo, Maomé, especialmente de Jesus, que conhecia melhor. Como ele declara: "Aceitando os evangelhos, aceitando-o a Ele que foi crucificado, sabendo com certeza de que Ele era divino" (193: 69). E se, como Whitman uma vez desejou: "Os grandes mestres pudessem voltar e estudar-me" (193: 20), é certo que todos o acolheriam como "um irmão do cúmulo radiante". Assim, todos os homens que esse escritor sabe terem sido iluminados estão de acordo quanto aos detalhes essenciais e com todos os mestres do passado também iluminados. Também parece que os homens livres de preconceito, que conheçam algo sobre mais de uma religião, reconhecem, como Sir Edwin Arnold, que as grandes crenças são "Irmãs", ou, como diz Arthur Lillie, que "Buda e Cristo ensinaram doutrinas semelhantes". (110 . 8)

Richard Maurice Bucke em Consciência Cósmica - estudo da evolução da mente humana


¹  (Gautama, Jesus, Paulo, Plotinus, Maomé, Dante, Las Casas, Juan Yepes, Francis Bacon, Jacob Behmen, William Blake, Balzac, Walt Whitman). 

quinta-feira, 19 de fevereiro de 2015

O amor está além da limitada consciência

(...) A mente com suas respostas emocionais, com todas as coisas que o pensamento agregou, é nossa consciência. Essa consciência, com todo o seu conteúdo, é a consciência de todos os seres humanos, modificada, não inteiramente similar, diferente em suas nuances  e sutilezas, mas as raízes de sua existência são basicamente comuns a todos nós. Os cientistas e os psicólogos estão examinando essa consciência e os gurus estão brincando com ela para seus próprios fins. Os que são sérios estão examinando a consciência como um conceito, como um processo laboratorial — as respostas do cérebro, ondas alfas, etc. — como algo fora deles próprios. Mas nós não estamos interessados em teorias, conceitos e ideias a respeito da consciência; nós estamos interessados em suas atividades na nossa vida diária. Ao entender essas atividades, as respostas diárias, os conflitos, nós temos um INSIGHT na natureza e estrutura de nossa consciência. Como indicamos, a realidade básica dessa consciência é comum a todos nós. Não é a sua ou a minha consciência particular. Nós a herdamos e a estamos modificando aqui e ali, porém, seu movimento básico é comum a toda a humanidade. 

Essa consciência é a nossa mente com toda a sua complexidade de pensamento — as emoções, as respostas sensoriais, o conhecimento acumulado, o sofrimento, a dor, a ansiedade, a violência. Tudo isso é a nossa consciência. O cérebro é antigo e está condicionado por séculos de evolução, por todo tipo de experiência, pelas acumulações recentes do conhecimento expandido. Tudo isso é a consciência em ação, em todos os momentos de nossa vida — a relação entre os seres humanos com todos os prazeres, dores, confusão dos sentidos contraditórios e a gratificação do desejo com dua dor. Esse é o movimento de nossa vida. Nós estamos perguntando, e isso deve ser enfrentado como um desafio, se esse movimento ancestral pode ter um fim — pois isso se tornou uma atividade mecânica, uma forma tradicional de viver. No fim existe um começo e só então não existirá nem fim nem começo. 

A consciência parece ser um assunto muito complexo, mas essa realidade é muito simples. O pensamento agregou todo o conteúdo de nossa consciência — sua segurança, sua incerteza, suas esperanças e seus medos, a depressão e a euforia, o ideal e a ilusão. Uma vez que isso é apreendido — que o pensamento é responsável por todo o conteúdo da nossa consciência —, a questão inevitável surge: pode o pensamento ser detido? Muitas tentativas, religiosas ou mecânicas, foram feitas no sentido de pôr fim ao pensamento. A própria exigência de acabar com o pensamento é parte do movimento do pensamento. A própria busca por uma superconsciência é ainda a medida do pensamento. os deuses, os rituais, toda a ilusão emocional das igrejas, templos e mesquitas com suas maravilhosas arquiteturas, é ainda o movimento do pensamento. Deus é alçado aos céus pelo pensamento.

O pensamento não criou a natureza. Ela é real. A cadeira é real e feita pelo pensamento; todas as coisas que a tecnologia gerou são reais. Ilusão é tudo aquilo que se afasta da realidade dos fatos (aquilo que está  realmente acontecendo agora), mas podem se tornar uma realidade porque vivemos das ilusões. 

O cachorro não é feito pelo pensamento, mas o que queremos que ele seja é o movimento do pensamento. O pensamento é medida. O pensamento é tempo. A totalidade disso é a nossa consciência. A mente, o cérebro e os sentidos são parte dela. Perguntamos: pode esse movimento chegar a um fim? O pensamento é a raiz de todo nosso sofrimento, de toda a nossa feiura. O que estamos pedindo é o fim disso — as coisas que o pensamento agregou —, não o fim do pensamento em si mesmo, mas o fim de nossa ansiedade, pesar, dor, poder e violência. Com o fim disso, o pensamento encontra seu lugar próprio e limitado — o conhecimento e a memória que precisamos ter no dia-a-dia. Quando os conteúdos da consciência, que foram agregados pelo pensamento, não estão mais ativos, então existe um vasto espaço e assim há a liberação da imensa energia, que estava limitada pela consciência. O amor está além dessa consciência. 

Krishnamurti em, Cartas às escolas

sábado, 8 de novembro de 2014

A mente é um subproduto social; não é você!

Para mim, a mente é aquilo que foi dado a você. Não é sua. Mente significa o emprestado, significa o cultivado, aquilo que a sociedade inoculou em você. Não é você. Consciência é a sua natureza; a mente é apenas o círculo criado em torno de você pela sociedade; é a cultura, a sua educação. 

Mente significa o condicionamento. Você pode ter uma mente hindu, mas não pode ter uma consciência hindu. Você pode ter uma mente cristão, mas não pode ter uma consciência cristã. A consciência é una; não é divisível. As mentes são muitas porque as sociedades são muitas, as culturas, as religiões são muitas. Cada sociedade, cada cultura cria uma mente diferente. A mente é um subproduto social. E, a menos que essa mente seja dissolvida, você não pode ir para dentro, não pode conhecer a sua natureza real, o que é autenticamente a sua existência, a sua consciência. 

O esforço em direção à meditação é um combate à mente. A mente nunca é meditativa, nunca é silenciosa. Portanto, dizer 'mente silenciosa' não tem sentido, é um absurdo. É como dizer "doença saudável!" Não faz sentido. Como pode existir uma doença saudável? Doença é doença, e saúde é ausência de doença. 

Não existe nada semelhante a uma mente silenciosa, Quando há silêncio, não há mente. Quando há mente, não há silêncio. A mente, como tal, é o distúrbio, a doença. Meditação é o estado de não-mente. Não de uma mente silenciosa, não de uma mente sã, não de uma mente concentrada, não. Meditação é o estado de não-mente: nenhuma sociedade dentro de você, nenhum condicionamento. Só você, com a sua consciência pura. 

No Zen dizem: Descubra a sua face original. A face que você usa não é original; é cultivada. Não é a sua face; é somente uma fachada, um estratagema. Você tem muitas caras, a cada momento você muda de cara. Está sempre mudando. A mudança já se tornou tão automática, que você nem nota, nem observa. 

Quando você encontra o seu empregado, você usa um rosto diferente daquele que usa quando encontra o seu patrão. Se o seu empregado está sentado à sua esquerda e o seu patrão à direita, você tem duas faces. A face esquerda é para o empregado, a face direita é para o patrão. Você é duas pessoas simultaneamente. Como poderia mostrar a mesma face para o empregado e para o patrão? Um dos seus olhos possui certa qualidade, um olhar determinado. Seu outro olho possui uma qualidade diferente, um olhar diferente. Um está dirigido para o patrão e o outro está dirigido para o empregado. Isso se tornou tão automático, tão mecânico, tão robotizado que você está sempre mudando a sua face; você tem múltiplas faces e nenhuma delas é original. 

No Zen se diz: Descubra seu rosto original, o rosto que você possuía antes de nascer, ou o rosto que terá depois de morto. Qual é esse rosto original? O rosto original é a sua consciência. Todos os outros são frutos da sua mente. 

Lembre-se bem de que você não tem apenas uma mente; você possui multimentes. Esqueça o conceito de que todo mundo possui uma única mente. Você não tem, você tem muitas: uma multidão, uma multiplicidade; você é polipsíquico. Pela manhã você tem uma mente, à tarde, outra e, à noite, ainda outra. A cada instante você tem uma mente diferente. 

A mente é um fluxo: fluvial, flutuante, cambiante. A consciência é eterna, uma. Não é diferente de manhã, não é diferente à noite. Não é uma quando você nasce e outra quando você morre. É sempre a mesma, eterna. mente é fluxo. Uma criança possui uma mente infantil, um velho possui uma mente velha; mas uma criança ou um velho possuem a mesma consciência, que não é infantil, nem velha. Ela não pode ser diferente. 

A mente se move no tempo e a consciência vive na atemporalidade. Não são uma coisa só. Mas estamos identificados com a mente. Continuamos dizendo, insistindo: "minha mente. Eu penso desse jeito. Esse é o meu pensamento. Esta é a minha ideologia." Você perde o que realmente é por causa dessa identificação com a mente. 

Dissolva esses vínculos com a mente. Lembre-se de que suas mentes não são verdadeiramente suas. Foram dadas a você por outros: seus pais, sua sociedade, sua universidade. Foram dadas a você. Jogue-as fora, fique com a consciência única que é você — pura consciência, inocência. É assim que passamos da mente para a meditação. É assim que saímos da sociedade, do exterior para o interior. É assim que se passa do mundo feito pelo homem, de maia, para a verdade universal, a existência. 

É isto que estamos fazendo aqui: jogando a mente fora. Quando insisto: "Fique louco" — estou lhe dizendo: "Jogue a mente fora". Quando digo: "Passe por uma catarse" — estou dizendo, "Jogue fora tudo o que a sociedade lhe deu e fique apenas com o que você é. Não com o que lhe tem sido dado, mas com o que você nasceu — sua natureza". 

Jogue fora as ambições, as repressões, as idéias, as atitudes, os conceitos. Seja simples, como uma criança, inocente, e então você penetrará numa dimensão diferente. Então você pode penetrar no desconhecido. Eis por que a verdade não pode ser conhecida através da mente. A mente significa o passado e a verdade significa o eterno presente; portanto, você não pode aproximar-se da verdade através da mente. A mente é a barreira, o único obstáculo. 

Osho em, A Nova Alquimia 

quarta-feira, 24 de setembro de 2014

Um místico liberando um físico quântico de seu antolho científico

Amit conta, como e quando, ele obteve o esclarecimento final "insight" que o levou a conclusão de seu trabalho (nada existe fora da Consciência).

Conta Amit, que o primeiro esboço de seu trabalho a respeito da Consciência foi escrito no verão de 1982. Conta ele: " Eu sabia, no entanto, que havia profunda incoerência no material. Elas tinham origem no apego muito sutil a um dos dogmas fundamentais da filosofia realista - a consciência tinha que ser um epifenômeno da matéria. O biólogo Roger Sperry falou em consciência emergente - uma consciência causalmente poderosa que emergiu da matéria, do cérebro. De que maneira poderia isso acontecer? Há um círculo vicioso obstinado no argumento de que alguma coisa feita da matéria pode agir sobre ela com novidade causal. Eu poderia ver, nesse caso, a conexão com os paradoxos da física quântica: como poderíamos nós, nossas observações, produzir um efeito sobre o comportamento de objetos, sem postular uma consciência dualista? Eu sabia também que a idéia de uma consciência dualista, separada da matéria, criava seus próprios paradoxos.

Ajuda chegou de uma direção inesperada. Como cientista, sempre acreditei em uma abordagem total do problema. Uma vez que, nessa ocasião, minha pesquisa constituía evidentemente uma exploração da natureza da própria consciência, achei que deveria mergulhar em estudos empíricos e teóricos da consciência. Essa orientação implicava psicologia, embora os modelos psicológicos convencionais - dadas as suas raízes no realismo materialista - evitem experiências conscientes que contestem essa visão do mundo. Outras psicologias menos convencionais, contudo, tais como o trabalho de Carl G. Jung e Abraham Maslow, pressupunham um conjunto diferente de suposições. Essas idéias apresentam maior ressonância com a filosofia dos místicos - uma filosofia que se baseia em enxergar, espiritualmente, através do véu que cria a dualidade. Para remover o véu, os místicos prescrevem que o indivíduo se torne atento ao campo da percepção. (esse estado de atenção é, às vezes, denominado de meditação).

Eventualmente, após anos de esforços, uma combinação de meditação, leitura de filosofias místicas, um sem-número de discussões e simplesmente pensamento concentrado começaram a romper o véu que separava da solução que eu procurava para tais paradoxos. O dogma fundamental do realismo materialista - que tudo é feito de matéria - teve que ser abandonado, e isto sem trazer o dualismo.

Lembro-me ainda do dia em que ocorreu o rompimento final. Estávamos em visita a nossa amiga Frederica, que reside em Ventura, na California.

Cedo, naquele dia, Magie e eu saímos com um amigo, o místico Joel Morwood, para ouvir uma palavra de Krishnamurti na vizinha Ojai. Mesmo aos 89 anos, Krishnamurti dava conta do recado com extraordinária habilidade. Em seguida, conversando com a platéia, ele aprofundou pontos que haviam constituído a essência de seu ensinamento - para mudar, temos que estar cientes agora, e não resolver mudar mais tarde ou, simplesmente, pensar no assunto. A percepção radical, e só ela, leva à transformação que desperta a inteligência radical. Quando alguém perguntou se a percepção radical ocorre a nós, seres humanos comuns, Krishnamurti respondeu gravemente: "Tem que ocorrer".

Mais tarde naquela noite, Joel e eu iniciamos uma conversa sobre Realidade. Eu estava lhe dando um prato cheio de minhas idéias sobre consciência, que havia elaborado a partir da teoria quântica, em termos da teoria da medição quântica. Joel escutava com toda atenção.

- Muito bem, o que é que vai acontecer em seguida?

- Bem, eu não tenho certeza de compreender como a consciência se manifesta no cérebro-mente - respondi, confessando minha luta com a idéia de que, de alguma maneira, a consciência tinha que ser um epifenômeno dos processos cerebrais.

- Acho que compreendo a consciência, mas...

- A consciência pode ser compreendida? - interrompeu-me Joel.

- Claro que pode. Eu lhe disse que nossa observação consciente, a consciência, produz o colapso de onda quântica...

E eu estava pronto para repetir toda a teoria.

Joel, porém, interrompeu-me:

- De modo que o cérebro do observador é anterior à consciência, ou a consciência é anterior ao cérebro?

Percebi a armadilha na pergunta.

- Estou falando em consciência como sujeito de nossas experiências.

- A consciência é anterior às experiências. Ela não tem objeto nem sujeito.

- Certo. Isso é misticismo antigo. Em minha linguagem, porém, você está falando a respeito de algum aspecto não-local da consciência.

Joel, porém, não se deixou desanimar por minha terminologia.

- Você está usando antolhos científicos, que impedem de compreender. No fundo, você acredita que a consciência pode ser compreendida pela ciência, que a consciência emerge do cérebro, que é um epifenômeno. Tente compreender o que os místicos estão dizendo. A consciência é anterior é incondicionada. Ela é tudo o que há. Nada mais existe, senão Deus.

A última frase fez comigo alguma coisa que é impossível descrever em palavras. O melhor que posso dizer é que provocou abrupta mudança de perspectiva - um véu foi levantado. Ali estava a resposta que eu estivera buscando e que conhecera o tempo todo.

Quando todos foram dormir, deixando-me em minha contemplação, saí de casa. O ar da noite estava frio, mas não me importei. Tão enevoado estava o céu que eu mal conseguia ver uma estrela. Mas, na imaginação, o céu tornou-se o mesmo céu radiante de minha infância e, de repente, consegui enxergar a Via-láctea. Um poeta da minha Índia natal concebera a fantasia de que a Via-láctea era a fronteira entre o céu e a terra. Na não-localidade quântica, o céu transcendente - o reino de Deus - está em toda a parte. "Mas o homem não o vê, lamentava-se Jesus."

Bibliografia.
Universo Autoconciente.

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

Pode haver consciência sem observador?

Pergunta: Pode haver consciência sem observador?

Chögyam Trungpa: Sim, porque o observador é apenas paranoia. Podemos ter abertura completa, uma situação panorâmica, sem precisar discriminar entre dois lados, "eu" e "outro". 

P: Esta consciência implicaria em sentimento de felicidade completa?

Chögyam Trungpa: Creio que não, porque essa felicidade é uma experiência muito individual. Você é independente e vive a sua felicidade. Quando o observador se vai, não há avaliação da experiência em termos de prazer ou dor. Quando você tem consciência panorâmica sem a avaliação do observador, a bem-aventurança se torna irrelevante pelo simples fato de não haver ninguém que a esteja experimentando.

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Sobre a experiência sublime e inesquecível

Os primeiros Grandes Sábios, observando o movimento dos pensamentos da sua própria mente, descobriram que "ALGO" estava em ação quando o pensamento cessava. Esse "ALGO" era a primeira insinuação da alma de cuja descoberta nasceu a ciência que os antigos começaram a ensinar aos homens, como um meio de conhecerem a VERDADE SOBRE SI MESMOS.

Tal ciência foi transmitida por métodos diversos em quase todas as civilizações pré-cristãs, na Suméria, Egito, Babilônia, Caldéia, China, Pérsia, Índia, México; entre os índios da América do Norte, maias da América Central e os desventurados astecas, assim como entre os judeus da Fraternidade Essênia e os gnósticos das cidades mediterrâneas.

Contemplando as majestosas ruínas da Grécia antiga, vêem-se de pés as imponentes fachadas esburacadas e colunas esfaceladas pelo tempo, os restos do famoso Templo em que outrora foram celebrados com grande cerimônia sob a égide de Atenas os célebres Mistérios de Elêusis. Poucos, são, todavia, aqueles que hoje entendem o que se passava exatamente atrás das paredes do santuário. A INICIAÇÃO nesses Mistérios era considerada pelos antigos ASSUNTO DE GRANDE IMPORTÂNCIA, enquanto que o homem moderno mal lhe conhece o mero significado da palavra. Grandes homens não vacilaram em submeter-se a essa experiência SUBLIME E INESQUECÍVEL, saindo dela fortalecidos, prestes a desempenhar com ABSOLUTA CONSCIÊNCIA o papel que lhes fora designado pelo destino a cumprir, tal era a grandeza da revelação recebida a portas fechadas e vigiadas.

Ao terminar as solenidades dos Grandes Mistérios, as últimas palavras ouvidas era. VAI EM PAZ! Descrevendo suas experiências, os próprios iniciados diziam que a partir daquele momento seguiriam seu caminho da vida COM A ALMA SERENA E TRANQUILA. A INICIAÇÃO nada mais era realmente do que entrar na PERCEPÇÃO DAQUILO QUE O CANDIDATO DE FATO ERA. Completava sua formação de homem e quem quer que não a tenha experimentado era em verdade meio-homem.

(...) A chave do segredo dessa antiga instituição dos Mistérios nos foi dada por Plutarco quando escreveu: "OS INICIADOS, NO MOMENTO DA INICIAÇÃO NOS GRANDES MISTÉRIOS, SENTEM AS MESMAS IMPRESSÕES DA ALMA NA HORA DA MORTE".

(...) Será esse "EU" oculto uma imaginação louca, vaga quimera de alguns visionários, cuja fama milenar nos foi transmitida através da história? Os elos que ligam essa longa cadeia de tradição espiritual não terão vínculos mais fortes do que uma simples superstição?

(...) Valerá talvez o trabalho de investigar essa questão. Pode ser que o resultado de tal exame ou fortaleça a nossa posição atual e enfraqueça suas doutrinas seculares, ou talvez desmorone nossas crenças tão cuidadosamente sustentadas, confirmando a exatidão dos axiomas dos antigos. E a investigação é a única que realmente interessa.

Eu mesmo me empenhei em averiguar, não sem dificuldade, o que havia de verdadeiro nessas doutrinas. Finalmente, vi-me forçado a testemunhar que a sabedoria dos antigos NÃO É UMA COISA IMAGINÁRIA. Descobri, em vez de quimeras invenções de alguns cérebros doentios, doutrinas tão estupendas que nós que vivemos e trabalhamos no ensurdecedor e impiedoso mundo de hoje lhes devemos dar fé.

A mente contemporânea NÃO ATENDE aos sábios conselhos dos antigos para resolver seus problemas e assim perde verdadeiros tesouros acumulados; e é possível que a meditação desses sábios possa dar ainda muitos frutos aos estudiosos da cultura moderna. Podemos cortar os liames que nos prendem às grandes filosofias de outrora, mas sendo elas baseadas nos princípios eternos em que se apóia todo verdadeiro pensamento, mais cedo ou mais tarde seremos forçados a elas recorrer. A filosofia perde o seu poder quando os DEMASIADAMENTE INTELECTUALIZADOS a reduzem a meras discussões; retomará seus legítimos direitos quando nas almas sofisticadas da nossa época DESPERTAR A NECESSIDADE de alguns pontos de apoio mais seguro do que este que oferecem os ensinamentos confusos de hoje.

Há no homem algo mais do que o revelam as impressões comuns. As descobertas da Psicologia experimental têm levado a interessantes conclusões a este respeito, e confirmado inumeráveis relatos de experiência mística. Que é esse "ALGO MAIS" no homem, que o faz defender esplêndidos ideais e conceber nobres pensamentos? Que PRESENÇA espiritual DENTRO DE SEU CORAÇÃO o instiga a afastar-se da existência banal, puramente terrena, e travar uma luta constante entre o anjo e a besta que habitam no seu corpo?

Quando nos dizem a nós, homens do século XX, que Deus não é apenas uma simples palavra sobre a qual se argumente e discuta, mas UM ESTADO DE CONSCIÊNCIA QUE PODEMOS REALIZAR AGORA, em carne, levantamos os olhos, surpresos. Quando se nos afigura a existência de alguns seres que vivem entre nós e viram Deus — tocamos a cabeça num gesto significativo... e, ademais, se nos asseguram que temos o Divino DENTRO DE NÓS e que a Divindade É O NOSSO VERDADEIRO SER, sorrimos, indulgentes mas desdenhosos, tomando ares de superioridade.

No entanto, isso não é nem teoria, nem sentimentos: é uma certeza inegável, evidente e absoluta pura para aqueles que se adiantaram um pouco no caminho da PERCEPÇÃO espiritual.

(...) Podemos trocar nosso parentesco com o símio, e com requinte detalhes e de provas demonstrarmos essa triste linhagem, porém somos incapazes de nos lembrar de nosso parentesco com o anjo.

PB - O Caminho Secreto


segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Breve relato do despertar do processo de retomada da Consciência

D.D.: Estou sem microfone aqui e meu computador está péssimo, travando toda hora mas, eu queria escrever um pouco... Posso?
out: sim
D.D.: Então, com licença a todos. Boa noite.
out: bn
D.D.: Eu quero dizer antes de mais nada que este grupo vem sendo muito importante pra mim. Na verdade eu escuto mais o canal no Youtube do que este canal.
D.D.: Conheci vocês através do Youtube, pesquisando sobre o K
D.D.: O Krishnamurti eu descobri através de um professor de arquitetura, onde a gente fazia com ele uma entrevista sobre escolas, meios de ensinos...
D.D.: Perguntei à ele qual seria, na opinião dele a escola ideal... e ele respondeu que era a escola de Krishnamurti
D.D.: O tempo passou, e um dia eu estava a assistir um documentário onde aparecia o K falando aquele frase " famosa" dele: Não é nenhum pouco saudável ser normal numa sociedade doente
D.D.: Isso me tocou logo, e me vi buscando coisas sobre esse cara em todos os lugares, tanto em livros como em vídeos
D.D.: E foi ai que conheci a confraria!
D.D.: Eu falo uma coisa pra vocês.
D.D.: Eu entro na internet muito pouco, uso para coisas do trabalho como e-mail e Facebook (egobook)
D.D.: ...além disso vejo, ouço e acompanho a página de vocês no Youtube e aqui.
D.D.: Minha vida mudou depois que conheci o K
D.D.: e a coisa mais importante pra mim, a maior descoberta da minha vida ( hoje estou com 37 anos), foi saber que eu não sou a minha mente.
D.D.: Que tenho muitos condicionamentos e que, por conta deles penso do jeito que penso.
D.D.: Tive um insite (visão de dentro).
D.D.: Eu estava encostado no pilar daqui de casa, próximo à uma árvore e, fui deletando os meus pensamentos... Toda palavra que vinha na minha mente eu retirava o significado dela na mesma hora.
D.D.: Quando de repente, tudo me apareceu tão claro, tão nítido
D.D.: Senti que eu era tudo
D.D.: eu era a árvore que estava perto de mim
D.D.: eu era o meu cachorro
D.D.: eu era o céu azul com todas as estrelas que eu não via
D.D.: eu era tudo que estava em meu entorno, até mesmo as coisas que eu não enxergava naquele momento
D.D.: A sensação que eu tive foi de que, a vida, ou melhor escrevendo, na vida não há absolutamente nenhum problema. Nenhum!
D.D.: Se eu saísse na rua e um carro me atropelasse, isso não seria um problema.
D.D.: Se eu perdesse o meu pai, ou minha mãe em morte, isso também não seria um problema
D.D.: Se eu perdesse tudo o que tenho, trabalho, família, bens qualquer, não seriam problemas
D.D.: Esse raciocínio me veio depois.
D.D.: Na hora tive somente uma leveza, uma luz tamanha e, que durou no máximo 1 segundo
D.D.: 1 segundo!
D.D.: Ou seja, em 37 anos de vida eu ti segundo de realidade!
D.D.: Conversando com um amigo ( hoje só tenho um amigo, pois, os outros, que eram muitos, eu não consigo mais me identificar, e, portanto, não frequento mais os mesmos ambientes que eles), contei o que tinha acontecido comigo.
D.D.: E disse à ele como era triste saber que, talvez aquilo jamais iria se repetir na minha vida
D.D.: Ele me disse que pelo menos eu havia visto, enxergado. Que aquilo era como se fosse uma pessoa que vivera toda uma vida trancafiada num quarto sem janelas e portas, um quarto escuro... e que de repente descobrisse um buraquinho, um vão do tamanho de um alfinete, e que avistasse o mundo exterior
D.D.: Bom, já está travando aqui, o meu computador está muito ruim e, eu gostaria de falar muito mais coisas à vocês, coisas que estão acontecendo comigo depois que conheci o K e toda essa verdade que vocês dizem e procuram saber.
D.D.: E são tantas coisas..., mas enfim. Agradeço de coração à todos vocês, está sala é muito importante pra mim, é a única coisa que tenho real satisfação em estar... boa noite. Vou providenciar um mic. Abraço à todos. Voadora krishnamurtiana, como diz o Out!

Confrade Du Duarte - Reunião Paltak

quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Minha nova concepção da Vida

Mouni Sadhu
Uma das tarefas mais difíceis com que me deparei durante minha estada no ashram de Ramana Maharishi, foi a necessidade de encontrar a definição clara da nova concepção de vida como tal. Parece-me que há em mim um ponto central ao redor do qual tudo gravita em minha consciência, o meu "EU". Esta concepção deve ser definitiva e absoluta, pois nenhuma outra será aceitável pelo meu "Eu".

Entre as centenas de definições que encontrei, nenhuma delas pareceu-me dar uma síntese perfeita. As definições condicionadas devem ser abandonadas como falsas. As que são demasiadamente abstratas, uma terminologia impossível de ser posta em prática, parecem-me simples acrobacias mentais, boas para os professores aposentados de filosofia teórica, mas não para um homem que se esforça pela realização espiritual. Mas sei que deve existir uma definição que harmonize com as profundezas de meu ser e que não provoque nem dúvida nem ceticismo, pois estará de acordo com minha própria experiência interna. 

Todos os que realizaram a verdade na vida falam dela com maior entusiasmo, COMO SENDO A ÚNICA META, para cujo alcance tudo o mais deveria ser sacrificado, UMA VEZ QUE É PURA ILUSÃO. No entanto, todas as suas palavras não aprecem ser outra coisa senão belas e encantadoras melodias produzidas por um instrumento desconhecido. Em minha busca tive de abandonar tudo o que é limitado, condicionado por nome e forma. Aquilo que sobra, sem forma nem véu, isso deve ser necessariamente a própria vida. 

O processo da investigação — principalmente através da meditação — demonstrou-me que quanto mais eu abandono a ideia de ser realista o que é visível, mais próximo me sinto da minha meta. Quais são, na prática, os estágios desse processo? Naturalmente é impossível descrevê-los em detalhes, mas as linhas gerais são muito simples. Começando a meditar em completa paz e serenidade sobre a relação que os objetos externos têm com o Eu, muitas vezes me parece que atinjo a verdade: eles não significam nada para o "Eu". Nesse momento desponta uma espécie de visão da possibilidade de uma EXISTÊNCIA independente de quaisquer condições. Essa "visão" — a palavra não é exata nem muito própria — dura mais ou menos tempo, dependendo do grau de concentração alcançada, mas seu resultado permanece como a memória de uma coisa duradoura e certa, sem qualquer sombra de dúvida. Ela encontra expressão no pensamento: "Unicamente a CONSCIÊNCIA é VIDA". A Consciência desapegada, independente de tudo, a simples afirmação "EU SOU". 

Mas esse "EU" não é o pequeno eu contido na transitória forma corpórea com seus sentidos, que é, na verdade, a antítese do EU REAL. Esse "EU"-Consciência está mais próximo do termo usado, muitas vezes, na literatura filosófica moderna, a "Consciência Cósmica" ou "Eu Cósmico". Essa Consciência é também FELICIDADE ABSOLUTA. 

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


Como entrar no estado de meditação Supra-mental?

Mouni Sadhu
"A mente tem sua função na evolução do homem, mas essa função é limitada e pode guiar somente até certo nível. Além desse ponto começa outro novo".
— Ramana Maharshi


* * *
Analisando o processo em mim mesmo, acho que primeiro devem ser sustados todos os pensamentos. A Auto-inquirição  amadurece a mente para que o interesse no processo do pensamento desapareça, a fim de que a tranquilidade da mente, tão difícil até então, se torne fácil. 

Segundo, quando a mente está tranquila, surge forte insistência para a unidade com o TODO. Mas o que é esse TODO ainda não pode ser concebido e sinto que nunca pude obtê-lo sozinho. A melhor comparação é "fundir-se e dissolver-se NAQUILO que unicamente É". Diferente é deixar o corpo ou o ego, pois não há movimento. Permanecemos onde estamos, mas não somos o que éramos antes. 

Tudo o que poderia ser visto ou sentido antes, está separado de mim agora. Nada mais pode ser dito. 

Terceiro, o estado de unidade com o TODO traz inabalável certeza de que somente esse estado é o real e permanente; e que é esse o último refúgio que sempre buscamos, e o qual jamais perderemos. Nada há mais além disso, pois — ISSO É TUDO. 

A concepção de como a "morte" é destruída não significa que estamos nesse estado de pensamento de uma "vida depois da morte". O único fato que sabemos é que essa vida continuará para sempre. 

Nesse estado de Ser não há a falta distinção do tempo como passado, presente e futuro. 

É possível força a linguagem para transmitir à mente algo daquilo que trazemos de tal meditação, mas é provável que isto SEJA INÚTIL OU MAL COMPREENDIDO. E não há certeza de que outros cheguem a essa meditação silenciosa do mesmo modo que nós. Assim, qualquer descrição pode ser apenas uma sugestão e pode até não ser o caminho apropriado para outrem. 

Há uma experiência misteriosa que prova o poder de Auto-inquirição. Ramana Maharshi insistia que não devemos usar a Auto-inquirição como se fosse um mantra, isto é, como palavras apenas, mas que cada pergunta esteja PENETRADA do desejo de conhecer "Quem sou eu?". Pelo uso da Auto-inquirição dessa forma, após tranquilizar a mente, a resposta vem por si mesma, sem palavras, nem pensamentos — TU SABES QUEM ÉS. E o que se segue é INEXPRIMÍVEL. 

Esse é o grande serviço que Ramana Maharshi prestou à Humanidade — ter forjado este infalível instrumento de alcance — a inspiradora Auto-inquirição

Mouni Sadhu - Dias de Grande Paz


segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

A história de meu coração começa há dezessete anos atrás. Tinha apenas dezoito anos quando um sentido muito íntimo e esotérico começou a surgir em mim através de todo o universo visível e aspirações indefiníveis se apossaram de minha alma. 

Em última instancia, senti-me só com o sol e a terra. Deitado sobre a relva, falei com a alma à terra, ao sol, ao ar, e ao mar distante, longe de meus olhos. Pensei sobre a firmeza da terra, e senti que era envolvido por ela; através da capa de relva, apossou-se de mim uma influência que me fazia sentir como se a terra falasse comigo. Pensei no ar e em sua pureza, que constitui a sua grande beleza. O ar tocou-me e legou-me algo de si mesmo. Orei por todas essas coisas; senti na alma uma emoção que ultrapassa a capacidade de ser definida. 

Pensei em minha existência mais íntima, naquela consciência que se chama alma. Estas, ou seja, eu mesmo, pus na balança para pesar a oração celestial. Aí tirei a força de meu corpo, de minha mente, de minha alma. A oração, essa emoção da alma, existia em si mesma, não em qualquer objeto. Era uma paixão. Escondi meu rosto na relva, senti-me completamente prostrado, perdi-me na luta, fui arrebatado e levado para longe. 

Se algum pastor me tivesse por acaso visto deitado na relva, teria pensado que eu descansava por alguns instantes. Não demonstrei, exteriormente, o que sucedia em meu interior. Poderia ele imaginar que dentro de mim se agitava um verdadeiro vendaval, enquanto aí estava reclinado? Senti-me exausto, quando afinal retornei a casa. 

Tendo bebido abundantemente do céu que tinha sobre mim e sentido a mais gloriosa beleza do dia, e relembrando o mar, imensamente velho, que, como me parecia, estava em alguma parte muito distante, perdi-me então e senti-me absorvido no ser ou existência do universo. Senti a profundeza do que existe debaixo da terra e acima do céu, mais longe ainda do que o sol e as estrelas. Ainda mais longe, além das estrelas, no imenso espaço, e então a separação do meu ser pareceu-me parte do todo. 

Orei com todo esse tempo e poder que posso reunir em minha alma, em sua parte intelectual, a ideia, o pensamento. Agora, esse momento me dá o pensamento por inteiro, a ideia total, a alma completa expressa no Cosmo que me rodeia. Dá-me a noção ilimitada da vida, tal como do mar e do sol, da terra e do ar. Brinda-me com a compreensão da vida física, da mente, iguale além de sua complexidade. Faz-me perceber que a alma é maior e mais perfeita que todas as coisas. Atende ao meu desejo inexprimível que me ata como um nó, que existe em mim como a força do mar. Percebo uma alma-vida ilimitada. Percebo a existência de um pensamento do Cosmo. Creio na forma humana. Deixe-me encontrar alguma coisa, algum método pelo qual essa forma possa alcançar a beleza máxima. Sua beleza assemelha-se à de uma flecha, que pode ser lançada a distância, de acordo com a força do arco. Assim, a ideia que surge na mente humana pode expandir-se indefinidamente e elevar-se à beleza. Quanto à mente, à consciência mais íntima, a alma, minha oração desejou que eu pudesse descobrir um sistema de vida para ela, de tal forma que não apenas pudesse conceber essa vida, mas efetivamente dela desfrutar na terra. Desejei descobrir um conjunto de ideias novo e mais elevado, sobre o qual a mente pudesse trabalhar. O que mais se aproxima desse significado seria um novo livro da alma, um livro esboçado a partir do presente e do futuro, sem contemplar o passado. Em lugar de ideias baseadas na tradição, deixe-me dar à mente um novo pensamento saído do presente, do momento atual. 

Reconhecendo minha própria consciência mais íntima, a psique, tão claramente, não me pareceu que a morte afetasse a personalidade. Não havia, na dissolução, um carisma de separação. O espírito não se fazia imediatamente inacessível, distanciado de forma incomensurável. 

Para mim, tudo é sobrenatural. Não é possível submeter o espírito às leis da matéria. 

Quando penso que percebi esse momento do eterno Agora, que sempre foi e será, que estou em meio às coisas imortais nesse momento, que provavelmente há almas infinitamente superiores à minha, assim como a minha é infinitamente superior a um pedaço de madeira, o que será, então, um milagre? 

Sinto-me à beira de uma vida desconhecida, que se encontra muito perto, que quase posso tocar, no limiar de poderes que, se eu pudesse alcançar, me dariam um imenso alento de existência. Algumas vezes sinto-me invadido por um êxtase de alegria pelo universo inteiro. Desejo maiores noções sobre a alma-vida. Estou certo de que ainda há mais para ser descoberto. Uma grande vida, uma civilização inteira está às portas do pensamento comum. 

Há uma Entidade, uma Alma-Entidade, embora ainda não possa ser reconhecida. 

O homem possui uma alma, embora me pareça que ela permanece em expectativa, pela qual ele ainda pode descobrir coisas que agora lhe parecem sobrenaturais.

Creio, de todo o coração, no corpo e na carne, e creio que eles deveriam ser estimulados e tornados mais belos por todos os meios; creio que os órgãos do corpo podem fazer-me mais fortes em sua ação, perfeitos e duradouros. Creio que a carne exterior pode ser ainda mais bela, que os contornos podem ser mais delicados, que os movimentos podem ser mais graciosos. Creio que todo tipo de ascetismo é vil, é uma blasfêmia contra a raça humana como um todo. 

Como exprimir, adequadamente, minha certeza de que todas as coisas sucedem para o melhor, para um fim mais sábio e benéfico e que estão ordenadas por uma inteligência humana? É um crime contra a raça humana. 

Nada evolui. Não há evolução, assim como não há intenções na natureza. Por haver estado face a face com a natureza, e não com livros, convenci-me de que não há nem intenções, nem evolução. O que é, qual é, qual foi a causa, como e por que, ainda não o sabemos. Mas, certamente, não são aquelas as respostas. Nada há de humano em qualquer das vidas animais. A natureza toda, o universo, até onde posso ver, é ante ou ultra-humano. Nada tem a ver com o homem. Nada havendo de humano na natureza do universo, e sendo todas as coisas ultra-humanas, e sem qualquer intenção ou propósito, concluo que nenhuma deidade tem algo que ver com a natureza. Em seguida, nos assuntos humanos, nas relações do homem com o homem, no comportamento diante da vida, nos acontecimentos que ocorrem nos assuntos humanos em geral, tudo acontece por acaso. E como todas as coisas, nos assuntos humanos, acontecem por acaso, nenhuma deidade pode ser responsabilizada. 

Um impulso irresistível levou-me a escrever essas coisas e esse impulso obrou em mim desde muito jovem. Não a escrevi pelo prazer da discussão, e ainda menos visando a algum proveito. É, na verdade, todo o contrário. Foram-me impostas pela seriedade de coração, e exprimem minhas mais sérias convicções. Uma das maiores dificuldades que encontrei é a falta de palavras para expressar as ideias.

Richard Fefferies - 1848-1887

Extraído do livro "Consciência Cósmica - Estudo da evolução da mente humana", de R.M Bucke


domingo, 1 de dezembro de 2013

O que é o estado supremo de Consciência?

O que é o estado supremo de Consciência? São Paulo chamou-o de "a paz que está além do entendimento" e R.M. Bucke designou-o de "consciência cósmica". No Zen-Budismo, emprega-se o termo satori ou kensho; no yoga, samadhi ou moksha e, no taoísmo, o "Tao Absoluto". Thomas Merton utilizou, para descrevê-lo, a expressão "inconsciente transcendental; Abraham Maslow criou o termo "experiência máxima"; os sufis falam de fana. Gurdjieff qualificou-o de "consciência objetiva", ao passo que os quacres chamam-no de "a Luz Interior". Jung referiu-se à individuação e Buber falava da conexão Eu-Tu. Quaisquer que sejam, porém, os nomes dados a esse fenômeno antigo e bem conhecido — luz, iluminação, libertação, experiência mística —, todos eles dizem respeito a um estado de percepção radicalmente diferente de nossa compreensão comum, de nossa habitual consciência desperta, de nossa mente diária. 

Além disso, todos concordam em qualificá-lo como o estado supremo da consciência: uma percepção autotransformada de nossa total união com o infinito. Está além do tempo e do espaço. Trata-se de uma experiência da infinitude que é a eternidade, da unidade ilimitada com toda a criação. Nossa percepção sensorial do "eu", socialmente condicionada, despedaça-se e destrói-se devido a uma nova definição de pessoa em si, do eu. Nesta redefinição de pessoa em si, torno-me idêntico a toda a humanidade, a toda a vida e ao universo. As habituais fronteiras do ego esboroam-se à medida que o ego ultrapassa os limites do corpo e, de súbito, torna-se um com tudo aquilo que existe. O eu torna-se integrado à Alma Superior, tal como Emerson a denominou (e talvez integrado ao que Arthur Clarke, em Fim da Infância, chamou de Mente Superior). O eu torna-se abnegado, o ego surge como uma ilusão e o jogo do ego chega ao fim. O Maitrayana Upanishad expressa-se deste modo: "Após perceber seu próprio eu como o EU, um homem torna-se abnegado. (...) Este é o mistério Supremo.

John White (org.) - O mais elevado estado de Consciência


sábado, 30 de novembro de 2013

Breve relato de retomada da Consciência Integrativa Amorosa

Profundamente agradecido pelo privilégio da "santificação" pela fé", realizada com INESPERADA PLENITUDE, juntei-me, nos bosques, a alguns cristãos que havia conhecido, para juntos esperarmos, diante de Deus, pelo batismo no Espírito. O tempo de espera foi passado em PROFUNDO SILÊNCIO, quebrado apenas por alguns hinos e breves orações. Finalmente, "Veio do céu um ruído semelhante a um vento impetuoso que soprasse e encheu a casa onde estávamos reunidos. Essas são as mais inspiradas palavras que encontro para descrever a minha impressão. Entretanto, a natureza permaneceu imobilizada, sem que se mexesse uma única folha das árvores ou da relva. O Senhor revelou-se pelo Espírito às nossas almas e não aos nossos sentidos. Meu ser por inteiro parecia indescritivelmente cheio por Deus, em quem sempre acreditara. A percepção dos meus sentidos seria impotente para transmitir-me a CONSCIÊNCIA que agora possuía. Compreendi as visões extra-sensoriais de Isaías, Ezequiel e Paulo. Dentre todas as coisas criadas, nada era mais real para a minha alma do que o próprio Criador. A experiência foi terrível, embora não infundisse medo. Conservei total domínio dos meus sentidos e ainda assim percebi que eles haviam sido envolvidos pela sublime manifestação. Cada pergunta era respondida de forma o mais breve possível, a fim de que minha alma não se perdesse, nem por um instante, a PRESENÇA Celestial que a ENVOLVIA e SACIAVA. Não me recordo de haver confidenciado a ninguém essa experiência; porém, alguns dias depois, ao reencontrar minha esposa, ela caiu de lágrimas ao ver-me, antes mesmo de pronunciar uma só palavra, tal a MUDANÇA HAVIDA EM MEUS ASPECTO. Com a CONSCIÊNCIA DO DESPERTAR, as águas vivificantes manaram do meu espírito. Fui invadido por grande medo, mas ele era doce e, não, opressivo. Era a mesma sensação que me havia invadido na presença de Deus e essa impressão ACOMPANHOU-ME SEMPRE, mesmo quando dedicado às mais absorventes atividades. Para mim, a vida converteu-se em um salmo de louvor. 

É evidente que, passado certo tempo, houve um decréscimo nessa exaltação de sentimentos. Entretanto, em meu íntimo permaneci CONSCIENTE DE DEUS, tal como fora dito: Habitarei neles e com eles caminharei"; "Viremos a Ele e faremos nossa morada com Ele"... Não é fácil abordar essas coisas. Minhas palavras parecem pobres e o seu resultado é mais de encobrimento do que de revelação. Fosse a minha linguagem capaz, e a gloriosa realidade seria transmitida a outros corações!"

R.P.S - 1830-1898

A Consciência Integrativa Amorosa em Baruch Spinoza

Pára de ficar rezando e batendo o peito! O que eu quero que faças é que saias pelo mundo e desfrutes de tua vida.

Eu quero que gozes, cantes, te divirtas e que desfrutes de tudo o que Eu fiz para ti.

Pára de ir a esses templos lúgubres, obscuros e frios que tu mesmo construíste e que acreditas ser a minha casa.

Minha casa está nas montanhas, nos bosques, nos rios, nos lagos, nas praias. Aí é onde Eu vivo e aí expresso meu amor por ti.

Pára de me culpar da tua vida miserável: Eu nunca te disse que há algo mau em ti ou que eras um pecador, ou que tua sexualidade fosse algo mau.

O sexo é um presente que Eu te dei e com o qual podes expressar teu amor, teu êxtase, tua alegria. Assim, não me culpes por tudo o que te fizeram crer.

Pára de ficar lendo supostas escrituras sagradas que nada têm a ver comigo. Se não podes me ler num amanhecer, numa paisagem,no olhar de teus amigos, nos olhos de teu filhinho... Não me encontrarás em nenhum livro!

Confia em mim e deixa de me pedir. Tu vais me dizer como fazer meu trabalho?

Pára de ter tanto medo de mim. Eu não te julgo, nem te critico, nem me irrito, nem te incomodo, nem te castigo. Eu sou puro amor.

Pára de me pedir perdão. Não há nada a perdoar. Se Eu te fiz... Eu te enchi de paixões, de limitações, de prazeres, de sentimentos, de necessidades, de incoerências, de livre-arbítrio. Como posso te culpar se respondes a algo que eu pus em ti?

Como posso te castigar por seres como és, se Eu sou quem te fez? Crês que eu poderia criar um lugar para queimar a todos meus filhos que não se comportem bem, pelo resto da eternidade? Que tipo de Deus pode fazer isso?

Esquece qualquer tipo de mandamento, qualquer tipo de lei; essas são artimanhas para te manipular, para te controlar, que só geram culpa em ti.

Respeita teu próximo e não faças o que não queiras para ti. A única coisa que te peço é que prestes atenção a tua vida, que teu estado de alerta seja teu guia.

Esta vida não é uma prova, nem um degrau, nem um passo no caminho, nem um ensaio, nem um prelúdio para o paraíso.

Esta vida é o único que há aqui e agora, e o único que precisas.

Eu te fiz absolutamente livre. Não há prêmios nem castigos. Não há pecados nem virtudes. Ninguém leva um placar.

Ninguém leva um registro.

Tu és absolutamente livre para fazer da tua vida um céu ou um inferno.

Não te poderia dizer se há algo depois desta vida, mas posso te dar um conselho. Vive como se não o houvesse.

Como se esta fosse tua única oportunidade de aproveitar, de amar, de existir. Assim, se não há nada, terás aproveitado da oportunidade que te dei.

E se houver, tem certeza que Eu não vou te perguntar se foste comportado ou não. Eu vou te perguntar se tu gostaste, se te divertiste... Do que mais gostaste? O que aprendeste?

Pára de crer em mim - crer é supor, adivinhar, imaginar. Eu não quero que acredites em mim. Quero que me sintas em ti.

Quero que me sintas em ti quando beijas tua amada, quando agasalhas tua filhinha, quando acaricias teu cachorro, quando tomas banho no mar.

Pára de louvar-me! Que tipo de Deus ególatra tu acreditas que Eu seja? Me aborrece que me louvem. Me cansa que agradeçam.

Tu te sentes grato? Demonstra-o cuidando de ti, de tua saúde, de tuas relações, do mundo.

Te sentes olhado, surpreendido?... Expressa tua alegria! Esse é o jeito de me louvar.

Pára de complicar as coisas e de repetir como papagaio o que te ensinaram sobre mim. A única certeza é que tu estás aqui, que estás vivo, e que este mundo está cheio de maravilhas. Para que precisas de mais milagres?

Para que tantas explicações?

Não me procures fora! Não me acharás. Procura-me dentro... aí é que estou, batendo em ti. 

Baruch Spinoza

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill