A trilha espiritual não é de rosas sem espinhos. Quando você decide fazer a transição para a vida mística, verá que é necessário abandonar muitos de seus conceitos anteriores de corpo, negócios e prazer. Você encontrará novas experiências à sua espera, e, nesse período de transição, nem tudo é harmonia, "porque estreita é a porta, e apertado o caminho que leva à vida, e poucos há que a encontrem".¹ Essa vida não é fácil em seus primeiros estágios. De fato, aprender estas lições pode ser muito doloroso porque muitas delas só chegam através de um profundo sofrimento. É estranho, mas sem esse sofrimento talvez não as aprendamos, porque quando tudo está bem e estamos em paz com o mundo, não fazemos realmente o esforço nem realmente tentamos nos aprofundar em nós mesmos.
Frequentemente, seguimos pensando como tudo está indo bem — mas, de fato, não há progresso. É a profundidade de nossas provações e atribulações que nos força para cima, e muitas vezes a pessoa que sofreu mais é a que mais consegue — não porque isso seja necessário, ou que haja algum Deus que o decrete, mas por causa da inércia, por causa do nosso desejo de continuarmos ao longo do caminho que estamos seguindo, porque gostamos de saber que cada dia será seguido por outro dia sem dor, sem carências e sem limitações.
Tenho lido as vidas de muitos que foram longe na trilha espiritual e até agora não encontrei ninguém que não tenha tido seu Gethsêmane. Essas grandes verdades não são de fácil consecução. Se as provações não chegam sob uma forma, chegam sob outra... Pode ser dentro de nossa família. Pode ser dentro de nossa comunidade. Em algum lugar, de algum modo, se temos de sondar as profundezas da sabedoria espiritual, cada um de nós deve passar por um período de transição.
[...] Existe toda espécie de provações que chegam com esta vida... Surgem períodos de hesitação e de dúvida. Esse período não é fácil. Chegam uma ocasião em que os membros de sua família começam a dizer que você deve ter ficado louco, e os membros de sua irmandade lhe dizem: "bem, você agora com certeza saiu dos eixos".
De um modo ou de outro as provações chegam até nós através de nós mesmos, através de nossa família ou de nossos conhecidos. Pode até surgir uma ocasião de problemas sérios de saúde e suprimento, mas temos de aprender a permanecer firmes, temos de aprender a meditar com eles. Também temos de aprender a nos afastar por "quarenta dias", ainda que não sejam realmente quarenta dias, mas em sentido figurado. É nos afastarmos para dentro do "armário", em nosso esconderijo, e apenas orar até cansar o nosso velho coração: "Afasta de mim este cálice — todavia, não seja como eu quero, mas como tu queres".
Todas estas coisas vêm neste caminho — estreito e apertado. À medida em que você abandona a sua confiança em todos os meios humanos de salvação, à medida em que você escolhe este caminho, você verá como ele é estreito e apertado. Você verá como são poucos os que o percorrem e, durante algum tempo, parecerá que você está afastado de seus amigos; parecerá que ninguém no mundo o entende e que você jamais encontrará alguém que o entenda. Eu sei, porque durante muitos anos não só não tive a oportunidade desta maneira em público como também não tive sequer a oportunidade de falar destas coisas em particular. Tive de ficar quieto, porque no momento que eu tentasse expressar quaisquer destas ideias, as pessoas entenderiam mal.
Se nossa confiança está no plano interior, se a sua confiança está em seu contato consciente com Deus, e você julga que não depende de meios humanos para demonstrar seu bem, surge uma ocasião em que você tem de permanecer quieto e secretamente dentro de seu próprio ser. Você tem de resolver isso sem falar a esse respeito ao mundo exterior. Tem de prová-lo e, depois de ter feito isso, a evidência é tão grande que você não precisa mais contar, exceto quando estiver ensinando. Você nunca terá de contar a ninguém que encontrou "a pérola de grande valor". Em primeiro lugar, se você contasse, isso seria quase que a prova positiva de que não tinha encontrado. Não é necessário falar disso, porque toda a sua vida, toda a sua atitude e todo o seu ser são evidências suficientes. Tudo indica que você a encontrou, e então o mundo a quer — ou quer pelo menos os seus frutos.
Surge um outro período difícil, quando você realmente acredita que o mundo reconheceu que você encontrou "a pérola", e ele a quer e você deseja expô-la. Depois que você fez isso durante diversos anos — anos de profundo sofrimento — você descobre que o mundo não a queria, absolutamente: apenas queria os frutos que viu você desfrutar. Eis por que, quando alguém vem a você, nem sempre tem a certeza de que a pessoa ESTÁ SENDO VERDADEIRAMENTE SINCERA. Talvez ela queira apenas os efeitos ou os resultados. Você logo descobre que é e qual o propósito real dela porque, se ela realmente o quiser, haverá indicações de que todas as outras foram postas de lado e por suas ações ela prova que nada lhe é tão importante quanto a verdade. Então você não ouvirá: "Bem, quinta-feira à noite, não pode ser, mas eu virei na terça-feira de tarde. Se você não puder me ver, então eu não posso vê-lo!".
Quando um discípulo quer realmente a verdade, ele virá à meia-noite ou a qualquer hora do dia ou da noite, bastando que você o diga...
[...] Se há uma ideia em sua mente de que a verdade é algo que pode ser usado, que é algo ou coisa para obter ganho pessoal, para obter felicidade ou saúde pessoal, nem comece o seu estudo porque você encontrará só desapontamentos e corações dilacerados.[...] O Caminho Infinito não pode ser usado para tais propósitos: o Caminho Infinito pode proporcionar somente imortalidade e eternidade e todo o bem que Deus conhece. Mas isso é um nível completamente diferente do que o do bem humano, assim como a liberdade espiritual não deve ser confundida com liberdade humana.
A liberdade espiritual, a paz que ultrapassa todo entendimento, não depende de nada no mundo exterior. Depende do seu relacionamento com o Cristo, com Deus (Consciência). Quando isso se torna real, quando Ele (Consciência) se incorpora em você, quando o inflama e essa vida se torna seu tudo em tudo, você se vê vivendo em dois mundos: o mundo interior, que é importante, e o mundo exterior, com sua cota de satisfações, que não deve ser tomado a sério e não deve tomar muito tempo e esforço porque a impaciência para voltar ao Centro é muito grande.
Joel S. Goldsmith - A União Consciente com Deus