Morrer para o pensamento não é necessariamente morrer primeiramente corporalmente; e quem sabe se depois da morte do corpo, haverá tal oportunidade? Afinal de contas, nós sofremos agora, e por isso é importante investigar se podemos morrer para o pensamento hoje, e não amanhã.
Embora quase todos os escritores religiosos considerem o corpo com desprezo e como um estorvo, não pode ser talvez sua função principal dar-nos oportunidade de achar a libertação não do corpo, como se supõe que aconteça na morte física, mas da mente que é real causadora de problemas? O ponto ao qual eu quero chegar é o seguinte: não se resolve nenhum problema neste mundo, evitando-o. do mesmo modo, o ego só pode ser transformado, tornando-se profundamente consciente de si mesmo, de todo o seu complicado mecanismo e do impasse no qual ele se encontra. Isso exige um ego firmemente cristalizado de modo que as forças poderosas que o mantêm intato possam ser utilizadas para sua destruição explosiva. O corpo é, agora, como explicamos outra parta, a agência necessária através da qual se dá esta cristalização.
O paradoxo neste caso é que o centro da consciência individual deve estar primeiro totalmente adulto para poder desintegrar-se. Ela não pode desintegrar-se a meio caminho de sua formação, porque nesta fase ainda não se alcançou uma compreensão plena. Isto se reflete na história da vida do indivíduo em que a personalidade da criança deve primeiro ser desenvolvida e os vários impulsos externos e desejos devem ter seu controle, para que toda esta energia seja dirigida para dentro, no confronto do centro como o que é. A lei da Natureza é tal que os jovens se sentem atraídos pelo mundo, porque até então toda a energia psíquica está fluindo para fora. Só depois que este movimento para fora se completou, a torrente se voltará e começará a auto-revelação. Ou assim deverá ser. Mas o trágico é que a maior parte de nós permanece presa no movimento para fora durante toda a vida, procurando o tesouro desconhecido na direção errada.
Robert Powell – A luta interior