Ter uma mente silenciosa é uma das coisas mais difíceis deste mundo. Não se pode "consegui-la". Às vezes acontece espontaneamente, quando o pensamento é completamente entendido e todo o mecanismo é visto em operação. Nesse estado — e somente neste estado — podemos dar plena atenção a cada movimento da mente.
Mas "dar atenção " é sinônimo de "pensar a respeito de cada pensamento?" Certamente que se penso sobre meus pensamentos, contribuo para o caos. Como o pensar implica avaliação, justificação, comparação e assim por diante, o pensar simplesmente dá continuidade ao pensamento. Quando eu tenho um problema, que é que lhe dá continuidade, que é que me faz levá-lo comigo a toda a parte? É pensar no problema; isso lhe dá continuidade, não é mesmo? E não é exatamente o fato de andar com problemas em toda a parte, de alimentar conflitos, que impede a libertação criadora?
Assim, o que se requer é observar — meramente observar — sem verbalizar, sem classificar como bom ou mau, como isto ou aquilo — que são as nossas reações normais. Então ao aparecer mais pensamentos fugídios, não os consideremos distrações, como quando a mente procura concentrar-se, mas demos a esses novos pensamentos e imagens plena atenção. E não importa se um ou dois pensamentos nos escapam; o ponto principal que devemos entender é que a ação da própria observação pura, sem nenhuma forma de mentalização que a acompanhe, tira a continuidade do pensamento, e a mente se torna silenciosa sem nenhuma forma de coerção recebida de fora.
Através desta meditação, não somente cada pensamento individual será entendido em todas as suas implicações, mas o seu próprio conteúdo se torna sem importância — e é por causa de tudo isso que os pensamentos se dissolvem. Básico em tudo isso é o entendimento da natureza essencial e da finalidade de todo pensamento, quais são as suas raízes, quando e como ele se manifesta. Você já não notou como cada um de nós está envolvido no nevoeiro de ideias que cada um concebeu, nas crenças e opiniões que adquiriu, que constituem nossa "maneira de pensar", nosso próprio ser, e que impedem a clareza? E como esta ideação brota da preocupação que cada um tem consigo, e que no fundo de toda esta atividade do pensamento se encontram o medo e a premência de ser salvo? Enquanto caminharmos durante a vida com a cabeça nestas "nuvens de inconsciência" não pode haver nenhum conhecimento, nenhuma percepção do que seja realmente o mundo.
Ao relacionar cada pensamento com esta autopreocupação básica, nós o estaremos reduzindo a nada. Está é a essência da meditação — contra a introspecção ou contemplação, quando tecemos mais fantasias nos pensamentos, processo esse que não tem fim. A coisa essencial que temos que perceber é que nenhum pensamento (ou desejo) é superior a qualquer outro (uma suposição subjacente quando suprimos um pensamento ou desejo). O fato de não vermos isto nos emaranha no pensamento (ou desejo). O homem que erigiu um padrão absoluto de valores, e sobre esta base procura purificar ou enobrecer seu pensamento, jamais conhecerá a mente silenciosa, porque o tempo todo ela está jogando um pensamento contra o outro. E tudo isso acontecerá quando "começamos a pensar sobre o ato de pensar", o que é realmente uma expressão inadequada porque isto mais propriamente designa o fim do ato de pensar e o começo de uma visão destorcida. (Como também "a arte do pensamento objetivo" é um nome inadequado, porque não existe esta coisa que se chama pensamento "puro" ou "objetivo".)
Assim na meditação verdadeira há percepção instantânea do pensamento, pelo que ela é válida, sem simplesmente continuar pensando com ela e assim perder-se nela. (Isto é o que eu queria dizer quando escrevi "olhando para si mesmo, de fora", ou seja, sem as reações habituais da pessoa.) Não é, portanto, necessário, e realmente é um impedimento, "pensar acerca de cada pensamento", porque nesta consciência sem escolha há uma revelação instantânea das implicações de cada pensamento, sem fazer o menor esforço: como surge o pensamento, como se relaciona com outros pensamentos por associação, como é impelido pelo medo, identificação, etc. Isso é o que eu chamei em outra parte "considerar atentamente, examinar o pensamento até o seu finzinho".
Parece-me que a consciência gera a consciência, e a clareza produz a sua própria bênção na forma de mais claridade. A maior parte do tempo, nossas mentes são bastante estúpidas, especialmente quando preocupadas, e a maioria dos pensamentos fugídios e sutis nos escapam completamente. Entretanto, com o começo da consciência sem escolha todos esses pensamentos que se acham na soleira da perceptibilidade entram no campo de atenção, e assim o Inconsciente se nos revela.
Robert Powell