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segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

Da impotência à potência perante o fluxo dos pensamentos

A mente é apenas um processo. Na verdade, ela nem existe — só os pensamentos existem, pensamentos passando tão rapidamente que você pensa e sente que existe alguma coisa contínua ali. Um pensamento vem, outro vai, chega mais um e assim sucessivamente... a lacuna é tão pequena que você não consegue perceber o intervalo entre um pensamento e outro. Assim, dois pensamentos se agrupam, formam uma continuidade e por causa dela você acha que a mente existe. 

(...) Os pensamentos existem — a mente não existe; ela é só aparência. E, quando você olha a mente mais de perto, ela desaparece. Ficam os pensamentos, mas, quando a "mente" desaparece e só restam os pensamentos individuais, muitas coisas se dissolvem imediatamente. Logo de início você percebe que os pensamentos são como nuvens eles vêm e vão, e você é o céu. Quando não existe mente, surge imediatamente a percepção de que você deixou de se envolver com seus pensamentos — os pensamentos estão ali, passando por você como nuvens passando no céu, ou o vento passando entre as árvores. Os pensamentos estão passando por você e podem continuar passando, porque você é um IMENSO VAZIO. Não há nenhum obstáculo, nenhum impedimento. Não há muros para barrá-los; você não é um fenômeno fortificado. Seu céu é uma imensidão infinita para onde passam os pensamentos. E, depois que você começa a sentir que os pensamentos vêm e vão, e que você é um mero observador, uma testemunha, o domínio da mente é conquistado.

A mente não pode ser controlada, no sentido comum do termo. Em primeiro lugar, porque ela não existe, como você poderia controlá-la? Em segundo lugar, quem iria controlar a mente? Porque não existe ninguém por trás da mente — e, quando eu digo que não existe ninguém, quero dizer que não há ninguém por trás dela, só um vazio. Quem a controlará? Se alguém está controlando a mente, então se trata apenas de uma parte, um fragmento da mente, controlando outro fragmento dela. É isso o que o ego é. 

A mente não pode ser controlada dessa forma. Ela não existe e não há ninguém para controlá-la. O vazio interior pode ver, mas não controlar. Ele pode olhar, mas não controlar — mas o próprio olhar é que é o controle, o próprio fenômeno da observação, do testemunho, torna-se o domínio, pois a mente desaparece. 

(...) A mente nada mais é do que a falta da sua presença. Quando você se senta em silêncio, quando olha bem dentro da mente, ela simplesmente desaparece. Os pensamentos continuarão, eles existem, mas a mente não estará mais ali. 

Porém, quando a mente desaparece, você nota que os pensamentos não são seus. É claro que eles surgem, e às vezes ficam um tempinho em você, mas depois vão embora. Você talvez seja uma área de descanso, mas não é a origem dos pensamentos. Você já reparou que nem um único pensamento parte de você? Não brota de você nem um único pensamento; eles sempre vêm de fora. Não pertencem a você — sem casa, sem raízes, eles rondam por aí. Às vezes, eles descansam em você, isso é tudo; como uma nuvem que paira sobre uma montanha. Depois eles se vão por conta própria; você não precisa fazer nada. Se você simplesmente observar, você assume o controle. 

A palavra controle não é muito boa, pois as palavras nunca são muito boas. As palavras pertencem à mente, ao mundo dos pensamentos. Elas nunca são muito perspicazes, pois lhe falta profundidade. A palavra controle não é boa porque não existe ninguém para controlar, nem ninguém para ser controlado. Mas, de uma certa forma, ela ajuda a entender uma certa coisa que acontece: Quando você olha bem fundo dentro da mente, ela é controlada — de repente você passa a ser quem manda. Os pensamentos não vão embora, mas eles deixam de dominar você. Eles não podem fazer nada com você, simplesmente vêm e vão embora; você continua intacto como uma flor de lótus em meio a um aguaceiro. Gotas de chuva caem nas pétalas, mas acabam escorrendo sem afetá-las. O lótus continua intacto(...) Seja como o lótus, só isso. Permaneça intacto e você estará no controle. Continue intacto e você será o senhor de si mesmo.

(...) Centrar-se na consciência é dominar a mente. Por isso, não tente "controlar a mente" — a linguagem pode enganar você. Ninguém pode controlar, e esses que tentam controlar ficarão loucos; eles simplesmente ficarão neuróticos, pois tentar controlar a mente nada mais é que uma parte da mente tentando controlar outra.

(...) Só os fracos se preocupam com os pensamentos. Só os fracos se preocupam com a mente. As pessoas mais fortes simplesmente absorvem o todo e se enriquecem com ele. Os mais fortes simplesmente não rejeitam nada.

O S H O 

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

O que é o pensamento e como controlá-lo?

Agora, o interrogante deseja saber como se controla o pensamento. Primeiramente, para que você possa controlá-lo, você precisa saber o que é o pensamento e quem é o agente que controlador. Eles dois representam, processos distintos ou um fenômeno único? Você precisa, primeiro, compreender o que é o pensamento, para poder dizer "quero controlar o pensamento", e precisa, também, conhecer o "controlador. Existe controlador sem o pensamento? Se você não tem pensamento, existe pensante? O pensante é o pensamento; o pensamento não está separado do pensante; ambos constituem um processo único. 

Assim, pois, restam-nos apenas pensamentos, tendo desaparecido o pensante. Embora você pronuncie as palavras "eu penso", isso representa apenas uma forma de comunicação. O que há realmente é apenas um estado, no qual existe pensamento. E o pensamento cria o pensante, o qual, então, comunica o seu pensamento. O pensante é, meramente, a "verbalização" do pensamento. 

Cabe a nós, pois, verificar o que é pensamento. Saberemos, então, se é ou não possível controlá-lo, e porque você deseja controlá-lo. Pode existir um critério inteiramente diferente para se colocar fim ao processo do pensamento, mas não é por meio de controle. Porque, no momento em que você exerce controle, em que faz um esforço de vontade, você não compreende o pensamento. Está, então, simplesmente, a condenar um pensamento e a justificar outro. Aquele que justificou, você deseja conservar, e aquele que condenou, deseja rejeitar. Vejamos, pois, o que se entende por pensamento. 

O que é pensamento? Sem memória não há pensamento, há? O pensamento é o resultado de experiência acumulada, que é o passado, não é? Sem o passado não pode haver pensamento no presente, ou pode? O pensamento, pois, é uma reação do passado ao desejo do presente. Isto é, o pensamento, indubitavelmente, é reação da memória. Mas, o que é a memória? A memória, a conservação da lembrança, é a verbalização da experiência, não é verdade? Há desafio e reação — o que significa experiência —  e essa experiência é verbalizada. Essa verbalização cria a memória; e a reação da memória ao desafio é o pensamento. Portanto, o pensamento é verbalização, não é? 

Não sei se você já tentou pensar sem palavras. No momento em que você pensa, necessita de palavras. Não quero dizer que não haja um estado no qual não exista verbalização. Não estamos discorrendo a esse respeito. O pensamento é a palavra. Sem a verbalização, sem a palavra, o pensamento — o pensamento que nós conhecemos — não existe. Se você perceber, pois, que a palavra — a verbalização — é o processo do pensamento, não se trata então de controlar o pensamento, mas sim de fazer desaparecer o pensamento como "verbalização". Sempre que há verbalização de uma experiência, existe, forçosamente, pensamento. Pensar é verbalizar. Nosso problema, pois, não é o de saber como controlar o pensamento, mas, sim, de saber se é possível deixarmos de verbalizar, de colocar tudo em palavras. Por que colocamos em palavras as nossas respostas e reações? Por que fazemos isso? Por uma razão muito óbvia: para comunicarmos, para contarmos a outro o nosso sentimento. Verbalizamos, também, com o fim de fixá-lo, de contemplá-lo, de recaptar o sentimento quenos fugiu. A palavra tomou o lugar do sentimento que se foi. A palavra assume, desse modo, toda a importância, em lugar do próprio sentimento, da reação, da experiência. A palavra tonou o lugar da experiência. Dessa forma, a palavra se torna o pensamento, o qual impede ao "experimentar". 

Nosso problema, pois, é o seguinte: é possível deixarmos de "verbalizar", de dar nome, de determinar? Isso é possível, evidentemente. Você o faz com frequência, porém, inconscientemente. Quando se defronta com uma crise, com um súbito desafio, não há verbalização. Você a enfrenta por maneira completa. Isso é possível, portanto, mas somente quando a palavra deixa de ser importante, o que significa: quando o pensamento, a ideia, deixa de ser importante. Quando uma ideia se torna importante, torna-se então importante o padrão, a ideologia, e a revolução, é somente a continuação, a continuidade modificada, de uma velha ideia, de uma ideia de ontem. 

Nessas condições, a palavra só se torna importante quando não é importante o experimentar, quando não há o "estado de experimentar", que é enfrentar o desafio sem verbalização, sem a cortina protetora das palavras. Você dá vida à palavra, que é memória, quando é essa memória que enfrenta o desafio; porque a memória, em si, não tem vida, não é verdade? A palavra, por si só, não tem significação. Ela só ganha vitalidade, força, ímpeto, plenitude, quando é o passado, a memória, que enfrenta o desafio. Por consequência, pela ação do vivente, o que está morto volta à vida. E visto que ganha mais vida, daquilo em si que está morto, o pensamento se torna sumamente importante. O pensamento, por si só, não tem significado algum, a não ser em relação como passado, que é verbal. E não se trata de controlar o pensamento. Pelo contrário, uma mente controlada é incapaz de receber a verdade. Mente controlada é mente ansiosa, mente que resiste, que reprime, que substitui, e uma mente em tais condições está cheia de medo; e como pode estar tranquila a mente uma mente cheia de ansiedade? Só pode haver tranquilidade quando a mente não está presa na rede das palavras. Quando a mente não está mais a verbalizar toda experiência, acha-se ela, então, num "estado de experimentar". 

Quando há "experimentar", não há o que experimenta nem a coisa experimentada. Nesse "estado de experimentar" que é sempre novo, que sempre é ser — embora se possa comunicar esse ser mediante o uso de palavras — o indivíduo sabe que a palavra não é a experiência, que a palavra não é a coisa, que ela nenhum conteúdo tem; só a própria "experiência" é repleta de conteúdo. O "experimentar" não é, pois, verbalização. "Experimentar" é a mais elevada forma de compreensão, porquanto é a negação do pensar. A forma negativa de pensar é a mais elevada forma de compreensão; e não pode haver pensar negativo, quando há verbalização do pensamento. Não se trata, pois, absolutamente, de controlar o pensamento, mas de se ficar livre do pensamento. E só quando a mente fica livre do pensamento, que há percepção daquilo "que é", do que é eterno, do que é Verdade. 

Jiddu Krishnamurti em, "O Que Te Fará Feliz?"



sábado, 5 de outubro de 2013

Quem realmente quer uma revolução no pensamento?

Pergunta: A educação pelo estado não é uma calamidade? Se o é, de que maneira levantar fundos para escolas não controladas pelo Governo?

Krishnamurti: Obviamente, a educação pelo estado é uma calamidade — e com isso sem dúvida os governos não estarão de acordo. Não querem que o povo pense, querem que as pessoas sejam autômatos, porque então lhes podem dizer o que fazer. Nessas condições, o ensino, sobretudo se está nas mãos do governo, está-se tornando cada vez mais um meio de ensinar o que pensar e não a pensar; porque se um indivíduo pensar independentemente do sistema, se torna um perigo. Por isso, uma das funções do Governo é a de não deixar o indivíduo pensar, mas, sim, a de fazê-lo aceitar o que se lhe diz. Eis porque, como se observa no mundo inteiro, todos os governos se estão ingerindo na educação. A educação e a alimentação converteram-se em meios de controlar o homem. E que importa o homem aos governos, da esquerda ou da direita, se o que eles querem são máquinas perfeitas para produzir mercadorias e balas de fuzil? Há umas poucas escolas particulares na Inglaterra e noutros lugares; mas todas elas são rigorosamente fiscalizadas, inspecionadas, controladas, porque o Governo não deseja instituições livres, capazes de formar pacifistas, homens que pensem de modo contrário ao regime, ao sistema. Sendo a educação correta, sem dúvida, um perigo para o governo, uma das suas funções é cuidar de que não seja ministrada a educação correta. Há na Inglaterra cerca de 80.000 pacifistas. Se aumentar o seu número, não acham que se transformarão num perigo para o Governo? Por conseguinte, é preciso controlar os indivíduos, desde a infância. Não lhes permitamos pensar em termos que não admitam guerra, pátria, sistemas, ou ter uma ideologia diferente. Isso significa fiscalização por parte do Governo, controle do ensino pelo Ministro da Educação. Senhores, é isso que está acontecendo no mundo, quer lhes agrade, quer não; e significa que vocês, os cidadãos responsáveis pelo Governo, não desejam a liberdade. Não desejam um novo modo de existência, uma nova civilização, uma nova estrutura social. Se vocês têm alguma coisa nova, ela pode ser revolucionária, destruidora do que É; e como vocês desejam que as coisas continuem como estão, vocês dizem: “Ora, que haja um Governo que controle a educação”. Vocês desejam uma ligeira modificação aqui e ali, mas não desejam revolução no pensamento; e no instante em que desejam uma revolução no pensamento, o governo intervém, joga-lhes na prisão, ou acaba logo com vocês, a portas fechadas, e vocês caem no esquecimento. Senhores, quando o próprio homem não tem visão interior, luz interior, compreensão, um país se torna cada vez maios organizado e existe cada vez mais autoridade e compulsão externa. Ele se torna então um mero instrumento de autoridades, quer num Estado Totalitário, quer numa das chamadas democracias. Porque, nos momentos de crise, os chamados estados democráticos se tornam iguais aos totalitários, esquecendo a democracia e obrigando os homens a se conformarem a um padrão de ação.  

Agora, a segunda parte da pergunta é: “Como levantar fundos para escolas não controladas pelo governo?” Senhor, não é este o problema. No momento em que temos dinheiro, vem a corrupção. Considerem todas as escolas fundadas no estilo mais idealista possível. Observem seus dirigentes. Como engordam! No entanto, vocês podem fundar uma escolinha na esquina da rua de vocês. Sei de várias escolas que começaram assim e que estão funcionando, graças ao preparo, ao entusiasmo, ao sentimento dos seus fundadores. Uma das nossas dificuldades é querermos transformar toda a humanidade da noite para o dia — ou influenciar as massas, como vocês costumam dizer. Quem são as massas, a pobre humanidade? São vocês e eu. E se sentirem a fundo, se pensarem de fato em todos esses problemas— não apenas superficialmente, no espaço de uma tarde, para matar o tempo — farão então o que for necessário para a criação de uma nova escola, em qualquer parte, na esquina da rua ou na própria casa de vocês; porque, em tal caso, estarão interessados em seus filhos e nas crianças do círculo de vocês. Então aparecerá o dinheiro necessário, Senhor. Não se preocupem com o dinheiro. Dinheiro é de última importância. Deixem o dinheiro aos idealistas desejosos de fundar uma escola ideal. Se você e eu estamos bem conscientes do problema da existência humana, do que ela significa, se sabemos porque vivemos, porque sofremos, porque passamos por tantas torturas, se desejamos realmente compreender esse problema e ajudar a criança a compreende-lo, iniciaremos uma escola, sem fundos, sem toque de caixa, e sem coletas de vultuosas contribuições, porque, quando temos dinheiro, o que acontece? Não sabem o que acontece, senhores? Vocês têm seus recursos particulares, precisam preservá-los, saber — quem os gasta, se vocês, se o secretários de vocês, ou a comissão — e começam as preocupações com futilidades. Se possuem pouco dinheiro e verdadeira clareza de pensamento e sentimento, criarão uma escola. E, ao criar a escola, terão naturalmente de enfrentar a oposição ou a ingerência do governo. Se ensinam os seus alunos a não serem nacionalistas, a não fazerem continência à bandeira, porque o nacionalismo é um fator de guerras, se os ensinam a não serem comunalistas, se os ajudam a compreenderem todo o problema da existência, julgam que o governo lhes apoiarão? Se produzirem verdadeiros revolucionários, não no sentido de matar, mas verdadeiros revolucionários no pensamento e o sentimento, pensam que a sociedade os tolerará por um minuto?

Assim, como pais e preceptores vocês são responsáveis, precisam verificar se estão meramente concordando aos ditames do governo, se aprenderam meramente uma técnica que lhes dá uma certa capacidade para ganhar dinheiro, e se se contentam com manter a atual estrutura social, tal como está; ou se vocês têm verdadeiro interesse pelo viver correto e pela maneira correta de ganhar a vida. Se perceberem que os governos se baseiam na violência e são produto da violência, e compreenderem que por meios errôneos nunca será possível alcançar um fim justo; e se estão interessados em educar verdadeiramente os seus filhos sem dúvida criarão uma escola, seja onde for — na esquina, em seu quintal, ou em seu próprio quarto. Porque, senhores, não creio que sejam muitos os que percebem o abismo, a degradação a que chegamos.

(...) Contar com os governos, contar com as organizações exteriores para a transformação que deve começar no interior de cada um de nós, é esperar em vão. O que nos cabe fazer é transformar a nós mesmos, o que significa ficarmos cônscios das nossas ações, nossos pensamentos e sentimentos, na vida de cada dia.

(...) Senhor, a revolução deve começar no pensamento, e não no sangue; e se houver a verdadeira revolução do pensamento não haverá sangue. Mas se não houver correto pensar, verdadeiro pensar, haverá sangue, e mais sangue. Os meios injustos nunca produzirão um fim justo, porquanto o fim está contido no meio.

Jiddu krishnamurti — Da insatisfação à felicidade    

sábado, 31 de agosto de 2013

Sobre o controle do pensamento

P: Para ter paz de espírito não preciso aprender a controlar meus pensamentos?

K: Minha mente vagueia. Por quê? Quero pensar num quadro, numa frase, numa ideia, numa imagem, e, quando estou pensando, vejo que minha mente fugiu para a estrada de ferro ou para alguma coisa que aconteceu ontem. O primeiro pensamento foi-se, e outro lhe tomou o lugar. Por isso, examino cada pensamento que surge. Isso é inteligente, não acha? Você faz esforços para fixar o pensamento em alguma coisa. Por que fixa-lo? Se você se interessa pelo pensamento que surge, ele lhe revela o seu significado. O divagar da mente não é distração — não lhe dê nome algum. Siga a divagação, a distração, averigue porque foi que a mente divagou; segui-a, penetre-a a fundo. Compreendida completamente uma determinada distração, ela se extingue. Se surge outra, seguia-a também. A mente é constituída de inumeráveis exigências e desejos; e quando você os compreende, ela é capaz de um percebimento em que não há exclusão de nada. Concentração é exclusão, resistência a alguma coisa. Tal concentração é a mesma coisa que colocar antolhos — é evidentemente inútil, não conduz à realidade. Quando uma criança tem interesse num brinquedo, não há distração.

Jiddu Krishnamurti — O que estamos buscando

domingo, 11 de agosto de 2013

É possível controlar o pensamento?

Deseja saber o interrogante como se controla o pensamento. Primeiramente, para que você possa controlá-lo, precisa saber o que é o pensamento e quem é o agente que controla. Representam eles dois processos distintos ou um fenômeno único? Você precisa, primeiro, compreender o que é o pensamento, para poder dizer "quero controlar o pensamento", e precisa, também, conhecer o "controlador". Existe "controlador" sem o pensamento? Se você não tem pensamentos, existe pensante? O pensante é o pensamento; o pensamento não está separado do pensante; ambos constituem um processo único.

Assim, pois, restam-nos apenas, pensamentos, tendo desaparecido o pensante. Embora você pronuncie as palavras "eu penso", isso representa apenas uma forma comunicação. O que há realmente é apenas um estado, no qual existe pensamento. E o pensamento cria o pensante, o qual, então, comunica o seu pensamento. O pensante é, meramente, a "verbalização" do pensamento.

Cabe-nos, pois, verificar o que é pensamento. Saberemos, então, se é ou não possível controlá-lo, e porque desejam controlá-lo. Pode existir um critério inteiramente diferente para se por fim ao processo do pensamento, mas não é por meio do controle. Porque, no momento em que vocês exercem controle, em que fazem um esforço de vontade, vocês não compreendem o pensamento. Estão, então, simplesmente, a condenar um pensamento e a justificar outro. Aquele que justificam, vocês desejam conservar, e aquele que condenam, desejam rejeitar. Vejamos, pois, o que se entende por pensamento.

Que é pensamento? Sem a memória não há pensamento, há? O pensamento é resultado da experiência acumulada, que é o passado, não é? Sem o passado não pode haver pensamento no presente, ou pode? O pensamento, pois, é uma reação do passado ao desejo do presente. Isto é, o pensamento, indubitavelmente, é reação da memória. Mas, que é memória? A memória, a conservação da lembrança, é a verbalização da experiência, não é verdade? Há desafio e reação — o que significa experiência — e essa experiência é verbalizada. Essa verbalização cria a memória; e a reação da memória ao desafio é o pensamento. Portanto, pensamento é verbalização, não é?

Não sei se vocês já tentaram pensar sem palavras. No momento em que pensam, necessitam de palavras. Não quero dizer que não haja um estado do qual não exista verbalização. Não estamos discorrendo a esse respeito. O pensamento é a palavra. Sem a verbalização, sem a palavra, sem o pensamento — o pensamento que nós conhecemos — não existe. Se perceberem, pois, que a palavra — a verbalização — é o processo do pensamento, não se trata então de controlar o pensamento, mas sim de fazer desaparecer o pensamento como "verbalização". Sempre que há verbalização de uma experiência, existe, forçosamente, pensamento. Pensar é verbalizar. Nosso problema, pois, não é o de saber como controlar o pensamento, mas, sim, de saber se é possível deixarmos de verbalizar, de por tudo em palavras. Porque pomos em palavras as nossas respostas e reações? Porque fazemos isso? Por uma razão muito óbvia: para comunicarmos, para contarmos a outro o nosso sentimento. Verbalizamos, também, com o fim de fortalecer o sentimento, não é verdade? — como fim de fixá-lo, de contemplá-lo, de recaptar o sentimento que nos fugiu. A palavra tomou o lugar do sentimento que se foi. Assume, desse modo, a palavra toda a importância, em lugar do próprio sentimento, da reação, da experiência. A palavra tomou o lugar da experiência. Desse modo, a palavra se torna pensamento, o qual inibe ao "experimentar".

Nosso problema, pois, é o seguinte: é possível deixarmos de "verbalizar", de dar nome, de determinar? Isso é possível, evidentemente. Vocês o fazem com frequência, porém, inconscientemente. Quando defrontam uma crise, com um súbito desafio, não há verbalização. Vocês a enfrentam por maneira completa. Isto é possível, portanto, mas somente quando a palavra deixa de ser importante, o que significa: quando o pensamento, a ideia, deixa de ser importante. Quando uma ideia se torna importante, torna-se então importante o padrão, a ideologia, e a revolução baseada numa ideia se torna importante. Mas, revolução baseada numa ideia não é revolução, é somente continuação, a continuidade modificada, de uma ideia velha, de uma ideia de ontem.

Nessas condições, a palavra só se torna importante quando não é importante o experimentar, quando não há o "estado de experimentar", que é enfrentar o desafio sem verbalização, sem a cortina protetora das palavras. Vocês dão vida à palavra, que é memória, quando é essa memória que enfrenta o desafio; porque a memória em si, não tem vida, não é verdade? A palavra, por si só, não tem significação. Ela só ganha vitalidade, força, ímpeto, plenitude, quando é o passado, a memória, que enfrenta o desafio. Por consequência, pela ação do vivente, o que está morto volta à vida. E visto que ganha mais vida, daquilo que si está morto, o pensamento se torna sumamente importante. O pensamento, por si só, não tem significado algum, a não ser em relação como o passado, que é verbal. E não se trata de controlar o pensamento. Pelo contrário, uma mente controlada é incapaz de receber a verdade. Mente controlada é mente ansiosa, mente que resiste, que reprime, que substitui, e uma mente em tais condições está cheia de temor; e como pode estar tranquila uma mente cheia de ansiedade? Só pode haver tranquilidade quando a mente não está presa na rede das palavras. Quando a mente não está mais a verbalizar toda experiência, acha-se ela, então, num "estado de experimentar".

Quando há "experimentar", não há o que experimenta nem coisa experimentada. Nesse "estado de experimentar" que é sempre novo, que sempre é ser — embora se possa comunicar esse ser mediante o uso de palavras — o indivíduo sabe que a palavra não é a experiência que a palavra não é a coisa, que ela nenhum conteúdo tem; só a própria "experiência" é repleta de conteúdo. O "experimentar" não é, pois, verbalização. "Experimentar" é a mais elevada forma de compreensão, porquanto é a negação do pensar. A forma negativa de pensar é a mais elevada forma de compreensão; e não pode haver pensar negativo, quando há verbalização do pensamento. Não se trata, pois, absolutamente, de controlar o pensamento, mas de se ficar livre do pensamento. É só quando a mente fica livre do pensamento, que há percepção daquilo "que é", do que é terno, do que é a Verdade.

Jiddu Krishnamurti — O que te fará feliz? 

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill