Individuação é o termo que Jung usou para se referir ao processo que realizamos ao longo de nossa vida no sentido de nos tornarmos os seres humanos completos que nascemos para ser. A individuação é nosso despertar para o ser total, permitindo que nossa personalidade consciente se desenvolva até absorver todos os elementos básicos inerentes em cada um de nós no nível pré-consciente. Essa é a "realização do projeto" ao qual nos referimos.
Por que chamar a isso "individuação"? Porque esse processo de construir a nós mesmos e nos tornarmos completos também revela nossa estrutura especial, individual. Mostra como as características e possibilidades humanas universais são combinadas em cada um de nós diferentemente, variando de indivíduo para indivíduo.
Jung enfatizou a singularidade da estrutura psicológica de cada ser. Desta forma, o nome com o qual designou este processo não é casual; reflete sua convicção de que quanto mais encaramos o inconsciente e fazemos uma síntese entre o seu conteúdo e o que está na mente consciente, mais percebemos o sentido de nossa individualidade única.
Ao mesmo tempo, a individuação não significa se tornar isolado da raça humana. Uma vez que nos sentimos mais seguros como indivíduos, mais completos em nós mesmos, é também natural que procuremos as miríades de caminhos que nos fazem semelhantes aos nossos companheiros humanos — valores, interesses e qualidades humanas essenciais que nos une à tribo humana. Se olharmos com cuidado, veremos que nossa individualidade consiste na forma especial de combinarmos os padrões psicológicos universais e o sistema de energia que todos os seres humanos têm em comum. Jung chamou estes padrões de arquétipos.
Uma vez que os arquétipos são universais, estão todos presentes no inconsciente de cada um. Mas eles se combinam em variações infinitas para criar a psique individual humana. Podemos com-pará-los com o corpo humano físico. De muitas formas, nossos corpos são semelhantes aos demais. Temos braços, pernas, coração, fígado e pele, de um ou outro feitio. São características universais da espécie humana. Entretanto, se comparo minhas impressões digitais ou fios de meu cabelo com os de outras pessoas, percebo que dois corpos humanos não são exatamente iguais.
Da mesma forma, as energias e capacidades psicológicas universais, na raça humana, estão combinadas diferentemente em cada um de nós. Cada pessoa tem uma estrutura psicológica distinta. É só pela vivência desta estrutura inerente que descobrimos o que significa ser um indivíduo.
Se trabalhamos na individuação, começamos a perceber a diferença entre as idéias e os valores que vêm de nosso self e as opiniões que absorvemos do mundo à nossa volta. Podemos parar de ser mero apêndice da sociedade, pessoas estereotipadas: aprendemos que temos nossos próprios valores, nossa própria maneira de viver, que procedem naturalmente de nossas naturezas inatas.
Desenvolve-se um grande senso de segurança nesse processo de individuação. Começamos a entender que não é necessário lutar para sermos iguais a outrem, pois sermos nós mesmos é a base mais firme em que podemos nos apoiar. Percebemos que conhecer-nos a nós mesmos completamente e desenvolver todas as forças que estão dentro de nós é uma tarefa para a vida inteira. Não precisamos imitar a vida de ninguém. Não precisamos de outras pretensões, pois o que já temos é riqueza suficiente e é bem mais do que jamais esperamos.
Robert A. Johnson em, Sonhos, Fantasia e Imaginação Ativa - A Chave do Reino Interior