Às vezes a pessoa em processo de transformação usa sua família ou suas amizades como símbolos das restrições que estão se liberando. Ela confunde o libertar a si mesma das limitações internas com o verdadeiro afastamento da família. Está insatisfeita com os modos de ser que não são mais compatíveis com sua nova visão de mundo e atribui seu descontentamento às pessoas mais próximas e caras em sua vida.
Esse tipo de comportamento pode se manifestar principalmente durante a fase de emergência espiritual em que a pessoa enfrenta questões de isolamento. Aqui ela descobre que sua dor e restrição à vida têm a ver com o grau em que está aderindo emocionalmente aos papéis, relacionamentos e posses materiais. Para ficar livre do sofrimento, essas ligações devem ser rompidas. É importante saber que isso não significa necessariamente que ela precisa se afastar fisicamente das suas ligações. O processo de desligamento pode ser concluído internamente, através da meditação ou de outros métodos experimentais, sem prejudicar o mundo externo.
É comum, porém, interpretar essa realização como uma indicação sobre como alguém deveria se comportar na vida. Quem sente impulsos constantes para a liberação de antigas ligações pode não ter a ideia de que isso deva ser feito interiormente. A pessoa pode sentir que seu único caminho para acompanhar esse forte estímulo interior é abandonar os pais, os filhos, o marido ou a mulher, os amigos, o emprego ou o lar. As pessoas nessa fase podem se desfazer de dinheiro ou posses e tentar viver um estilo de vida espartano.
(...) Em geral, durante um período de abertura psíquica, as pessoas podem se tornar extremamente intuitivas quando se relacionam com outras próximas a elas. Podem, repentinamente, retratar sonhos clarividentes e ideias, ou demonstrar um conhecimento intuitivo desordenado dos problemas da vida de outras pessoas. Os parentes ou amigos que não têm conhecimento prévio desses fenômenos podem se sentir muito confusos se uma pessoa querida traz certos segredos para discussão ou conta-lhes precisamente, de antemão, o que lhes acontecerá. Alguém que seja muito aberto pode demonstrar intuitivamente uma compreensão perspicaz dos sentimentos, características da personalidade e padrões de interação demonstrados pelos membros da família e pelos amigos.
As pessoas em processo de transformação podem se sentir guiadas por coincidências significativas (sincronicidades) que envolvem os que lhes estão próximos. De repente, eles vêem essas ligações em todo lugar e podem descobrir que algumas delas se cruzam com as vidas das pessoas que estão à sua volta. Algumas se entusiasmam com as sincronicidades, atribuindo-lhes uma importância tremenda e se beneficiando da sua orientação. Outras se sentem assustadas com elas, temendo que seu mundo bem estruturado de causa e efeito esteja em perigo.
Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser.
Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser.