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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Como reagem família e amigos aos comportamentos da crise iniciática?


A família e os amigos podem ter uma ampla série de reações para com alguém que esteja passando por um processo dramático de transformação. Seus sentimentos podem variar dos mais positivos aos extremamente negativos. Alguns podem se sentir dominados pela excitação de um evento e, sem necessariamente saber por que, ficam ansiosos para cooperar, sentindo que estão ganhando alguma coisa significativa com essa experiência.(...) Infelizmente, muitas reações a esse processo não são tão positivas. Se você estiver despreparado para o advento dessa ruptura na sua vida, ou não tiver ideia do que está acontecendo com seu filho, com seu pai, com seu companheiro ou amigo, pode reagir com rejeição, confusão, medo, culpa ou censura. Vamos examinar com mais atenção algumas reações possíveis.
  • Você pode negar que algo esteja errado.
  • Você pode se sentir confuso.
  • Você pode se sentir desamparado.
  • Você pode se sentir com medo.
  • Você pode se sentir ameaçado.
  • Você pode reagir com culpa. 
  • Você pode sentir vergonha. 
  • Você pode se tornar crítico.
  • Você pode encontrar alguém ou alguma coisa em que pôr a culpa.
  • Você pode rejeitar a pessoa e o processo em si. 
O que a família e os amigos podem fazer para ajudar?
  • Conscientize-se de suas motivações para apoiar alguém.
  • Deixe que o processo de transformação se desenrole e disponha-se a apoiá-lo com confiança e paciência. 
  • Seja honesto com a outra pessoa e consigo mesmo.
  • Pare de criticar. 
  • Proporcionar a constante renovação de segurança. 
  • Use a intuição. 
  • Evite mensagens inadequadas.
  • Torne-se aberto, receptivo e disposto a ouvir. 
  • Esteja disposto a oferecer conforto físico.
  • Seja alegre e flexível.
  • Tenha auxiliares masculinos e femininos à mão, se possível.
O que a família e os amigos podem fazer por eles mesmos?
  • Eduque-se sobre o que é a crise iniciática, como difere da doença mental.
  • Consiga apoio dos outros que compreendem esse processo.
  • Determine o grau em que você está disposto a participar e é capaz de fazê-lo na crise de transformação da pessoa que você ama. 
  • Abandone a ideia de que você tem o poder de estabilizar ou de controlar a situação. 
  • Use a situação para trabalhar em você mesmo. 
  • Procure atividades que proporcionem resistência, inspiração e crença. 
  • Seja gentil consigo mesmo e suas necessidades.
(Cada um destes tópicos é muito bem abordado no livro abaixo citado)

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser

Alguns comportamentos de alguém em crise iniciática - parte 2


Às vezes a pessoa em processo de transformação usa sua família ou suas amizades como símbolos das restrições que estão se liberando. Ela confunde o libertar a si mesma das limitações internas com o verdadeiro afastamento da família. Está insatisfeita com os modos de ser que não são mais compatíveis com sua nova visão de mundo e atribui seu descontentamento às pessoas mais próximas e caras em sua vida. 

Esse tipo de comportamento pode se manifestar principalmente durante a fase de emergência espiritual em que a pessoa enfrenta questões de isolamento. Aqui ela descobre que sua dor e restrição à vida têm a ver com o grau em que está aderindo emocionalmente aos papéis, relacionamentos e posses materiais. Para ficar livre do sofrimento, essas ligações devem ser rompidas. É importante saber que isso não significa necessariamente que ela precisa se afastar fisicamente das suas ligações. O processo de desligamento pode ser concluído internamente, através da meditação ou de outros métodos experimentais, sem prejudicar o mundo externo. 

É comum, porém, interpretar essa realização como uma indicação sobre como alguém deveria se comportar na vida. Quem sente impulsos constantes para a liberação de antigas ligações pode não ter a ideia de que isso deva ser feito interiormente. A pessoa pode sentir que seu único caminho para acompanhar esse forte estímulo interior é abandonar os pais, os filhos, o marido ou a mulher, os amigos, o emprego ou o lar. As pessoas nessa fase podem se desfazer de dinheiro ou posses e tentar viver um estilo de vida espartano.

(...) Em geral, durante um período de abertura psíquica, as pessoas podem se tornar extremamente intuitivas quando se relacionam com outras próximas a elas. Podem, repentinamente, retratar sonhos clarividentes e ideias, ou demonstrar um conhecimento intuitivo desordenado dos problemas da vida de outras pessoas. Os parentes ou amigos que não têm conhecimento prévio desses fenômenos podem se sentir muito confusos se uma pessoa querida traz certos segredos para discussão ou conta-lhes precisamente, de antemão, o que lhes acontecerá. Alguém que seja muito aberto pode demonstrar intuitivamente uma compreensão perspicaz dos sentimentos, características da personalidade e padrões de interação demonstrados pelos membros da família e pelos amigos. 

As pessoas em processo de transformação podem se sentir guiadas por coincidências significativas (sincronicidades) que envolvem os que lhes estão próximos. De repente, eles vêem essas ligações em todo lugar e podem descobrir que algumas delas se cruzam com as vidas das pessoas que estão à sua volta. Algumas se entusiasmam com as sincronicidades, atribuindo-lhes uma importância tremenda e se beneficiando da sua orientação. Outras se sentem assustadas com elas, temendo que seu mundo bem estruturado de causa e efeito esteja em perigo.

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser.

Alguns comportamentos de alguém em crise iniciática - parte 1

Como resultado de novas descobertas e conscientizações, uma pessoa em processo de transformação em geral muda seus hábitos diários ou a aparência exterior. Por exemplo: uma pessoa que é conhecida como alguém que acorda tarde, pode, de repente, começa a ajustar o despertador para uma hora mais cedo, a fim de acordar para a prática da meditação ou da oração. Em outros caos, as pessoas que sempre se vestiram distintamente com roupas bem conservadoras de repente adotar novos hábitos, trocando camisas abotoadas ou ternos de linho por jeans e roupas escolhidas por acaso, como expressão da sua nova liberdade interior. Em casos extremos, podem começar a usar trajes espirituais e raspar a cabeça ou adotar um estilo de cabelo diferente. 

As pessoas que descobrem que tudo na vida está interligado podem desenvolver uma nova consciência ecológica. Podem, impulsivamente, dar a caminhonete da família como parte de pagamento de um veículo mais econômico ou ter um súbito interesse em reciclar lixo doméstico. Antigos apreciadores de carne com bata podem se tornar vegetarianos e tentar impor seu novo regime alimentar aos outros, censurando os que permanecem fiéis aos modos tradicionais. Muitas outras formas de novos comportamentos são mais sutis, mesmo assim, são perceptíveis para as pessoas a quem afetam. 

Uma pessoa expansiva e sociável pode se tornar introspectiva de uma hora para outra, afastando-se das atividades sociais ou agindo de um modo anti-social. Pode passar dias sozinha, lendo,meditando ou fazendo longas caminhadas. As reações emocionais dessa pessoa podem flutuar de um extremo ao outro sem uma razão aparente. 

Em certo dia, o marido de alguém parece muito pacífico e receptivo; no dia seguinte, está extremamente agitado e com raiva. Pode falar muito sobre seus medos ou pode se isolar e ficar completamente calado ou deprimido. 

Às vezes, as pessoas ficam tão intrigadas com suas novas experiências e descobertas que rejeitam a sociedade rotineira como mundana e vulgar. Podem querer passar o tempo envolvidas em atividades que lhes permitirão sair da realidade diária. Suas visões pitorescas e descobertas cósmicas podem parecer fascinantes e exóticas comparadas com as atividades mundanas conhecidas, e podem sentir, por um tempo, que essas novas áreas merecem sua atenção exclusiva. Esta é, em geral, uma fase passageira, uma digressão bem conhecida no caminho espiritual, que irá passar por si mesma ou será removida com ajuda de um guia compreensivo. 

Quando as pessoas entram num processo de transformação, seus interesses geralmente mudam e podem querer discutir suas novas descobertas e ideias com os outros, que não compartilham de suas preocupações. Em geral, são conceitos ou crenças que repercutem em suas experiências, às vezes explicando ou dando validade ao que antes parecia ser um evento misterioso. Naturalmente porque essas ideias são tão significativas para as pessoas que estão passando pela emergência, elas supõem que os que estão próximos também acharão isso benéfico. 

Essas pessoas descobrem livros que pensam ser tão importantes que se sentem impelidas a difundir suas idéias, tornando-se às vezes, messiânicas. Os parentes e amigos, confusos, de repente recebem vários volumes não solicitados, como presentes, acompanhados por notas urgentes instruindo-os para ler e assimilar sua sabedoria. Essas mesmas pessoas podem ser subitamente convidadas para assistir a palestras realizadas por um mestre ou guru, sobre temas que parecem peculiares e às vezes assustadores a seus sistemas de crença bem estabelecidos. As conversas podem, de repente, tornar-se desagradáveis, à medida que o membro entusiasta da família direciona o assunto em questão para longe dos temas familiares, como as notícias do dia sobre as questões de importância cósmica e universal. 

As pessoas do convívio desse indivíduo já podem ter visões de mundo que funcionam para elas, podem estar contentes por ficarem onde estão ou se sentirem assustadas por algo novo. Talvez rejeitem as sugestões entusiásticas do outro. A pessoa querida pode aceitar facilmente que o que é certo para ela pode não ser adequado para os outros, e prosseguir calmamente ao longo do caminho. Mas os que já se sentem solitários em suas experiências, ou têm problemas com questões de rejeição, podem tomar sua carência de interesses familiar como uma afirmação sobre elas. Como resultado, tornam-se críticos para com aqueles que não se têm demonstrado nem interessados nem capazes de acompanhá-los em sua nova jornada, sentindo que têm demonstrado a luz da verdade e que os outros ainda estão nas trevas. 

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser

Relato de uma abençoada crise iniciática

(…) Há mais de dezessete anos, vivi silenciosamente, por cerca de dois meses, um intenso inverno emocional, a dor indescritível da depressão. A tentativa desesperadora de superar esse intenso inverno emocional me estimulou a me interiorizar.

O humor deprimido, a ansiedade, a perda de energia biopsíquica, a insônia, a perda do sentido existencial, os pensamentos de conteúdo negativo, os pensamentos antecipatórios, associados a outros sintomas tornaram-se o cenário da minha depressão. Não vou entrar em detalhes sobre este período existencial nem sobre as causas da minha depressão, pois não é esse o objetivo. Porém, quero dizer que minha crise depressiva se tornou uma das mais belas e importantes ferramentas para me interiorizar e me estimular a procurar as origens dos meus pensamentos de conteúdo negativo e as origens da transformação da minha energia emocional depressiva.

Em síntese, a dor da depressão, que considero o último estágio da dor humana, me conduziu a ser um pensador da Psicologia e da Filosofia. Ela me levou não apenas a repensar minha trajetória existencial e expandir a minha maneira de ver a vida e reagir ao mundo, mas também me estimulou a iniciar uma pesquisa sobre o funcionamento da mente, a natureza dos pensamentos e os processos de construção da inteligência. O processo de interiorização foi uma tentativa desesperadora de tentar me explicar e de superar minha miséria emocional.

Para muitos, a dor é um fator de destruição; para outros, ela destila sabedoria, é um fator de crescimento. Ninguém que deseja conquistar maturidade em sua inteligência, adquirir sabedoria intelectual e tornar-se um pensador e um poeta da existência pode se furtar de usar suas dores, perdas e frustrações que, às vezes, são imprevisíveis e inevitáveis, como alicerces de crescimento humano.

Procurei, apesar de todas as minhas limitações, investigar, analisar e criticar empiricamente os fundamentos dos postulados biológicos da depressão, a psicodinâmica da construção dos pensamentos de conteúdo negativo, os processos da transformação da energia emocional depressiva etc. Esse caminho, no começo, foi um salto no escuro da minha mente, um mergulho no caos intelectual, que desmoronou os conceitos e paradigmas de vida. Esse mergulho interior me ajudou a reorganizar o caos emocional, a dor da minha alma. Contudo, no início, me envolvi mais num caldeirão de dúvidas do que de soluções. Porém, foi um bom começo.

O caos emocional da depressão, se bem trabalhado, não é um fim em si mesmo, mas um precioso estágio em que se expandem os horizontes da vida. Eu nunca havia percebido que, embora produzisse muitas ideias, conhecia muito pouco o mundo das ideias, a construção dos pensamentos e o processo de transformação da energia emocional.

Muitos psiquiatras não têm ideia da dramaticidade da dor da depressão e das dificuldades de gerenciamento dos pensamentos negativos que a promovem. Entretanto, o eu pode administrá-los e, consequentemente, resolvê-la. Costumo dizer que se o eu der as costas para a depressão e para os mecanismos subjacentes que a envolvem, ela se torna um monstro insuperável, mas se a enfrentarmos com crítica e inteligência, ela se torna uma doença fácil de ser superada.

Meu inverno emocional gerou uma bela primavera de vida, pois estimulou-me a sair da superfície intelectual, da condição de ser um passante existencial, de alguém que passa pela vida e não cria raízes dentro de si mesmo, para alguém que conseguiu se encantar com o espetáculo da construção de pensamentos.

Não há gigantes no território da emoção. Todos passamos por períodos dolorosos. Ninguém consegue controlar todas as variáveis dentro e fora de si. Por isso, a vida humana é sinuosa, turbulenta e bela. A sabedoria de um homem não está em não errar, chorar, se angustiar e se fragilizar, mas em usar seu sofrimento como alicerce de sua maturidade.

Augusto Cury – Inteligência Multifocal

Convivendo com alguém em crise iniciática


Conviver com alguém que está passando por uma emergência espiritual geralmente exige muito de qualquer um que esteja envolvido. Os que são íntimos dessa pessoa, como também ela própria, gastam muito tempo e energia nas mudanças que estão sendo feitas em suas vidas, e os amigos e família estão sempre se confrontando com suas emoções e limitações. Relacionamentos aparentemente normais e estáveis ficam ameaçados pelas modificações abruptas nos interesses e no comportamento da pessoa que, em geral, exige um ajustamento mal-aceito por parte dos outros. 

Do mesmo modo que a intensidade do processo de transformação varia amplamente, assim também acontece com seus efeitos sobre as pessoas que estão à volta de quem está passando por isso. As pessoas que são íntimas de alguém que está comprometido com uma transformação amena podem até não notar as mudanças sutis quando estas ocorrem, e talvez possam compartilhar naturalmente a pessoa em territórios novos e interessantes. Apenas avaliando o passado, elas percebem que seus critérios, valores e o tipo de relacionamento consigo mesmos e com o mundo evoluiu e que o processo de crescimento que fomentou essas mudanças teve uma progressão compreensível. 

No entanto, se a emergência for mais evidente e, especialmente, se ocupar a atenção de todos diariamente, pode ser desafiador para os membros da família e para os amigos testemunhar e participar disso. E quando a crise de transformação começa a se tornar uma emergência espiritual, o desgaste dos que estão ligados emocionalmente à pessoa pode ser, de fato, muito grande. 

Contudo, por causa da natureza delicada da situação e das interações envolvidas, as pessoas não costumam manter uma atitude positiva de aceitação e tendem a reagir com emoções que variam do medo, da desesperança e da confusão à negação e à rejeição. 

(...) Um cenário que tem aparecido muitas vezes: um membro da família ou um amigo muda abruptamente seu comportamento e seus interesses e começa a proceder de formas inusitadas. Se expressas novas necessidades individuais, e não tem mais as expectativas habituais, as pessoas próximas podem podem se sentir preocupadas, desamparadas, frustradas, censuradas ou rejeitadas. 

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser

Uma crise que ultrapassa todo entendimento familiar


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A família é absolutamente contra o espírito rebelde

A família é a causa raiz de todas as neuroses. Nós temos que entender a estrutura psicológica da família, o que ela causa à consciência humana.

A primeira coisa é: ela condiciona a criança a certa ideologia religiosa, a um dogma político, a alguma filosofia, a alguma teologia. E a criança é tão inocente, tão receptiva, tão vulnerável que ela pode ser explorada. Ela ainda não pode dizer não, e mesmo que soubesse dizer não, não diria porque ela é muito dependente de sua família, absolutamente dependente. Ela é tão desamparada que tem que concordar com a família, com qualquer tipo de insensatez que a família queira que ela concorde. A família não ajuda a criança a perguntar; dá-lhe crenças e crenças são venenosas. Uma vez que a criança se torna sobrecarregada de crenças, suas perguntas se tornam enfraquecidas, paralisadas, suas asas são cortadas. Quando ela se tornar capaz de perguntar ela estará tão condicionada que se moverá a cada investigação com um certo preconceito – e com preconceito sua investigação não será autêntica. Você já está carregando uma conclusão a priori; está simplesmente buscando provas para apoiar sua conclusão inconsciente. Você se torna incapaz de descobrir a verdade.

Por isso existem tão poucos buddhas no mundo: a causa raiz é a família. Toda criança nasce um buddha, vem com o potencial para alcançar a suprema consciência, para descobrir a verdade, para viver uma vida de benção. Mas a família destrói todas essas dimensões; faz dela um ser totalmente plano.

Cada criança vem com uma tremenda inteligência, mas a família a faz medíocre, porque viver com uma criança inteligente é problemático. Ela duvida, ela é cética, ela pergunta, ela é desobediente, ela é rebelde. E a família quer alguém que seja obediente, pronto para seguir, imitar. Por isso desde o início a semente da inteligência tem que ser destruída, quase que completamente exterminada, para que não haja nenhuma possibilidade de algum broto florescer dela.

É por milagre que poucas pessoas como Zarathustra, Jesús, Lao-Tzu, Buddha, escaparam da estrutura social, do condicionamento familiar. Eles parecem ser grandes picos de consciência, mas de fato cada criança nasce com a mesma qualidade, com o mesmo potencial.

Noventa e nove ponto nove por cento das pessoas podem se tornar buddhas — apenas a família tem que desaparecer. Senão haverão cristãos, maometanos, hindus, jainas budistas, mas não Buddhas, não Maomés, não Mahaviras, isto não será possível. Maomé se rebelou contra suas bases e Jesus se rebelou contra suas bases. Estes são todos rebeldes – e a família é absolutamente contra o espírito rebelde.

A humanidade está passando por uma fase muito crítica. Tem que ser decidido se nós queremos viver de acordo com o passado ou se nós queremos viver um novo estilo de vida. Chega! Nós tentamos o passado e seus padrões e todos eles falharam. Já é tempo, amadurecido, de sair fora das garras do passado e criar um novo estilo de vida na terra. Para mim, um estilo alternativo é a comunidade – é o melhor.

OSHO - Filosofia Última

Indo muito além do entrave família

Quando quer que aconteça uma pessoa religiosa em uma família, a fricção começa, porque, para uma família, a pessoa religiosa é a pessoa mais perigosa. A família pode tolerar qualquer coisa, exceto a religião, porque uma vez que você se torne religioso, você não ficará identificado com o corpo. 

A família está relacionada ao corpo...

(...) Assim, a família é capaz de tolerar o fato de você ir a uma prostituta. Isso está bem, não há nada de errado — em vez disso, ao contrário, você está se identificando ainda mais com o corpo. Se você se torna um alcoólatra, se você é um bêbado, fica tudo bem, porque você está ficando cada vez mais e mais identificado com o corpo. Não há nada de errado nisso. Mas se você se torna um meditador... isso não é bom. Então, fica difícil porque você está sendo desarraigado. Então a família não mais tem poder sobre você; então, você não mais faz parte da família, porque você não mais faz parte deste mundo.

Assim, Jesus diz: "O pai estará contra o filho e o filho estará contra o pai"; e "Eu vim para romper, para dividir, para criar conflito e fricção".

Isso é verdade. Você pode venerar um buda, mas pergunte ao pai do buda — ele estará contra ele. Pergunte aos parentes do buda — eles estão contra ele, porque esse homem saiu fora do controle deles. Não somente isso: ele está também ajudando outros a irem além do controle da sociedade, da família.

A família é a unidade básica da sociedade. Quando você vai além da sociedade, você tem de ir além da família, mas isso não quer dizer que você deva odiá-la — esse não é o ponto —; nem que você deva ir contra ela — esse não é o ponto tampouco. Isso vai acontecer de qualquer jeito. Uma vez que você comece a encontrar a si mesmo, tudo que havia antes vai ficar corrompido, vai haver um caos. Então, o que você deve fazer? Eles vão puxá-lo de volta, eles tentarão trazê-lo de volta, eles farão todos os esforços para conseguir isso. O que fazer então?

Há dois caminhos: um é o velho modo de fugir deles, não lhes dando nenhuma oportunidade — mas eu penso que esse não é mais aplicável. O outro é ficar com eles, mas como um ator: não lhes dê a oportunidade de saber que você está indo para além deles. Ande! Deixe que essa seja a sua jornada interior, mas, exteriormente, preencha todas as formalidades: toque os pés de seu pai e de sua mãe e seja um bom ator.

Um saniássin deve ser um bom ator. Por ser um bom ator eu quero dizer que você não está relacionado absolutamente, mas você continua a preencher as formalidades. Lá no fundo você está desarraigado. E qual é a utilidade de se dar um sinal? — porque, então, eles começarão a tentar mudá-lo. Não lhes dê nenhuma chance. Deixe que isso seja uma jornada interior e, exteriormente, seja completamente formal. Eles ficarão felizes então, porque eles vivem em formalidades. Eles vivem do lado de fora, não precisam de sua devoção interna. Eles não precisam de seu amor interior — basta a amostragem.

(...) Fique onde quer que você esteja. Não crie nenhuma aparência externa mostrando que você está mudando e se tornando um religioso, porque isso pode criar problemas e você, exatamente agora, pode não estar bastante forte. Crie o conflito do lado de dentro, mas não o crie do lado de fora. O conflito interno é mais do que suficiente — ele lhe dará o crescimento, a maturidade necessária.

OSHO

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Tenham cuidado com a pessoa que lhes oferece conforto

Amigos, como houve tantos equívocos e más interpretações nos jornais e revistas com respeito a mim, penso que seria melhor se eu fizesse uma declaração para clarificar a posição. As pessoas geralmente desejam ser salvas por outra, ou por algum milagre, ou por ideias filosóficas; e eu receio que muitos venham aqui com este desejo, esperando que pelo simples fato de me ouvirem encontrarão uma solução imediata para os seus muitos problemas. Nem a solução para os seus problemas nem a sua chamada salvação pode chegar através de qualquer pessoa ou de qualquer sistema de filosofia. A compreensão da verdade ou da vida está no nosso próprio discernimento, na nossa própria perseverança e clareza de pensamento. Porque a maior parte de nós somos demasiado indolentes para pensarmos por nós próprios, aceitamos cegamente e seguimos pessoas ou apegamo-nos a ideias que se tornam o nosso meio de fuga em tempo de conflito e sofrimento.

Em primeiro lugar, quero esclarecer que não pertenço a nenhuma sociedade. Não sou teósofo nem missionário teosófico, nem vim aqui para os converter a nenhuma forma particular de crença. Não penso que seja possível seguir alguém, ou aderir a uma determinada crença, e ao mesmo tempo ter a capacidade de pensar claramente. Eis porque a maioria dos partidos, sociedades, seitas, corpos religiosos, se tornam meios de exploração.

Nem trago uma filosofia oriental, instigando-os a aceitá-la. Quando falo na Índia dizem-me que o que digo é uma filosofia ocidental, e quando venho aos países ocidentais, dizem-me que trago um misticismo oriental que é impraticável e inútil no mundo da ação. Mas se realmente chegarem a refletir sobre isso, o pensamento não tem nacionalidade, nem está limitado por nenhum país, clima ou povo. Portanto por favor não suponham que o que vou dizer é o resultado de algum preconceito racial peculiar, idiossincrasia, ou peculiaridade pessoal. O que tenho a dizer é real, real no sentido de que pode ser aplicado à vida presente do homem; não é uma teoria baseada em algumas crenças ou esperanças, mas é praticável e aplicável ao homem.

Ora bem, o pleno significado do que eu vou dizer só pode ser compreendido através da experimentação e portanto através da ação. A maior parte de nós gosta de discutir questões filosóficas em que as nossas ações diárias não tomam parte; ao passo que, isso de que falo não é uma filosofia ou um sistema de pensamento, e o seu profundo significado só pode ser compreendido através da experiência, através da ação.

O que eu digo não é uma teoria, uma crença intelectual para ser simplesmente discutida, para ser argumentada; exige muito pensamento; e só na ação, não pelo debate intelectual, podem descobrir se é verdadeiro e prático. Não é um sistema a ser memorizado, nem é um conjunto de conclusões que podem ser aprendidas e automaticamente levadas a cabo. Tem que ser compreendido criticamente. Ora a crítica é diferente da oposição. Se forem realmente críticos, não se oporão simplesmente, mas tentarão descobrir se o que digo tem em si qualquer mérito intrínseco. Isto exige clareza de pensamento da vossa parte, para que possam trespassar a ilusão das palavras, não permitindo que os vossos preconceitos, sejam religiosos ou econômicos, os impeçam de pensar profundamente. Isto é, têm que pensar a partir do próprio início, simples e diretamente. Todos nós fomos educados com muitos preconceitos e ideias preconcebidas, fomos criados em tradições supurantes e limitados pelo meio, e portanto o nosso pensamento é continuamente pervertido e deformado, impedindo assim a simplicidade de ação.

A questão da guerra, por exemplo. Vocês sabem, são tantos os discutem a retidão e o erro da guerra. Por certo que não pode haver duas maneiras de olhar para a questão. A guerra, defensiva ou ofensiva, está fundamentalmente errada. Agora, para pensar a partir do princípio no que respeita a essa questão, a mente tem de estar inteiramente livre da doença do nacionalismo. Somos impedidos de pensar profundamente, diretamente, simplesmente, devido aos preconceitos que têm sido explorados através dos tempos sob a capa do patriotismo, com os seus absurdos.

Criamos portanto através dos séculos muitos hábitos, tradições, preconceitos, que impedem o indivíduo de pensar completamente, fundamentalmente sobre as questões humanas vitais.

Ora para compreender os muitos problemas da vida, com as suas variedades de sofrimento, temos que descobrir por nós próprios os motivos e as causas fundamentais, com os seus resultados e efeitos. A menos que estejamos plenamente conscientes das nossas ações, da sua causa e efeito, exploraremos e seremos explorados, tornar-nos-emos escravos dos sistemas e as nossas ações serão unicamente mecânicas e automáticas. Até que possamos libertar conscientemente as nossas ações do seu efeito restritivo, através da compreensão do significado da sua causa, a menos que nos libertemos das velhas formas de pensamento que edificamos em nosso redor, não seremos capazes de penetrar as inumeráveis ilusões que criamos à nossa volta e nas quais estamos entravados.

Cada um tem que perguntar a si próprio o que está a procurar, ou se está simplesmente a ser conduzido pelas circunstâncias e condições, e é portanto irresponsável, irrefletido. Aqueles de vocês que estão realmente insatisfeitos, que são críticos, têm que ter perguntado a si mesmos o que é que cada indivíduo procura. Procuram conforto, segurança, ou a compreensão da vida? Muitos dirão que procuram a verdade; mas se analisassem as suas ânsias, a sua busca, ver-se-ia que na realidade estão à procura de conforto, de segurança, de uma fuga do conflito e do sofrimento.

Ora se estão à procura de conforto, de segurança, essa procura tem que se basear na aquisição e portanto na exploração e na crueldade. Se dizem que procuram a verdade, tornar-se-ão prisioneiros da ilusão, porque não se pode correr atrás da verdade, não se pode procurar e encontrar; ela tem que acontecer. Isto é, o seu êxtase só se conhece quando a mente está completamente despojada de todas as ilusões que criou na procura da sua própria segurança e conforto. Somente então há o despontar daquilo que é a verdade.

Colocando as coisas de maneira diferente, temos que perguntar a nós próprios em que é que se baseiam a nossa vida, pensamento e ação. Se pudermos responder a isto completamente, com verdade, então podemos descobrir por nós próprios quem é o criador das ilusões, destas supostas realidades das quais nos tornamos prisioneiros.

Se realmente pensarem sobre isso, verão que toda a vossa vida se baseia na procura de segurança, proteção e conforto individuais. Nesta procura de segurança nasce, naturalmente, o medo. Quando procuram conforto, quando a mente está a tentar evadir a luta, o conflito, o sofrimento, ela tem que criar várias vias de fuga, e estas vias de fuga tornam-se as nossas ilusões. Portanto o medo, que é o resultado da procura individual de segurança, é o criador das ilusões. Isto leva-os de uma seita religiosa a outra, de uma filosofia a outra, de um instrutor a outro, para procurar essa segurança, esse conforto. A isto vocês chamam a procura da verdade, da felicidade.

Ora, não há segurança, não há conforto; existe apenas a clareza de pensamento que ocasiona a compreensão da causa fundamental do sofrimento, a única que libertará o homem. Nesta libertação reside a bem-aventurança do presente. Eu digo que há uma realidade eterna que só pode ser descoberta quando a mente está livre de todas as ilusões. Portanto tenham cuidado com a pessoa que lhes oferece conforto, porque nisto tem que haver exploração; essa pessoa cria uma artimanha na qual são apanhados como peixe na rede.

Na procura de conforto, de segurança, a vida veio a ser dividida em religiosa ou espiritual, e em econômica ou material. A segurança material é procurada através das posses que dão poder e através desse poder esperam poder realizar a felicidade. Para alcançar esta segurança material, este poder, tem que haver exploração, a exploração do vosso semelhante através de um sistema estabelecido deliberadamente e que se tornou hediondo nas suas muitas crueldades. Esta procura de segurança individual, na qual está incluída também a da nossa própria família, criou a diferença de classes, os ódios raciais, o nacionalismo, e em última análise termina em guerras. E curiosamente, se prestarem atenção, a religião de deveria denunciar a guerra, ajuda à sua promoção. Os sacerdotes, que se supõe serem os educadores do povo, encorajam todas as inanidades que o nacionalismo cria e que cega as pessoas em momentos de ódio nacional. E vocês criam este sistema, baseado na segurança e no conforto individual, a que chamam religião. Criaram as organizações religiosas que são apenas formas cristalizadas de pensamento e que asseguram a imortalidade pessoal.

Entrarei em pormenores sobre esta questão da imortalidade numa das minhas palestras posteriores.

Portanto através da procura de segurança individual, através da exigência de continuação individual, vocês criaram uma religião que os explora através do clericalismo, através das cerimônias, através dos chamados ideais. O sistema a que chamam religião e que foi criado através da vossa própria exigência de segurança tornou-se tão poderoso, tão realista, que muito poucos se libertam do seu peso de tradição esmagadora e autoridade. O próprio princípio da verdadeira crítica reside no questionamento dos valores que a religião estabeleceu em nosso redor.

Ora cada um está preso nesta estrutura; e enquanto forem escravos de meios e valores inexplorados, não questionados, tanto passados como presentes, eles têm que perverter a plenitude da ação. Esta perversão é a causa do conflito entre o indivíduo que procura segurança, e as maiorias; entre o indivíduo e o movimento contínuo da experiência. Como individualmente criamos este sistema de exploração e limitação esmagadora, temos que individualmente e conscientemente demoli-lo compreendendo as bases da fundação desta estrutura e não unicamente criando novos conjuntos de valores, que serão apenas uma outra série de fugas. Assim começaremos a penetrar no verdadeiro significado de viver.

Afirmo que existe uma realidade, deem-lhe o nome que quiserem, que somente pode ser compreendida e vivida quando a mente e o coração tiverem penetrado as ilusões e estiverem livres dos seus falsos valores. Só então existe o eterno.

Krishnamurti, Rio de Janeiro, 1ª Palestra – 13 de Abril de 1935.

Sobre mediunidade, casamento, crença e família

Amigos, foram-me colocadas muitas questões em relação ao futuro pessoal de indivíduos e as suas esperanças, se seriam bem sucedidos em determinados negócios, se deveriam deixar este país e estabelecerem-se na América do Norte, quem é a pessoa certa para se casarem, etc. Não posso responder a tais perguntas já que não sou adivinho. Sei que estas são questões verdadeiras e perturbadoras, mas cada um tem que as resolver por si próprio.

Escolhi de entre as inúmeras questões que me foram colocadas, aquelas que são mais representativas; mas sinto que seria inútil e uma perda de tempo para vocês e para mim se o que vou dizer, e o que tenho dito, fosse aceite por vocês como uma qualquer teoria filosófica com a qual a mente se pode divertir. Tenho algo vital para dizer que é aplicável à vida, algo que, quando compreendido, os ajudará a resolver os muitos problemas da vossa vida quotidiana.

Não vou responder a estas perguntas a partir de um ponto de vista específico, porque sinto que todos os problemas devem ser tratados, não separadamente, mas como um todo. Se pudermos fazer isto, os nossos pensamentos e ações tornar-se-ão sãos e equilibrados.

Por favor não rejeitem algumas destas perguntas por serem burguesas ou feitas pela classe desocupada. São perguntas humanas e devem ser consideradas como tais, não como pertencendo a qualquer classe determinada.

Pergunta: Como considera a mediunidade e a comunicação com os espíritos dos mortos?

Krishnamurti: Podem rir-se disso ou levá-lo a sério. Em primeiro lugar, não vamos discutir se os espíritos existem ou não, mas vamos considerar o desejo que nos incita a comunicar com eles, porque essa é a parte mais importante da questão.

Com a maioria das pessoas que se dedicam a este gênero de coisas, na sua comunicação com os mortos há o desejo de serem guiados, de que se lhes diga o que fazer, uma vez que estão em constante incerteza relativamente às suas ações, e têm a esperança de que pela comunicação com aqueles que estão mortos, encontrarão orientação, poupando-se assim a si mesmos do trabalho de pensar. Portanto o desejo é de serem orientadas, dirigidas, para que possam não cometer erros e sofrer. É a mesma atitude que alguns têm relativamente aos mestres, aqueles seres que são considerados mais avançados, e portanto capazes de orientar o homem através dos seus mensageiros, etc.

O culto da autoridade é a negação da compreensão. O desejo de não sofrer gera exploração. Portanto esta busca de autoridade destrói a plenitude de ação, e a orientação origina irresponsabilidade, porque há um forte desejo de navegar através da vida sem conflito, sem sofrimento. É por esta razão se têm crenças, ideais, sistemas, na esperança de que a luta e o sofrimento possam ser evitados. Mas estas crenças, ideais, que se tornaram fugas, são a própria causa do conflito, gerando ilusões maiores, sofrimento maior. Enquanto a mente procurar conforto através da orientação, através da autoridade, a causa do sofrimento, da ignorância, não pode ser nunca dissolvida.

Pergunta: Para alcançar a verdade, devemos abster-nos do casamento e da procriação?

Krishnamurti: Ora bem, a verdade não é um fim, um objetivo que possa ser alcançado através de certas ações. É essa compreensão nascida do contínuo ajustamento à vida que exige grande inteligência; e porque a maior parte das pessoas não é capaz deste ajustamento sem auto-defesa ao movimento da vida, criam certas teorias e ideais que esperam possam guiá-los. O homem está assim preso na estrutura das tradições, dos preconceitos e das moralidades compulsivas, ditadas pelo medo e pelo desejo de auto-preservação. Isto aconteceu porque ele é incapaz de discernir continuamente o significado da vida em constante movimento, e portanto desenvolveu certos “ter de” e “não dever”. Uma vida completa e rica, com o que quero dizer uma vida extremamente inteligente, não uma existência auto-protetora, defensiva, exige que a mente esteja livre de tabus, de medos e superstições, sem os “dever” ou os “não dever”, e isto só pode existir quando a mente compreender integralmente o significado da causa do medo.

Para a maioria das pessoas há conflito, sofrimento e um ajustamento incessante no casamento; e para muitas o desejo de alcançar a verdade é apenas uma fuga a esta luta.

Pergunta: O senhor nega a religião, Deus e a imortalidade. Como é que a humanidade pode tornar-se mais perfeita, e portanto mais feliz, sem acreditar nestas coisas fundamentais?

Krishnamurti: Porque para vocês é apenas uma crença em Deus, na imortalidade, porque simplesmente acreditam nestas coisas, é que há tanta miséria, sofrimento e exploração. Só podem descobrir se existe a verdade, a imortalidade, na plenitude da própria ação, não através de uma qualquer crença, não através da asserção autoritária de outro. A realidade oculta-se na plenitude da própria ação.

Ora para a maioria das pessoas, a religião, Deus e a imortalidade são simples meios de fuga. A religião apenas ajudou o homem a fugir do conflito, do sofrimento da vida, e por isso da sua compreensão. Quando estão em conflito com a vida, com os seus problemas de sexo, exploração, ciúme, crueldade, etc., como fundamentalmente não desejam compreendê-los – porque compreender exige ação, ação inteligente – e como não estão dispostos a fazer um esforço, inconscientemente tentam fugir para aqueles ideais, valores, crenças que lhes foram passados. Assim a imortalidade, Deus e a religião tornaram-se simplesmente refúgios para uma mente que está em conflito.

Para mim, tanto o crente como o descrente em Deus e na imortalidade estão errados, porque a mente não pode abranger a realidade até que esteja completamente livre de ilusões. Só então podem afirmar, não acreditar ou negar, a realidade de Deus e da imortalidade. Quando a mente está totalmente livre dos impedimentos e das limitações criadas através da auto-proteção, quando está aberta, integralmente nua, vulnerável na compreensão da causa da ilusão auto-gerada, só então todas as crenças desaparecem, cedendo espaço à realidade.

Pergunta: É contra a instituição da família?

Krishnamurti: Sou, se a família for o centro de exploração, se estiver baseada na exploração. (Aplauso) Por favor, o que adianta simplesmente concordarem comigo? Têm que agir para alterar isto. Este desejo de perpetuação cria a família que se torna o centro de exploração. Portanto a pergunta é na realidade, pode-se alguma vez viver sem explorar? Não se a vida familiar está certa ou errada, não se ter filhos está certo ou errado, mas se a família, as posses, o poder, não são o resultado do desejo de segurança, de auto-perpetuação. Enquanto existir este desejo, a família torna-se o centro de exploração. Podemos alguma vez viver sem exploração? Eu digo que podemos. Tem que existir exploração enquanto houver esta luta pela auto-proteção; enquanto a mente procurar segurança, conforto, através da família, da religião, da autoridade ou da tradição, tem que existir exploração. E a exploração só cessa quando a mente discernir a falsidade da segurança e já não estiver enredada pelo seu próprio poder de criar ilusões. Se experimentarem com o que digo, compreenderão então que não estou a destruir o desejo, mas que podem viver neste mundo de uma maneira rica e sensata, uma vida sem limitações, sem sofrimento. Só podem descobrir isto experimentando, não negando, não através da resignação nem simplesmente imitando. Onde funciona a inteligência – e a inteligência cessa de funcionar quando há medo e o desejo de segurança – não pode haver exploração.

A maior parte das pessoas está à espera que ocorra uma mudança que milagrosamente alterará este sistema de exploração. Estão à espera que as revoluções realizem as suas esperanças, as suas ânsias não satisfeitas; mas nessa espera estão a morrer lentamente. Porque eu penso que as meras revoluções não mudam os desejos fundamentais do homem. Mas se o indivíduo começar a agir com inteligência, sem compulsão, independentemente das condições presentes ou do que as revoluções prometem no futuro, então há uma riqueza, uma plenitude, cujo êxtase não pode ser destruído.

Krishnamurti, São Paulo, 24 de Abril de 1935.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Liberte-se da dependência parental

Minha própria observação de milhares de sannyasins é que eles ainda estão lutando com seus pais, continuamente. O problema profundo deles é: seus pais lhes disseram para não fazerem algo — se eles o fizerem, sentem-se culpados; se eles não o fizerem, sentem que não são livres. De qualquer maneira, eles estão numa armadilha e ficam lutando. 

Uma pessoa se torna livre somente quando não está mais reagindo aos pais, quando essas vozes parentais desaparecem da consciência e não têm mais impacto desta ou daquela maneira e não criam reação contrária ou a favor. Você se torna uma pessoa madura quando é incapaz de ignorá-las e de ser indiferente a elas. 

As pessoas me perguntam: "Qual a definição de uma pessoa madura?" A pessoa que é livre de seus pais é uma pessoa madura. 

Jesus está certo quando diz a seus discípulos: "A menos que você odeie seus pais, você não será capaz de me seguir." Ora, um homem que prega o amor dizendo isso parece muito absurdo — mas ele está certo

Minha impressão é que a palavra "ódio" é uma má tradução do hebraico. Eu não conheço o hebraico, mas conheço Jesus. Por isso, digo que deve ser uma má tradução. Ele deve ter dito: "Seja indiferente, ignore, não se apegue mais." Ele deve ter usado algum termo que significa "seja desapegado" de seus pais, pois a palavra "ódio" não pode ser usada por muitas razões.

Uma coisa: se você odeia seus pais, você ainda não está desapegado, não está livre. Ódio significa que você é contra, assim eles ainda o controlarão de maneiras mais sutis: você continuará a fazer coisas que eles querem que você não  faça, pois você os odeia. Seus pais dizem: "não fume", e você continua a fumar, pois você os odeia. Esta é a maneira de você mostrar o seu ódio. Contudo, você está apegado, ainda está conectado. Você não foi capaz de se desconectar e ainda está acorrentado, ainda está segurando a saia de sua mãe; você ainda é infantil. 

Nem ame nem odeie — a voz parental precisa desaparecer. Você deve simplesmente observá-la desaparecer. 

Buda vai mais longe; ele diz: "A menos que você mate seus pais..." Ele não quer dizer que você deve matá-los em realidade, mas no fundo de seu ser você deve matá-los, abandoná-los, perdoar e esquecer. Não reaja à voz de seus pais dentro de você. 

(...) Observe dentro de você mesmo: o que você tem feito? Você ainda está lutando com seus pais, indo contra eles, fazendo algo que eles nunca quiseram que você fizesse, fazendo algo que os deixa com muita raiva? Você está brigando com seus sacerdotes e políticos? Então você permanecerá sob o poder deles.

O S H O 

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

O autoconhecimento é bem vindo desde que não toque a família

O desenvolvimento espiritual é uma capacidade evolutiva inata a todos os seres humanos. É um movimento rumo à integridade, à descoberta do verdadeiro potencial individual. E isso é tão comum e natural quanto o nascimento, o crescimento físico e a morte — uma parte integral de nossa existência. Por séculos, culturas inteiras trataram a transformação interior como um aspecto necessário e atraente da vida. Muitas sociedades desenvolveram rituais sofisticados e práticas de meditação como meios de provocar e encorajar o crescimento espiritual. 

(...) para algumas pessoas, no entanto, a trajetória de transformação do desenvolvimento do espírito torna-se uma "emergência espiritual", uma crise na qual as mudanças são tão rápidas e os estados interiores tão exigentes que, temporariamente, essas pessoas podem achar difícil atuar integralmente na realidade cotidiana. Atualmente, são raras as vezes em que essas pessoas são tratadas como se estivesse à beira do crescimento interior. Ao contrário, elas são vistas quase sempre através das lentes da doença e tratadas com tecnologias que obscurecem os benefícios em potencial que essas experiências podem oferecer. 

Num ambiente de apoio e com critério adequado, esses estados complexos da mente podem ser extremamente benéficos, conduzindo em geral à cura física e emocional, a descobertas profundas, à atividade criativa e a permanentes mudanças da personalidade para melhor. Quando inventamos o termo "emergência espiritual", pretendíamos enfatizar o perigo e a oportunidade inerentes a esses estados. O termo é, obviamente, um jogo de palavras, referindo-se à crise ou "emergência espiritual", que se pode unir à transformação e à ideia de "emersão", e sugerindo a grande oportunidade que essas experiências podem oferecer para o crescimento pessoal e para o desenvolvimento de novos níveis de consciência.

(...) Ao longo de toda Historia, pessoas em intensas crises espirituais foram reconhecidas por muitas culturas como abençoadas; pensava-se que elas estavam em comunicação direta com os domínios do sagrado e com os seres divinos. O seu meio social lhes dava apoio durante esses episódios cruciais, oferecendo-lhes abrigo e isentando-as das exigências habituais. Membros respeitados das comunidades tinham passado por suas próprias emergências, podendo reconhecer e entender um processo semelhante nos outros e, como resultado, eram capazes de respeitar a expressão do "impulso místico e criativo". Frequentes experiências pitorescas e dramáticas foram alimentadas pela confiança de que essas pessoas acabariam retornando à comunidade com mais sabedoria e uma capacidade aumentada para se guiarem a si mesmas no mundo, para seu próprio benefício e o das demais pessoas da sociedade.

Com o advento da ciência moderna e da era industrial, essa tolerância e até mesmo esse apoio mudaram drasticamente. A noção de realidade aceitável foi limitada para incluir apenas aqueles aspectos da existência que são materiais, palpáveis e mensuráveis. Qualquer forma de espiritualidade foi afastada do panorama do mundo científico moderno. As culturas ocidentais adotaram uma interpretação rígida e restrita do que é "normal" na experiência e no comportamento humanos, e raramente aceitavam aqueles que tentavam ir além desses limites. (...) Em geral, o processo de emergência espiritual, junto com suas manifestações mais dramáticas, foi visto pela psiquiatria como uma doença, e aqueles que demonstravam sinais do que se pensava ser, anteriormente, transformação e crescimento interior, foram, então, em muitos casos, considerados doentes.(...) Muitos estados incomuns de consciência são considerados patológicos e tratados com métodos psiquiátricos tradicionais, tais como medicação e hospitalização supressivas. Como resultado dessa tendência, inúmeras pessoas que estão envolvidas no processo natural de cura de emergências espirituais são automaticamente colocadas na mesma categoria daqueles com uma doença mental real — especialmente se essas experiências estiverem causando uma crise em suas vidas ou criando dificuldades para suas famílias

Essa interpretação é ainda mais incentivada pelo fato de que nossa cultura não reconhece a importância e o valor dos domínios místicos dentro dos seres humanos. Os elementos espirituais inerentes à transformação pessoal parecem estranhos e ameaçadores àqueles que não estão familiarizados com eles

(...) Junto ao interesse renovado pelo misticismo, vemos um outro fenômeno: um número crescente de pessoas está tendo experiências espirituais e paranormais e querem falar mais abertamente sobre elas.(...) partindo de nossas próprias investigações, parece que, coincidindo com esse largo interesse, há uma crescente incidência de dificuldades relacionadas com processos de transformação. (...) Causou-nos assombro encontrar muitas pessoas que se identificavam com vários elementos de nossas histórias. Algumas tinham passado por experiências transformadoras e, como resultado, sentiam-se mais realizadas. Muitas outras tiveram experiências semelhantes, mas nos contaram trágicas histórias de famílias e de profissionais que os interpretaram mal, de internamentos hospitalares, de tranquilizantes desnecessários e de rótulos psiquiátricos estigmatizantes. Muitas vezes, um processo cujo ponto de partida era a cura e a transformação fora interrompido e dificultado até pela intervenção psiquiátrica.

(...) Consequentemente, é crucial tratar das questões que cercam a emergência espiritual e a crise espiritual para aumentar a compreensão dos vários estados nelas envolvidos e para formular novas estratégias de tratamento que ajudarão as pessoas a resistir e a lucrar com isso.

Stanislav Grog em, A Tempestuosa Busca do Ser

Encontrando e mantendo o próprio ritmo


Encontrando o valor interno próprio


Enfrentando o medo da reprovação autoritária e seguindo o coração

Encontre seu sopro e sua capacidade de escuta

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Sobre Família, Casamento e Filhos

Pergunta: A família é o arcabouço do nosso amor e da nossa avidez, do nosso egoísmo e da nossa divisão. Que lugar tem ela (…)?

Krishnamurti: (…) A vida é uma coisa viva, uma coisa dinâmica, ativa, não podeis encerrá-la num arcabouço. São os intelectuais que põem a vida num molde (…) Em primeiro lugar, temos o fato de nossas relações com os outros, uma esposa, um marido ou um filho - as relações a que chamamos família. (…) (Novo Acesso à Vida, p. 40-41)

Pois bem, que é isso a que chamamos família? Trata-se, obviamente, de uma relação de intimidade, de comunhão. Ora, em vossa família, em vossas relações com vossa esposa, vosso marido, há comunhão? (…) Relação significa comunhão sem temor, liberdade de mútua compreensão, de comunhão direta. (…) (Idem, p. 41)

Estais em comunhão com vossa esposa? Talvez estejais, fisicamente, mas isso não é relação. Vós e vossa esposa viveis dos lados opostos de uma muralha de isolamento (…) Tendes os vossos alvos e ambições próprios e ela os seus. (…) (Idem, p. 41)

Ora, se existem relações reais entre duas pessoas, o que significa que existe comunhão entre elas, o que isso implica é de extraordinária significação. Porque então não há isolamento, há amor, e não responsabilidade ou dever. Um homem que ama, porém, não fala de responsabilidade - ele ama. Por isso partilha com alguém a sua alegria, a sua tristeza, o seu dinheiro. (…) (Novo Acesso à vida, p. 42)

Então, senhores, não é isso que está acontecendo? Em nossas famílias o que há é isolamento, e não comunhão; logo, não há amor. Amor e sexo são duas coisas diferentes (…) Se tivésseis interesse pelo próximo, se estivésseis em real comunhão com vossa esposa, com vosso marido, o mundo não estaria nesta desgraça. (…) (Idem, p. 42-43)

Como, então, quebrar esse isolamento? Para quebrarmos esse isolamento, precisamos estar cônscios dele (…) Tomai nota da maneira como tratais vossa esposa, vosso marido, vossos filhos; notai a insensibilidade, a brutalidade, as asserções tradicionais, a falsa educação(…) E, por não saberdes amar vossa esposa, vosso marido, não sabeis amar a Deus. (Idem, p. 43)

Pergunta: O casamento é necessidade ou luxo?

Krishnamurti: Examinemos (…) Por que nos casamos? Em primeiro lugar, (…) por força da necessidade biológica, do impulso sexual, que a sociedade legaliza (…) A sociedade deseja proteger a prole (…) Casamo-nos também por exigência psicológica. Preciso de um companheiro ou companheira, alguém que eu possua, e domine, e chame “meu” ou “minha”. (Da Insatisfação à Felicidade, p. 199-200)

Aqui (na Índia) o sistema matrimonial faz da mulher uma escrava, para ser protegida, dominada, governada, possuída. A mulher é uma coisa que se possui; assim como possuo bens, possuo minha mulher. Possuo-a sexualmente e a domino exteriormente. Psicologicamente, a posse me dá conforto, me dá segurança: minha propriedade, minha esposa, meus filhos (…) (Idem, p. 200)

Tratamos seres humanos como tratamos as coisas materiais, sem consideração (…) E vós bem conheceis as coisas da vida, os horrores, as agonias, os sofrimentos dos que são casados e não se amam. Como pode haver amor quando há instinto de posse? (…) (Idem, p. 200)

Como, na maioria, vivemos tão concentrados, tão absortos em nossas atividades comerciais, em ganhar dinheiro (…); como somos impiedosos no comércio e cruéis no mundo, como é possível ter amor por alguém no lar? No entanto, é o que quereis fazer, e por isso não tendes amor. (…) (Da Insatisfação à Felicidade, p. 200)

O casamento é também uma forma de perpetuação do “eu”. Desejo continuidade, através dos meus filhos. Por conseguinte, os filhos se tornam muito importantes, não por eles próprios, mas por causa de minha continuidade - meu nome, minha classe, minha casta. (…) (Idem, p. 200-201)

(…) Assim, para compreender todo esse processo humano, que é extremamente complexo e sutil, requer-se inteligência. Inteligência é também amor, e não apenas intelecto; e não podemos ter amor se, por um lado, procedemos cruelmente em nossos negócios, na vida cotidiana, e, por outro lado, procuramos ser ternos, meigos e bondosos. Não podeis fazer as duas coisas (…) (Idem, p. 201)

Só quando há amor, compaixão, que é inteligência - a forma mais elevada de inteligência - é que pode ser resolvido esse problema. (…) No momento em que nos considerarmos uns aos outros como seres humanos, como indivíduos, não como algo para ser possuído, teremos então a possibilidade de compreender e de transcender esse conflito existente entre dois cônjuges. (Idem, p. 201-202)

Pergunta: Não sois contrário ao matrimônio como instituição?

Krishnamurti: (…) A família é um processo de identificação particularista; e quando a sociedade está baseada nessa idéia da família como unidade exclusiva, em oposição a outras (…), tal sociedade (…) há de produzir violência. (…) (Que Estamos Buscando?, 1ª ed., p. 248)

Usamos a família como meio de segurança para nós mesmos. (…) Essa exclusão é chamada “amor”, e, nesse chamado estado de família ou de matrimônio, existe realmente amor? (…) Não estamos considerando o ideal do que ela deveria ser, mas (…) tal como a conhecemos. (Idem, p. 248)

Entendeis por “família”, vossa esposa e vossos filhos (…) É uma unidade (…), e nessa unidade sois vós quem tem importância - não a vossa esposa, nem os vossos filhos ou a sociedade - mas somente vós, que estais em busca de segurança, de nome, de posição, de poder, tanto na família como fora dela. (…) (Idem, p. 248-249)

Dominais a vossa esposa, e ela vos é subserviente; vós ganhais e gastais o dinheiro, ela é vossa cozinheira e a progenitora dos vossos filhos. Criais, assim, a família, que é uma unidade exclusiva (…) Por conseguinte, não pode haver reforma do coletivo enquanto vós, como indivíduo, fordes exclusivista e buscardes o auto-isolamento em cada uma de vossas ações, limitando o vosso interesse a vós mesmos. (Idem, p. 249)

Ora, esse processo de exclusão não é, por certo, amor. O amor não é criação da mente. O amor não é pessoal (…) O amor é algo que não pode ser compreendido enquanto existir o pensamento, que é exclusivista. O pensamento, que é reação da mente, nunca pode compreender o que é amor; o pensamento é invariavelmente exclusivista, separatista (…) (Que Estamos Buscando?, p. 249)

A família, como a conhecemos, (…) é exclusivista, é um processo de engrandecimento do “eu”, que é resultado do pensamento; (…) Dizemos que amamos a verdade, (…) a esposa, o esposo, os filhos; mas essa palavra está rodeada pelo fumo do ciúme, da inveja, da opressão, da dominação (…) (Idem, p. 249-250)

A solução reside, não na legislação, mas na vossa própria compreensão do problema; e o problema só é compreendido e, por conseguinte, desaparece quando há o verdadeiro amor. Quando as coisas da mente não enchem o coração (…) e a ambição individual (…) não predominam, só então conhecereis o amor. (Idem, p. 250)

Que tem o casamento a ver com isso? Fazeis do casamento um embaraço, em vez de um auxílio; tende-o como um cativeiro. No fim de tudo, ele é um processo de assimilação de experiência, não um cativeiro que vos force. Sei que ele vos aprisiona na maioria dos casos, porque não sabeis como utilizar, como assimilar a experiência dele. Tratai todos os que vos rodeiam como amigos, por intermédio de quem e com quem cresceis. (…) (Viver Harmonioso, em “Boletim Internacional da “Estrela”, de janeiro de 1931, p. 8)

Pergunta: Por que a mulher tem a propensão de se deixar dominar pelo homem? (…)

Krishnamurti: Ora, (…) Quando o marido domina, a mulher gosta disso e considera-o afeição; e quando a esposa governa o marido, ele também gosta disso. Por quê? Denota isso que a dominação proporciona certo sentimento de maior proximidade, nas relações. (…) Temeis a indiferença de vossa esposa ou de vosso marido (…) (A Arte da Libertação, p. 75)

E esse domínio dá um sentimento de relação, esse domínio gera o ciúme: se não me dominais, é porque estais com os olhos noutra pessoa. (…) Senhor, o homem que ama não é ciumento. O ciúme é coisa do cérebro, mas o amor não pertence ao cérebro; e onde há amor não há domínio. Quando amais alguém, não sois dominante, sois parte dessa pessoa. Não há separação, mas completa integração. É o cérebro que separa, e cria o problema da dominação. (Idem, p. 76)

Pergunta: Quais são os deveres de uma esposa?

Krishnamurti: (…) Neste país (Índia), o marido é o patrão; ele é a lei, o senhor, porque economicamente dominante, e é ele quem diz quais são os deveres de uma esposa. Podemos considerar o problema do ponto de vista do marido ou da esposa. (A Arte da Libertação, p. 42-43)

Se considerarmos o problema da esposa, vemos que, porque não é livre, economicamente, a sua educação é limitada (…); e a sociedade lhe impôs regras e modos de conduta estabelecidos por homens. (…) (Idem, p. 43)

Portanto, ela aceita o que se convencionou chamar direitos do marido; e como este é quem domina, por ser economicamente livre e ter capacidade para gastar dinheiro, quem dita a lei é ele. (…) Quando o marido exige os seus direitos e quer uma esposa “cumpridora de seus deveres” (…) a relação entre os dois não passa evidentemente de contrato mercantil. (…) (Idem, p. 43)

Enquanto as relações estiverem baseadas em contrato, em dinheiro, em posse, autoridade ou dominação, elas serão, forçosamente, questão de direitos e deveres. É evidente a extrema complexidade das relações, quando elas resultam de um contrato, em que se estipula o que é correto, o que é incorreto e o que é o dever. (A Arte da Libertação, p. 43)

Mas não haverá uma outra maneira de considerar esse problema? Isto é, quando há amor, não há nenhum dever. Quando amais vossa esposa, vós lhe dais participação em tudo - na vossa propriedade, nas vossas tribulações, vossas ansiedades e vossas alegrias. Não a dominais: não sois o homem e ela a mulher, para ser usada e posta de parte, uma espécie de máquina procriadora. (…) (Idem, p. 44)

Se o homem que não tem amor no coração, fala em direitos e deveres, e, neste país, direitos e deveres tomaram o lugar do amor. Vossa esposa não tem participação em vossa responsabilidade (…) porque considerais a mulher menos importante do que vós, como coisa para ser guardada e usada sexualmente, segundo vossa conveniência, quando o apetite o exigir. (Idem, p. 44)

Sem amor, não percebo a utilidade de se terem filhos. Sem amor criamos filhos feios, imaturos, incapazes de pensar; (…) porque nunca se lhes deu afeição, porque só serviram de brinquedo e de divertimento, e para conservar o vosso nome. (A Arte da Libertação, p. 44-45)

Para que venha a existir uma nova sociedade, uma nova civilização, não deve evidentemente haver dominação nem por parte do homem nem por parte da mulher. A dominação existe em virtude da pobreza interior. (…) (Idem, p. 45)

Certamente, só sentimento afetuoso, o calor do amor, pode implantar uma nova condição, uma nova civilização. O cultivo do coração - não é um processo da mente. A mente não pode cultivar o coração; mas, quando é compreendido o processo a mente, surge então o amor. (…) (Idem, p. 45)

Pergunta: O casamento é necessário para as mulheres?

Krishnamurti: Não sei por que será mais necessário para as mulheres do que o é para os homens. (…) Vamos tentar compreender o problema do matrimônio, o qual implica relações de sexo, amor, camaradagem e comunhão. Evidentemente, não havendo amor, torna-se o matrimônio uma ignomínia. Torna-se, puramente, um meio de satisfação. (…) (Uma Nova Maneira de Viver, p. 219-220)

E só existe amor quando o ego está ausente. Ao considerar o matrimônio, se ele é necessário ou não, é preciso primeiro compreender o amor. O amor é casto, e sem amor não podeis ser casto; um indivíduo pode (…) ser celibatário, mas isso não significa que seja casto, puro, se não houver amor. ( … ) (Idem, p. 220)

(…) E, visto como à maioria das mulheres é negado o amor, buscam elas o preenchimento nas coisas ou nos filhos. Dessarte, as coisas e os filhos assumem toda a importância para as mulheres, enquanto o homem busca o preenchimento no trabalho e nas atividades. (…) E por essa razão dou valor às coisas, às relações, às idéias. Atribuo-lhes valor superior ao que têm (…) (Idem, p. 221)

(…) Podeis ter filhos, mas não existe amor, porque vós e vossa esposa estais isolados. Estais escondidos atrás de uma parede por vós mesmos edificada (…) e para haver essa comunhão é necessário o amor. (…) Quando há amor, há castidade, pureza, incorruptibilidade. (Idem, p. 222-223)

É só para os poucos (…) que amam, que as relações matrimoniais têm significado; então, elas são inquebrantáveis, não representam mero hábito ou conveniência, nem estão baseadas na necessidade biológica, na necessidade sexual. (A Arte da Libertação, p. 232-233)

Nesse amor, que é incondicional, as identidades se fundem (…) Para que haja a fusão de duas entidades separadas, tendes de conhecer a vós mesmo, e ela, a si mesma. Isso significa amar. (Idem, p. 233)

Só há castidade quando há amor. Quando existe o amor, não existe o problema do sexo; (…) Senhor, isso significa que tereis de submeter vosso coração e vossa mente a uma intensa busca, da qual resultará uma transformação em vosso interior. O amor é casto; e quando existe amor (…) então o sexo já não é um problema e tem significação inteiramente diversa. (Idem, p. 237)

terça-feira, 12 de novembro de 2013

Um olhar sobre nossas relações - II

Família:
o auto-interesse egocentrado
Você considera o casamento uma instituição para estabelecer uma família? A família não é uma unidade em oposição à sociedade? Não é o centro do qual todas as atividades se irradiam, um relacionamento exclusivo que domina todas as outras formas de relacionamento? Ela não é uma atividade fechada em si mesma que produz divisão, separação, o importante e o humilde, o poderoso e o fraco? A família como um sistema parece resistir a tudo; cada família se opõe a outras famílias, outros grupos. A família, como sua propriedade, não é uma das causas da guerra? 

(...) A família como está agora é uma unidade de relacionamento limitado, fechada em si mesma e exclusiva. Os reformadores e os supostos revolucionários tentaram abolir esse espírito de família exclusivista que gera todo tipo de atividade antissocial; mas ela é um centro de estabilidade como o oposto da insegurança, e a atual estrutura social no mundo inteiro não pode existir sem essa segurança. A família não é uma simples unidade econômica, qualquer esforço para resolver essa questão nesse nível obviamente fracassará. O desejo por segurança não é apenas econômico, mas muito mais profundo e complexo. Se o homem destruir a família, encontrará outras formas de segurança por meio do Estado, do coletivo, da crença e assim por diante, que, por sua vez, gerará os próprios problemas. Precisamos entender o desejo por segurança interior e psicológica, e não simplesmente substituir um padrão de segurança por outro. 

Então o problema não é a família, mas o desejo de estar seguro. O desejo de segurança não é, em qualquer nível, exclusivo? Esse espírito de exclusividade revela-se na família, na propriedade, no Estado, na religião, etc. Esse desejo de segurança interior não estabelece formas exteriores de segurança  que são sempre exclusivas? O próprio desejo de estar seguro destrói a segurança. Exclusão e separação devem, inevitavelmente, produzir desintegração; o nacionalismo, o antagonismo de classes e a guerra são seus sintomas. A família como meio de segurança interior é uma fonte de desordem e catástrofe social. 

(...) Somente quando não procurarmos a segurança interior é que poderemos viver exteriormente seguros. Enquanto a família for o centro da segurança, haverá desintegração social; enquanto a família for usada como um meio para um fim autoprotetor, deverá haver conflito e infelicidade.(...) Enquanto eu usá-la, ou outra pessoa, para minha segurança psicológica, interior, terei de ser exclusivo; eu serei o mais importante, eu terei o maior significado; é a minha família, a minha propriedade. O relacionamento de utilidade é baseado na violência; a família como meio de segurança interior mútua provoca conflito e confusão. 

(...) Usar o outro como meio de satisfação e segurança não é amor. O amor nunca é segurança; o amor é um estado no qual não há o desejo de estar seguro; é um estado de vulnerabilidade; é o único estado no qual a exclusividade, a animosidade e o ódio são impossíveis. Nesse estado, a família pode tomar forma, mas ela não será exclusiva, fechada em si mesma. 

(...) É bom estar consciente dos comportamentos habituais do próprio pensamento. O desejo interior de segurança expressa-se exteriormente pela exclusão e violência, e, enquanto seu processo não for totalmente entendido, não poderá haver amor. O amor não é outro refúgio na busca por segurança. O desejo por segurança precisa cessar totalmente para o amor existir. O amor não é algo que possa ser produzido por meio da compulsão. Qualquer forma de compulsão, em qualquer nível, é a própria negação do amor.(...) Só o amor pode produzir uma revolução ou transformação radical no relacionamento; e o amor não é um produto da mente. O pensamento pode planejar e formular estruturas magníficas de esperança, mas só levará a mais conflito, confusão e infelicidade. O amor existe quando a mente astuta e fechada em si mesma não existe.

Jiddu Krishnamurti — Comentários sobre o viver 

sexta-feira, 15 de março de 2013

Um breve relato sobre "família disfuncional"

A família disfuncional começa a gravar toda forma de condicionamento: cultural, religioso, racial, nacionalista, toda forma de cultura; começa a transmitir tudo, dizendo aquilo que você “pode” e aquilo que você “não pode” dizer ou fazer, como “você tem que” sentar, como “você tem que” falar, a ditar quantas vezes “você tem que” se alimentar durante o dia... Como se nós, seres humanos, fossemos todos iguais, como se tivéssemos que funcionar igualmente, não respeitando nenhuma característica individual. Vocês já pensaram um jardineiro exigir que uma rosa, fosse igual a um gerânio; ou o gerânio ser igual a rosa? É mais ou menos isso o que é o condicionamento familiar e social: enquadrar todos os seres num mesmo tipo de percepção de mundo; e é bem isso o que acaba ocorrendo dentro de uma família disfuncional. Você nasce já recebendo os vários pacotes culturais transgeracionais, os quais ditam os padrões comportamentais “aceitáveis”.

É normal, desde a mais tenra idade, nos depararmos com frases do tipo: “O que você ‘vai ser’ quando crescer?” Quer dizer, aqui e agora, você não é; você só ‘vai ser’ se você conseguir um diploma com uma estampilha dourada para afixar numa determinada parede; se você colecionar vários diplomas referentes a uma determinada especialidade, então você será, caso contrário, “você não é”. Esse padrão de “vir-a-ser”, é um padrão herdado, um padrão transgeracional que em nós é instalado desde a mais tenra idade. Então, se a sua família é vegetariana, você também é vegetariano; se a família é carnívora, você é carnívoro; você “tem que” comer porque isso vem funcionando até hoje com a sua família, então, também “tem que” funcionar com você; se funcionou com todos os seus ancestrais, por que não vai funcionar com você? Desse modo, desde a infância, somos formatados, condicionados, mesmerizados, vamos sofrendo os mais variados tipos de pressão instalados através de uma enorme quantidade de “você tem que”, “você deve” e “é assim e pronto!”... “Se você não funcionar do meu jeito, vou colocá-lo num reformatório!” “Se não fizer o que estou falando, vai direto para a Diretoria!”

Numa família disfuncional, a educação é alicerçada num modelo comparação, o qual é responsável pela fragmentação da consciência da realidade que somos. Será possível algo mais fragmentador do que comparar um ser humano com outro ser humano e avaliá-lo através de um conceito padronizado, socialmente aceitável? Será que há algo mais fragmentador do que forçar um ser humano a abrir mão de suas características próprias, originais, para ser “igual” ao primo, ao irmão mais novo ou mais velho que “não dá trabalho”? E, dessa forma, devido a nossa necessidade de aceitação grupal, vamos nos conformando às descabidas pressões de adultos adulterados adulterantes e, consequentemente, abrindo mão de nossa autenticidade, de nossa originalidade e de nossa sensibilidade criativa. Passamos então a ser meras cópias, facilmente influenciáveis. E tudo isso, através da influência das pessoas significativas que afirmam, de forma leviana, nos amar; como dizia o poeta: “Quando você gosta mesmo, não quer mudar a pessoa!” Onde está o amor ai, se quero formatar o outro para ser aquilo que “eu acho” que é o mais correto para ele? Então, seu eu fizer tudo de acordo com a expectativa do outro, eu sou amado; se eu não fizer do jeito que a expectativa dele tem de mundo para mim, eu já não “mereço” o mesmo amor, não mereço o mesmo tratamento e, portanto, devo ser deixado de lado. Numa família disfuncional, a retórica de pensamento é mais ou menos a seguinte: "Eu lhe apoiarei — desde que — você faça exatamente aquilo que eu espero que você faça, para que, assim, eu não tenha abalada a minha atual zona de conforto". Então, uma criança de sete ou oito anos de idade, ela não tem o raciocínio de um adulto; para ela receber a atenção e o carinho condicionado dessas pessoas significativas e, assim, se sentir parte do grupo, o que para ela é fundamental nessa fase de sua vida, ela fatalmente irá negar o ser que é, custe o que custar. Isso pode ser fácil no início, mas, com o passar dos anos, não vai ter como dar continuidade a esse processo de auto-abandono, de auto-boicote de sua natureza real. Com o passar dos anos, não há como ter a sua sensibilidade totalmente adulterada; isso é corrupção; corrupção não é passar dinheiro por debaixo da mesa; corrupção é você contrariar aquilo que o teu coração está pedindo, contrariar aquilo que o teu coração está te mostrando como verdadeiro. Corrupção é você deixar de expressar os seus reais sentimentos em nome de se ajustar às descabidas exigências de terceiros. E, uma vez aceito isso, com tanta pressão, ter sido exposto durante tantos anos a um ambiente opressivo, com abusos físicos, verbais, emocionais, religiosos, sexuais; muitos desses abusos são vistos pela sociedade como sendo educação, quando não tem nada a ver com a genuína educação; isso na realidade é abuso! Abuso é tudo aquilo que nos faz corar. No abuso sexual não é preciso que ocorra a penetração; uma colocação, um olhar pode ser um abuso. Então, nessas famílias disfuncionais, falta psique, falta inteligência amorosa; e é importante ressaltar aqui, que ninguém é culpado disso, afinal, somos todos prisioneiros em meio de prisioneiros; somos sobreviventes em meio de sobreviventes. Até hoje, não temos a presença de uma genuína “educação psíquica”. A educação, até hoje, é orientada para você “servir tecnicamente, especificamente ao sistema”; temos uma educação que só prepara o lado técnico de nossa mente. O lado humano, nossa expressão anímica é totalmente descartada. A dimensão psíquica do ser que somos é totalmente descartada. Como é possível fazer frente a todas as exigências do mundo, sem esse lado humano, só com uma mente técnica, cartesiana? É óbvio que o coração, o ser, vai “explodir”, com tanta forma de inadequada pressão. E aí está os fundamentos da depressão. Então, como costumo dizer, a depressão é a maior benção de um ser humano, pois é o último aviso que o ser lhe manifesta, dizendo da necessidade emergencial de resgatar a originalidade, a autenticidade, o estado de unidade interna entre mente e coração; um aviso dessa mais profunda e amorosa inteligência psíquica de que não é mais possível dar continuidade a esse padrão de fragmentação interna em nome da aceitação condicionada de pessoas condicionadas e que se relacionam apenas com uma imagem de um padrão comportamental socialmente aceito como correto. É um absurdo isso, aceitar como correta, sem a mínima expressão de questionamento, a cultura herdada; o que numa dentro de um espaço e tempo é correto, noutra localidade e noutro tempo já não é correto. Então, como é possível querer se encaixar dentro dos moldes de moral que o outro tem como correto? Em vista disso que afirmo ser a depressão uma benção; porque ela nos diz: “Ou você segue o seu coração ou seu te mato!”... E mata mesmo! E nunca vamos ver num laudo policial, que a pessoa acabou morrendo por causa de um súbito ataque reativo de “pensamento psicológico condicionado”. Com certeza, darão um monte de conceitos no laudo, mas nunca colocarão de que fulano morreu por causa da inconsciente identificação com um padrão de pensamento psicológico condicionado. Não tem como praticar qualquer tipo de padrão obsessivo compulsivo sem antes se pensar absurdamente nesse padrão, sem antes ter “ritualizado” pelo pensamento, as possibilidades para a manifestação desse padrão comportamental.
É isso o que vejo!

Um fraterabraço e bons momentos nesse esterno agora que somos!

Outsider

sábado, 15 de dezembro de 2012

Os pais decidem sobre seus filhos conforme as próprias ambições.

O homem tem vivido, até agora, uma vida acidental. Ninguém conhece o próprio potencial, o que a natureza espera que cada um seja. E a questão sobre o segredo da educação não pode ser resolvida sem que se saiba qual é o seu potencial. Você vai ser um músico, um poeta, um engenheiro, um médico? Sem que conheçamos nada sobre nossas possibilidades, praticamente tropeçando no escuro, persistimos em decidir o destino das pessoas, levando em conta estranhas razões.

A própria palavra educação, em sua raiz, significa estender-se. O seu próprio segredo se encontra em seu significado básico. Tudo aquilo que está dentro de você, como uma semente, deve ser expandido, deve receber toda oportunidade para que possa florescer. Mas ninguém sabe o que está oculto dentro de você, que tipo de solo e que tipo de jardineiro você necessita, qual é o clima adequado, a estação adequada, a época adequada para que você seja semeado.

Os pais decidem sobre seus filhos conforme as próprias ambições. Daí a imensa infelicidade que existe no mundo. Alguém que poderia ter sido um grande músico tornou-se apenas um industrial pigmeu. Alguém que poderia ter sido um grande místico foi forçado a tornar-se um matemático. Quase todos estão no lugar errado. E estar no lugar errado é muito doloroso. Você próprio não se deu conta do porquê está sofrendo, porque você próprio não percebeu que errou o seu alvo. Você está seguindo a ideia de outros, está sendo o que os outros esperam que seja.

OSHO - A Nova Criança

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill