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sábado, 7 de fevereiro de 2015

Como reagem família e amigos aos comportamentos da crise iniciática?


A família e os amigos podem ter uma ampla série de reações para com alguém que esteja passando por um processo dramático de transformação. Seus sentimentos podem variar dos mais positivos aos extremamente negativos. Alguns podem se sentir dominados pela excitação de um evento e, sem necessariamente saber por que, ficam ansiosos para cooperar, sentindo que estão ganhando alguma coisa significativa com essa experiência.(...) Infelizmente, muitas reações a esse processo não são tão positivas. Se você estiver despreparado para o advento dessa ruptura na sua vida, ou não tiver ideia do que está acontecendo com seu filho, com seu pai, com seu companheiro ou amigo, pode reagir com rejeição, confusão, medo, culpa ou censura. Vamos examinar com mais atenção algumas reações possíveis.
  • Você pode negar que algo esteja errado.
  • Você pode se sentir confuso.
  • Você pode se sentir desamparado.
  • Você pode se sentir com medo.
  • Você pode se sentir ameaçado.
  • Você pode reagir com culpa. 
  • Você pode sentir vergonha. 
  • Você pode se tornar crítico.
  • Você pode encontrar alguém ou alguma coisa em que pôr a culpa.
  • Você pode rejeitar a pessoa e o processo em si. 
O que a família e os amigos podem fazer para ajudar?
  • Conscientize-se de suas motivações para apoiar alguém.
  • Deixe que o processo de transformação se desenrole e disponha-se a apoiá-lo com confiança e paciência. 
  • Seja honesto com a outra pessoa e consigo mesmo.
  • Pare de criticar. 
  • Proporcionar a constante renovação de segurança. 
  • Use a intuição. 
  • Evite mensagens inadequadas.
  • Torne-se aberto, receptivo e disposto a ouvir. 
  • Esteja disposto a oferecer conforto físico.
  • Seja alegre e flexível.
  • Tenha auxiliares masculinos e femininos à mão, se possível.
O que a família e os amigos podem fazer por eles mesmos?
  • Eduque-se sobre o que é a crise iniciática, como difere da doença mental.
  • Consiga apoio dos outros que compreendem esse processo.
  • Determine o grau em que você está disposto a participar e é capaz de fazê-lo na crise de transformação da pessoa que você ama. 
  • Abandone a ideia de que você tem o poder de estabilizar ou de controlar a situação. 
  • Use a situação para trabalhar em você mesmo. 
  • Procure atividades que proporcionem resistência, inspiração e crença. 
  • Seja gentil consigo mesmo e suas necessidades.
(Cada um destes tópicos é muito bem abordado no livro abaixo citado)

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser

Alguns comportamentos de alguém em crise iniciática - parte 2


Às vezes a pessoa em processo de transformação usa sua família ou suas amizades como símbolos das restrições que estão se liberando. Ela confunde o libertar a si mesma das limitações internas com o verdadeiro afastamento da família. Está insatisfeita com os modos de ser que não são mais compatíveis com sua nova visão de mundo e atribui seu descontentamento às pessoas mais próximas e caras em sua vida. 

Esse tipo de comportamento pode se manifestar principalmente durante a fase de emergência espiritual em que a pessoa enfrenta questões de isolamento. Aqui ela descobre que sua dor e restrição à vida têm a ver com o grau em que está aderindo emocionalmente aos papéis, relacionamentos e posses materiais. Para ficar livre do sofrimento, essas ligações devem ser rompidas. É importante saber que isso não significa necessariamente que ela precisa se afastar fisicamente das suas ligações. O processo de desligamento pode ser concluído internamente, através da meditação ou de outros métodos experimentais, sem prejudicar o mundo externo. 

É comum, porém, interpretar essa realização como uma indicação sobre como alguém deveria se comportar na vida. Quem sente impulsos constantes para a liberação de antigas ligações pode não ter a ideia de que isso deva ser feito interiormente. A pessoa pode sentir que seu único caminho para acompanhar esse forte estímulo interior é abandonar os pais, os filhos, o marido ou a mulher, os amigos, o emprego ou o lar. As pessoas nessa fase podem se desfazer de dinheiro ou posses e tentar viver um estilo de vida espartano.

(...) Em geral, durante um período de abertura psíquica, as pessoas podem se tornar extremamente intuitivas quando se relacionam com outras próximas a elas. Podem, repentinamente, retratar sonhos clarividentes e ideias, ou demonstrar um conhecimento intuitivo desordenado dos problemas da vida de outras pessoas. Os parentes ou amigos que não têm conhecimento prévio desses fenômenos podem se sentir muito confusos se uma pessoa querida traz certos segredos para discussão ou conta-lhes precisamente, de antemão, o que lhes acontecerá. Alguém que seja muito aberto pode demonstrar intuitivamente uma compreensão perspicaz dos sentimentos, características da personalidade e padrões de interação demonstrados pelos membros da família e pelos amigos. 

As pessoas em processo de transformação podem se sentir guiadas por coincidências significativas (sincronicidades) que envolvem os que lhes estão próximos. De repente, eles vêem essas ligações em todo lugar e podem descobrir que algumas delas se cruzam com as vidas das pessoas que estão à sua volta. Algumas se entusiasmam com as sincronicidades, atribuindo-lhes uma importância tremenda e se beneficiando da sua orientação. Outras se sentem assustadas com elas, temendo que seu mundo bem estruturado de causa e efeito esteja em perigo.

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser.

Alguns comportamentos de alguém em crise iniciática - parte 1

Como resultado de novas descobertas e conscientizações, uma pessoa em processo de transformação em geral muda seus hábitos diários ou a aparência exterior. Por exemplo: uma pessoa que é conhecida como alguém que acorda tarde, pode, de repente, começa a ajustar o despertador para uma hora mais cedo, a fim de acordar para a prática da meditação ou da oração. Em outros caos, as pessoas que sempre se vestiram distintamente com roupas bem conservadoras de repente adotar novos hábitos, trocando camisas abotoadas ou ternos de linho por jeans e roupas escolhidas por acaso, como expressão da sua nova liberdade interior. Em casos extremos, podem começar a usar trajes espirituais e raspar a cabeça ou adotar um estilo de cabelo diferente. 

As pessoas que descobrem que tudo na vida está interligado podem desenvolver uma nova consciência ecológica. Podem, impulsivamente, dar a caminhonete da família como parte de pagamento de um veículo mais econômico ou ter um súbito interesse em reciclar lixo doméstico. Antigos apreciadores de carne com bata podem se tornar vegetarianos e tentar impor seu novo regime alimentar aos outros, censurando os que permanecem fiéis aos modos tradicionais. Muitas outras formas de novos comportamentos são mais sutis, mesmo assim, são perceptíveis para as pessoas a quem afetam. 

Uma pessoa expansiva e sociável pode se tornar introspectiva de uma hora para outra, afastando-se das atividades sociais ou agindo de um modo anti-social. Pode passar dias sozinha, lendo,meditando ou fazendo longas caminhadas. As reações emocionais dessa pessoa podem flutuar de um extremo ao outro sem uma razão aparente. 

Em certo dia, o marido de alguém parece muito pacífico e receptivo; no dia seguinte, está extremamente agitado e com raiva. Pode falar muito sobre seus medos ou pode se isolar e ficar completamente calado ou deprimido. 

Às vezes, as pessoas ficam tão intrigadas com suas novas experiências e descobertas que rejeitam a sociedade rotineira como mundana e vulgar. Podem querer passar o tempo envolvidas em atividades que lhes permitirão sair da realidade diária. Suas visões pitorescas e descobertas cósmicas podem parecer fascinantes e exóticas comparadas com as atividades mundanas conhecidas, e podem sentir, por um tempo, que essas novas áreas merecem sua atenção exclusiva. Esta é, em geral, uma fase passageira, uma digressão bem conhecida no caminho espiritual, que irá passar por si mesma ou será removida com ajuda de um guia compreensivo. 

Quando as pessoas entram num processo de transformação, seus interesses geralmente mudam e podem querer discutir suas novas descobertas e ideias com os outros, que não compartilham de suas preocupações. Em geral, são conceitos ou crenças que repercutem em suas experiências, às vezes explicando ou dando validade ao que antes parecia ser um evento misterioso. Naturalmente porque essas ideias são tão significativas para as pessoas que estão passando pela emergência, elas supõem que os que estão próximos também acharão isso benéfico. 

Essas pessoas descobrem livros que pensam ser tão importantes que se sentem impelidas a difundir suas idéias, tornando-se às vezes, messiânicas. Os parentes e amigos, confusos, de repente recebem vários volumes não solicitados, como presentes, acompanhados por notas urgentes instruindo-os para ler e assimilar sua sabedoria. Essas mesmas pessoas podem ser subitamente convidadas para assistir a palestras realizadas por um mestre ou guru, sobre temas que parecem peculiares e às vezes assustadores a seus sistemas de crença bem estabelecidos. As conversas podem, de repente, tornar-se desagradáveis, à medida que o membro entusiasta da família direciona o assunto em questão para longe dos temas familiares, como as notícias do dia sobre as questões de importância cósmica e universal. 

As pessoas do convívio desse indivíduo já podem ter visões de mundo que funcionam para elas, podem estar contentes por ficarem onde estão ou se sentirem assustadas por algo novo. Talvez rejeitem as sugestões entusiásticas do outro. A pessoa querida pode aceitar facilmente que o que é certo para ela pode não ser adequado para os outros, e prosseguir calmamente ao longo do caminho. Mas os que já se sentem solitários em suas experiências, ou têm problemas com questões de rejeição, podem tomar sua carência de interesses familiar como uma afirmação sobre elas. Como resultado, tornam-se críticos para com aqueles que não se têm demonstrado nem interessados nem capazes de acompanhá-los em sua nova jornada, sentindo que têm demonstrado a luz da verdade e que os outros ainda estão nas trevas. 

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser

Relato de uma abençoada crise iniciática

(…) Há mais de dezessete anos, vivi silenciosamente, por cerca de dois meses, um intenso inverno emocional, a dor indescritível da depressão. A tentativa desesperadora de superar esse intenso inverno emocional me estimulou a me interiorizar.

O humor deprimido, a ansiedade, a perda de energia biopsíquica, a insônia, a perda do sentido existencial, os pensamentos de conteúdo negativo, os pensamentos antecipatórios, associados a outros sintomas tornaram-se o cenário da minha depressão. Não vou entrar em detalhes sobre este período existencial nem sobre as causas da minha depressão, pois não é esse o objetivo. Porém, quero dizer que minha crise depressiva se tornou uma das mais belas e importantes ferramentas para me interiorizar e me estimular a procurar as origens dos meus pensamentos de conteúdo negativo e as origens da transformação da minha energia emocional depressiva.

Em síntese, a dor da depressão, que considero o último estágio da dor humana, me conduziu a ser um pensador da Psicologia e da Filosofia. Ela me levou não apenas a repensar minha trajetória existencial e expandir a minha maneira de ver a vida e reagir ao mundo, mas também me estimulou a iniciar uma pesquisa sobre o funcionamento da mente, a natureza dos pensamentos e os processos de construção da inteligência. O processo de interiorização foi uma tentativa desesperadora de tentar me explicar e de superar minha miséria emocional.

Para muitos, a dor é um fator de destruição; para outros, ela destila sabedoria, é um fator de crescimento. Ninguém que deseja conquistar maturidade em sua inteligência, adquirir sabedoria intelectual e tornar-se um pensador e um poeta da existência pode se furtar de usar suas dores, perdas e frustrações que, às vezes, são imprevisíveis e inevitáveis, como alicerces de crescimento humano.

Procurei, apesar de todas as minhas limitações, investigar, analisar e criticar empiricamente os fundamentos dos postulados biológicos da depressão, a psicodinâmica da construção dos pensamentos de conteúdo negativo, os processos da transformação da energia emocional depressiva etc. Esse caminho, no começo, foi um salto no escuro da minha mente, um mergulho no caos intelectual, que desmoronou os conceitos e paradigmas de vida. Esse mergulho interior me ajudou a reorganizar o caos emocional, a dor da minha alma. Contudo, no início, me envolvi mais num caldeirão de dúvidas do que de soluções. Porém, foi um bom começo.

O caos emocional da depressão, se bem trabalhado, não é um fim em si mesmo, mas um precioso estágio em que se expandem os horizontes da vida. Eu nunca havia percebido que, embora produzisse muitas ideias, conhecia muito pouco o mundo das ideias, a construção dos pensamentos e o processo de transformação da energia emocional.

Muitos psiquiatras não têm ideia da dramaticidade da dor da depressão e das dificuldades de gerenciamento dos pensamentos negativos que a promovem. Entretanto, o eu pode administrá-los e, consequentemente, resolvê-la. Costumo dizer que se o eu der as costas para a depressão e para os mecanismos subjacentes que a envolvem, ela se torna um monstro insuperável, mas se a enfrentarmos com crítica e inteligência, ela se torna uma doença fácil de ser superada.

Meu inverno emocional gerou uma bela primavera de vida, pois estimulou-me a sair da superfície intelectual, da condição de ser um passante existencial, de alguém que passa pela vida e não cria raízes dentro de si mesmo, para alguém que conseguiu se encantar com o espetáculo da construção de pensamentos.

Não há gigantes no território da emoção. Todos passamos por períodos dolorosos. Ninguém consegue controlar todas as variáveis dentro e fora de si. Por isso, a vida humana é sinuosa, turbulenta e bela. A sabedoria de um homem não está em não errar, chorar, se angustiar e se fragilizar, mas em usar seu sofrimento como alicerce de sua maturidade.

Augusto Cury – Inteligência Multifocal

Convivendo com alguém em crise iniciática


Conviver com alguém que está passando por uma emergência espiritual geralmente exige muito de qualquer um que esteja envolvido. Os que são íntimos dessa pessoa, como também ela própria, gastam muito tempo e energia nas mudanças que estão sendo feitas em suas vidas, e os amigos e família estão sempre se confrontando com suas emoções e limitações. Relacionamentos aparentemente normais e estáveis ficam ameaçados pelas modificações abruptas nos interesses e no comportamento da pessoa que, em geral, exige um ajustamento mal-aceito por parte dos outros. 

Do mesmo modo que a intensidade do processo de transformação varia amplamente, assim também acontece com seus efeitos sobre as pessoas que estão à volta de quem está passando por isso. As pessoas que são íntimas de alguém que está comprometido com uma transformação amena podem até não notar as mudanças sutis quando estas ocorrem, e talvez possam compartilhar naturalmente a pessoa em territórios novos e interessantes. Apenas avaliando o passado, elas percebem que seus critérios, valores e o tipo de relacionamento consigo mesmos e com o mundo evoluiu e que o processo de crescimento que fomentou essas mudanças teve uma progressão compreensível. 

No entanto, se a emergência for mais evidente e, especialmente, se ocupar a atenção de todos diariamente, pode ser desafiador para os membros da família e para os amigos testemunhar e participar disso. E quando a crise de transformação começa a se tornar uma emergência espiritual, o desgaste dos que estão ligados emocionalmente à pessoa pode ser, de fato, muito grande. 

Contudo, por causa da natureza delicada da situação e das interações envolvidas, as pessoas não costumam manter uma atitude positiva de aceitação e tendem a reagir com emoções que variam do medo, da desesperança e da confusão à negação e à rejeição. 

(...) Um cenário que tem aparecido muitas vezes: um membro da família ou um amigo muda abruptamente seu comportamento e seus interesses e começa a proceder de formas inusitadas. Se expressas novas necessidades individuais, e não tem mais as expectativas habituais, as pessoas próximas podem podem se sentir preocupadas, desamparadas, frustradas, censuradas ou rejeitadas. 

Stanislav Grof em, A Tempestuosa Busca do Ser

Uma crise que ultrapassa todo entendimento familiar


sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

A família é absolutamente contra o espírito rebelde

A família é a causa raiz de todas as neuroses. Nós temos que entender a estrutura psicológica da família, o que ela causa à consciência humana.

A primeira coisa é: ela condiciona a criança a certa ideologia religiosa, a um dogma político, a alguma filosofia, a alguma teologia. E a criança é tão inocente, tão receptiva, tão vulnerável que ela pode ser explorada. Ela ainda não pode dizer não, e mesmo que soubesse dizer não, não diria porque ela é muito dependente de sua família, absolutamente dependente. Ela é tão desamparada que tem que concordar com a família, com qualquer tipo de insensatez que a família queira que ela concorde. A família não ajuda a criança a perguntar; dá-lhe crenças e crenças são venenosas. Uma vez que a criança se torna sobrecarregada de crenças, suas perguntas se tornam enfraquecidas, paralisadas, suas asas são cortadas. Quando ela se tornar capaz de perguntar ela estará tão condicionada que se moverá a cada investigação com um certo preconceito – e com preconceito sua investigação não será autêntica. Você já está carregando uma conclusão a priori; está simplesmente buscando provas para apoiar sua conclusão inconsciente. Você se torna incapaz de descobrir a verdade.

Por isso existem tão poucos buddhas no mundo: a causa raiz é a família. Toda criança nasce um buddha, vem com o potencial para alcançar a suprema consciência, para descobrir a verdade, para viver uma vida de benção. Mas a família destrói todas essas dimensões; faz dela um ser totalmente plano.

Cada criança vem com uma tremenda inteligência, mas a família a faz medíocre, porque viver com uma criança inteligente é problemático. Ela duvida, ela é cética, ela pergunta, ela é desobediente, ela é rebelde. E a família quer alguém que seja obediente, pronto para seguir, imitar. Por isso desde o início a semente da inteligência tem que ser destruída, quase que completamente exterminada, para que não haja nenhuma possibilidade de algum broto florescer dela.

É por milagre que poucas pessoas como Zarathustra, Jesús, Lao-Tzu, Buddha, escaparam da estrutura social, do condicionamento familiar. Eles parecem ser grandes picos de consciência, mas de fato cada criança nasce com a mesma qualidade, com o mesmo potencial.

Noventa e nove ponto nove por cento das pessoas podem se tornar buddhas — apenas a família tem que desaparecer. Senão haverão cristãos, maometanos, hindus, jainas budistas, mas não Buddhas, não Maomés, não Mahaviras, isto não será possível. Maomé se rebelou contra suas bases e Jesus se rebelou contra suas bases. Estes são todos rebeldes – e a família é absolutamente contra o espírito rebelde.

A humanidade está passando por uma fase muito crítica. Tem que ser decidido se nós queremos viver de acordo com o passado ou se nós queremos viver um novo estilo de vida. Chega! Nós tentamos o passado e seus padrões e todos eles falharam. Já é tempo, amadurecido, de sair fora das garras do passado e criar um novo estilo de vida na terra. Para mim, um estilo alternativo é a comunidade – é o melhor.

OSHO - Filosofia Última

Indo muito além do entrave família

Quando quer que aconteça uma pessoa religiosa em uma família, a fricção começa, porque, para uma família, a pessoa religiosa é a pessoa mais perigosa. A família pode tolerar qualquer coisa, exceto a religião, porque uma vez que você se torne religioso, você não ficará identificado com o corpo. 

A família está relacionada ao corpo...

(...) Assim, a família é capaz de tolerar o fato de você ir a uma prostituta. Isso está bem, não há nada de errado — em vez disso, ao contrário, você está se identificando ainda mais com o corpo. Se você se torna um alcoólatra, se você é um bêbado, fica tudo bem, porque você está ficando cada vez mais e mais identificado com o corpo. Não há nada de errado nisso. Mas se você se torna um meditador... isso não é bom. Então, fica difícil porque você está sendo desarraigado. Então a família não mais tem poder sobre você; então, você não mais faz parte da família, porque você não mais faz parte deste mundo.

Assim, Jesus diz: "O pai estará contra o filho e o filho estará contra o pai"; e "Eu vim para romper, para dividir, para criar conflito e fricção".

Isso é verdade. Você pode venerar um buda, mas pergunte ao pai do buda — ele estará contra ele. Pergunte aos parentes do buda — eles estão contra ele, porque esse homem saiu fora do controle deles. Não somente isso: ele está também ajudando outros a irem além do controle da sociedade, da família.

A família é a unidade básica da sociedade. Quando você vai além da sociedade, você tem de ir além da família, mas isso não quer dizer que você deva odiá-la — esse não é o ponto —; nem que você deva ir contra ela — esse não é o ponto tampouco. Isso vai acontecer de qualquer jeito. Uma vez que você comece a encontrar a si mesmo, tudo que havia antes vai ficar corrompido, vai haver um caos. Então, o que você deve fazer? Eles vão puxá-lo de volta, eles tentarão trazê-lo de volta, eles farão todos os esforços para conseguir isso. O que fazer então?

Há dois caminhos: um é o velho modo de fugir deles, não lhes dando nenhuma oportunidade — mas eu penso que esse não é mais aplicável. O outro é ficar com eles, mas como um ator: não lhes dê a oportunidade de saber que você está indo para além deles. Ande! Deixe que essa seja a sua jornada interior, mas, exteriormente, preencha todas as formalidades: toque os pés de seu pai e de sua mãe e seja um bom ator.

Um saniássin deve ser um bom ator. Por ser um bom ator eu quero dizer que você não está relacionado absolutamente, mas você continua a preencher as formalidades. Lá no fundo você está desarraigado. E qual é a utilidade de se dar um sinal? — porque, então, eles começarão a tentar mudá-lo. Não lhes dê nenhuma chance. Deixe que isso seja uma jornada interior e, exteriormente, seja completamente formal. Eles ficarão felizes então, porque eles vivem em formalidades. Eles vivem do lado de fora, não precisam de sua devoção interna. Eles não precisam de seu amor interior — basta a amostragem.

(...) Fique onde quer que você esteja. Não crie nenhuma aparência externa mostrando que você está mudando e se tornando um religioso, porque isso pode criar problemas e você, exatamente agora, pode não estar bastante forte. Crie o conflito do lado de dentro, mas não o crie do lado de fora. O conflito interno é mais do que suficiente — ele lhe dará o crescimento, a maturidade necessária.

OSHO

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Sensações de solidão durante a emergência espiritual

Mirabai, um poeta indiano do século XV, escreveu:

Meus olhos se enchem de lágrimas.
O que devo fazer? Aonde devo ir?
Quem pode acabar com a minha dor?
Meu corpo foi picado
Pela cobra da "ausência"
E minha vida está se esvaindo a cada batida do coração.

A solidão é outro componente intrínseco da emergência espiritual. Pode variar desde uma vaga percepção de separação das outras pessoas e do mundo até um mergulho profundo e abrangente na alienação existencial. Alguns sentimentos de alienação interior têm relação com o fato de que as pessoas em emergência espiritual têm de encarar os estados incomuns de consciência que nunca ouviram ninguém descrever e que são diferentes das experiências diárias de seus amigos e de sua família. Porém, a solidão existencial parece ter muito pouco a ver com as influências pessoais ou exteriores.

Muitas pessoas em processo de transformação se sentem isoladas pela natureza das experiências que estão tendo. Como o mundo interior se torna mais ativo, pode-se experimentar a necessidade de afastar-se temporariamente das atividades diárias e preocupar-se com pensamentos profundos, com sentimentos e processos internos. O relacionamento com os outros pode ir perdendo a importância e a pessoa chega a se sentir desligada do que realmente é. Quando isso está acontecendo, a pessoa pode ter uma grande sensação de separação de si mesma, dos outros e do mundo que a cerca.

Para as pessoas nesse estado, até o calor humano e a segurança familiar são inacessíveis.

Um jovem professor fala sobre a solidão que viveu durante uma emergência espiritual: "Eu costumava me deitar na cama, ao lado de minha esposa, à noite, e me sentia completa e inegavelmente sozinho. Ela foi uma grande ajuda e um grande conforto para mim durante a minha crise. Mas, durante esse período, nada que ela fizesse poderia me ajudar — nenhum carinho, nenhum grau de encorajamento."

Sempre ouvimos pessoas em emergência espiritual dizerem: "Ninguém nunca passou por isso antes. Sou o único que já se sentiu desse jeito!" Essas pessoas não só sentem que o processo é único para elas, mas também estão convencidas de que ninguém na história jamais passou pelo que estão passando. Talvez porque se sintam tão especiais, acreditem também que determinado terapeuta ou professor confiável seja o único que possa conseguir compartilhar de seus sentimentos e ajudá-las. Suas fortes emoções e percepções estranhas as estão levando para tão longe de suas vivências anteriores que facilmente assumem o fato de serem anormais. Sentem que há algo de muito errado com elas e que ninguém seria capaz de compreendê-las. Se têm terapeutas que também sofrem de mistificação, suas sensações de total isolamento aumentam.

Mesmo que as pessoas nesse estado estejam conscientes da variedade de planos teóricos e sistemas espirituais que descrevem estados semelhantes, encontrarão diferença entre estudá-los e estar no meio deles. Isso é ilustrado pelo templo de Sarah, uma estudante de Antropologia.

As anotações de aula de Sarah estavam cheias de descrições da vida e do ritual xamânico indígena no México central. Quando mais tarde encontrou elementos xamânicos nítidos e reais como parte da sua emergência espiritual, não conseguiu fazer a ligação entre seus estudos e suas experiências até algum tempo depois. Na classe, seu relacionamento com o assunto em questão fora estritamente intelectual; ela supunha que o comportamento e as percepções dos índios não tinham relevância para ela. Seus estados de transformação foram tão imediatos e abrangentes que foi incapaz de reconhecê-los em sua abordagem exclusivamente erudita.

Durante a crise existencial, a pessoa se sente separada do seu eu mais profundo, do mais alto poder ou de Deus — o que quer que seja de que ele dependa além de recursos pessoais para ter forças e inspiração. O resultado é o mais devastador tipo de solidão, uma total e completa alienação existencial que penetra todo o ser. Isso foi revelado por uma mulher depois de sua emergência espiritual: "Eu estava envolvida por uma solidão enorme e permanente. Eu sentia como se cada célula minha estivesse num estado de extrema solidão. Sonhava estar num rochedo com muito vento, olhando para o céu negro e ansiando por entrar em contato com Deus; e eu só encontrava mais escuridão. Era mais do que o abandono humano; era um abandono total."

Essa profunda sensação de isolamento parece ser acessível a muitos seres humanos, independentemente de sua história e é, quase sempre, um ingrediente fundamental na transformação espiritual. Irina Tweedy, uma mulher russa que estudou com um mestre sufi na índia, escreveu em The Chasm of Fire:

A Grande Separação está aqui... uma sensação especial e estranha de solidão absoluta... não pode ser comparada a nenhum sentimento de solidão pelo qual todos tenhamos passado alguma vez na vida. Tudo parece escuro e inanimado. Não há nenhum propósito em lugar algum ou em coisa alguma. Nenhum Deus para quem rezar, nenhuma esperança. Nada, de modo algum.

Essa sensação de extremo isolamento é refletida na desolada prece de Jesus na cruz: "Meu Deus, meu Deus. Por que me abandonaste?" As pessoas que estão assim perdidas freqüentemente citam o exemplo do momento mais sombrio de Cristo, na tentativa de explicar a proporção desse sentimento monumental. Podem não encontrar nenhuma ligação com o Divino; ao contrário, têm uma sensação permanente e angustiosa de que foram abandonadas por Deus. Mesmo quando a pessoa é cercada de amor e apoio, pode imbuir-se de uma solidão profunda e dolorosa. Quando desce ao abismo da alienação existencial, nenhum calor humano pode mudar isso.

As pessoas às voltas com uma crise existencial não se sentem apenas isoladas, mas também insignificantes, como pontinhos inúteis na vastidão do cosmos. O universo parece ser absurdo e sem sentido, e nenhuma atividade humana aparenta ter importância. Essas pessoas podem ver a humanidade como que sendo envolvida por um estilo de vida em que "um quer engolir o outro", sem um objetivo que valha a pena. Por esse ângulo, não podem entender nenhum tipo de ordem cósmica e não têm contato com a força espiritual. Chegam a tornar-se extremamente depressivas, desesperadas e até suicidas. Freqüentemente, percebem que mesmo o suicídio não é a solução; parece que não há nenhuma saída para o seu sofrimento.

Comportamento isolado

Uma pessoa em emergência espiritual pode parecer "diferente" por uns tempos. Numa cultura de padrões estabelecidos e freqüentes expectativas rigorosas, alguém que comece a mudar internamente pode não parecer ajustado. Talvez um dia suba na mesa de trabalho ou na mesa de jantar e queira falar sobre novas idéias ou descobertas como, por exemplo, sentimentos sobre a morte, questões a respeito do nascimento, lembranças da velha e obscura história da família, perspectivas incomuns para os problemas mundiais ou sobre a natureza básica do universo.

A estranha qualidade desses conceitos e a intensidade com que uma pessoa os apresenta pode induzir colegas, amigos e membros da família a se afastarem, e a sensação de solidão, já presente, aumenta. Seus interesses e valores podem mudar, e a pessoa talvez não queira mais participar de certas atividades. Beber com os amigos ao entardecer não é mais tão interessante quanto costumava ser; pode parecer até repugnante.

As pessoas nessa situação podem sentir-se muito diferentes por causa da natureza das experiências que estão vivendo. Elas percebem que estão crescendo e mudando — enquanto o resto do mundo continua parado — e que ninguém pode segui-las. Podem ser induzidas a atividades que as pessoas do seu convívio não entendam ou não apoiem. Seu súbito interesse por orar, cantar, meditar ou por qualquer sistema esotérico, tais como a Astrologia ou a Alquimia, parecerá estranho para a família e para os amigos, podendo aumentar sua necessidade de afastamento.

Se uma pessoa nesse estágio é classificada como um paciente psiquiátrico, os rótulos e tratamentos que lhe são dados combinarão com sua sensação de isolamento. Os sentimentos de separação são reforçados cada vez que lhe é passada a mensagem verbal ou não verbal: "Você está doente. Você é diferente."

As pessoas em processo de transformação podem mudar também sua aparência. Elas cortam ou deixam crescer os cabelos ou são atraídas por roupas que refletem um desvio do padrão. Os exemplos são encontrados na cultura psicodélica dos anos 60 e 70, quando muitas pessoas tiveram revelações espirituais e, em vez de expressá-las de modos aceitáveis pela sociedade, sentiram-se impulsionadas a transferi-las, formando uma cultura à parte ou "do contra", caracterizada pelas roupas expressivas, jóias, corte de cabelo e até mesmo carros pintados com cores brilhantes.

Outros exemplos podem ser encontrados em vários grupos espirituais. Pode-se esperar que os iniciados no zen-budismo raspem suas cabeças e tenham uma vida de simplicidade exterior. Os seguidores do guru Osho não só se vestiam com roupas de uma certa cor como também usavam uma mala, ou rosário, contendo uma imagem do mestre, e mudavam seus nomes para nomes indianos. Como parte do judaísmo ortodoxo, os homens apresentam freqüentemente yarmulkes e barbas, seguindo um severo estilo de vida religioso. Uma comunidade que acolhe pessoas que são praticantes espirituais tolerará ou até encorajará esse tipo de comportamento. No entanto, alguém que decida de repente adotar esses comportamentos que saltam aos olhos enquanto estiver vivendo fora de uma situação de apoio pode passar por um isolamento ainda maior.

Para muitas pessoas em emergência espiritual a transformação acontece sem esses tipos de manifestações de alienação exterior. Em outras palavras, porém, mais mudanças aparentes ocorrem na conduta. Para alguns, esses novos modos de comportamento são fases passageiras do desenvolvimento espiritual, enquanto que, para outros, podem tornar-se parte permanente de um novo estilo de vida.

Christina Grof e Stanislav Grof - A tempestuosa busca do ser

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill