Por que você não quer olhar para si mesmo? O que lhe aconteceu? A menos que você esteja pronto para se defrontar consigo mesmo, você não pode se tornar um discípulo, porque um mestre não pode fazer nada se você não estiver pronto para se defrontar consigo mesmo. Ele somente pode ajudá-lo a encarar a si mesmo.
(...) Você se torna um discípulo no dia em que se esquece do que é bem e do que é mau; do que é aceito e do que não é aceito. Você somente se torna um discípulo no dia em que estiver pronto para expor todo o seu ser a si mesmo.
O mestre é apenas uma parteira. Ele o ajuda a passar por um novo nascimento, o ajuda a renascer. E o que é o relacionamento entre o mestre e o discípulo? Um discípulo tem de confiar; ele não pode duvidar. Se ele duvidar, ele não poderá se expor. Quando você duvida de alguém, você se encolhe; você não consegue se expandir. Quando duvida... Surge um estranho, então, você se fecha — você não pode ficar aberto, porque você não sabe o que aquele estranho vai fazer com você. Você não pode ficar vulnerável diante dele; você tem de se proteger, tem de criar uma armadura.
Com um mestre, é preciso abandonar a armadura completamente — esse tanto é imperativo. Até mesmo com um amante, você pode levar sua armadura um pouquinho — diante de um amado, você pode ficar não tão aberto. Mas, com um mestre, a abertura tem de ser total — caso contrário, nada acontecerá. Mesmo que você oculte apenas uma pequena parte de si, o relacionamento não existirá. A confiança total é necessária. Só então os segredos podem ser revelados; só então as chaves podem ser-lhe ofertadas. Mas, se você está se escondendo, isso significa que você está lutando contra o mestre. E, nesse caso, nada pode ser feito.
Com o mestre, a luta não é a chave, a entrega é a chave. Mas a entrega desapareceu do mundo completamente. Muitas coisas contribuíram para isso.
Por três ou quatro séculos, ensinaram o homem a ser individualista, egoísta; ensinaram o homem a não se entregar, mas a lutar; a não obedecer, mas a rebelar-se; o homem foi ensinado a não confiar, mas a duvidar.
Houve razões para isso. É porque a ciência cresce através da dúvida. A ciência é profundo ceticismo. Ela funciona não através da confiança: ela funciona através da lógica, do argumento, da dúvida. Quanto mais você duvida, mais científico você se torna. A ciência operou milagres e esses milagres são bem visíveis. A religião operou milagres maiores, mas esses milagres não são visíveis. Até mesmo quando um Buda está presente, o que você pode sentir? O que você pode ver? Ele não é visível — visivelmente, ele é só um corpo. Visivelmente, ele é tão normal quanto você; visivelmente, ele ficará velho e morrerá um dia. Invisivelmente, ele é imortal. Mas você não tem olhos para ver aquilo que é invisível, você não tem capacidade para sentir o mais profundo, o desconhecido. Eis porque somente olhos confiantes, pouco a pouco, começam a sentir e tornam-se sensíveis. Quando você confia, isso significa fechar estes dois olhos. Eis porque a confiança é cega, exatamente como o amor é cego — mas a confiança é até mais cega do que o amor.
Quando você fecha estes dois olhos, o que acontece? Uma transformação interna acontece. Quando você fecha estes olhos que olham para fora, o que acontece com a energia que passa pelos olhos? Essa energia começa a amover-se para dentro. Ela não pode fluir dos olhos para os objetos; então, ela começa a voltar, ela vira um retorno. A energia tem de se mover, a energia não pode ficar estática — se você fecha uma saída, ela começa a descobrir uma outra. Quando os dois olhos estão fechados, a energia que estava se movendo através desses dois olhos, começa a retornar — há uma conversão. E essa energia alcança o terceiro olho. O terceiro olho não é uma coisa física: ele é exatamente aquela energia, que se move através dos olhos em direção aos objetos exteriores, agora retornando em direção à fonte. Essa energia se torna o terceiro olho, a terceira forma de se ver o mundo. Somente através desse terceiro olho um Buda é visto; somente através desse terceiro olho um Jesus é percebido. Se você não tem esse terceiro olho, Jesus estará presente, mas você não o verá... — muitos o perderam.
OSHO
OSHO