Se você se sente grato por este conteúdo e quiser materializar essa gratidão, em vista de manter a continuidade do mesmo, apoie-nos: https://apoia.se/outsider - informações: outsider44@outlook.com - Visite> Blog: https://observacaopassiva.blogspot.com

terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Reflexões sobre o suicídio

Oi Out,
Quero contribuir para as suas reflexões a respeito da confusão entre desordem mental e emergência espiritual, em especial quanto ao ato suicida.
Há algum tempo fiquei sabendo de um antropólogo, desses que vão viver numa aldeia indígena durante muitos anos, que estava acontecendo uma epidemia de suicídios entre crianças indígenas, que se enforcavam da própria altura por flexão das pernas. Agora, ao investigar se isto ainda ocorre, descobri que os índios recorrem mais frequentemente ao suicídio do que o resto dos brasileiros. A população indígena do Alto Solimões tem, proporcionalmente, o segundo maior índice de suicídio por habitante do mundo (perde somente para a Groenlândia). A explicação técnica mais frequente é o despertencimento. Ao que parece, a personalidade desencaixada de uma cultura, ou suspensa entre estágios culturais distintos, cobra um alto preço, às vezes impagável, de adequação.

[Aqui um link interessante da TV ONU.] https://www.youtube.com/watch?v=ngUZ6_6xVXA#t=549

Consta que 1 milhão de pessoas se suicida anualmente, numa proporção de 3 homens para cada mulher. É a décima causa de morte no mundo. As tentativas de suicídio são estimadas em 10 milhões anuais. Os países com as maiores taxas (depois da Groenlândia) são Lituânia, Coreia do Sul (onde o suicídio é a causa principal de morte em pessoas abaixo dos 40 anos!), a Guiana, o Cazaquistão e a Bielorússia. E por aí vai.

Fui atrás destes dados para tentar compreender algum desenho, algo que pudesse explicar este fato. Como era de se esperar, falhei. O suicídio é um acontecimento complexo, impossível de ser explicado por uma causa única. Recuso-me a especular, tanto no geral quanto no particular, como um ato destes pode ser engendrado. (O mundo não precisa de mais alguém adivinhando a realidade e contribuindo para o falso.)

Alguns exemplos. O suicídio é sacrificial na cultura japonesa (país que ocupa o nono lugar no ranking). O mesmo vale para os jihadistas islâmicos (o homem-bomba vai direto ao paraíso). Nestes casos, portanto, o suicídio é socialmente honroso. Ao contrário, ele é execrado na cultura judaica (a alma sofrerá danação eterna, o corpo não terá direito a enterro em campo santo). A Igreja Católica renega o suicídio, mas nunca conseguiu decidir se a morte pelo martírio voluntário deve ser considerado um suicídio ou não.

Imagina-se que o suicídio seja tão antigo quanto a humanidade (há evidências de auto-mutilação no homem pré-histórico). Mas não é possível saber se uma pessoa morreu por seus próprios meios ou de outra forma.

Fora isso, sabe-se que outras espécies animais o praticam (tem uma formiga no Brasil que é muito estudada por isso). Mas o suicídio é definido como um ato da vontade e esta é uma propriedade profundamente humana. Assim, os atos de morte autógena entre animais têm sido entendidos como um processo natural, apesar de sua obscuridade.

Quanto ao uso do paradigma para a compreensão deste fenômeno, quero convidar você a refletir sobre isto: nem sempre o que é verdadeiro, é certo. A verdade e o bem não caminham atrelados. Infelizmente. Tantos gênios, santos, profetas conheceram e propagaram a verdade, perceberam o ilusório e denunciaram o falso. Ainda assim o mundo evoluiu por seus próprios descaminhos, sem jamais erradicar a dor, a ignorância, a desorientação. Sócrates, Jesus, Buda, Lao Tse, Maomé, só pra citar alguns dos que compreenderam profundamente a verdadeira raiz do sofrimento e do mal. Todos falharam. Nenhum deles foi capaz de alavancar uma sociedade fraterna e desconstruir o ego em larga escala. Não foram eficientes para aprimorar o convívio interpessoal, reduzir conflitos e guerras. A partir de suas revelações, seus sucessores contribuíram para piorar ainda mais o quadro.

Pessoalmente, acho isso tudo compreensível. Pois nem K, nem Bagwan, nem São João da Cruz ou Nietzsche, nem Grof nem Wilber jamais poderão conduzir um único indivíduo para fora de sua própria miséria. Pois o gatilho para qualquer possibilidade de despertar sempre ocorrerá na própria experiência pessoal, na medida do indivíduo, venha a iluminação na forma que vier, quer seja sofrimento ou êxtase, depressão ou ânsia, estagnação ou busca. Danação ou graça. Doença mental ou salvação. Ou tudo junto. Ao mesmo tempo ou em fases alternadas.

Termino com uma citação clássica, só pra provocar:

"Nossas maiores bênçãos vêm a nós através da loucura, desde que a loucura seja inculcada por uma dádiva divina." Platão em Fedro.

Abraço e grato por seu trabalho
Helio Biesemeyer

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...
"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill