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Cena do filme: "A Travessia" |
O sofrimento, por is só, não instrui o homem nem o conduz à reforma do caráter. O seu trabalho precisa ser complementado e completado, tanto pelo esclarecimento vindo de dentro, quanto pela esclarecimento vindo de fora. No primeiro caso, a qualidade do pensamento e da intuição que ele traz para o sofrimento contribui para os seus efeitos educativos. No segundo, a qualidade do ensinamento espiritual a que se entrega têm o mesmo resultado. A sua própria reflexão sobre isso, ou sobre as lições de outros homens a esse respeito coloca em relevo as suas lições. Profetas inspirados, mestres, sábios, santos, filósofos e místicos surgiram entre nós em todos os séculos e uma parte da sua missão é precisamente tornar claras essas lições. Os homens não se interessam por prestar-lhes atenção simplesmente porque não estabelecem conexão entre o pronunciamento impessoal delas e as suas próprias vidas pessoais. É, porém, dever e responsabilidade deles, e não do mestre, estabelecer a conexão. As falhas da sua interpretação inconsciente do significado da vida terão de ser-lhes indicadas por novos sucessos dolorosos, quando não se mostram inclinados a permitir que elas lhes sejam indicadas por mestres humanos.
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Cena do filme: "Matrix" |
[...] Compele ao sofredor formular a si mesmo a seguinte pergunta: "Por que me aconteceu isto?" Ao procurar a resposta satisfatória, ele desvelará, pouco a pouco, a intuição e desenvolverá a inteligência. O sofrimento passa, mas as faculdades permanecem. Toda a situação torna-se, assim, um estratagema para arrancá-las ao estado latente e desempenha uma parte importante na sua evolução geral. O sofrimento só será o seu mestre enquanto ele não se dispuser a aceitar o ensino externo dos profetas, dos videntes, dos sábios, assim como o ensino interno da reflexão correta e da intuição. Se não quiser atentar para nenhum desses divinos mestres, terá de atentar para as desagradáveis consequências das suas más ações ou das suas deficiências pessoais. Se não quiser emendar em si mesmo as faltas que produzem os desacertos intelectuais e as iniquidades éticas, se se recusar a aprender com a História e a Religião, com os dotados de visão interior ou inspirados por revelações, ou a lição de que a prática do mal não aproveita, ou a necessidade de desenvolver o que lhe falta e, se não for capaz de aprender de nenhum outro modo, a vida não terá outro recurso senão ensiná-lo por meio da angústia pessoal ou da vergonhosa humilhação.
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Cena do filme: "Poder Além da Vida" |
[...] A busca humana da felicidade, com muita frequência, é frustrada por alguma hedionda circunstância, condição, falha ou defeitos físicos. A entidade humana é levada, afinal, para o não físico, isto é, para a Religião, o Misticismo e a Filosofia. E assim chegamos ao imensurável valor delas para o homem (em grau ascendente) e às importantes consequências da sua concepção pessoal do mundo. Pois nós ganhamos do sofrer, como do viajar, em parte o que levamos a ele. A nossa falha conduta na vida é o resultado natural da nossa falha concepção da vida. Sem a direção do ensino espiritual, confundimos as nossas poucas oportunidades, desperdiçamos os nossos preciosos anos e malbaratamos as nossas limitadas energias. Mas quando principiamos a pautar a nossa conduta pelos seus princípios, começamos a dissolver as desarmonias pessoais. Uma compreensão espiritual da vida, que alcança a sua melhor forma na Filosofia, mitiga a dor e aligeira a luta da vida. Em horas de dificuldade ou de perigo, na agonia das emoções ou da carne, encontramos pequeno ou grande alívio deixando que a mente se apodere das grandes verdades e medite nelas com ardor. Mas em todos os momentos elas podem ser cogitadas com muito proveiro. O seu estudo empresta uma forma significativa ao fluxo das mudanças da vida que, de outro modo, não teriam sentido nem teriam propósito.
Paul Brunton
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