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quinta-feira, 19 de julho de 2018
Uma breve definição de Autossuficiência psíquica
“Somente pode ser chamado de integral, completo, e digno de receber o que lhe foi preparado desde o Alto aquele que mantiver indenes, imaculados, íntegros, por toda a vida a Mente e o Coração que foram confiados à sua guarda”.
Autossuficiência psíquica é a lúcida e amorosa qualidade daquele que possui a própria ciência do Sufi. Ter Autossuficiência psicológica é estar no mundo de relação, não se permitindo mais ser adulterado pela psicologia deste mundo de insensatos, pessoas que vivem somente para a realização de suas insignificantes ambições, cobiças, para a exaltação do orgulho intelectual, pessoas que são prisioneiras da cega obediência aos costumes, às arcaicas tradições ou ao respeitoso temor moralista legalístico às pessoas de posição mais elevada ou psicologicamente significativas.
No estado de Autossuficiência psíquica, perde-se a necessidade de opinar em questões alheias, assim como deixa-se de ser afetado pelas não solicitadas opiniões alheias. A vida adquire, de forma natural, uma qualidade de simplicidade voluntária, uma vez que não se é mais afetado pelo forte impulso emotivo reativo — produzido pela sagacidade publicitária —, a qual condiciona a mente insensata, ao consumo de coisas não essenciais, as quais por ela são tidas como essenciais. Na Autossuficiência psicológica, a atividade que é vista como sendo a mais importante, é a de manter sempre acesa a chama amorosa e abarcante da luz interior, a qual é totalmente desconhecida pelos insensatos que se mantêm prisioneiros do estafante e rotineiro corre-corre, destituído de real significação, visto que tais atividades insensatas, em nada contribuem para a suprema e libertária realização.
A Autossuficiência psíquica traz em si a qualidade de um desapegado estado de ser, no qual ocorre um espontâneo derrame de amor transpessoal. Onde não há a suprema qualidade de amor transpessoal, não existe a poética dimensão de Autossuficiência psíquica. Ela traz consigo a libertação da necessidade de filiação e de crescente hierarquia à qualquer tipo de tribalismo organizado, à seitas, dogmas, sistemas, programações e rituais, por mais que isto seja aclamado pela insensatez cultural.
A Autossuficiência psíquica proporciona um extraordinário estado de lucidez, de sensível percepção e de um conhecimento que não pode ser explicado em termos morais ou psicológicos ordinários. A Autossuficiência psíquica é um sopro contínuo de conhecimento místico, proveniente da visão intuitiva da dimensão do coração, a qual é infinitamente superior aos limites da lógica e da razão.
A Autossuficiência psíquica elimina os véus que ocultam a vivência religiosa, através da qual se realiza em nós, a percepção plena de nossa real e inalterável natureza; ela elimina a insensata sensação de separatividade e nos absorve na consciência da Unidade indiferenciada. Na prática, a Autossuficiência psíquica consiste no desenvolvimento harmônico das potencialidades, em sentimentos, percepções e revelações, ou insights pessoais que são alcançados através de uma série de passagens por estados de êxtase, resultantes da prática de uma passiva, sóbria e silenciosa observação não-reativa.
A Autossuficiência psíquica, em outras palavras, é o “Santo Grau” de Consciência Desperta, representado em vários contos transgeracionais. Sem a Autossuficiência psíquica, nos mantemos como seres adormecidos, inconscientes e submissos às condicionantes e alienantes forças da egregora sistêmica.
Bem-aventurados são aqueles que conseguem a explosiva e suprema realização do estado de Autossuficiência psíquica, o “Reino sem eu”, o qual é em si mesmo, Consciência Objetiva, Ser e Compreensão.
Que assim, aos sérios, seja!
quarta-feira, 18 de julho de 2018
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sexta-feira, 22 de junho de 2018
Filme: The Endless
Um filme sobre a influência da família, da memória, do medo, da insuficiência psicológica, da crença, da rotina e do tempo psicológico. Enquanto, com medo, não se acha a verdadeira ação libertária.
Sinopse: Dois irmãos, Justin e Aaron, foram criados num culto religioso do qual fugiram quando Justin percebeu a possibilidade da ocorrência de um suicídio em massa. Dez anos depois, eles, recebem uma mensagem em vídeo bastante enigmática. Nela, um membro do culto fala de uma ‘ascensão’ iminente e então resolvem regressar ao local aonde eram realizados os cultos em busca de respostas. Mas, ao chegarem, descobrem que o ‘culto’ pode afinal não ser o que pensavam e começam a duvidar, inclusive, se serão bem-vindos
Sinopse: Dois irmãos, Justin e Aaron, foram criados num culto religioso do qual fugiram quando Justin percebeu a possibilidade da ocorrência de um suicídio em massa. Dez anos depois, eles, recebem uma mensagem em vídeo bastante enigmática. Nela, um membro do culto fala de uma ‘ascensão’ iminente e então resolvem regressar ao local aonde eram realizados os cultos em busca de respostas. Mas, ao chegarem, descobrem que o ‘culto’ pode afinal não ser o que pensavam e começam a duvidar, inclusive, se serão bem-vindos
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domingo, 22 de abril de 2018
Onde mora o sofrimento, não há amor
Esta tarde, se me permitis, gostaria de falar sobre o tempo, o sofrimento e a morte. E um vasto campo a percorrer numa hora. E a comunicação é sempre difícil. A comunicação profunda requer uma certa intensidade — um encontro de duas mentes ao mesmo nível, ao mesmo tempo e com a mesma intensidade. De outro modo a comunhão não é possível. Intelectualmente ou verbalmente, pode-se concordar ou discordar, mas isso não é comunhão. Comunhão é um relacionamento extraordinariamente intenso. E essa intensidade no relacionamento entre as duas mentes deve existir ao mesmo tempo e ao mesmo nível; se assim não for, a comunhão torna-se meramente verbal, interpretativa, superficial. Falar da morte, do sofrimento e do tempo requer infinita paciência. Paciência não é aquilo que cultivamos para adquirir uma certa técnica ou formar um certo hábito. Para se investigar profundamente uma coisa, especialmente no campo psicológico, requer-se uma certa disposição da mente, para avançar passo a passo sem saltar para qualquer conclusão, em momento algum, sem nunca criar conceitos ou fórmulas, mas prosseguir apenas de observação em observação, de compreensão em compreensão, cada vez mais esclarecedoras. É neste sentido que estou a usar a palavra paciência. Isso precisa de um extraordinário estado da mente — não uma mente superficial, que concorda ou discorda, ou que compara o que está a ouvir com o que já leu ou ouviu; essa mente não está num estado de comunhão.
Temos que conversar esta tarde sobre uma coisa que requer extraordinária atenção — não concentração — uma atenção em que não há nenhuma exclusão, nem sequer daquele terrível barulho que se está a ouvir, uma atenção em que ele não pode interferir. Só nesse estado de atenção, podemos estar em perfeita comunhão para investigar algo que é extraordinariamente difícil.
Mas, para compreender qualquer coisa temos de experimentá-la diretamente, e não verbalmente. Na realidade, para experimentarmos uma coisa é preciso que vós e eu estejamos juntos, para termos uma só visão, um só ouvido, um só olhar, uma só voz, para compreender; de outro modo, vós e eu não estaremos no mesmo ponto, ao mesmo nível, com a mesma intensidade. Temos de compreender este problema do “tempo”. Porque, se o não compreendermos, não compreenderemos essa coisa extraordinária que se chama “morte”.
Com a palavra compreender não estou a referir-me a uma compreensão verbal, intelectual, fragmentária, ou a uma mente cheia de informação, que acumulou grande quantidade de conhecimentos e que compra, julga, avalia, em função daquilo que acumulou — essa mente não está num estado de compreensão; não está capaz de compreender. Aliás, compreender é outro extraordinário fenômeno da mente. Só compreendemos quando escutamos totalmente, completamente, com todo o nosso ser — com a mente, o coração, o corpo, os olhos, os nervos, inteiramente — só então compreendemos uma coisa por completo; nunca nos entregamos inteiramente à compreensão. Nunca nos damos completamente à coisa alguma.
Temos de dar-nos completamente a esta compreensão do tempo, do sofrimento e da morte. E não podemos dar-nos se não houver compreensão do medo e do tempo. A morte tem de ser um fenômeno muito extraordinário, tal como a vida. E para a compreendermos, para a examinarmos com o coração e não com as palavras, precisamos de uma mente penetrante, lúcida, que possa raciocinar logicamente, equilibradamente, com inteira confiança — não a confiança de quem vos está a falar, mas a vossa própria confiança. De outro modo, não poderemos fazer a viagem àquela terra desconhecida, e se não pudermos fazer essa viagem, não teremos vivido.
Assim, vamos falar sobre o tempo. Provavelmente, a maior parte de nós nunca pensou sobre ele ou, se o fez, pensou no que nos acontecerá amanhã ou daqui a dez anos. Provavelmente, não pensamos nele como um fator na vida. Com a palavra “tempo” refiro-me ao tempo psicológico e não ao tempo cronológico, que é indicado pelo relógio — ontem, hoje, amanhã, a próxima hora, e o que cada um irá fazer depois desta reunião. Provavelmente, pensamos nisso, porque fomos forçados a fazê-lo, mas não fomos mais além, para investigar, para descobrir, por nós mesmos, o extraordinário significado do tempo. Nunca levamos o tempo a uma crise.
Evitamo-lo sempre. Nunca pesquisamos com cuidado isso a que se chama passado, presente e futuro, essa continuidade de existência que é o passado, o presente e o futuro, com toda a confusão, a ansiedade, sentimentos de culpa, dores, alegrias e tudo o mais por que a mente passa, ao longo deste período de tempo chamado ontem, hoje e amanhã.
Se não compreendermos plenamente o significado do tempo, não seremos capazes de compreender o que é o sofrimento.
E onde há sofrimento, não há amor; e sem amor, nunca compreenderemos o que é a morte. Assim, tendes de fazer a viagem com este que vos está a falar — mas não verbalmente, porque isso é muito superficial e nada significa. Temos de fazer a viagem com a totalidade do nosso ser, sem nenhuma resistência ou concordância, dando-nos completamente a essa compreensão.
O tempo, para quase todos nós, é um movimento do passado, que se expressa no presente e condiciona o futuro. E o tempo é também um mecanismo gradual de realização. Servimo-nos do “tempo” para adiar; servimo-nos dele como meio de mudarmos “isto” para “aquilo”. Mas será possível não haver “tempo nenhum”?
O tempo só existe para o homem que pensa em termos de passado, o qual se projeta, através do presente, no futuro — as suas realizações pessoais, o seu cultivar da virtude e das suas capacidades, a sua aquisição de técnicas, etc. Tudo isto pertence ao nível da realização pessoal, do desenvolvimento e da acumulação. Assim, servimo-nos do tempo, e a mente que está enredada neste uso do tempo é incapaz de compreender isto — que provavelmente não existe tempo algum.
Consideremos um homem que tem estado num emprego trinta ou quarenta anos da sua vida — como cientista, engenheiro, físico, burocrata, etc. Como pode um homem, que só tem vivido para o emprego, durante este longo período de anos, compreender profundamente alguma coisa que não seja o emprego, a rotina? As suas células cerebrais estão exaustas, emperradas, distorcidas, gastas; não estão frescas, jovens, vibrantes, despertas, cheias de vitalidade. As suas reações são lentas. Tem sido, provavelmente, movido pela ambição, pela avidez, pelo desejo de posição, de poder e sempre a servir-se do tempo. O tempo fá-lo murchar, deteriora-lhe a mente. Essa mente — e geralmente as nossas mentes são assim — quando aborda este problema do tempo, é incapaz de compreender o seu pleno significado. Mas essa mente precisa de compreender o tempo, e só poderá compreendê-lo quando tiver consciência do problema e de que tem estado a ser destruída por quarenta anos de rotina. Quando essa mente perceber isso, ela pode “comprimir” a totalidade do tempo num só minuto — e compreender inteiramente — isso é levar o tempo a uma crise.
O tempo é existência contínua — o que “foi”, o que “será” e o que “é”. Só conhecemos isso. As nossas lembranças, as nossas experiências, as coisas que ouvimos e armazenamos, as experiências com que nos encontramos no passado, e que dão mais força ao passado — tudo isso nos dá continuidade de existência. A memória, o prazer, as dores, os insultos, as iras, as desumanidades, os virulentos estados de ódio, a inveja o ciúme, a competição, o ímpeto da ambição, e o desejo impiedoso — é a essa continuidade de existência que chamamos vida. Nunca reduzimos toda essa existência a um só minuto, para a compreendermos, e continuamos a repetir, a repetir, a repetir... e isso a que chamamos vida fica preso na rede do tempo, e assim há sempre um amanhã, cheio de dor, de ansiedade, de sofrimento.
É o tempo que dá a dor e o prazer. Porque o pensamento tem continuidade: pensamos em qualquer coisa que nos dá prazer — sexo, posição social, ou o que vamos alcançar — e continuamos a pensar nisso, dando-lhe assim continuidade. É o que acontece quando pensamos numa dor, como evitá-la, etc. — esse pensar dá continuidade à dor. Observemo-nos a nós mesmos, por favor: observemos como damos continuidade à existência a que chamam vida, e que é cheia de ansiedade, de desespero, de agonia, com prazeres passageiros porque pensamos constantemente nisso. Portanto, estamos a viver no tempo, no tempo psicológico. E, assim, o passado, com todas as suas lembranças, com todas as suas cicatrizes, de prazer, de dor, com todas as coisas que adquiriu, que ouviu, e com a tradição — molda o presente, e o presente molda o futuro. E assim nos tornamos escravos do tempo.
Temos de descobrir por nós mesmos — sem nos ser dito por outro — se o tempo realmente existe. Se na realidade não tivéssemos “amanhã”, toda a nossa vida se transformaria imediatamente; então deitaríamos fora todas as inutilidades que nos ocupam a mente, todas essas coisas que acumulamos, “aprendemos” e ouvimos dizer; e ficaríamos assim com imensa energia. Quando isso acontece, não temos nenhum “tempo” e, portanto, não existe “tempo”.
E, então, a mente que não tem tempo pode olhar a morte com olhos completamente diferentes. A morte não é então algo distanciado por um intervalo de anos, com a velhice, com inúmeras agonias e dores; ela não está lá e nós aqui — esse espaço é que é o tempo. E este “tempo” que nos apavora, é dele que temos medo e não da morte. E esse tempo traz decadência; não traz enriquecimento, não traz maturidade. Não o comparemos com o fruto de uma árvore — esse precisa de tempo, de sol, de chuva, de sombra, de alimento; e então, quando esse fruto está maduro cai. Mas nós não temos tempo. Se contamos com o tempo, ficamos envolvidos em sofrimento. Estamos então a pensar em termos do que “foi”, do que “será”, do que “deveria ser”. E para compreendermos o sofrimento, a dor, a dor física, a ansiedade emocional, o desgosto de ter perdido alguém — não devemos depender do tempo, não devemos ter tempo.
Não sei se conheceis realmente o sofrimento. Quase todos nós evitamos encarar o sofrimento, ou o veneramos ou o aceitamos. Entra-se numa igreja, na Europa ou neste país, e vemos como se presta culto ao sofrimento! E aqui, neste país, temos explicações para o sofrimento: o karma, etc., nunca recusamos totalmente, com todo o nosso ser, o sofrimento psicológico, aceitamo-lo — e é isto o que há de triste no sofrimento.
Que é o sofrimento? Algum de vós conhece realmente o sofrimento? A palavra “sofrimento” está associada a certas lembranças — as lembranças relacionadas com a autopiedade, a lembrança das coisas passadas, das coisas que se fizeram ou não se fizeram, na companhia do amigo, da mulher, do filho, de quem quer que seja. A lembrança, o retrato, a palavra, o símbolo que faz sentir sofrimento; e então dizemos, “temos de o evitar, temos de encontrar uma razão para ele”; e então começamos a inventar a olhar o futuro — como meio de dominar alguma coisa. Se não existisse nenhum tempo, nenhum “amanhã”, então não aceitaríamos o sofrimento, pois não passaríamos em nenhum “tempo” — e é o pensamento que gere o sofrimento. Não sei se já reparastes que o sofrimento ou é pessoal ou é o sofrimento do ser humano — o ser humano que sofre, que é coagido, forçado a fazer coisas, a crer e a aceitar isto ou aquilo, por meio de uma propaganda de mil ou dez mil anos. Há o sofrimento do homem como um todo, e o sofrimento de um determinado ser humano. O meu filho morre: tenho na mente o seu retrato. Nesse filho investira todas as minhas esperanças, todos os meus prazeres; era o meu “eu” prolongando-se nessa pessoa, e ela morreu. E fico despojado de tudo o que tinha; vejo-me subitamente sozinho, subitamente isolado de tudo.
Sabeis o que significa estar sozinho? Alguma vez tivestes, realmente, a experiência desse estado de completo isolamento, em que não há relação com coisa alguma, nenhuma identificação com alguém — com a nossa mulher, com os filhos, com a terra de onde somos — um estado em que se está completamente separado de tudo? Quando uma pessoa se sente sozinha, o seu passado nada significa, as suas experiências perderam a sua importância; o seu trabalho, a sua família nada significam; mesmo que esteja rodeada de uma multidão, não está em relação com coisa alguma. Não sei se já passastes realmente por esse estado de isolamento. Se não, nunca conhecereis o fim do sofrimento. Porque esse é o caminho que faz parte de vós — esse intenso e completo isolamento, essa separação. E consciente ou inconscientemente, estamos sempre a fugir desse isolamento — por meio da bebida, do sexo, dos deuses, das orações, por meio de toda a espécie de ilusão.
Este isolamento tem de ser compreendido. Cada um de nós, no segredo da mente, conhece este isolamento, não no sentido de o experimentar, mas de o conhecer verbalmente, através dos sinais interiores — de ocasionais vislumbres dele. Conhecemo-lo mas não somos capazes de o compreender, de “viver com ele”, de o enfrentar, fugimos dele e tentamos preencher-nos de muitas maneiras. Mas ele continua inexoravelmente presente. Assim, quando o meu filho morre, fico confrontado com isso, mas traduzo o meu sofrimento em todo o gênero de fugas a esse isolamento. Conhecemos dúzias de fugas — penso em encontrar o meu filho no céu, tenho certas conclusões e explicações, como a reencarnação. Mais uma vez o “tempo” se introduz — ou seja, hei de encontrar-me com o meu filho, farei isto com ele, é o meu karma, é isto, é aquilo. Ao fugirmos, damos entrada ao tempo. E no momento em que admitimos o tempo, abrimos também a porta ao sofrimento e, assim, o sofrimento e o tempo causam o declínio, a deterioração da mente.
Assim, quando há sofrimento, não devemos fugir do isolamento, mas compreendê-lo completamente. Sabeis o que significa “viver com uma coisa” desagradável ou agradável? “Viver com uma coisa” exige muita energia. Viver com uma árvore, com a família, com a sujidade, a sordidez, com qualquer coisa, exige enorme energia; de outro modo, habituamo-nos a isso. Provavelmente já vos habituastes ao pôr do sol, à água do rio que corre calmo, a refletir o céu. Quando nos habituamos a alguma coisa não mais reparamos nela. No momento em que nos habituamos a ela, não estamos a viver, e é isso que fazemos.
Acomodamo-nos aos governos, às nossas famílias, aos nossos conflitos, ao nosso sofrimento, à sujidade, à sordidez, à miséria, a tudo, porque nos habituamos a essas coisas. A princípio, há um choque, dor; e depois, gradualmente, encontramos maneiras e meios de nos habituarmos a isso, o que significa tempo. Acostumo-me à morte do meu filho; portanto, aceito o sofrimento, e daí vem a autopiedade. Se não houver autopiedade, compreenderemos o sofrimento, saberemos enfrentá-lo imediatamente, porque o sofrimento deve terminar.
E o fim do sofrimento é o começo da sabedoria. Não se pode ter sabedoria lendo livros ou frequentando escolas. A sabedoria só vem ao homem quando o sofrimento acaba. Isso significa que temos de compreender este problema do pensamento e do tempo. Gostamos do sofrimento! Se retirássemos o retrato daquele que amamos da parede do nosso quarto ou da “parede” da nossa mente, consideraríamos isso uma coisa terrível. Não amamos realmente essa pessoa; amamos a lembrança da pessoa que outrora nos dava satisfação. Não pensamos na pessoa, em que todas as suas fases, dos nossos conflitos com ela, na nossa ansiedade, na nossa rivalidade. Nada disso guardamos. Apenas queremos conservar o retrato de que gostamos e de que não queremos abandonar. Por que se o abandonamos, ficamos sozinhos, isolados, perdidos. E assim o sofrimento começa de novo.
Mas o homem que rejeita o sofrimento, que não o aceita, que não tem nenhuma “filosofia”, nenhuma igreja, nem fórmulas, nem crenças — só esse homem pode olhar essa coisa extraordinária chamada sofrimento — e para que o sofrimento deixe de existir, tem de se investigar todo este problema da memória, e compreender quando a memória é necessária e quando é prejudicial. Se uma pessoa chega até aqui, não verbalmente, mas de fato, pode então encarar a morte.
Há a velhice, e as penas da velhice — a deterioração das capacidade físicas. Passamos quarenta anos a desgastar-nos num emprego e a nossa mente perde a sua agilidade, a sua frescura. Já as perdemos na juventude. Observai-vos, por favor. Não escuteis apenas o “orador”; o que ele está a dizer será de muito pouco valor se não estiverdes a observar-vos realmente a vos mesmos. Cada um tem, pois, de observar o mecanismo, o decorrer do seu pensamento, não o rejeitando, não condenando mas observando o fluir, o mecanismo real do seu próprio pensamento.
Nunca penetramos no problema da morte. Encontramos sempre crenças e consolações, ideias e fórmulas para nos protegerem contra a morte. Mas a morte existe para todos — desde o maior dos filósofos à pobre mulher que passa na rua. Para a maior parte das pessoas, a morte é algo separado da vida, porque não compreendem a vida. A vida é um enorme campo de batalha, onde vamos existindo. O sofrimento, a dor, a ansiedade, a afeição, a simpatia, o ódio, o medo constante, os falsos deuses, os templos, a corrupção, a competição — tudo isso é a vida. Não a compreendemos. Mas agarramo-nos desesperadamente a ela, porque isso e tudo o que conhecemos. Não conhecemos mais nada e nada mais queremos conhecer.
E assim, não compreendemos o viver, evitamos a morte, e pomo-la à distância, longe de vós e de mim. Mas para compreender a vida temos de dar-nos à vida. Para compreender a dor, a ansiedade, o desespero, a afeição, temos de dar-nos, de dar todos o nosso ser, a essa compreensão. Veremos, então, que o viver e o morrer não são separados. Para viver, temos de morrer todos os dias; de outro modo, não podemos viver. Viver meramente da memória, de retratos, de fórmulas, de crenças — não é viver. No momento em que compreendermos, no momento em que dermos o nosso ser à vida, veremos que estamos a morrer — não no sentido de desaparecer, declinar, degenerar. Estou a falar de morrer psicologicamente.
Quando morremos psicologicamente, estamos sempre a viver com a morte. E então a morte não é uma coisa distante, temível, que nos apavora. Porque, para viver completamente, em cada minuto, em cada dia, temos de morrer para o passado, para cada minuto, para cada dia — e isso é exatamente o que de fato ira acontecer quando morrermos fisicamente. Então, não poderemos discutir com a morte, não podemos adia-la, pedindo-lhe o favor de mais um ano. Ela lá estará, quer nos agrade, quer não. O homem que tem medo da morte não está a viver, porque tem medo da vida.
Compreendei este fato tão simples da vida: não sabemos viver, se estamos sempre a viver na dor e na ansiedade, no medo, na esperança e no desespero; essa “vida” é um campo de batalha. Viver, segundo entendo, é o viver em que nada disso existe, quando já não se esta a competir com ninguém, quando há um total, completo — e não fragmentário — findar do sofrimento. E isso é possível — o completo fim do sofrimento. E quando assim vivermos, veremos que, para viver, temos de morrer para tudo o que conhecemos. Então, a vida e a morte não estão separadas.
Espero que estejais a escutar não apenas as palavras, não com a intenção de colher algumas ideias, para as refutar ou confirmar, ou para dizer que o “orador” tem ou não tem razão. Estamos a fazer uma viagem juntos e para viajar, não podeis viajar com palavras; tendes de andar de verdade; ouvindo não só o som dos vossos passos, mas também escutando as vossas palavras, os vossos pensamentos, os vossos sentimentos.
Vereis então que quando vos libertais do conhecido do passado, morreis para ele, e então não vos importará saber se ha ou não reencarnação. E, além disso, que é que continua? Só o vosso pensamento, a vossa memória e que continua — não a chamada “essência espiritual”. Se e a essência espiritual, não é possível pensar sobre ela. No momento em que se pensa a seu respeito ela é trazida para o campo do tempo, o campo do sofrimento; portanto, não se trata da essência espiritual mas meramente de um produto do pensamento. Quando falamos da alma como algo que continuará, estamos ainda na esfera do pensamento. Onde só o pensamento domina, esse pensamento cria o medo. E fica-se então aprisionado em todo esse círculo vicioso do tempo, do sofrimento e do medo da morte.
Assim, para compreender a morte, o sofrimento e o tempo, temos de dar-nos à vida. E para viver temos de ser altamente sensíveis — em vez de vivermos agarrados as nossas tradições. Temos de ser sensíveis com os nervos, com os olhos, com todo o corpo, com a mente, com o coração. E não podemos ser sensíveis se ficamos habituados a alguma coisa — habituados ao sexo, à cólera, à família que temos à nossa volta, a sujidade de uma rua, ao encanto do pôr do sol, na limpidez do céu, ou habituados às nossas próprias vulgaridades, às nossas crueldades, aos nossos gestos e palavras que nunca observamos.
Temos, pois, de estar extremamente espertos e sensíveis. Saberemos então o que significa morrer, e o que significa viver totalmente — no sentido de que a nossa mente não tem futuro, não tem “amanhã”, porque não tem passado, está liberta dele; já não procura “vir a ser” — está simplesmente a fluir, esta a viver está em movimento. E para uma coisa que esta em movimento, que flui, não há morte. A morte só existe para quem deseja a continuidade. Mas se em cada minuto morremos para tudo — para cada prazer, para cada dor, para cada hábito, bom ou mau — então saberemos por nós mesmos, o que existe além da morte, o que existe além da agonia desta vida. Alem, existe algo — não porque o digo. Vós é que tendes de descobri-lo. Mas, para descobrir, não deve haver sofrimento; porque onde mora o sofrimento, não existe o amor. E sem amor nunca compreenderemos o que e a morte.
Krishnamurti, Madrasta, 26 de janeiro de 1964,
O despertar da sensibilidade
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A incapacidade de sentir com intensidade e força
Um dos maiores problemas com que se confronta cada um de nós é, parece-me, uma total falta de intensidade no sentir. Temos uma certa agitação emocional constante, relativamente às nossas atividades — o que se deve fazer ou o que não se deve fazer. Entusiasmamo-nos com coisas que, na realidade, não têm qualquer importância. Mas, segundo me parece, há falta de paixão — não por um determinado fim a atingir, não por algum objetivo a alcançar; refiro-me à capacidade de sentir com intensidade e força.
Geralmente, temos mentes muito superficiais — mentes limitadas, estreitas, presas a uma rotina fútil — que vão funcionando sem problemas, a não ser que aconteça um acidente qualquer; há então perturbação, mas, depois delas, as nossas mentes voltam ao estado anterior, submetendo-se a uma nova rotina. A mente superficial não é capaz de encarar problemas. Tem problemas inumeráveis, todo o problema da existência. Mas invariavelmente traduz esses problemas extraordinariamente significativos, que são os problemas da vida, de acordo com o seu entendimento superficial, estreito, limitado, e procura desviar esta caudalosa corrente da vida para os seus acanhados estreitos canais. E é com isso que estamos confrontados agora — e talvez sempre tenhamos estado. Mas muito mais agora, dado que o desafio é muito mais forte, e exige uma resposta igualmente intensa, igualmente enérgica, igualmente viva.
Esta paixão a que nos referimos não é coisa que se possa cultivar facilmente, tomando determinada droga, ficando hipnotizado por certos ideais, etc.. Ela vem naturalmente — tem de vir. Estou a usar propositadamente a palavra paixão. Em geral, só empregamos esta palavra em relação ao sexo; ou quando se sofre intensamente, “apaixonadamente”, tentando-se então terminar esse sofrimento. Mas estou a usar a palavra paixão no sentido de um estado da mente, um estado de ser, um estado da nossa íntima essência — se tal coisa existe — que sente intensamente, que é altamente sensível — igualmente sensível à sujidade, à sordidez, à pobreza, às enormes fortunas e à corrupção, à beleza de uma árvore, de um pássaro, ao correr da água, ao lago que reflete o céu crepuscular. E necessário sentir tudo isso fortemente, intensamente. Porque sem paixão a vida torna-se vazia, superficial e sem muito sentido. Se somos incapazes de ver a beleza de uma árvore e de sentir intensa afeição e interesse por ela, não estamos vivos. Uso as palavras “não estamos vivos” intencionalmente, porque, neste país, a religião parece estar completamente divorciada da beleza.
Se não somos sensíveis a essa extraordinária beleza da vida, à beleza de um rosto, às linhas de um edifício, à forma de uma árvore, ao voo de um pássaro, à canção da manhã — se não estamos atentos a tudo isso, se não sentimos intensamente tudo isso, então, obviamente, a vida, que é cooperação e relação, não tem nenhum sentido; estamos então a funcionar mecanicamente. É sobre isso que gostaria de falar esta tarde.
Esta paixão não é devoção, não é sentimentalismo; e nada tem em comum com sensualidade. Se a paixão tem algum motivo, ou se é inspirada por algum motivo, ou se é paixão por alguma coisa, torna-se prazer e dor. Por favor compreendamos isto. Não tenho agora de entrar cm detalhes, pois vamos continuar a investigar esta questão. Se a paixão é estimulada sexualmente, ou se é paixão por alguma coisa que se deseja atingir, se tem uma causa, se tem um fim em vista, então, nessa chamada paixão há frustração, há dor, há a exigência da continuação do prazer e, portanto, o medo de não ter esse prazer, a preocupação de evitar a dor. Assim, a paixão com um motivo, ou a paixão que é estimulada, acaba invariavelmente em desespero, dor, frustração, ansiedade.
Estamos a falar da paixão que não tem motivo algum — e que é completamente diferente. Se existe ou não, é a vós que pertence descobrir. Mas sabemos que a paixão que é estimulada termina em desespero, em ansiedade, em dor, ou na exigência de uma determinada forma de prazer. E nisso há conflito, há contradição, há uma exigência constante. Estamos a referir-nos a uma paixão sem motivo. Essa paixão existe. Não tem nenhuma relação com qualquer ganho ou perda pessoal, nem com as mesquinhas exigências de um determinado prazer, ou a preocupação de evitar a dor. Sem essa paixão não há possibilidade de se cooperar verdadeiramente, e cooperação é vida, que é relação. Tal cooperação não é a favor de uma ideia; coopera-se, não porque se é levado a isso pelo Estado, nem porque se quer ter uma recompensa ou evitar uma punição, nem porque se trabalha por um certo ideal econômico, por uma utopia; coopera-se, mas não no sentido de trabalhar em comum por algum ideal — tudo isso, para nós, não leva à verdadeira cooperação.
Estou a referir-me ao espírito de cooperação. Se não cooperamos, não pode haver autêntico relacionamento. A vida exige que vós e eu cooperemos, façamos coisas juntos, trabalhemos juntos, sintamos juntos, vivamos juntos, compreendamos coisas juntos. E este “sentido de união” tem de ser ao mesmo tempo, tem de ter a mesma intensidade e estar ao mesmo nível; de outro modo não há união. Se observarmos bem este mundo tão triste e destrutivo, vemos que a mente se está a tornar mecânica, rotineira e, no aspecto tecnológico, está a ser mantida num estreito canal. E, portanto, o sentido de intensidade, a capacidade de sentir intensamente em relação a alguma coisa desaparece gradualmente. E se não somos capazes de sentir intensamente, é óbvio que a mente está sensibilizada, está entorpecida, está com medo, etc...
Assim, a paixão de que estamos a falar é um estado de ser. E realmente um estado extraordinário, como hão de ver se nele penetrarem, um estado sem mancha de sofrimento, sem autopiedade, sem medo. E para o compreender, temos de compreender o desejo. Especialmente os que foram criados com ideias e sanções religiosas de uma dada sociedade, onde a chamada religião tem uma grande influência, pensam que, para “realizar” o que chamam Deus, a mente tem de estar sem desejo; acham que a ausência de desejo, o não ter desejo, é uma das primeiras e mais importantes condições. Provavelmente conheceis todos os livros que falam disto, todas as citações dos livros religiosos, e tudo o resto. Conseguimos matar toda a paixão, exceto num único aspecto — sexualmente. E conseguimos dominar o desejo. A sociedade, a religião, a vida em comum — de tudo isso fizemos uma coisa sem vitalidade, porque temos a ideia de que um homem, um ser humano que sente de modo muito forte, muito próximo de um desejo intenso, não tem possibilidade de compreender aquilo a que se chama Deus.
Que mal há no desejo? Todos o temos, o sentimos, muito intensamente ou de maneira vaga; todos sentem desejo, de uma ou de outra espécie. Que mal há nele? Por que aceitamos tão facilmente subjugar, destruir, perverter, reprimir o desejo? Porque, evidentemente, o desejo traz conflito — o desejo de riqueza, posição, fama, etc. E alcançar fama, adquirir posses, desejar com muita força, implica conflito, perturbação; e não desejamos ser perturbados. E só isso que procuramos essencialmente, profundamente — não ser perturbados. E quando nos vemos perturbados tentamos encontrar uma saída dessa situação e voltar a instalar-nos num estado reconfortante, onde nada nos venha perturbar.
Assim, o desejo é olhado por nós como uma perturbação. Reparemos nisto, por favor. Estamos a apontar fatos psicológicos — não se trata de uma questão de aceitar ou não aceitar, de concordar ou discordar. São fatos, e não opiniões minhas. O desejo torna-se assim uma coisa que é preciso controlar, reprimir; e, portanto, esforçamo-nos nesse sentido — custe o que custar, não vamos deixar-nos perturbar, e tudo o que possa perturbar deve ser reprimido, “sublimado” ou posto de lado.
Como dissemos outro dia e de novo dizemos em cada palestra, o que é importante não é ouvir as palavras, mas escutar realmente. Há grande beleza no escutar. Esta tarde, vimos da janela um pássaro, um alcião. Tinha um bico comprido e penas brilhantes, de cor intensamente azul. Estava a chamar, com o seu canto, e outra ave da mesma espécie, outro alcião, respondia ao longe. Ficar apenas a escutá-lo — sem dizer, “É um alcião. Como é belo!”, ou “Como é feio!”, “Quem me dera que aquela espécie de corvo parasse de grasnar!” — não sei se já alguma vez escutaram com esse estado de espírito. Escutar, simplesmente — quando não há nada a lucrar, quando não há qualquer objetivo utilitário; escutar, quando não se está a tentar alcançar, ou evitar, alguma coisa. Ou olhar o sol poente, aquele esplendor do entardecer, aquele brilho de Venus, aquele pequeno retalho de lua crescente — olhar, apenas, e sentir intensamente tudo isso.
Se escutarmos, de fato, nessa feliz disposição, tranquilamente, sem qualquer tensão, então o próprio ato de escutar é um verdadeiro milagre. Milagre, porque nessa ação, nesse momento, compreendemos tudo o que está contido no ato de escutar, de perceber, de ver; foram eliminadas todas as barreiras, e há espaço, entre nós e o mundo, e aquilo que estamos a escutar. Precisamos de ter esse espaço para observar, ver, escutar; quanto mais amplo, quanto mais profundo ele for, mais beleza e profundidade haverá. E algo de qualidade diferente surge quando há esse espaço entre nós e aquilo que estamos a escutar.
Não estou a ser poético, sentimental ou romântico. Mas, na realidade, não sabemos escutar, escutar simplesmente — escutar a nossa mulher, ou o nosso marido, que está a implicar, a questionar, a zangar-se ou a arreliar-nos. Quando apenas escutamos, compreendemos muito; e os céus abrem-se-nos largamente. Façamos isso, de quando em quando; não o tentemos apenas — façamo-lo, e descobriremos por nós mesmos.
Espero que estejais a escutar dessa maneira. Porque aquilo de que estamos a falar é algo que está além da mera palavra. A palavra não é a coisa. A palavra “paixão” não é paixão. Sentir aquilo que transcende a palavra, e deixar-se “captar” por isso, sem qualquer volição, sem diretiva ou objetivo, escutar aquilo a que se chama desejo, escutar os nossos próprios desejos — e temos tantos, vagos ou intensos — então, quando os escutarmos, veremos o enorme mal que fazemos quando reprimimos o desejo, quando o distorcemos, quando queremos satisfazê-lo, quando queremos fazer alguma coisa em relação a ele, quando temos uma opinião a seu respeito.
A maior parte das pessoas perdeu o sentir apaixonado. Talvez o tenha tido outrora, na juventude — talvez apenas num vago murmúrio — tornar-se rico, alcançar a fama, e viver uma vida burguesa, respeitável... Mas a sociedade — que é o que nós somos — reprime o sentir. E, assim, cada um é levado a ajustar-se àqueles que estão “mortos”, que são “respeitáveis”, que não têm sequer uma centelha de paixão; e passa então a fazer parte deles, perdendo assim o sentir apaixonado.
Para compreender todo este problema do desejo, temos de compreender o esforço. Porque, desde o momento em que vamos para a escola até morrermos, vivemos num constante esforço; a nossa mente, a nossa psique, é um campo de batalha. Nunca há um momento de quietação, de descompressão, de liberdade; estamos sempre a batalhar, a lutar, a esforçar-nos, a adquirir, a evitar, a acumular — é isto a nossa vida! Não estou a descrever uma coisa que não existe. A nossa vida é esforço constante. Não sei se já notastes que quando não fazemos qualquer esforço o que não quer dizer estagnar ou dormir — quando todo o nosso ser está tranquilo, sem esforço, então vemos as coisas com muita clareza e penetração, com vitalidade, energia, paixão.
Fazemos esforço, porque somos impelidos por dois ou mais desejos contrários. Estamos sempre a opor um desejo a outro desejo, o desejo de ter e o desejo de não ter — se temos realmente este problema... Mas se temos um só desejo, não há então problema nenhum. Procuramos satisfazê-lo implacavelmente, lógica ou ilogicamente, com todas as suas consequências — dor, prazer. Mas como em geral somos um pouco civilizados — embora não demais... — temos esses desejos contrários e assim há sempre uma batalha.
Há o preceito religioso que manda viver sem desejo — o padrão, o ideal estabelecido por este ou aquele instrutor, este ou aquele “guru”, por meio de uma constante repetição. Há o padrão implantado na consciência, através de séculos de propaganda, a que chamam “religião”. E há também, por outro lado, o desejo instintivo de cada um, em face das exigências, das pressões, das tensões cotidianas. Há assim contradição entre o padrão religioso e o desejo. E a pessoa tem de reprimir um e aceitar o outro, ou recusar o outro e não abandonar aquele que tem — e tudo isso implica esforço.
Para mim, todo o ato de “vontade”, todo o ato de desejo — e o desejo é uma reação — tem de trazer consigo esforço e contradição, e implica, portanto, uma mente dividida, dilacerada entre desejos inumeráveis. Por exemplo, vê-se uma determinada coisa, um carro, um belo carro; tomamos contacto com ele por meio dos sentidos, e vem-nos então o desejo de o possuir. Ou podemos ter qualquer outra forma de desejo — mas podemos sempre observar por nós mesmos como o desejo nasce. Quando nasce em nós qualquer desejo, temos também consciência do desejo de o reprimir — desejo este inculcado pela tradição, e que está profundamente enraizado nas pessoas. Mas quando um desejo nasce, temos de dar-lhe atenção, de o compreender, de escutar todos os indícios e sinais. Temos de o escutar — em vez de o negar, de o reprimir, de o pôr de lado ou de fugir-lhe. Não é possível fugir dos desejos.
Os “santos” e “yogis” são impelidos, dilacerados pelo desejo. Quando se vestem como ascetas e se cobrem de cinzas, pensam que levam uma vida simples. Nada disso. Interiormente estão em ebulição, tendo, ou não, consciência disso — e não sabem o que hão de fazer. E assim tornam a sua vida e a sua congregação de “santos” uma coisa feia, desumana, envenenada, cheia de ressentimentos. Porque quando não se compreende o desejo, cria-se inimizade e antagonismo. E por mais que se pregue a fraternidade isso não terá qualquer significado se não se compreender essa coisa tão simples chamada desejo. Se negamos o desejo, se dizemos, por exemplo, “Já passei por uma provação com esse desejo e não devo tê-lo mais”, então estamos meramente a comparar o desejo presente com uma experiência que já tivemos e se tornou uma lembrança que irá controlar o desejo. E assim ficamos de novo enredados na batalha.
Mas, ao nascer cada desejo — mesmo que da coisa mais simples — temos de observá-lo, de vê-lo nascer, viver, florescer, ganhar vitalidade. E se não o reprimirmos, se não o compararmos, se ele não for dominado pela lembrança daquela passada experiência, e se pudermos observá-lo com aquele espaço de que falamos, veremos então que esse desejo se vai transformando num sentir intenso e sem objeto, se vai transformando apenas num sentir. Mas para quase todos nós, a vontade é que é importante, necessária, ou pelo menos pensamos que o é. A vontade é uma corda tecida de muitos desejos. E no momento em que existe vontade, vontade de levar até ao fim, ou vontade de negar, está-se num estado de resistência. E, portanto, regressa-se outra vez a um estado de conflito.
Estamos a falar de uma mente amadurecida, que compreende o conflito. A mente que compreende o conflito, que compreende toda esta questão de desejo, com todos os seus problemas, está amadurecida — e só essa mente pode compreender o que é real, o que é verdadeiro. Só ela, e não a mente que reprime o desejo, pode compreender a realidade. Porque para compreender o que é verdadeiro, precisamos de paixão. A paixão é uma energia extraordinária que nos impele e que não é estimulada, nem movida pelo desejo. E uma chama, e sem ela nenhuma transformação podemos criar no mundo, porque o mundo está cheio de problemas.
E como fazemos parte do mundo, estamos cheios de problemas — os conflitos entre marido e mulher, a desumanidade, o problema da fome, neste país, na Ásia, em geral, etc.; os problemas da guerra; a chamada “paz”; o problema da cooperação. Há problemas, e não podemos evitá-los. Em nós, existem a cada minuto e, consciente ou inconscientemente, estão a afetar a nossa mente. E, ou os compreendemos quando eles surgem, quando tomamos consciência deles — e compreendê-los é resolvê-los em nós, imediatamente — ou os transportamos para o dia seguinte. Transportá-los para o dia seguinte é o verdadeiro problema — e não se resolveremos, ou não, os problemas. Porque quando os transportamos para o dia seguinte, a mente torna-se embotada, entorpecida; damos tempo ao problema para se enraizar na nossa mente. Portanto, submetemos as células do cérebro a uma pressão, a uma tensão que as fatiga. Um cérebro cansado não tem possibilidade de compreender. Precisamos de uma mente fresca, em cada dia. Assim, temos de compreender os problemas, e não de os adiar.
E para compreender um problema, a primeira condição é não dizer “Tenho de o resolver, tenho de encontrar uma resposta, preciso de descobrir uma saída; como é que vou encontrar a solução correta?” — não nos inquietarmos com o problema, como um cão com um osso. Mas é só isso o que fazemos, e quanto mais nos afligimos, tanto mais sérios nos julgamos. Observai, por favor, as vossas mentes, a vossa vida, e não as palavras que se estão a dizer. Para resolver problemas — resolvê-los e não adiá-los — temos de olhar para eles; temos de ser bastante sensíveis, para observar as implicações, o significado, a natureza íntima de um problema. Isso significa que temos de o escutar — escutar todos os seus “murmúrios”, todo o seu significado, não apenas verbalmente, mas ver, sentir, tocar o problema, com os olhos, nariz, ouvidos, com todo o nosso ser. Isso significa não ficar enredado na palavra que aponta para o problema. Não sei se compreendeis que a palavra não é o problema. A palavra “árvore” não é árvore. Mas, para quase todos nós, a palavra é que é importante e não o que está por trás da palavra; o símbolo tem muito mais significado do que o fato.
A mente tem, assim, de estar desperta, cheia de vitalidade, a observar, a escutar cada problema. O problema existe, e não podemos negá-lo. Um problema significa uma resposta a um desafio, e podemos responder totalmente, completamente ou de modo inadequado. Uma resposta inadequada ao desafio é que cria o problema. Não estamos sempre despertos, não somos capazes de estar atentos, sensíveis, nas vinte e quatro horas do dia; assim, as nossas respostas são inadequadas, e é isso que cria o problema; além disso, não enfrentamos o problema imediatamente. Enfrentar completamente o problema imediato — um pensamento, um sentimento — não é tentar resolvê-lo, não é fugir dele, não é compará-lo, não é dizer, “Este é o modo de o resolver” — todas as coisas vagas e absurdas de que a mente e o cérebro se ocupam, na esperança de compreender o problema. Encarar o problema de modo completo é escutá-lo, estar sensível a ele. E não podemos estar sensíveis ao problema se estamos a fugir dele, se o estamos a reprimir, se já temos para ele uma “resposta”.
Começamos assim a ver que a mente tem de estar desperta e sensível. Estou a usar a palavra mente para designar a interação entre o cérebro e a “coisa” que controla o cérebro, pois a mente não é formada apenas pelos nervos, pelas células cerebrais; ela é aquilo que não só é transcendente, mas também é constituída por células — a coisa total. A mente de quase todos nós está sobrecarregada de inúmeros problemas, e em cada dia lhes juntamos outros. Assim, todo o nosso ser se torna embotado, e perdemos toda a sensibilidade. E quando não somos sensíveis, fazemos esforço. Vejamos, por favor, o círculo vicioso em que estamos enredados.
Assim, é necessário compreender o desejo. Temos de compreender o desejo, e não de “viver sem desejo”. Se se mata o desejo, fica-se paralisado. Quando olhamos aquele pôr do sol à nossa frente, o próprio ato de olhar é um encantamento, se somos realmente sensíveis. Isso também é desejo — o encantamento. E se não somos capazes de ver o pôr do sol e de nos encantarmos com ele, não somos sensíveis. Se vemos um homem rico num belo automóvel e não somos capazes de gostar de ver isso — não porque desejamos tal coisa, mas simplesmente por vermos alguém a guiar um belo carro — ou se, ao vermos um pobre ser humano, sujo, andrajoso, inculto, desesperado, não sentimos uma pena imensa, afeição, amor, não somos sensíveis. Como podemos então encontrar a Realidade se não temos essa sensibilidade, esse sentir profundo?
Temos, assim, de compreender o desejo. E para compreender cada incitamento do desejo, temos de ter espaço, e de não tentar preencher esse espaço com os nossos pensamentos ou lembranças, ou com a preocupação de como satisfazer ou destruir esse desejo. Dessa compreensão nasce, então, o amor. Geralmente, não temos amor, não sabemos o que ele significa. Conhecemos o prazer, conhecemos a dor. Conhecemos a inconsistência do prazer e, provavelmente, a continuidade da dor. E conhecemos o prazer sexual e também o prazer de alcançar fama, posição, prestígio, e o prazer de exercer um enorme domínio sobre o próprio corpo, como os ascetas, de manter um “Record”... — conhecemos todas estas coisas. Falamos interminavelmente acerca do amor; mas não sabemos o que ele significa, porque não compreendemos o desejo, que é o começo do amor.
Sem amor não há verdadeira moralidade; o que há é ajustamento a um padrão, social ou supostamente religioso. Sem amor não há virtude, integridade. O amor é espontâneo, real, vivo. E a bondade não é uma coisa que se possa criar pelo exercício constante; é espontânea, como o amor. A virtude não é uma lembrança de acordo com a qual funcionamos como ser humano “virtuoso”. Se não temos amor, não somos bondosos. Podemos frequentar templos, levar uma vida familiar extremamente respeitável, seguir as regras da moral social, mas não somos bondosos. O nosso coração é estéril, vazio, está embotado, entorpecido, por não compreendermos o desejo. A vida, portanto, torna-se um constante campo de batalha e o esforço só termina com a morte. Só termina com a morte, porque só sabemos viver com esforço.
Assim, para compreender o desejo precisamos de compreender, de escutar, cada movimento da mente e do coração, cada alteração, cada mudança do pensamento e do sentir, precisamos de observar o desejo, de nos tornarmos sensíveis, despertos a ele. Não podemos tornar-nos sensíveis ao desejo se o condenarmos ou se o compararmos. Temos de estar muito atentos ao desejo, porque ele nos dará uma compreensão imensa. E dessa compreensão nasce a sensibilidade. Somos então sensíveis — e não só fisicamente sensíveis — à beleza, à sujidade, às estrelas, ao sorriso ou às lágrimas, e sensíveis também a todos os murmúrios, a todos os sussurros que nos povoam a mente, aos nossos secretos medos e esperanças.
E desse escutar, desse observar, vem a paixão, esta paixão igual ao amor. Só neste estado se é capaz de cooperar. E, porque se é capaz de cooperar, também só neste estado se pode saber quando não se deve cooperar. Assim com esta profunda compreensão e vigilância, a mente torna-se eficiente, lúcida, cheia de vitalidade e de vigor; e só uma mente assim pode viajar para muito longe.
Krishnamurti, Madrasta, 22 de janeiro de 1964,
O despertar da sensibilidade
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)
"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)
"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)
Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...
Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.
David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.
K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)
A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)
O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill