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quarta-feira, 29 de maio de 2013

Pode o pensamento, estabelecer corretos relacionamentos?

Como já observamos, a sociedade está nos fazendo, e nós estamos ficando cada vez mais mecânicos, superficiais, insensíveis, indiferentes. Uma horrível matança está ocorrendo no Extremo Oriente e nos mantemos relativamente despreocupados  Alcançamos grande prosperidade, mas essa prosperidade está nos destruindo, porque estamos nos tornando indiferentes e indolentes, porque nos mecanizamos, perdendo a estreita relação com todos os homens e todos os entes vivos; e parece-me importantíssimo fazermos esta pergunta: Que é relação — se de fato alguma relação existe — e que lugar compete, nessa relação, ao amor, ao pensamento e ao prazer?

(...) Consideremos esta questão da relação, questão realmente importantíssima, porque viver é estar em relação; e, considerando-a, indaguemos o que significa viver. Que é nossa vida, que exige relações profunda, seja com a esposa, o marido, os filhos, a família, seja com a comunidade ou outra entidade qualquer? Ao tratarmos desta questão, não podemos considerá-la fragmentariamente, porque, se tomamos uma única seção, uma única parte da totalidade da existência e procuramos resolver só essa parte, a questão não fica de modo nenhum resolvida. (...)Assim, pergunto se podemos, pelo menos por esta tarde (e espero por todo o resto de nossa vida) observar a vida sem estarmos fragmentados — como católicos, protestantes, especialistas do Zen, ou seguidores de determinado guru, determinado Mestre, coisa absurda e pueril. Temos um problema imenso, que é o de compreender a existência, de aprender a viver. E, como dissemos  viver é relação, não há viver se não estamos em relação. E, como a maioria de nós não se acha em relação, no sentido mais profundo da palavra, tentamos identificar-nos com alguma coisa — com a nação, com um dado sistema ou filosofia, ou certo dogma ou crença. É isto que se observa no mundo: a identificação de cada indivíduo com alguma coisa — com a família ou com sua própria pessoa — e eu não sei o que significa "identificar-se consigo mesmo".

Esta existência fragmentária, separativa, leva inevitavelmente a várias formas de violência. Assim, se pudéssemos dispensar atenção ao problema das relações, teríamos talvez a possibilidade de resolver as iniquidades sociais, as injustiças, a imoralidade e aquela coisa terrífica chamada "respeitabilidade", que o homem sempre cultivou. "Ser respeitável" é ser moral em conformidade com uma coisa verdadeiramente imoral. Em tais condições, há alguma espécie de relação? Relação significa estar em contato  profundamente, fundamentalmente, com a natureza, com outro ente humano — estar em relação, não de sangue, como membro de uma família, ou como marido e mulher, pois isso dificilmente pode chamar-se "estar em relação". Para compreender a natureza desta questão, temos de considerar outro ponto, ou seja o mecanismo da formação de imagens, da criação de uma ideia, de um símbolo. Quase todos nós temos imagens acerca de nós mesmos e a imagem de outrem; temos tais imagens, nas relações. Tendes vossa imagem do orador, e o orador, como não vos conhece, não tem imagem nenhuma de vós. Mas, quando conhecemos uma pessoa intimamente, dela já formamos uma imagem; a própria intimidade implica a imagem que tendes da pessoa — a esposa tem uma imagem do marido, e este tem uma imagem dela. E há a imagem da sociedade, e as imagens que temos acerca de Deus, da verdade, de tudo.

Como se origina essa imagem? E, se ela existe — e ela existe, pode-se dizer, em todas as pessoas — como é então possível haver qualquer relação real? Relação significa estar profundamente em contato um com outro. Dessa relação pode nascer a cooperação, o trabalhar juntos, fazer coisas juntos. Mas, se há alguma imagem — eu com uma imagem de vós, e vós com uma imagem de mim — que relação pode haver, a não ser a relação de uma ideia, de um símbolo, de uma certa memória, que se torna a imagem? Estão essas imagens em relação, e é nisso que consistem as relações? Pode haver amor, no verdadeiro sentido desta palavra (não em conformidade com os sacerdotes  ou em conformidade com os teólogos, ou em conformidade com os comunistas ou esta ou aquela pessoa), pode haver efetivamente esse sentimento de amor quando as relações são puramente conceituais, entre imagens, e não relações reais? Só pode haver relação entre os entes humanos quando aceitamos o que é, e não o que deveria ser. Estamos sempre vivendo no mundo das fórmulas, dos conceitos, que são imagens do pensamento. Pode, pois, o pensamento, o intelecto, estabelecer relações corretas  Pode a mente, o cérebro, com todos os seus instrumentos de autoproteção, formados através de milhões de anos — pode esse cérebro, que é inteiramente reação da memória e do pensamento  estabelecer relações corretas entre os seres humanos? Que lugar compete à imagem, ao pensamento, nas relações? Há realmente lugar para eles?

(...)Ora, que são relações? Temos, de fato, alguma espécie de relação? Vivemos tão fechados, tão absorvidos em proteger-nos, que nossas relações se tornaram apenas superficiais, sensuais, aprazíveis. Se nos examinarmos em silêncio (não de acordo com Freud ou Jung ou outro especialista), se observarmos a nós mesmos tais como realmente somos, talvez possamos descobrir o quanto estamos a isolar-nos todos os dias, a erguer em torno de nós muralhas de defesa, de medo. Olhar a nós mesmos é mais importante e de maior necessidade do que nos observarmos de acordo com um especialista. Se vos olhais de acordo com Jung ou Freud, ou Buda, ou outrem, estais a olhar-vos com olhos alheios. Isso estamos sempre fazendo; para olhar, já não dispomos de nossos próprios olhos, e eis porque estamos perdendo a beleza que há em olhar.

Pois bem; quando vos olhais diretamente, não descobris que vossas atividades diárias (vossos pensamentos, vossas ambições  vossa agressividade, vossa constante ânsia de ser amado e de amar, a constante tortura do medo, a agonia do isolamento), não descobris que essas coisas são fortemente separativas e causadoras de profundo isolamento? E, nesse profundo isolamento, que relação podeis ter com outro, com esse outro que também se isola com sua ambição, sua avidez, sua avareza, sua ânsia de domínio, de posse, de poder, etc.? Eis, pois, duas entidades chamadas entes humanos a viverem em seu próprio isolamento, a gerarem filhos, etc., mas sempre no isolamento. E a cooperação entre essas duas entidades isoladas torna-se mecânica; alguma cooperação, entretanto, é necessária entre eles, para que possam viver, ter família, trabalhar num escritório ou numa fábrica mas eles permanecem sempre entidades isoladas, com suas crenças e dogmas, suas nacionalidades — bem conheceis todas as coisas de que o homem se cerca para isolar-se dos demais  O isolamento, portanto, é, essencialmente, o fator do estado de "não relação". E nas pseudo-relações desse isolamento, o prazer se torna da máxima importância.

Pode-se ver como, em todo o mundo, o prazer se está tornando cada vez mais exigente, mais insistente, porque todo prazer — se o observais atentamente — é um processo de isolamento; e esta questão do prazer precisa ser examinada no contexto das relações. O prazer é produto do pensamento, não? Houve prazer numa coisa que ontem experimentastes, na beleza ou na percepção sensitiva, ou no excitamento dos sentidos ou do sexo. Pensais nessas coisas, formais uma imagem daquele prazer ontem experimentado  Eis como o pensamento sustenta e dá nutrição à coisa que ontem chamastes deleitável. E, assim, o pensamento exige, hoje, a continuação daquele prazer. Quanto mais pensais na experiência que tivestes e que por um momento vos deleitou, tanto mais o pensamento lhe dá continuidade, na forma de prazer e de desejo. E que relação tem isso com a questão fundamental da existência humana: Como estamos relacionados? Se nossa relação é produto do prazer sexual, ou do prazer derivado da família, da propriedade, do domínio, do controle, do medo de nos vermos desprotegidos, privados de segurança interior e, por conseguinte, sempre a buscar o prazer — então que lugar compete ao prazer nas relações? A exigência de prazer destrói todas as relações, sejam sexuais, sejam de outra espécie. E, se bem observarmos, veremos que todos os nossos chamados "valores morais" baseiam-se no prazer, embora o disfarcemos com a "virtuosa" moralidade de nossa respeitável sociedade.

Assim, quando nos interrogamos, quando olhamos fundo em nós mesmos, percebemos essa atividade de auto-isolamento, esse "eu", esse "ego", a erguer defesas em torno de si, e essas próprias defesas são o "eu". Este "eu" é isolamento, é ele que produz fragmentos, que produz o "olhar" que se fragmenta em pensador e pensamento. Assim, que lugar compete ao prazer, que é produto de uma lembrança sustentada e nutrida pelo pensamento — o pensamento que é sempre velho, e nunca livre? Que tem a ver esse pensamento, que concentrou sua existência no prazer, com as relações? Fazei a vós mesmos esta pergunta, não vos limiteis a ouvir as palavras deste orador — que amanhã já não estará aqui. Vós tendes de viver vossa própria vida e por conseguinte, o orador é inteiramente sem importância. O importante é fazerdes a vós mesmos estas perguntas, e, para fazê-las, deveis ser ardorosos, estar inteiramente dedicados à investigação. Porque só ao manifestardes esse ardor, essa determinação, estais vivendo, só quando sois profundamente aplicados, a vida desabrocha, tem significado, tem beleza. Deveis interrogar-vos: É ou não é um fato que estamos vivendo na dependência de uma imagem, de uma fórmula, de um fragmento que nos está isolando? Não foi por causa desse isolamento que o medo, com sua dor e prazer (produtos do pensamento), se tornou existente? Tenta então aquela imagem identificar-se com algo que seja permanente  com Deus, com a verdade, com a nação, a bandeira, etc.

Assim, se o pensamento é velho (e ele é sempre velho e, por conseguinte, nunca é livre), como pode ele compreender as relações? As relações estão sempre no presente, no presente vivo (não no passado morto, da memória, das lembranças, do prazer e da dor), as relações estão ativas agora; "estar em relação" significa justamente isso. Ao olhardes para outra pessoa com olhos cheios de afeição, de amor, estabelece-se uma relação imediata (...) Mas, se o pensamento se intromete, então essa relação se converte em imagem. Assim, pergunta-se: Que é o amor? O amor é prazer? O amor é desejo? É o amor a lembrança de uma multiplicidade de coisas que formastes e conservastes — a respeito de vossa esposa, de vosso marido, de vosso próximo, da sociedade  da comunidade, de vosso Deus? Pode-se chamar a isso amor?

Se o amor é produto do pensamento (como de fato é, na maioria dos casos), então esse amor está fechado entre cercas, emaranhado na rede do ciúme, da inveja, do desejo de dominar, de possuir e ser possuído, da ânsia de ser amado e de amar. Pode, então, haver amor a um e amor a todos? Se amo um, destruo o amor para com outros? E como, para a maioria de nós, o amor é prazer, companhia, conforto, segregação na família e o sentimento de segurança que nela se encontra — existe, aí, realmente amor? Pode um homem que está acorrentado à família amar o seu próximo? Podeis discorrer teoricamente acerca do amor, ir à igreja para amar a Deus (o que quer que isso signifique) e, no dia seguinte, ir para o trabalho e destruir o vosso próximo — porque estais em competição com ele, ambicionando o seu cargo, as suas posses, e desejando melhorar a vós mesmos, comparando-vos com ele. Assim, quando, dentro em vós existe essa atividade, da manhã à noite, e mesmo durante o sono, em sonhos, podeis estar em relação? Ou relação é coisa de todo diferente?

Só pode haver relação quando há total abandono do "eu", do "ego". Quando não existe "eu", estais então em relação; nesta, não há separação de espécie alguma. Provavelmente, nunca experimentamos esse estado de total negação (não intelectual, porém real), de total cessação do "eu". E talvez seja esse estado que a maioria de nós está buscando, sexualmente ou pela identificação com uma coisa superior. Todavia, esse processo de identificação com uma coisa superior deriva do pensamento; e o pensamento é sempre velho (como o "eu", o "ego", ele pertence ao passado). Apresenta-se, assim, a questão: Como é possível abandonar de todo esse processo isolante, esse processo que se centraliza no "eu"? Como é possível isso? (...)Como pode o "eu", cujas atividades diárias são motivadas pelo medo, pela ansiedade, pelo desespero, a tristeza, a confusão e a esperança — como pode esse "eu" que se separa de outro pela identificação com Deus, com seu condicionamento, sua sociedade, suas atividades morais e sociais, com o Estado — morrer, desaparecer, para que o ente humano possa estar em relação? Porque, se não estamos em relação, iremos viver em guerra uns com os outros. Poderá não haver matança mútua, porque isso se está tornando muito perigoso, a não ser, talvez, em terras muito longínquas. Como podemos viver de modo que não haja separação, de modo que possamos cooperar realmente?

Há tanta coisa por fazer neste mundo — acabar com a pobreza, viver com felicidade, viver deleitosamente em vez de viver na agonia e no medo, edificar uma sociedade de espécie completamente diferente, com uma moralidade superior. Isso, porém, só se tornará possível quando a moralidade da atual sociedade for totalmente negada. Há tanto que fazer, e que não poderá ser feito enquanto estiver em funcionamento o processo de isolamento  Falamos do "eu", do "meu", e do "outro"; "o outro" está do outro lado do muro, e o "eu" e o "meu" deste lado. Como pode, pois, essa essência da resistência, que é o "eu" ser totalmente abandonada? Porque esta é realmente a questão mais importante, em todas as relações — já que percebemos que a relação entre imagens não é relação nenhuma e que, quando existe tal qualidade de relação, há necessariamente conflito e estamos sempre em guerra uns com os outros.

(...)Não sei se já vistes o que significa ter uma mente totalmente vazia. Vós tendes vivido num espaço criado pelo "eu" (um espaço limitadíssimo). O espaço que o "eu" (o processo de isolamento) criou entre uma pessoa e outra, é esse o único espaço que conhecemos, o espaço entre ele próprio e a circunferência (a fronteira que o pensamento criou). Nesse espaço é que vivemos; nele há divisão. Dizeis: "Se abandono a mim mesmo, ou se abandono o centro que é o "eu", ficarei vivendo num vácuo." Mas, já alguma vez abandonastes o "eu", de fato, realmente  de modo que dele não tenha ficado nenhum resquício? Já vivestes neste mundo nesse estado de espírito — no vosso trabalho  com vossa esposa ou marido? Se alguma vez já vivestes assim, deveis saber que há um estado de relação em que o "eu" não existe, um estado que não é utópico, que não é coisa sonhada ou experiência mística, irracional, porém um estado possível: viver numa dimensão em que todos os entes humanos estejam relacionados.

Mas essa possibilidade só existe se compreendemos o que é o amor. E, para existirmos, para vivermos nesse estado, temos de compreender o prazer (sustentado pelo pensamento) e todo o seu mecanismo. Então, se poderá ver instantaneamente todo o complicado mecanismo que construímos para nós mesmos e em redor de nós. Não há necessidade de percorrermos todo o processo analítico, ponto por ponto. Toda análise é fragmentária e, por essa porta, não virá resposta nenhuma.

Existe este imenso e complexo problema da existência, com seus temores, ansiedades, esperanças, passageira felicidade e alegrias, mas a análise não pode resolvê-lo. O que o resolverá é abarcá-lo, no seu todo, num rápido lance de olhos. Só podemos compreender uma coisa quando a olhamos (não com o olhar prolongado  exercitado, do artista, do cientista ou do homem que se exercitou para "olhar"), só podemos compreender uma coisa quando a olhamos com toda a atenção, quando a vemos, em seu conjunto, num relance de olhos. E, assim, vos sentireis livres. Estareis então fora do tempo. O tempo se deterá e, por conseguinte, terá fim o sofrer. O homem entregue à amargura ou ao medo não está em relação. Como pode um homem ambicioso de poder estar em relação? Ele poderá ter família, dormir com sua mulher, mas não está em relação. Quem compete com outro não está em nenhuma relação. E toda a nossa estrutura social, com sua moralidade, se baseia na competição. Achar-se em relação, fundamental e essencialmente, significa a cessação do “eu”, gerador de separação e do sofrimento.

Krishnamurti — 25 de abril de 1968 – Onde está a Bem-aventurança

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

O ciúme e o amor são opostos polares

O ciúme é uma das áreas em que mais prevalece a ignorância psicológica com relação a nós mesmos, com relação aos outros e, particularmente com relação aos relacionamentos.

As pessoas acham que sabem o que é amor; elas não sabem. E esse mal-entendido sobre o amor provoca ciúme. As pessoas acham que "amor" é uma espécie de monopólio, de possessividade, sem entender um simples fato da vida: no momento que possui um ser humano você mata essa pessoa.

A vida não pode ser possuída. Você não pode prendê-la nas mãos. Se quiser tê-la, terá de ficar de mãos abertas. Mas a coisa vem sendo deturpada há séculos; essa ideia se impregnou tanto em nós que não conseguimos separar o amor do ciúme. Eles se tornaram quase a mesma energia.

Por exemplo, você sente ciúme se o seu namorado sai com outra garota. Isso perturba você agora, mas eu gostaria de lhe dizer que se não sentir ciúme você se sentirá pior ainda, pois achará que não o ama, pois se o amasse sentiria ciúme. O ciúme e o amor viraram uma miscelânea.

Na verdade, eles são opostos polares. A mente que sente ciúme não é capaz de amar e vice-versa: a mente que é amorosa não é capaz de sentir ciúme. Qual é a dificuldade? Você tem de olhar para isso como se não fosse problema seu; só assim vai conseguir se distanciar um pouco e divisar o quadro todo.

O sentimento de ciúme é um efeito secundário do casamento. No mundo dos animais, dos pássaros, não existe ciúme. De vez em quando acontece uma briga por causa de um objeto de amor, mas urna briga é mil vezes melhor do que ter ciúmes, muito mais natural do que cair nas garras do ciúme e queimar o coração com as próprias mãos.

O casamento é uma instituição inventada, não é natural; por isso a natureza não deu a você uma mente que se adapte ao casamento. Mas a sociedade acha necessário que exista um tipo de contrato legal entre dois amantes, porque o amor propriamente dito é fantasia. Não é algo confiável; hoje ele existe, amanhã não existe mais.

Você quer segurança amanhã, a vida inteira. Agora você é jovem, mas logo ficará velho e gostaria que sua mulher, seu marido, continuasse ao seu lado na velhice, na doença. Mas, para tanto, é preciso firmar alguns compromissos, e sempre que se firma um compromisso surgem problemas.

O casamento provocava suspeitas. O marido vivia desconfiado, perguntando-se se a criança nascida era mesmo dele ou não. O problema é que o pai não tinha como afirmar que o filho era dele. Só a mãe sabia.

Como o pai nunca podia afirmar com absoluta convicção, ele foi erigindo muros e mais muros em torno da mulher — essa era a única possibilidade, a única alternativa — para afastá-la do resto da humanidade. Não para instruí-la, porque a educação dá asas às pessoas, possibilita-lhes pensamentos, faz com que sejam capazes de se revoltar, por isso não havia educação para as mulheres.

Nenhuma educação religiosa para as mulheres, porque a religião produz santos e, numa sociedade há tantos séculos dominada pelo sexo masculino, o homem não podia admitir que uma mulher fosse mais elevada e virtuosa do que ele.

O homem começou a cortar pela raiz qualquer possibilidade de que a mulher se desenvolvesse. Ela era só uma fábrica de fazer filhos. Não era considerada em pé de igualdade em nenhuma cultura deste planeta.

No mundo todo, a mulher tem sido reprimida. Quanto mais reprimida, mais a energia feminina vai se tornando amarga. E, como ela não tem liberdade nenhuma e o homem tem total liberdade, todas as emoções, sentimentos e pensamentos reprimidos — toda a sua individualidade volta-se para um fenômeno de ciúme.

Ela tem um medo constante de que o marido a abandone, que saia com outra mulher, que possa se interessar por outra. Ele poderia abandoná-la e ela não tem estudo, não é capaz de garantir o próprio sustento. Ela tem sido levada a viver de maneira que não tenha condições de enfrentar o mundo lá fora; ela tem ouvido desde a infância que ela é fraca.

Segundo as escrituras indianas, na infância, é o pai quem deve proteger a filha; na juventude, o marido deverá protegê-la; e na velhice, quem fará isso será o filho dela. Ela tem de ser protegida desde o berço até o túmulo. Ela não pode se revoltar contra essa sociedade masculina chauvinista; tudo o que pode fazer é continuar encontrando falhas, que fatalmente acontecerão. Na maioria dos casos ela não está errada; ela está certa.

Sempre que um homem se apaixona por outra mulher, algo dentro dele muda com relação à esposa. Eles passam a ser estranhos, não há mais nenhuma ligação. Ela foi mutilada, escravizada e agora é abandonada. Toda a vida dela é urna vida de agonia e, dessa agonia, brota o ciúme.

O ciúme é a raiva dos fracos — de alguém que não pode fazer nada a não ser fervilhar interiormente, que gostaria de incendiar o mundo todo, mas não pode fazer nada a não ser chorar e gritar e ter ataques de cólera. Essa situação continuará assim até que o casamento se torne uma peça de museu.

Agora já não há mais necessidade de casamento. Talvez ele tenha sido útil no passado, talvez não tenha, mas era só uma desculpa para escravizar as mulheres. As coisas poderiam ter sido de outro jeito, mas não há por que perpetuar o passado. Certo ou errado, urna coisa o passado tem de bom: ele não existe mais!

No que se refere ao presente e ao futuro, o casamento é absolutamente irrelevante, incoerente com relação à evolução humana e contraditório no que concerne a todos os valores que mais apreciamos: a liberdade, o amor e a alegria.

Como o homem queria que a mulher ficasse totalmente aprisionada, ele escreveu escrituras religiosas que a fizeram temer o inferno e cobiçar o céu — isso se ela seguir as regras. Essas regras existem para as mulheres, não para os homens.

Agora isso está tão claro que fazer com que as mulheres continuem vivendo nessa situação nociva de ciúme é algo que prejudica a saúde psicológica delas. E a saúde psicológica das mulheres influencia a saúde psicológica de toda a humanidade. A mulher tem de se tornar um indivíduo independente.

A dissolução do casamento será o acontecimento mais importante e festivo da face da Terra, e ninguém está impedindo você de viver com a sua mulher ou com o seu marido a vida inteira se de fato amá-lo(a). O fim do casamento simplesmente devolve a você a sua individualidade. Agora ninguém mais o possui. Você não vai mais fazer amor com um homem só porque ele é o seu marido e tem direito de exigir isso.

Na minha visão, se uma mulher faz amor com um homem porque é obrigada a isso, trata-se de prostituição — não é varejo, é atacado!

O varejo é melhor, você tem possibilidade de troca. Essa prostituição por atacado que acontece no casamento é perigosa, você não tem direito de troca. E, especialmente no primeiro casamento, você deveria ter chance de trocar, pois ainda é um amador.

Alguns casamentos a mais tornariam você mais maduro; talvez então você conseguisse encontrar o parceiro certo. E quando digo parceiro certo não estou me referindo à pessoa que "foi feita para você". Nenhuma mulher foi feita para determinado homem e nenhum homem foi feito para uma determinada mulher.

Quando digo parceiro certo quero dizer que, se você teve chance de compreender alguns relacionamentos, se já travou alguns, saberá que tipo de coisa criará situações infelizes entre vocês e que situações criarão urna vida de paz, amor e alegria.

Viver com várias pessoas diferentes é uma educação absolutamente indispensável para uma vida correta no que diz respeito ao amor. Você deveria primeiro se graduar travando alguns relacionamentos. Na faculdade, na universidade, você deveria passar por alguns relacionamentos. E não deveria ter pressa para decidir— não há necessidade, o mundo é grande, e cada pessoa tem uma qualidade e beleza especiais.

Quando você vive alguns relacionamentos, começa a ter consciência do tipo de mulher, do tipo de homem que pode ser seu amigo — não um mestre, não um escravo. E a amizade não precisa de casamento, porque a amizade é algo muito mais elevado.

Se sente ciúme, é porque você herdou esse sentimento. Você terá de mudar muitas coisas, não porque estou dizendo para mudá-las, mas porque você compreende que uma mudança drástica é necessária.

Por exemplo, disseminou-se pelo mundo inteiro a ideia de que o marido às vezes saí com outra mulher, ou que a esposa às vezes sai com outro homem, e que isso é algo que destrói o casamento. Isso não é verdade.

Pelo contrário, se todos os casais tiverem os fins de semana livres, isso deixará o relacionamento entre eles ainda mais forre — porque o casamento não está tolhendo a liberdade deles e ambos entendem a necessidade que o parceiro tem de variar um pouco. Essa é uma necessidade humana.

Os padres e os moralistas e os puritanos primeiro decidem qual é o ideal. Criam lindos ideais e depois impõem esses ideais sobre você. Eles querem que todos sejam idealistas. Há dez mil anos temos vivido sob a sombra escura e melancólica do idealismo.

Eu sou realista. Não tenho nenhum ideal. Para mim, entender a realidade e viver de acordo com ela são a única maneira de um homem ou de uma mulher inteligente viver.

Segundo o meu entendimento, se o casamento não fosse unta coisa imposta, tão rígida, mas fosse flexível, só uma amizade... de modo que a mulher pudesse dizer a você que encontrou um belo rapaz e vai passar o fim de semana com ele — "E se estiver interessado eu posso trazê-lo contigo, pois você também vai ficar encantado com ele".

E o marido pudesse dizer, tão como um hipócrita, mas como um autêntico ser humano, que "A alegria de minha esposa, a felicidade dela é a minha felicidade. Divirta-se, pois sei que, assim que você voltar, depois de sentir esse novo amor revigorante, você também se sentirá remoçada. Um novo amor fará você recuperar a sua juventude. Vá este fim de semana e no próximo eu farei o meu programa também".

Isso é amizade. E. quando eles chegarem em casa, poderão conversar a respeito do tipo de homem que encontrou, como ele se portou, contar que não foi tão bom assim... E ele pode contar a ela sobre a mulher com quem esteve... A sua casa é um refúgio. Você pode sair lá fora de vez em quando, para ver o céu, livre e selvagem, e voltar, pois o seu parceiro estará sempre à sua espera — não para brigar, mas para dividir com você as suas aventuras.

Só é preciso um pouco de entendimento. Não tem nada a ver com moralidade, trata-se apenas de um comportamento um pouco mais inteligente.

Você sabe perfeitamente bem que, por mais belo que seja um homem ou urna mulher, mais cedo ou mais tarde ele(a) vai começar a lhe dar nos nervos. A mesma geografia, a mesma topografia, a mesma paisagem... A mente humana não foi feita para a monotonia; nem foi feita para a monogamia.

É absolutamente natural buscar variedade. E isso não é contra o amor. Na verdade, quanto mais você conhece outra mulher, mais apreciará a sua própria mulher; o seu entendimento ficará maior. A sua experiência ficará mais rica. Quanto mais conhecer alguns homens, mais capaz você será de entender o seu próprio marido. A ideia de ciúme vai desaparecer — vocês dois são livres, e não estão escondendo nada um do outro.

Para os amigos nós contamos tudo, principalmente os momentos de maior beleza — momentos de amor, momentos de poesia, momentos de música. E esses momentos devem ser compartilhados. Desse modo a sua vida ficará cada vez mais rica. Vocês podem ficar tão sintonizados que passarão a vida inteira juntos, mas sem casamento.

O ciúme continuará a existir enquanto o casamento continuar sendo o alicerce básico da sociedade. Basta dar ao homem, com sinceridade, liberdade absoluta. E dizer-lhe que ele não precisa esconder nada: "Esconder as coisas para mim é um insulto. Isso significa que você não confia em mim".

E o mesmo acontece com o homem, que pode dizer à esposa: "Você é tão independente quanto eu. Estamos juntos para sermos felizes, estamos juntos para termos mais felicidade ainda. E faremos qualquer coisa um pelo outro, mas não vamos servir de carcereiros para quem amamos".

Dar liberdade é uma alegria, ter liberdade é uma alegria. Você pode ter a mesma alegria, mas vai transformar toda a energia em sofrimento, em ciúme, em brigas, num esforço contínuo para manter o outro sob o seu jugo.

E é fácil: se você entender a si mesmo, será capaz de entender o seu parceiro também. Você não sonha com outras pessoas? Na verdade, ver o seu próprio marido ou mulher nos sonhos é um fenômeno raro. As pessoas nunca vêem os cônjuges nos sonhos, elas já os vêem por tempo suficiente quando estão acordadas! Ora, mas nem mesmo à noite, nem mesmo nos sonhos, vamos ter liberdade?

Não, nos seus sonhos você tem a mulher do vizinho, o marido da vizinha. Você precisa entender que, por algum motivo, nós criamos urna sociedade equivocada, urna sociedade que não está de acordo com a natureza humana. O desejo de variar é uma qualidade essencial em qualquer pessoa inteligente.

Osho, em "Saúde Emocional: Transforme o Medo, a Raiva e o Ciúme em Energia Criativa"

quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Na negação do que não é amor, existe amor

O que é o amor? Não estamos discutindo teorias sobre o que o amor deveria ser. Estamos observando o que chamamos de amor: “Amo a minha mulher.” Não sei o que é que você ama; e duvido que você ame algo. Sabe o que significa amar? Será que o amor é prazer? O amor é ciúme? Um homem ambicioso é capaz de amar? – ele pode dormir com a mulher, gerar alguns filhos. E um homem que esteja lutando para se tornar importante na política, ou no mundo dos negócios, ou no mundo da religião (onde deseja se tornar um santo, deseja ser sem desejo), tudo isso faz parte da ambição, da agressão, do desejo. O homem competitivo é capaz de amar? E vocês todos são competitivos, não é verdade? – melhor emprego, melhor posição, melhor casa, ideias mais nobres, imagens mais perfeitas de si mesmos; vocês conhecem bem as situações por que passam. Isso é amor? Você é capaz de amar ao passar por toda essa tirania, quando pode dominar sua mulher ou seu marido, ou os seus filhos? Quando você está buscando o poder, há possibilidade de amar?

Portanto, na negação do que não é amor, existe amor. Entendem senhores? Precisam negar tudo que não seja amor, o que significa não ter ambição, não ser competitivo, não ser agressivo, não ser violento nem na fala, nem em ato, nem em pensamento. Quando você nega o que não é amor, então sabe o que é amor.(1)

Quando as coisas da mente não enchem seu coração, então existe amor; e só o amor pode transformar a loucura e a insanidade atuais no mundo – nunca sistemas, nunca teorias, nem da esquerda nem da direita. Você só ama realmente quando não possui, quando não é invejoso, não é ávido, quando é respeitoso, quando tem misericórdia e compaixão, quando tem consideração por sua mulher, seus filhos, seu vizinho, seus infelizes empregados.

Não se pode pensar sobre o amor, o amor não pode ser cultivado, o amor não pode ser praticado. A prática do amor, a prática da fraternidade, ainda está dentro do campo da mente, portanto, não é amor. Quando tudo isso tiver cessado, então o amor surgirá, e você saberá o que é amar.(2)

Pergunta: É possível um homem e uma mulher viverem juntos, ter sexo e filhos, sem toda a confusão, amargura e conflito inerentes a tal relação? É possível haver liberdade em ambos os lados? Não quero dizer com liberdade que o marido ou a esposa deveriam ter constantemente casos com outras pessoas. As pessoas em geral ficam juntas e casam por que se apaixonam, e nisso existe desejo, escolha, prazer, possessividade e tremendo esforço. A própria natureza deste estado apaixonado está desde o início cheia das sementes do conflito.

Krishnamurti: É isso? Precisa ser? Duvido muito disso. Você não pode se apaixonar e não ter uma relação possessiva? Amo alguém e ela me ama e nos casamos – isso tudo é perfeitamente honesto e simples, não há absolutamente conflito nisso. (Quando digo que nos casamos, quero dizer apenas que decidimos viver juntos – não se prenda em palavras.) A pessoa não pode ter isso sem a outra coisa, sem a cauda por assim dizer, necessariamente em seguida? Não podem duas pessoas estar amando e ambas serem tão inteligentes e tão sensíveis que exista liberdade e ausência de um centro que trabalha para o conflito? O conflito não está no sentimento de amar. O sentimento de estar amando é totalmente sem conflito. Não há perda de energia em estar amando. A perda de energia está na cauda, em tudo que vem em seguida – ciúme, possessividade, suspeita, dúvida, o medo de perder aquele amor, a demando constante por reafirmação e segurança. Certamente deve ser possível funcionar numa relação sexual com alguém que você ama sem o pesadelo que em geral se segue. Claro que é possível.(3)

Sabe, de fato não temos amor – essa é uma coisa terrível de se perceber. De fato não temos amor; temos sentimento; temos emocionalismo, sensualidade, sexualidade, temos lembranças de alguma coisa que pensamos que era amor. Mas de fato, brutalmente, não temos amor. Porque ter amor significa não ter violência, nem medo, nem competição, nem ambição. Se você teve amor, nunca dirá, "Esta é minha família." Você pode ter uma família e lhe dar o melhor que pode; mas ela não será "sua família" que está em oposição ao mundo. Se você ama, se existe amor, existe paz. Se você amasse, educaria seu filho não para ser nacionalista, não para ter apenas uma profissão técnica e tratar apenas de seus pequenos assuntos; você não teria nacionalidade. Não haveria divisões de religião, se você amasse. Mas como essas coisas de fato existem – não teoricamente, mas brutalmente – este mundo hediondo, mostra que você não tem amor. Mesmo o amor da mãe por seu filho não é amor. Se a mãe realmente amasse seu filho, você acha que o mundo seria assim? Ela cuidaria que ele tivesse o alimento correto, a educação correta, que fosse sensível, que apreciasse a beleza, que não fosse ambicioso, ganancioso, invejoso. Então a mãe, conquanto ela possa pensar que ama seu filho, não ama. Então não temos esse amor.(4)

A necessidade de segurança nas relações gera inevitavelmente o sofrimento e o medo. Essa busca de segurança, atrai a insegurança. Já encontrastes alguma vez segurança em alguma de vossas relações? Já? A maioria de nós quer a segurança de amar e ser amado, mas existirá amor quando cada um está a buscar a própria segurança, seu caminho próprio? Nós não somos amados porque não sabemos amar.

Que é o amor? Esta palavra está tão carregada e corrompida, que quase não tenho vontade de empregá-la. Todo o mundo fala de amor - toda a revista e jornal e todo missionário discorre interminavelmente sobre o amor. Amo a minha pátria, amo o prazer, amo a minha esposa, amo a Deus. O amor é uma idéia? Se é, pode então ser cultivado, nutrido, conservado com carinho, moldado, torcido de todas as maneiras possíveis. Quando dizeis que amais a Deus, que significa isso ? Significa que amais uma projeção de vossa própria imaginação, uma projeção de vós mesmo, revestida de certas formas de respeitabilidade, conforme o que pensais ser nobre e sagrado; o dizer "Amo a Deus" é puro contra-senso. Quando adorais a Deus, estais adorando a vós mesmo; e isso não é amor.

Incapazes, que somos, de compreender essa coisa humana chamada amor, fugimos para as abstrações. O amor pode ser a solução final de todas as dificuldades, problemas e aflições humanas. Assim, como iremos descobrir o que é o amor? Pela simples definição? A igreja o tem definido de uma maneira, a sociedade de outra, e há também desvios e perversões de toda a espécie. A adoração de uma certa pessoa, o amor carnal, a troca de emoções, o companheirismo - será isso o que se entende por amor? Essa foi sempre a norma, o padrão, que se tornou tão pessoal, sensual, limitado, que as religiões declararam que o amor é muito mais do que isso. Naquilo que denominam "amor humano", vêem elas que existe prazer, competição, ciúme, desejo de possuir, de conservar, de controlar, de influir no pensar de outrem e, sabendo da complexidade dessas coisas, dizem as religiões que deve haver outra espécie de amor - divino, belo, imaculado, incorruptível.

(...) Pode o amor ser dividido em sagrado e profano, humano e divino, ou só há amor? O amor é para um só e não para muitos? Se digo "Amo-te", isso exclui o amor do outro? O amor é pessoal ou impessoal? Moral ou imoral? Familial ou não familial? Se amais a humanidade, podeis amar o indivíduo? O amor é sentimento? Emoção ? O Amor é prazer e desejo ? Todas essas perguntas indicam - não é verdade? - que temos idéias a respeito do amor, idéias sobre o que ele deve ou não deve ser, um padrão, um código criado pela cultura em que vivemos.

Assim, para examinarmos a questão do amor - o que é o amor - devemos primeiramente libertar-nos das incrustações dos séculos, lançar fora todos os ideais e ideologias sobre o que ele deve ou não deve ser. Dividir qualquer coisa em o que deveria ser e o que é, é a maneira mais ilusória de enfrentar a vida.

Ora, como iremos saber o que é essa chama que denominamos amor - não a maneira de expressá-lo a outrem, porém o que ele próprio significa? Em primeiro lugar rejeitarei tudo o que a igreja, a sociedade, meus pais e amigos, todas as pessoas e todos os livros disseram a seu respeito, porque desejo descobrir por mim mesmo o que ele é. Eis um problema imenso, que interessa a toda humanidade; há milhares de maneiras de defini-lo e eu próprio me vejo todo enredado neste ou naquele padrão, conforme a coisa que, no momento, me dá gosto ou prazer. Por conseguinte, para compreender o amor, não devo em primeiro lugar libertar-me de minhas inclinações e preconceitos?(5)

(1) Krishnamurti. Mind in Meditation, pp 10-11
(2) Krishnamurti. The First and Last Freedom, p 234
(3) Krishnamurti Foudation Trust Bulletin 3, 1969 Krishnamurti Foudation Trust Bulletin 4, 1969
(4) Krishnamurti. The Collected Works, Vol. XV Varanasi 5th Public Talk 28th November 1964
(5) Krishnamurti - Liberte-se do passado - Editora Cultrix

O conflito não está no sentimento de amar

Pergunta: É possível um homem e uma mulher viverem juntos, ter sexo e filhos, sem toda a confusão, amargura e conflito inerentes a tal relação? É possível haver liberdade em ambos os lados? Não quero dizer com liberdade que o marido ou a esposa deveriam ter constantemente casos com outras pessoas. As pessoas em geral ficam juntas e casam por que se apaixonam, e nisso existe desejo, escolha, prazer, possessividade e tremendo esforço. A própria natureza deste estado apaixonado está desde o início cheia das sementes do conflito.

Krishnamurti: É isso? Precisa ser? Duvido muito disso. Você não pode se apaixonar e não ter uma relação possessiva? Amo alguém e ela me ama e nos casamos – isso tudo é perfeitamente honesto e simples, não há absolutamente conflito nisso. (Quando digo que nos casamos, quero dizer apenas que decidimos viver juntos – não se prenda em palavras.) A pessoa não pode ter isso sem a outra coisa, sem a cauda por assim dizer, necessariamente em seguida? Não podem duas pessoas estar amando e ambas serem tão inteligentes e tão sensíveis que exista liberdade e ausência de um centro que trabalha para o conflito? O conflito não está no sentimento de amar. O sentimento de estar amando é totalmente sem conflito. Não há perda de energia em estar amando. A perda de energia está na cauda, em tudo que vem em seguida – ciúme, possessividade, suspeita, dúvida, o medo de perder aquele amor, a demando constante por reafirmação e segurança. Certamente deve ser possível funcionar numa relação sexual com alguém que você ama sem o pesadelo que em geral se segue. Claro que é possível.

Krishnamurti Foudation Trust Bulletin 3, 1969 Krishnamurti Foudation Trust Bulletin 4, 1969

quarta-feira, 26 de dezembro de 2012

O amor vem da meditação

Desejamos um amor que nasça da meditação, não da mente. Esse é o amor de que sempre falo.

Milhões de casais em todo o mundo vivem como se o amor estivesse presente. Eles vivem em um mundo de faz-de-conta.

É claro que não podem ser felizes, pois drenam toda a energia tentando extrair algo de um falso amor que não pode lhes dar aquilo que querem. Daí a frustração, o tédio contínuo, o freqüente mal-estar, a briga entre os amantes.

Ambos insistem em fazer de seu relacionamento algo que seja eterno, o que não é possível. Esse amor veio da mente e a mente não pode lhe dar nenhum vislumbre do eterno.

Primeiro, entre em meditação, porque o amor vem da meditação — o amor é a fragrância da meditação.

A meditação é a flor, o lótus de mil pétalas. Deixe-a desabrochar. Deixe que ela o ajude a ascender na dimensão vertical, da não-mente, do não-tempo, e de repente perceberá que a fragrância está presente. Então o amor é eterno e incondicional.

Ele não é nem mesmo dirigido a uma pessoa em particular, ele não pode ser dirigido a ninguém em particular. Não é uma relação, e sim uma qualidade que o envolve.

Não tem nada a ver com o outro. Você está amando, você é esse amor eterno. É a sua fragrância, a mesma que está ao redor de um Buda, de um Zaratustra, de um Jesus.

É um tipo totalmente diferente de amor, é um sentimento qualitativamente diferente.

Osho, em "Meditação: A Primeira e Última Liberdade

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Estar relacionado significa não depender do outro

Temos de considerar o nosso relacionamento tal como é agora, todos os dias; e, observando o que ele é, descobriremos como transformar essa realidade. Assim, estamos descrevendo as coisas tais como efetivamente são. Cada um vive em seu próprio mundo, em seu mundo pessoal de ambição, de cobiça, de medo, de desejo de sucesso e assim por diante. Se sou casado, tenho responsabilidades, filhos; vou ao escritório ou algum outro lugar de trabalho; marido e mulher, rapaz e moça, se encontram na cama. E a isto damos o nome de amor — levar vidas separadas, ser isolados, construir uma parede de resistência ao nosso redor, levando avante uma atividade que gira em torno de nós mesmos. Cada qual procura segurança psicologicamente; cada qual depende do outro para se sentir confortado, para ter prazer, para ter companhia. Como somos todos profundamente solitários, cada um exige que o amem, que o valorizem; cada um está tentando dominar o outro. Vocês mesmos podem perceber isso se se observarem. Há na vida de vocês algum tipo de relacionamento, qualquer que seja? Não há relacionamento entre dois seres humanos; embora possam ter filhos, um lar, na realidade os dois não estão relacionados entre si. Se tem um projeto comum, esse projeto os sustenta, os matem juntos, mas isso não é relacionamento.

Dando-se conta disso, a pessoa percebe que, se não há relacionamento entre dois seres humanos, começa a corrupção, não na estrutura externa da sociedade, no fenômeno externo da poluição, mas na poluição interior, a destruição. Os seres humanos na realidade não tem nenhum relacionamento — como é o caso de vocês. Vocês podem segurar a mão um do outro, beijar-se, dormir juntos; mas na realidade, quando observam tudo isso bem de perto, haverá aí algum relacionamento? Estar relacionado significa não depender do outro, não tentar escapar da própria solidão por meio do outro, não tentar encontrar conforto, companhia, por intermédio do outro. Quando vocês procuram o conforto por meio do outro, quando são dependentes, etc., pode haver algum tipo de relacionamento?

Não estarão vocês, nesse caso, usando-se mutuamente?

Não estamos sendo pessimistas, mas observando a realidade tal como é; isso não é pessimismo. Para descobrir o que de fato significa estar relacionado com o outro, é necessário compreender a questão da solidão, porque a maioria de nós é terrivelmente solitária; quanto mais envelhecemos, tanto mais solitários ficamos, principalmente neste país [Estados Unidos]. Vocês já observaram como são os mais velhos? Já se deram conta de suas fugas, de suas diversões? Eles trabalharam a vida inteira e querem fugir para alguma espécie de entretenimento.

Vendo isso, será possível encontrar uma maneira de viver na qual não usemos o outro psicológica nem emocionalmente, não dependamos do outro, não o façamos de válvula de escape das nossas próprias torturas, dos nossos próprios desesperos, da nossa própria solidão?

Compreender isso equivale a compreender o que significa ser solitário. Vocês já ficaram solitários? Sabem o que isso quer dizer? Quer dizer que vocês não têm relação com o outro, estão completamente isolados. Podem estar com a família, no meio da multidão, no escritório, em qualquer lugar, quando essa sensação de profunda solidão, com o desespero que a acompanha, de súbito desaba sobre vocês. Até resolverem isso por completo, seus relacionamentos assumem o caráter de um meio de fuga, levando, por conseguinte, à corrupção, à angústia. Como proceder para compreender essa solidão, essa sensação de isolamento? Para compreendê-la, temos de examinar a nossa própria vida. Não é verdade que todas as suas ações são atividades que giram em torno de vocês mesmos? Vocês podem de vez em quando ser caridosos, generosos, fazer algo sem interesse próprio — trata-se de ocasiões raras. Esses desespero jamais pode ser dissolvido por meio de uma fuga, mas apenas mediante a sua observação.

Logo, voltamos à questão de como nos observarmos a nós mesmos de modo que não haja nenhum conflito nessa observação. Porque o conflito é corrupção, perda de energia; é a batalha da nossa vida do momento em que nascemos até a hora da morte. Será possível viver sem um único instante de conflito? Para fazê-lo, para descobrir isso por nós mesmos, temos de aprender a observar todo o nosso movimento. Há uma observação verdadeira quando não há o observador, mas apenas a observação.

Quando não há relacionamento, pode haver amor? Falamos sobre isso e o amor, tal como o conhecemos, está vinculado com o sexo e o prazer, não é? Alguns de vocês dizem “não”. Se dizem não, vocês devem ser sem ambição, não havendo, assim, competição, divisão — como “você” e “eu”, “nós” e “eles”. Não pode haver divisão de nacionalidade, nem divisão causada pela crença, pelo conhecimento. Só então vocês podem dizer que amam. Porém, para a maioria das pessoas, o amor está vinculado com o sexo e com o prazer, e com toda a labuta concomitante — ciúme, inveja, antagonismo — vocês sabem o que acontece entre um homem e uma mulher. Quando esse relacionamento não é verdadeiro, real, profundo, completamente harmonioso. Como podem vocês ter paz neste mundo? Como pode a guerra ter fim?

Assim, o relacionamento é uma das coisas mais importantes — ou melhor, a coisa mais importante — da vida. Isso significa que se tem de compreender o que é o amor. Certamente deparamos com ele de uma maneira estranha, sem procura-lo. Quando descobrem por si mesmos o que o amor não é, vocês ficam sabendo o que ele é. Não de forma teórica nem verbal, mas quando se dão efetivamente conta do que ele não é: não ter uma mente competitiva, ambiciosa, uma mente que se empenha, compara, imita. É impossível uma mente assim poder amar.

E será que vocês, vivendo neste mundo podem ser completamente sem ambição, jamais se comparando com qualquer outra pessoa? Porque, no momento em que vocês se comparam com o outro, há conflito, há inveja, há o desejo de alcançar, de ir além dele.

Será que uma mente e um coração que se lembram de mágoas, dos insultos, das coisas que os tornaram insensíveis e embotados, será que uma tal mente e um tal coração podem saber o que é o amor? No entanto, o que estamos procurando, consciente ou inconscientemente? Os nossos deuses são o resultado do nosso prazer. As nossas crenças, a nossa estrutura social, a moral da sociedade — que é essencialmente imoral — são o resultado da nossa busca do prazer. E quando vocês dizem “eu amo alguém”, isso é amor? Amor significa ausência de separação, de dominação, de atividade autocentrada. Para descobrir o que ele é, é imprescindível negar tudo isso — negar no sentido de perceber a sua falsidade. Uma vez que se perceba como falsa uma coisa que se aceitava como verdadeira, natural, humana, não mais se pode voltar a ela; quando veem uma cobra ou outro animal perigoso, vocês nunca brincam com ele, vocês nunca se aproximam dele. Do mesmo modo, quando perceberem efetivamente que o amor não é nenhuma dessas coisas, quando o sentirem, o observarem, o mastigarem, viverem com ele, comprometerem-se inteiramente com ele, vocês saberão o que é o amor, o que é a compaixão — que é paixão por todos.

Não temos paixão; temos luxúria, temos prazer. O significado original da palavra paixão é sofrimento. Todos já tivemos algum tipo de sofrimento, por perder alguém, o sofrimento da autocomiseração, o sofrimento da raça humana, tanto coletivo como pessoal. Sabemos o que é o sofrimento, a morte de alguém que julgamos amar. Quando permanecemos com esse sofrimento de maneira total, sem tentar racionalizá-lo, sem tentar escapar dele de nenhuma forma — por meio de palavras ou da ação —, quando nos mantemos com ele completamente, sem nenhum movimento do pensamento, descobrimos que desse sofrimento vem a paixão. Essa paixão tem a qualidade do amor, e o amor não tem sofrimento.

Krishnamurti —Nova Iorque, 24 de abril de 1971
Extraído do livro: O despertar da Inteligência (Não editado no Brasil)

sexta-feira, 23 de novembro de 2012

A ideia de amor é só uma sedução biológica

A palavra Amor pode ter dois significados absolutamente diferentes — não apenas diferentes, mas diametralmente opostos. Um significado é amor no sentido de relacionamento; o outro é amor no sentido de estado de ser. No momento em que o amor se torna relacionamento, ele passa a ser um cativeiro, pois existem expectativas, existem exigências, exigem frustrações e um esforço de ambos os lados para dominar. O amor torna-se uma luta pelo poder. O relacionamento não é a coisa certa. Mas o amor como estado do ser é uma coisa totalmente diferente. Significa que você está simplesmente amando; você não está criando um relacionamento a partir dele. O seu amor é assim como o perfume de uma flor. Ele não cria um relacionamento; não pede que você seja de um certo modo, que se comporte de um certo modo, que aja de um certo modo. Ele não exige nada. Simplesmente compartilha. E nesse compartilhar também não existe nenhum desejo de recompensa. O próprio compartilhar é a recompensa.

Quando o amor torna-se um perfume para você, ele tem uma beleza extraordinária. E algo está muito além da chamada humanidade — ele tem algo divino.

Quando o amor é um estado, você não pode fazer nada com ele. Ele irradia, mas não cria nenhum aprisionamento para ninguém, nem deixa que você seja aprisionado por ninguém.

Contudo você está acostumado a criar relacionamentos, desde que era criança… Ao longo de toda a sua vida, você está cercado por muitos tipos de relacionamento. E relacionamentos como esses, sejam reais ou imaginários, são um tipo muito sutil de escravidão psicológica. Ou você escraviza a outra pessoa ou torna-se você mesmo um escravo.

Outro ponto que é preciso destacar é que você não pode escravizar alguém sem se tornar  você mesmo um escravo. A escravidão é uma faca de dois gumes. Um pode ser mais forte, o outro pode ser mais fraco, mas em todo relacionamento você se torna um carcereiro e o outro se torna um prisioneiro. Visto do lado do outro, ele é um carcereiro e você o prisioneiro. E essa é uma das causas básicas de a humanidade viver em meio de tamanha tristeza, em tal estado de aflição.

O ódio é muito mais forte num relacionamento do que o amor, pois o amor é muito superficial. O seu ódio é muito profundo. O seu ódio constitui toda a sua herança animal. O seu amor é só um potencial para o futuro; não é um fato; só uma semente. Mas o seu ódio está em pleno desenvolvimento, já amadureceu — milhares de anos do seu passado passando por diferentes formas de vida. Ele já teve tempo e espaço para crescer. É só no homem que a mudança começa a acontecer.

(…) Deixe que o seu amor seja o estado do seu ser. Não que você se apaixone; você simplesmente ama. Trata-se simplesmente da sua natureza. O amor, para você, é só um perfume do seu ser. Mesmo quando está sozinho, você está cercado da energia do amor. Mesmo quando toca uma coisa morta, como uma cadeira, a sua mão irradia amor —  não importa para quem. O estado de amor não se dirige a nada.

Não estou sugerindo que você não viva nesse estado de amor, mas que você só pode viver nesse estado se deixar de lado o antigo padrão mental dos relacionamentos. O amor não é um relacionamento.

Duas pessoas podem ser muito amorosas uma com a outra. Quanto mais amorosas elas são, menor é a possibilidade de haver um relacionamento. Quanto mais amorosas elas são, maior é a liberdade que existe entra elas. Quanto mais amorosas elas são, menor é a possibilidade de alguma exigência, dominação, expectativa. E, naturalmente, não existe nenhum tipo de frustração.

Quando duas pessoas tem um relacionamento e suas expectativas não são preenchidas — e não vão ser mesmo —, o amor transforma-se imediatamente em ódio. Existiam expectativas, agora existem frustrações — mas primeiro elas projetaram as suas expectativas; agira elas estão projetando as suas frustrações. Nenhuma delas consegue ver que estão cercadas pelas suas próprias idéias inconscientes. E estão sofrendo.
Assim como no tempo em que imaginavam se amar, apreciavam uma à outra, sem conhecer uma à outra absolutamente, agora elas condenam uma à outra. É por isso que eu quero que você se lembre: não tenha expectativas. Ame porque o amor é o seu próprio crescimento interior. O seu amor ajudará você a crescer em direção a luz, em direção a mais verdade, a mais liberdade. Mas não comece um relacionamento.

Lembre-se apenas de uma coisa: o amoré capaz de destruir todo o resto; simplesmente não deixe que ele se torne um relacionamento — assim o amor desaparecerá e, em nome do amor, surgirá a dominação, a política. os problemas, então, só começarão a aumentar.

(…) Não existe, assim, nada de errado com o amor. Na verdade, sem o amor tudo está errado. Mas o amor é tão valioso que ele precisa ser protegido de todo o tipo de poluição, de contaminação, de qualquer tipo de envenenamento. O relacionamento o contamina. Quero que o mundo consista de indivíduos. Até mesmo o uso da palavra “casal” me agride. Você tem de destruir dois indivíduos e um casal não é uma coisa bonita.

Deixemos que o mundo se componha de indivíduos e, sempre que o amor brotar espontaneamente, cante com ele, dance com ele, viva-o; não crie correntes que o prendam a ele. Nem tente prender alguém num cativeiro, nem deixe que ninguém prensa você num cativeiro.

Um mundo composto apenas de indivíduos será um mundo verdadeiramente livre.

(…) Sem amor você fica sem asas. Mas pelo fato de ser um alimento e uma necessidade, surgiram muitos problemas em torno dele. Você quer que o seu amante ou bem-amado esteja à sua disposição amanhã também. Hoje foi bonito e você está preocupado com o amanhã. Por isso surgiu o casamento. Trata-se apenas do medo de que talvez amanhã o seu amante ou bem-amado possa deixar você — então façamos um contrato diante da sociedade e da lei. Mas ele é vil — absolutamente vil, nojento. Fazer do amor um contrato significa que você está colocando a lei acima do amor; significa que você está colocando o coletivo acima da individualidade e está se apoiando nos tribunais, nos exércitos, na polícia, nos juízes, para que o seu cativeiro seja absolutamente garantido e seguro. Amanhã pela manhã… nunca se sabe. O amor vem como uma brisa — ele ode vir de novo, pode não vir. E quando ele não vem, só por causa da lei, por causa do casamento, por causa da preocupação com a respeitabilidade social, quase todos os casais do mundo caem na prostituição.

Viver com uma mulher que você não ama, viver com um homem que você não ama, viver junto para ter segurança, para ter proteção, para ter respaldo financeiro, viver junto por qualquer motivo que não seja o amor, não passa de prostituição. Eu gostaria que a prostituição desaparecesse completamente deste mundo. Todas as religiões pregam que a prostituição não deveria existir — mas é assim que é a estupidez humana. Essas mesmas religiões que são contra a prostituição são a causa da prostituição, pois, por um lado, elas apoiam o casamento e, por outro, são contra a prostituição.

O próprio casamento é uma prostituição. Se eu confio no meu amor, porque deveria me casar? A própria ideia de casar é um sinal de desconfiança. E algo que é produto da desconfiança não vai ajudar o seu amor a ficar mais profundo e elevado. Ele vai destruí-lo. Ame, mas não destrua o amor com uma coisa falsa — o casamento ou qualquer outro tipo de relacionamento. O amor é autêntico quando há liberdade. Deixe que esse seja o critério. O amor só é verdadeiro quando não invade a privacidade da outra pessoa. Ele respeita a individualidade, a privacidade dela. Mas os amantes que você vê por este mundo afora fazem de tudo para nada seja provado; todos os segredos t~em de ser compartilhados. Eles temem a individualidade; destroem a individualidade um do outro e acham que, destruindo um ao outro, vão ter uma vida de contentamento, de total plenitude. Ela simplesmente fica cada vez mais infeliz.

(…) Eu não sou contra o amor. Sou totalmente a favor dele; é por isso que sou contra relacionamentos, contra casamentos. Pode ser que duas pessoas consigam viver a vida toda juntas. Ninguém está dizendo que você tenha que se separar, mas essa vida em comum será fruto apenas do amor, sem que um interfira ou invada a individualidade do outro, a alma do outro. Essa é a dignidade da outra pessoa.

Você pode ser amoroso, você pode ser amor. E, se você está simplesmente amando, se você for simplesmente amor, então não existe a possibilidade de que o amor se transforme em ódio. Pelo fato de não existir expectativa, não há como ficar frustrado. Mas estou falando do amor como um fenômeno espiritual, não como biologia. Biologia não é amor, é luxúria. A biologia está interessada na continuação das espécies; a ideia de amor é só uma sedução biológica. No momento em que você faz amor com uma mulher ou com um homem, você descobre que o interesse acabou, pelo menos pelas próximas 24 horas. E isso depende da sua idade — à medida que vai ficando mais velho, são 48 horas, 72 horas…

OSHO

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

Amar é estar em comunicação com alguém

O casamento como costume, como cultivo do prazer habitual, é um fator de deterioração, porque no hábito não há amor.

Só para os muitos, muitos poucos que amam, a relação conjugal tem significação, e então é indestrutível, então não é mero hábito ou mera conveniência nem está baseada na necessidade biológica, sexual. Nesse amor que é incondicional foram fusionadas as identidades, e numa relação assim há uma cura possível, há esperança.

Porém, para a maioria de vocês, na relação conjugal não há fusão. Para unir entre si as identidades separadas, tanto o marido como a esposa tem que conhecer a si mesmos. Isso significa amar. Porém, não há amor, o qual é um fato óbvio. O amor é sempre puro, novo, não é mera gratificação nem mero hábito. O amor é incondicional. E não é assim como vocês tratam a suas esposas ou maridos, verdade? Cada qual vive em seu próprio isolamento, e ambos tem estabelecido seus hábitos de prazer sexual assegurado. O que ocorre ao homem que tem uma renda financeira assegurada? É óbvio que se deteriora. Não o tem notado? Observem ao home que tem uma renda assegurada e de pronto notarão com quanta rapidez sua mente se deteriora. Pode ter uma grande posição, pode haver adquirido uma reputação por sua inteligência, porém, a plenitude da alegria de viver lhe tem abandonado.

De igual modo, no matrimonio de vocês há uma permanente fonte de prazer, um hábito sem compreensão, sem amor, e estão forçados a viver nessas condições. Não estou lhes dizendo o que devem fazer, senão que primeiramente considerem o problema. Pensam que isto está correto? Não quer dizer que você deva se livrar de sua mulher e buscar alguma outra. Que significado tem esta relação? Certamente, amar é estar em comunicação com alguém, porém, você está em comunicação com sua esposa, exceto fisicamente? Salvo nesse aspecto físico, a conhece? E ela, conhece a você? Por acaso não estão ambos isolados, cada qual perseguindo seus próprios interesses, suas próprias ambições e necessidades, cada qual buscando no outro suas gratificações, sua segurança econômica ou psicológica? Uma relação semelhante não é relação em absoluto; é um processo mutuo de necessidades psicológicas, biológicas e econômicas em que ambos se fecham isolando-se um do outro, e o resultado óbvio é o conflito, a infelicidade, as repressões, o temor possessivo, o ciúme e demais.

Por conseguinte, o matrimonio como costume, como cultivo do prazer habitual, é um fator de deterioração, porque no hábito não há amor. O amor não é uma questão de hábito; é algo feliz, criativo, sempre novo. Em consequência, o hábito é o contrário do amor, porém, vocês são prisioneiros do hábito e, naturalmente, a relação habitual que tem com o outro é uma relação opaca, apagada. Voltemos, pois, à questão fundamental, ou seja, que a reforma da sociedade depende de vocês, não da legislação. A legislação só pode contribuir a fomentar o hábito o amoldamento. Portanto, cada um de vocês, como indivíduo responsável que vivem em relação, tem que fazer algo, tem que atuar, e só poderá atuar quando houver um despertar de sua mente e seu coração. Vejo que alguns inclinam a cabeça em sinal de acordo comigo, porém, o fato óbvio é que não querem assumir a responsabilidade da transformação, da mudança; não desejam afrontar o transtorno de descobrir o modo de viver retamente. Portanto, o problema continua; seguem adiante com suas brigas, e finalmente morrem. E quando morrem há alguém que chora, não pelo companheiro ou companheira que morreu, senão por sua própria solidão. Vocês continuam iguais, não mudam, e pensam que são seres humanos capazes de legislar, de ocupar altas posições, de falar acerca de Deus, de encontrar uma maneira de deter as guerras, etc. Nenhuma destas coisas significa nada, porque vocês não estão resolvendo nenhum dos problemas fundamentais.

Krishnamurti – Obras Completas – Volume V – Nova Délhi, Índia, 19 de dezembro de 1948 

Quando o processo da mente é compreendido, o amor se manifesta

Neste país, um marido é o chefe; ele é a lei, o amo, porque domina economicamente, e é ele quem diz quais são os deveres de sua esposa. Uma vez que a esposa não é o fator dominante e depende economicamente, o que ela diz não conta. Podemos abordar este problema deste ponto de vista do marido ou da esposa. Se abordamos o problema da esposa vemos que, por não ser ela livre economicamente, sua educação é limitada, ou suas capacidades de pensar podem ser inferiores; e a sociedade lhe há imposto regulamentos e modos de conduta determinado pelos homens. Em consequência, ela aceita os assim chamados direitos do marido; e como ele é o fator dominante ao ser economicamente livre e ter a capacidade de ganhar dinheiro, é ele quem dita a lei. Naturalmente, onde o casamento é um assunto de contrato, suas complicações não tem limite. Então, existe o dever, uma palavra burocrática que nada significa na relação.  

Quando você estabelece regulamentações e começa a indagar nos direitos e deveres do marido e da esposa, isso não termina nunca. Por certo, uma relação semelhante é um assunto terrível, não? Quando o marido exige os seus direitos e insiste em ter uma esposa submissa, qualquer coisa que isso possa significar, a relação que tem é, obviamente, tão só um contrato comercial. É muito importante compreender esta questão, porque deve haver seguramente uma maneira distinta de abordá-la. Enquanto a relação se baseia num contrato, em dinheiro, na possessão, na autoridade e na dominação, então, é inevitável que se converta num assunto de direitos e deveres. Podemos ver a extrema complexidade da relação, quando esta é o resultado de um contrato que determina o que está bem, o que está mal, o que é dever. Se sou a esposa e meu marido insiste em certas ações, como não sou independente, é natural que tenha que sucumbir a seus desejos, que é o mantenedor da renda. Vocês impõem às suas esposas certas regras, certos direitos e deveres; portanto, a relação se torna um mero assunto de contrato, com todas as complexidades que isso implica.

Bem, agora, não há uma maneira diferente de abordar este problema? Ou seja, quando há amor não existe o dever. Quando você ama a sua esposa, compartilha tudo com ela: sua propriedade, suas preocupações, sua ansiedade, sua alegria. Não a domina. Você não é o homem e ela a mulher para ser usada e posta de lado, uma espécie de máquina de engendrar filhos a fim de prolongar o apelido de marido. Quando há amor, a palavra dever desaparece. O homem cujo coração carece de amor, é ele que fala de direitos e deveres, e neste país os deveres e direitos tem tomado o lugar do amor. As regras tem se tornado muito mais importantes que o calor do afeto. Quando há amor, o problema é simples; quando não há amor, o problema se torna complexo. Quando um homem ama a sua mulher e a seus filhos, jamais pode pensar em termos de direitos e deveres. Senhores, examinem seus próprios corações e suas mentes. Sei que o tomam por engraçado; é um dos truques das pessoas irrefletidas rirem-se de algo e assim descarta-lo. A esposa não compartilha aqui a responsabilidade do marido, não compartilha a sua propriedade, não possui a metade de tudo o que ele possui, porque se considera que a mulher é menos que o homem, é algo para ser mantido e usado sexualmente, a conveniência do marido e quando o apetite deste assim o queira. Em consequência, vocês tem inventado as palavras direitos e dever; e quando a mulher se rebela, lhe lançam estas palavras. É uma sociedade estática, uma sociedade em deterioração a que fala em de dever e direitos. Se examinam de verdade seus corações e suas mentes, encontraram que carecem de amor.

Para que surja uma sociedade nova, uma nova cultura, é óbvio que não pode haver dominação, nem da parte do homem nem da parte da mulher. A dominação existe por causa da pobreza interna. Sendo psicologicamente pobres, necessitamos de dominar, renegar contra o servente, contra a esposa e o marido. Por certo, só o sentimento de afeto, do calor do amor, podem dar origem a um novo estado, a uma nova cultura. O cultivo do coração não é um processo da mente. A mente não pode cultivar o coração, porém, quando o processo da mente é compreendido, o amor se manifesta. O amor não é uma mera palavra. A palavra não é a coisa. A palavra amor não é amor. Quando usamos essa palavra e tratamos de cultivar o amor, isso é tão só um processo da mente. O amor não pode ser cultivado, porém, quando compreendemos que a palavra não é a coisa, então, a mente com suas leis e regulamentações, com seus direitos e deveres, deixa de interferir, e só assim existe a possibilidade de criar uma nova cultura, uma nova esperança e um novo mundo.

Krishnamurti – Obras completas – Volume V – Poona –Índia, 12 de setembro de 1948

Sem a qualidade do amor, tudo carece de sentido

Pergunta: Quase todos estamos casados ou comprometidos numa relação íntima que começou por todas as razões errôneas que você tem descrito tão corretamente. Pode um casamento ou uma relação assim se, converter-se alguma vez numa força realmente positiva? (risos)

Krishnamurti: Que pessoas tão miseráveis! Então, como abordamos esta pergunta? O que significa estar em relação com outra pessoa? Você pode estar relacionado fisicamente de uma maneira muito estreita, intima, porém, alguma vez estamos relacionados psicologicamente, por inteiro? Não romanticamente, sentimentalmente; refiro-me ao sentido profundo de estar relacionados. A palavra relação significa estar em contato, ter um sentido de totalidade com o outro, não como entes separados que se juntam e se sentem totais, senão que a relação mesma produz esta qualidade, esta sensação de que não estão separados. Esta é, em verdade, uma questão sumamente importante, porque nossas vidas estão, em sua maior parte, muito isoladas, muito separadas, muito cuidadosamente estruturadas a fim de que não sejamos perturbados psicologicamente. E uma relação assim deve originar, inevitavelmente, conflito, perturbação e toda conduta neurótica que temos. Por conseguinte, juntos deixemos claro o que entendemos por relação, não só o significado dessa palavra, o significado verbal, senão o significado que há atrás da palavra, atrás das pessoas que estão relacionadas.

O que significa estar relacionados? Alguma vez estamos relacionados no sentido profundo dessa palavra? Pode haver uma relação dessa classe, inalterada, serena como as profundidades do mar? Pode haver se cada um de nós persegue seu próprio caminho particular, seu desejo particular, sua ambição particular e demais? Pode haver uma relação assim com o outro se existem estas coisas? Vocês dizem: “Como pode não existir? Acaso não é necessário que cada um de nós se realize, que floresça junto com o outro?” O que significa isso quando existe esse sentido de separação? Se cada um de nós diz que estamos nos ajudando mutuamente a florescer, a crescer, a nos realizarmos, a ser felizes juntos, então, seguimos mantendo o espírito de isolamento. Bem, agora, por que a mente, o cérebro, a entidade humana, se aferra sempre à separação?

Por favor, esta é uma pergunta muito, muito séria. Por que os seres humanos tem mantido, em todo o curso da história, este sentido de isolamento, de separação, de divisão? Você é católico, eu sou protestante. Você pertence a esse grupo e eu pertenço aquele grupo. Eu coloco uma túnica roxa ou uma túnica amarela ou me cubro com uma grinalda; e mantemos isto enquanto falamos da relação, do amor e tudo o mais. Por quê? (Por favor, estamos cooperando, investigamos juntos). Por que fazemos isto? Isso é consciente, deliberado, ou é inconsciente, é nossa tradição, nossa educação? Toda a estrutura religiosa sustenta que estamos separados, que somos almas separadas, etc. É por que o pensamento em si é separativo? Compreende? Eu penso que estou separado de você. Penso que minha conduta deve estar separada da sua, porque do contrário, existe o temos de que nos tornemos automáticos, zumbis, que nos imitemos uns aos outros. É o pensamento a causa deste sentido de separação na vida? Por favor, investiguemos isso juntos. O pensamento tem separado o mundo em nacionalidades. Você é inglês, outro é alemão, eu sou francês, você é russo e assim sucessivamente. Esta divisão é criada pelo pensamento. E o pensamento supõem que nesta separação, nesta divisão há segurança; pertencendo a uma comunidade, pertencendo ao mesmo grupo, tendo fé num mesmo guru, acreditando nas mesmas roupas que você veste conforme os mandos do guru, você se sente seguro, ao menos tem a ilusão de que está seguro.

Assim nos perguntamos: O que nos separa é o prazer, o desejo agradável que é também o movimento do pensar? Correto? Ou seja, o pensamento é alguma vez completo, total? Porque o pensamento se baseia no conhecimento, que é a imensa experiência acumulada do homem, seja no mundo científico, tecnológico ou psicológico. Temos acumulado uma grande quantidade de conhecimentos, tanto externa como internamente. E o pensamento é o resultado desses conhecimentos, o pensamento como memória, conhecimento, experiência. Portanto, o conhecimento jamais pode ser completo acerca de nada: acerca de Deus, do nirvana, do céu, da ciência..., de nada. De modo que o conhecimento deve marchar sempre junto com a sombra da ignorância. Por favor, vejamos esta fato juntos. Por isso, quando o pensamento penetra dentro do campo da relação, deve criar uma divisão, porque o pensamento mesmo é limitado. De acordo?

Se isto está claro para todos nós — não estou dando explicações, vocês o estão descobrindo por si mesmos —, então, que lugar ocupa o conhecimento na relação? Por favor, esta questão é muito séria, não é só uma proposição casual, argumentativa. Esta é uma investigação acerca de que lugar ocupam o conhecimento, a experiência, as recordações acumuladas, na relação. Tenham a bondade de responder a isto vocês mesmos, não olhem para mim. Se você diz: “Conheço a minha esposa — ou outra forma de relação intima —, já colocou esta pessoa dentro da estrutura de seu conhecimento acerca dela. Por conseguinte, esse conhecimento se torna o processo divisor. Você tem vivido com sua esposa, sua noiva ou o que for, e tem acumulado informação. Tem recordado as penosas declarações que ela tenha feito ou que você as fez; existe todo esse desenvolvimento da memória que dá forma a uma imagem, a qual interfere na relação com a outra pessoa. Correto? Por favor, observem isto em si mesmos. E ela está fazendo exatamente a mesma coisa. Nos perguntamos, pois: Que lugar ocupa o conhecimento na relação? O conhecimento é amor? Posso conhecer a minha esposa: sua aparência, o modo como se comporta, certos hábitos que possui, etc. Isso é bastante óbvio. Porém, por que devo dizer “conheço”? Quando digo que a conheço já limitei minha relação. Não sei se o compreendem. Já criei um bloqueio, uma barreira entre nós dois. Significa isso que em minha relação com ela me torno irresponsável? Compreendem minha pergunta? Se digo: “Basicamente, não conheço você”, sou irresponsável? Ou me torno extraordinariamente sensitivo — se é que posso usar essa palavra; é uma palavra errônea —, sou vulnerável, não tenho sentido algum de divisão, não tenho barreiras?

Portanto, se possuo esta qualidade de mente, de cérebro, se sinto que a relação é um florescer, um movimento — não é algo estático, é uma coisa viva, você não pode coloca-la em uma cesta e dizer “é isso” e não mover-se daí —, então, posso começar a perguntar-me: O que é o casamento? De acordo? O não casamento; você pode viver com outra pessoa, sexualmente, podem viver como companheiros, de mãos dadas, conversar e ir a um Registro Civil ou passar por uma cerimônia católica ou protestante e ser amarrados ali; ou podem viver sem estarem casados. Em um caso, você toma um voto de responsabilidade; no outro, não. Num estou legalmente casado e a separação ou o divórcio se torna bem mais difícil; no outro é bastante simples, ambos dizemos adeus e partimos em direções diferentes. E isso é o que está ocorrendo cada vez mais no mundo. Não condenamos nem a um nem ao outro. Por favor, só estamos considerando todo este problema: a responsabilidade e o sentimento de tremenda carga que representam os filhos. E aí vocês estão atados legalmente. No outro caso não, podem ter filhos, porém a porta está aberta sempre. Bem, agora, em ambos os casos, toda relação entre duas pessoas é uma mera forma de atração, de respostas biológicas por ambas as partes, curiosidade, o sentimento de querer estar com outro, o qual pode ser o resultado do inconsciente medo da solidão, um hábito estabelecido pela tradição? Em ambos os casos, se converteu num hábito e em ambos os casos há medo da perda, há a possessão, mutua exploração sexual e todas as sequelas disso. Bem, agora, o que é importante em todos os casos? Por favor, estamos considerando isto juntos; não estou lhes dizendo o que é e o que não é importante. O que é importante, indispensável em ambos os casos? A responsabilidade é essencial, não é verdade? Sou responsável pelas pessoas com quem vivo. Sou responsável, não só com respeito a minha esposa, senão que sou responsável pelo que está ocorrendo no mundo. Sou responsável de ver que não se matem as pessoas. Sou responsável. Responsável de ver que não haja violência. Estão de acordo?

Limita-se, pois, minha responsabilidade a uma pessoa, a minha família, a meus filhos, como o tem sido estabelecido pela tradição? No Ocidente, a família está desaparecendo mais e mais, enquanto que no Oriente a família segue sendo o centro. Esta é tremendamente importante; pela família farão qualquer coisa, ainda que sejam primos longínquos se manterão unidos, se ajudarão uns aos outros usando toda classe de influências. Porém, aqui, pouco a pouco isso está desaparecendo por completo.

Vejam senhores, à medida que vocês o investigam, este problema torna-se extraordinariamente complexo e vital. Se tenho filhos, se os amo realmente e me sinto responsável, o sou durante toda a vida deles, e eles devem sentir-se responsáveis por mim durante toda a sua vida. Devo ver que sejam devidamente educados, que não se lhes ensinem a causa de uma guerra.

Assim, pois, esta questão implica tudo isto. Investigando-a profundamente, você vê que, a menos que tenha esta qualidade do amor, tudo carece por completo de significação. E, se estou tentando não ser egoísta, não estar isolado, ter este sentimento de profundo afeto no qual não há apego e nem posse nem perseguição do prazer, e minha esposa sente o contrário, então, temos um problema completamente diferente. Compreendem isto? Então, o problema é: Que farei? Simplesmente abandoná-la, fugir, divorciar-me? Posso ter que faze-lo se ela insiste. Não é uma pergunta que possa ser respondida mediante umas tantas declarações, senão que requer muitíssima investigação interna nisto por ambas as partes. E, se nessa investigação, se nessa exploração não há amor, então, não há uma ação inteligente. Onde há amor, este tem sua própria inteligência, sua própria responsabilidade.

Krishnamurti – Brockwood Park, Inglaterra, 2 de setembro de 1982

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill