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quarta-feira, 1 de maio de 2013

A mente é escrava de si própria

A mente que se ajusta, a mente que obedece, que segue a autoridade, a convenção, não é, por certo, uma mente livre. É uma mente vulgar, estreita, limitada. Cabe-nos, pois, indagar se a mente pode libertar-se de todas as formas de imitação. E para compreender esse problema, temos de eliminar de nossa mente o medo, em qualquer forma que seja. A moralidade social se baseia essencialmente na autoridade e na imitação. Assim, consideremos por ora se a mente pode compreender as limitações próprias da imitação, do ajustamento a determinado padrão. E se é possível a mente descondicionar-se.

Parece-me que a bondade, a florescência da bondade, nunca se verificará enquanto a mente for apenas "respeitável", adaptada ao padrão social, a certo padrão ideológico ou religioso, quer imposto de fora, quer interiormente cultivado. Resulta daí a questão: Por que é que o homem segue? Por que segue não apenas o padrão social mas também o padrão que estabeleceu para si próprio, pela experiên­cia, pela constante repetição de certas ideias, certas normas de con­duta? Temos a autoridade do livro, a autoridade do que se diz sabe­dor, a autoridade da igreja e a autoridade da Lei; e onde traçar a linha que indica quando não se pode seguir e quando se deve seguir?

O seguir a Lei é evidentemente necessário, pois cumpre "conser­var a direita" ou "a esquerda", na estrada (conforme o país em que nos achamos) etc.; mas, quando se torna a autoridade prejudicial, um verdadeiro mal?

Examinando bem esta matéria, pode-se ver que a maioria de nós busca o poder. Social, política, econômica, religiosamente, esta­mos em busca de poder; o poder que o saber, a técnica, conferem; o extraordinário poder que um homem sente possuir quando tem per­feito controle do próprio corpo: o poder que o ascetismo dá. Tudo isso, por certo, é processo imitativo; significa ajustamento a um padrão, com o fim de adquirir um certo poder, uma certa posição, vitalidade. Assim, parece-me que, se não compreendemos toda a anatomia do poder, a ânsia, o desejo dele, nunca poderá a mente encontrar-se naquele estado de humildade, que não é a humildade inventada pelo homem.

Ora, por que é que o homem segue? Por que seguis a mim, o orador — se me estais seguindo? Estais-me seguindo, ou estais pres­tando atenção, escutando? Estes são dois estados completamente dife­rentes, não? Seguis, quando vosso desejo é realizar, alcançar ou ganhar algo que julgais este orador pode oferecer. Mas, se o orador de fato está oferecendo alguma coisa, ele é então um propagandista, e não um investigador da verdade. E se estais seguindo alguém, isso indica claramente que tendes medo, que estais incerto: desejais ser encora­jado, ser informado sobre como alcançar, ser bem sucedido.

Mas se, ao contrário, escutais realmente — e isso é muito dife­rente de seguir a autoridade ou buscar o poder — estais então escutando para descobrir o que é verdadeiro e o que é falso, e esse descobrimento não depende de opinião nem de saber. Ora, como descobris o que é falso e o que é verdadeiro, se estais escutando? É bem óbvio que se a mente está apenas argumentando, interiormente ou com uma pessoa que está expondo certas ideias, não está desco­brindo o que é verdadeiro ou falso. O indivíduo não está escutando, absolutamente, quando esse escutar apenas provoca uma reação em conformidade com seu saber, sua experiência, opinião, educação, isto é, seu condicionamento. Não escuta, igualmente, ao forcejar por desco­brir o que outra está dizendo, porque então seu interesse está intei­ramente absorvido pelo esforço. Mas se todos esses estados puderem ser postos de parte, existirá, então, o estado de escuta, que é atenção.

Atenção não é, de modo nenhum, a mesma coisa que concen­tração. Concentração significa obrigar a mente a focar determinado ponto, pelo processo de exclusão. A atenção, ao contrário, é inclusão total. Há atenção, quando não apenas estais escutando o orador, mas também a música que estão tocando na igreja vizinha, e os ruídos do tráfego, lá fora — quando a mente está de todo atenta, sem nenhum limite e, portanto, sem nenhum centro. Está ela, então, escutando e, portanto, vendo o que é verdadeiro e o que é falso, imediatamente, sem reação alguma, sem o emprego de qualquer forma de dedução, indução, ou outro artifício qualquer. Ela está escutando realmente e há, por conseguinte, nesse próprio ato de escutar, revolução, transfor­mação fundamental.

Essa atenção, para mim, é virtude; só nessa atenção floresce a bondade simples, a bondade que não é produto da educação, da socie­dade e de todos os atavios intelectuais criados pela influência. E, talvez, essa atenção é também amor. O amor não é virtude — a vir­tude que conhecemos. E onde existe esse amor, não existe pecado; o homem pode então fazer o que quer; está fora do alcance dos tentá­culos da sociedade e de todos os horrores da respeitabilidade.

Assim, deve o homem descobrir por si mesmo por que segue, por que aceita essa tirania da autoridade — autoridade do sacerdote, autoridade da palavra impressa, da Bíblia, das Escrituras indianas etc. etc. Pode-se rejeitar completamente a autoridade da sociedade?

Não me refiro à renuncia dos intelectualistas mundanos; esta é mera reação. Mas, pode-se realmente perceber que esse ajustamento exterior a um padrão é fútil e de efeitos destrutivos para a mente que deseja desco­brir o que é verdadeiro, o que é real? E, se se rejeita a autoridade externa, é igualmente possível rejeitar a autoridade interna, a autori­dade da experiência? Pode-se renunciar à experiência? Em regra, a experiência é "guia do saber". Dizemos: "Sei por experiência", ou "A experiência me indica que devo fazer isto"; a experiência se torna, assim, nossa autoridade interna. E esta é, talvez, muito mais destrutiva, muito mais maligna do que a autoridade externa. É a autoridade de nosso condicionamento, o qual nos conduz a ilusões de todas as formas. O cristão tem visões do Cristo, e o hinduísta tem visões de seus próprios deuses — cada um em virtude de seu próprio condicionamento. E pelo próprio fato de ter tais visões, de experimentar tais ilusões, ele se torna altamente respeitado, "um santo".

Ora, pode a mente eliminar todo o seu secular condicionamento? Afinal de contas, condicionamento é produto do passado. As reações, os conhecimentos, as crenças, as tradições de muitos milhares de dias passados concorreram para moldar a mente. E pode-se eliminar tudo isso? Deveis pensar nisso seriamente, em lugar de afastardes de vós a questão, dizendo "Não é possível", ou "Se é possível, como poderei fazê-lo?" O "como" não existe. "Como" implica tempo intermediá­rio; e a mente para a qual é importante o tempo intermediário está em verdade adiando. Pode-se pensar que, embora se possa "banhar" a mente para torná-la comunista, capitalista ou o que quer que seja — e isso significa apenas uma diferente forma de condicionamento — é impossível estar-se livre de todos os condicionamentos. Não sei se percebeis bem isso. Não sei se estais cônscios de vosso condiciona­mento, o que ele implica, e se há, ou não, possibilidade de libertação. O condicionamento é a própria raiz do medo; e onde existe medo, aí não há virtude.

Para se penetrar profundamente nesta questão requer-se muita inteligência, e por inteligência entendo a compreensão libertadora de toda e qualquer influência. A influência é a causa do condicionamento. Fostes criados para crer em Deus, em Cristo, para repetir certas coisas todos os dias; ao passo que na índia se despreza tudo isso, porquanto, lá, eles foram criados com seus próprios santos e deuses. A questão, pois, é esta: Pode a mente, depois de influenciada por tantos séculos pelo peso esmagador da tradição, desfazer-se desta completamente e sem esforço algum? Podeis sair daí, dessa estrutura, tão facilmente como podeis sair deste salão? E esse fundo (background) não é a própria mente? A história da mente é a mente. Não sei se isto está para vós bem claro.

A mente é o próprio fundo (background). A mente é tradição. Ela resulta do tempo. E reconhecendo a inutilidade de suas atividades, diz, por fim, que existe "a graça de Deus", que é preciso esperar, aceitar, receber — e isso é outra forma de influência. Essa mente não é uma mente inteligente.

Que fazer, então? Estou certo de que já examinastes bem isso. Deveis tê-lo experimentado: não aceitar, não confiar na autoridade, não se deixar influenciar. Deveis ter chegado à compreensão de que a mente, ela própria, nada pode fazer. Ela é escrava de si própria; criou seu próprio condicionamento; e toda reação a esse condiciona­mento o fortalece mais ainda. Todo movimento, todo pensamento, toda ação que se verifica no interior da mente continua dentro da limitada esfera de seus próprios valores. Se já penetramos até este ponto, não teoricamente, não intelectual ou verbalmente, porém de modo real, que acontece então? Espero compreendais o resultado disso. O resultado é que, para a mente que deseja compreender o que é verdadeiro e saber se existe o imensurável, o "indenominável", toda espécie de autoridade deve cessar — tanto a autoridade da Lei como a autoridade da experiência. Mas isso não significa "conduzir o carro pelo lado errado da estrada": significa que a mente rejeita a autoridade de toda experiência, que é conhecimento, que é a palavra, e rejeita todas as sutilíssimas formas de influência, o "esperar para receber", todas as expectativas. A mente é então deveras inteligente.

Penetrar em si mesmo tão profundamente, tão cabalmente, é trabalho dificílimo. Para nos aplicarmos a qualquer coisa requer-se energia, não esforço. E se chegamos até esse ponto, resta ainda alguma coisa da mente, tal como a conhecemos? E não é necessário alcançar esse estado? Porque, sem dúvida, ele é o único estado criador. Escre­ver um poema, pintar um quadro, construir um edifício, etc. — isto por certo não pode ser chamado ação criadora, no verdadeiro sentido da palavra.

Sente-se que a criação, a coisa que chamamos Deus, ou a Ver­dade, ou como quiserdes chamá-la, não é apenas para uns poucos eleitos. Não é apenas para os indivíduos dotados de certa capacidade, certo dom, tal um Miguelangelo ou Beethoven, ou os modernos poetas, arquitetos e artistas. Eu sinto que ela está ao alcance de todos — esse extraordinário sentimento da imensidade, de algo que não conhece obstáculos nem fronteiras, que não pode ser medido pela mente ou expresso em palavras. Sinto que a criação está ao alcance de todos. Porém, não é um resultado. Ela nasce, penso, quando a mente começa pelo que está mais próximo, ou seja por si própria — e não quando busca o que está mais remoto, o inimagi­nável, o desconhecido. O autoconhecimento, conhecimento de nosso "eu", significa abri-lo, examiná-lo, ver o que ele é — e, não, buscar algo fora de nós. A mente é de fato uma coisa extraordinária. Como a conhecemos, ela é resultado do tempo; e o tempo é autoridade — a autoridade do bom e do mau, do que se deve fazer e do que não se deve fazer, da tradição, das influências, do condicionamento.

Pode, pois, a vossa mente — não vos falo individualmente — descobrir todo o seu condicionamento, tanto o consciente como o inconsciente, e dele sair? "Sair" é apenas expressão verbal: pois quando a mente se vê condicionada e compreende todo o mecanismo desse condicionamento, então, de repente, ela se encontra "do outro lado".

Krishnamurti — O Passo Decisivo — Cultrix — Pág. 51 à 56

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill