
Krishnamurti: “Diz-se às
pessoas que procurem a libertação”. Eu não sei quem é que lhe o diz. Eu digo
apenas: se sois infelizes, existe um meio de esvaziar o tédio de vosso coração.
Se estais doloridos, existe um bálsamo para curar a vossa ferida que dói. Se
vos encontrais envolvidos pelo tumulto, pela luta e o turbilhão do mundo, há um
meio para encontrar a paz, a tranquilidade e o eterno entendimento. Se
buscardes esse entendimento, é possível atingi-lo, porém, o atingimento depende
de vós próprios. Se pensais que já o haveis atingido, então nada mais há que
dizer.
O fundo desta pergunta é a crença
na autoridade, a qual exerce tal ascendente sobre vossa mente, que vossa
felicidade depende dela. Para vosso atingimento apegai-vos à autoridade, porém,
a autoridade pode ser destruída pelos ventos passageiros da tristeza. Estes
ventos, este furacão da tristeza, jamais podem ser detidos pelo conforto proveniente
da autoridade. Todos os vossos livros, todas as vossas religiões, todas as
vossas ideias e a vossa felicidade, as vossas lutas, se acham fundadas na
autoridade e não sobre o desejo e compreensão pessoais, sobre essa ânsia de
obter a verdadeira felicidade.
Utilizareis, com o tempo, as
minhas palavras, para convertê-las em um jargão, assim matando o deleite real
que mora no coração. Haveis de chegar a usar os termos libertação e felicidade
como tendes usado os de céu e inferno. Torná-los-eis um credo, um estreito
cativeiro com o qual possais ameaçar os outros. Meu propósito não é este. Eu
vim para vos libertar; se, porém, quiserdes possuir esta liberdade, tendes que
despedaçar as amarras, a gaiola de todas as vossas criações, por vastas e
magníficas que elas sejam, por autorizadas que pareçam; pois a vida não pode
ser encerrada nessas limitações. Logo que é posta à vida uma limitação, vem a
tristeza, a luta e a contenda; e a felicidade vos segue como a vossa própria
sombra.
Krishnamrti, 1930