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quinta-feira, 5 de abril de 2018

O mecanismo do dormir e sonhar

O mecanismo do dormir e sonhar

PERGUNTA: Os sonhos têm um significado real? Que acontece durante o sono?

KRISHNAMURTI: Seria bom examinarmos esta questão muito profundamente. Assim, se posso sugeri-lo, não fiqueis meramente escutando a descrição, mas experimentai realmente o que se vai dizer. Então talvez possamos penetrar juntos a significação de todo esse mecanismo relativo ao dormir e sonhar. Durante o dia, nas horas de vigília, tão ocupados andamos com as nossas apreensões, nossas tribulações, nossas insignificantes alegrias, nosso emprego, nosso sustento, as modas passageiras, e tudo o mais, que nunca recebemos a menor comunicação, a menor sugestão das coisas mais profundas; a mente superficial está demasiado ocupada, ativa. E, assim, quando dormimos, começamos a sonhar; e vê-se que os sonhos assumem várias formas, vários símbolos, que encerram as comunicações, as sugestões. E, então, reconhecendo que esses sonhos têm certa significação, buscamos interpretações, a fim de os traduzirmos para a nossa vida cotidiana. Consequentemente, o intérprete se torna muito importante, e a pouco e pouco começamos a depender de outros, psicologicamente. Ou, também, nós mesmos interpretamos de acordo com nossos gostos e aversões; e, assim, mais uma vez, estamos apanhados na rede.

É possível não sonhar nada? Os psicólogos especialistas dizem que é impossível, que, embora possamos não lembrar, há sempre um "mecanismo" de sonho em andamento. Mas podemos, vós e eu, receber as mensagens, as sugestões, nas horas de vigília, durante o dia, com nossa mente desperta ou pelo menos supostamente desperta? Isto é, pode a mente não deixar passar um só pensamento sem tomar conhecimento de todo o seu conteúdo? O que não significa que devo estar tão concentrado que não deixe escapar um só pensamento; não se pode estar assim tão concentrado. O pensamento sempre nos foge; mas haverá outros pensamentos. Desta forma, podemos entreter-nos com um pensamento — emprego propositadamente a palavra "entreter-nos" — e descobrir-lhe todo o conteúdo — o motivo, a reação, e a ulterior reação de tal motivo? Isso significa não encarar o pensamento com condenação, justificação, comparação, avaliação, e, sim, simplesmente observá-lo, ao surgir. Podemos observar cada pensamento que desfila, de modo que a mente se torne apercebida das profundezas de cada pensamento e comece a depurar-se de todo o conteúdo de seus próprios pensamentos? (Aliás, não há muitos pensamentos). E, depois de observar o pensamento, de acompanhar o pensamento, pode a mente provocar pensamentos, de modo que todos os pensamentos que jazem ocultos, acumulados na escuridão, possam ser trazidos à luz, examinados, observados, penetrados — também sem condenação, sem avaliação, simplesmente observados, para tomarmos conhecimento de toda sua significação? Não estou expondo um método. Tende a bondade de não traduzir isto como um método de esvaziar a mente para não sonhar. Porque todos os sonhos, como dissemos, são simples sugestões que se tornarão desnecessárias se, enquanto a consciência está desperta, estivermos muito vigilantes, muito "vivos" e lúcidos, para percebermos as coisas interiores. E, então, que acontece ao adormecermos? Como a mente consciente pôs a descoberto, durante o dia, todas as sugestões e avisos inconscientes, ela se tornou fatigada e quieta; e, assim, não há mais contradição, não há mais conflito entre o consciente e o inconsciente — há tranquilidade. A mente pode então passar além, alcançar algo inatingível pela mente consciente e inconsciente. Não sei se já alguma vez experimentastes isto, ainda que só por divertimento, não visando a algum resultado ou a encontrar um estado de consciência nunca tocado nem corrompido por nenhum ente humano; porque, nesse caso, a coisa se torna uma barganha, um negócio. Mas, se se puder realmente, sem "motivo" algum, fazer tal descobrimento, o sono terá um alto significado. O que estou dizendo não tem relação nenhuma com o "plano astral" e outras coisas que tais, imaginações e peculiaridades de nosso peculiar condicionamento; tudo isso, é claro, tem de desaparecer. Tudo o que se adquiriu, tudo o que se aprendeu, tem de desaparecer totalmente. Só então é possível, durante esse estado que chamamos "sono", acontecer uma coisa que a mente, em circunstância alguma, pode perceber; e, ao despertar, a mente ter-se-á renovado. Brota uma fonte não produzida pelas nossas ambições, invejas, desejos e atividades.

Considero sumamente importante compreender tudo isso. E, para o compreender, necessita-se de autoconhecimento — o conhecimento de como a mente funciona durante o dia, dos seus "motivos", suas ações e reações —, de modo que, no fim do dia, a mente consciente se torne muito quieta. Então, tendo sido compreendida a contradição entre o consciente e o inconsciente, a mente está muito tranquila — não foi posta tranquila. A mente que é posta tranquila é uma mente morta, uma mente corrompida. Mas a mente que está tranquila em virtude da compreensão, a mente que chegou ao estado de tranquilidade graças ao autoconhecimento — essa poderá, talvez, no sono, alcançar algo, ou, melhor, poderá ser alcançada por algo que ela própria não pode buscar. Então, acho eu, tal sono tem significação nas horas de vigília. Mas isso requer muita investigação nas profundezas, sem nos apegarmos a nada daquilo que descobrimos. Porque, quando estamos amarrados ao nosso próprio saber ou ao saber de outros, não podemos ir muito longe. É necessário o morrer para todas as coisas que acumulamos, para cada experiência com que nos deleitamos ou que rejeitamos. É só então que algo que se acha além da mente poderá atingi-la.

Krishnamurti, Quarta Conferência em Londres, 24 de junho de 1955


A percepção do mecanismo do sonhar


A percepção do mecanismo do sonhar

PERGUNTA: Qual é a significação dos sonhos, e como podemos interpretá-los por nós mesmos?

KRISHNAMURTI: Eu gostaria de examinar esta questão com certa profundeza, em vez de tratar dela superficialmente, e, portanto, espero que estejais suficientemente interessados em seguir-me, passo a passo.

Quase todos nós sonhamos. Temos pesadelos quando comemos demais ou ingerimos alimentos indigestos. Não é a respeito desses sonhos que vou falar e, sim, sobre aqueles que têm significação psicológica. Há, no sonhar, vários estados, não é verdade? Sonhais, e, ao despertardes, quereis descobrir a significação do sonho — o interpretais. A interpretação depende do vosso saber, do vosso condicionamento, de tudo o que aprendestes de vários filósofos, psicólogos, etc. E se houver erro de interpretação, vossa conclusão sairá toda errada. E também podemos sonhar e a interpretação se produzir ao mesmo tempo que estamos sonhando, de modo que despertamos com uma compreensão clara do sonho; o sonho foi compreendido e não continua a influenciar-nos. Não sei se isso já vos aconteceu.

O problema, pois, não é saber interpretar os sonhos, mas por que motivo sonhamos. Compreendeis? Se interpretais os vossos sonhos de acordo com um certo psicólogo, vossa interpretação depende então do condicionamento dele; e se o interpretais por vós mesmo, a interpretação é moldada por vosso próprio condicionamento. Num e noutro caso, a interpretação pode ser errônea, e portanto qualquer conclusão ou ação nela baseada revelar-se-á de todo em todo falsa. O problema, pois, não é como interpretar os sonhos, mas o porque sonhamos. Se pudésseis resolver este problema, a interpretação não seria mais necessária. Se pudésseis compreender realmente todo o mecanismo de sonhar, a questão se tornaria muito simples.

Porque sonhamos? Investiguemos isso juntos, e não de acordo com uma certa autoridade que escreveu um livro sabre a matéria. Deixai de parte todas essas coisas, se puderdes, e pensemos na questão juntos, de maneira completa e muito simples. Porque sonhamos? Que entendemos por “sonhar”? Ides deitar-vos, adormeceis, e enquanto dormis, desenvolve-se uma certa ação, sob a forma de símbolos e cenas várias; e ao despertardes dizeis “Tive tal sonho”.

Agora, que foi que aconteceu? Tende a bondade de seguir isto, que é muito simples. Quando estais despertos, durante o dia, a vossa mente superficial está ocupada, com muitas coisas — vosso emprego, vossas brigas, os filhos, dinheiro, as compras no mercado, lavar pratos...  dúzias de: coisas. Mas a mente superficial não é a mente integral; há também o inconsciente, não é verdade? Não precisais ler nenhum livro, para descobrirdes que o inconsciente existe. Nossos motivos ocultos, nossas reações instintivas, nossos impulsos raciais — as contradições que nos foram legadas por nossos ascendentes, nossas crenças — tudo isso se acha no inconsciente. O inconsciente, como é bem óbvio, deseja transmitir algo à mente superficial, e encontrando-a quieta, durante o sono, procura transmiti-lo então. O inconsciente se acha também em movimento a todas as horas, mas não tem oportunidade de expressar coisa alguma durante o dia, e por essa razão projeta símbolos vários quando dorme a mente consciente; e então dizemos “Tive um sonho”. Vereis que isto não é complexo, se o examinardes. Ora bem, não desejo ficar eternamente ocupado com a interpretação dos meus sonhos... coisa semelhante a estar ocupado com assuntos culinários, com Deus, ou bebidas, ou mulheres, etc. etc. Desejo descobrir porque é que sonho e se é possível deixar de sonhar, completamente. Os psicólogos poderão dizer que é impossível deixar de sonhar, mas deixemos estes especialistas com suas especialidades e investiguemos sozinhos (risos). Não, por fa­vor, não riais! Por que há sonhos? E é possível acabarmos com os sonhos, sem esforço para suprimi-los ou para alterarmos o estado de sonho — de modo que durante o sono a mente esteja tranquila de todo? Desejo descobrir isso, e portanto vou investigá-lo em primeiro lugar.

Porque sonho? Sonho, porque durante o dia a minha mente consciente está ocupada com uma multidão de coisas. Mas, pode a mente consciente manter-se aberta, durante o dia, às sugestões e sussurros do inconsciente? Compreendeis? Pode a mente superficial estar tão vigilante durante o dia, que perceba os motivos inconscientes, os fugidios clarões das coisas que estão ocultas, sem tentar suprimir ou alterar tais coisas ou fazer algo com relação a elas? Se puderdes estar apercebido, simplesmente, não com atitude crítica, mas de modo imparcial, da totalidade desse conflito; se puderdes manter-vos aberto, de modo que o inconsciente possa enviar as suas sugestões momento por momento, no correr do dia, quando viajais de ônibus ou de táxi, quando estais à mesa ou a conversar com amigos; se puderdes observar a maneira como olhais as pessoas, vossa maneira de falar-lhes, e de tratar aqueles que não são de vossa “qualidade”, vereis então, à medida que aprofundardes a vossa observação, que o sonhar cessará completamente. Porque então não haverá mais necessidade de mensagens ou sugestões do inconsciente, durante o sono, para mostrar-vos o que deveis ou não deveis fazer, visto que tudo se vos está revelando no viver de cada dia.

Chegamos, assim, a um ponto interessantíssimo, que é este: Durante o dia a mente está sobremodo vigilante, observando sem julgar, sem condenar; e quando o mecanismo total da consciência tiver sido revelado, examinado e compreendido, vereis que durante o sono haverá tranquilidade completa e, nessa total tranquilidade, a mente poderá descer a profundezas jamais atingíveis pela mente consciente. Compreendeis? Quer-me parecer que não. Explicai-lo-ei de novo, e espero não aborrecer-vos, por já ser um pouco tarde.

Como sabeis, nós estamos em busca da felicidade, da paz, de Deus, da Verdade, etc. Fazemos um esforço constante para nos ajustar, para amar, ser bondosos, generosos, libertar-nos disto e adquirirmos aquilo. Com um pouco de observação, pode-se ver que isto é um fato. Observa-se a todas as horas esta atividade, toda de agitação, ajustamento, luta, e num tal estado é bem evidente que a mente nunca achará nada novo. Mas se, durante o dia, estou apercebido dos vários pensamentos e motivos que surgem, apercebido de que sou ambicioso, que estou condenando, julgando, criticando, e se percebo todos os pormenores dessa atividade, que acontece? Minha mente não está mais a lutar, não está mais a esforçar-se, não existe mais a agitação criada pelo desejo de achar algo. A mente está, portanto, de todo quieta — não apenas a mente superficial, mas a totalidade da consciência. E nesse estado de quietude total, onde não há movimento algum para achar, nenhum esforço para ser ou não ser, torna-se a mente capaz de atingir profundezas que nunca teria a possibilidade de atingir por meio de esforço. Eis porque é tão importante estar-se apercebido sem condenação, observar sem criticar nem julgar. E isso se pode fazer durante o dia todo, à vontade, para que a mente não seja mais um instrumento de luta, quando está a dormir, não esteja mais a captar mensagens simbólicas do inconsciente e a tentar interpretá-las, ou inventando um plano astral e outros absurdos que tais. Libertada de todo condicionamento, está a mente apta a penetrar, durante o sono, em profundezas que ela nunca poderia atingir com a consciência desperta; e ao despertar experimenta-se um sentimento de renovação, nunca dantes experimentado. É como desprender-se do passado e nascer de novo.
Krishnamurti, 27 de agosto de 1955
Realização sem esforço
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill