O filósofo aceita seu isolamento predestinado não apenas porque essa deve ser a sua posição, mas também porque sua presença física desperta sentimentos negativos no coração das pessoas comuns, da mesma forma que desperta sentimentos positivos no coração de certos aspirantes. Os sentimentos negativos podem cobrir toda uma gama, desde confusão, desnorteamento e suspeita, até medo, oposição e inimizade direta. Os positivos podem ir desde a atração instintiva até a disposição de sacrificar a vida à sua defesa ou serviço. Todos esses sentimentos surgem de modo espontâneo, irracional e instintivo. E nada têm a ver com o fato de o filósofo ter ou não ter revelado sua verdadeira identidade pessoal. Isso ocorre porque esses sentimentos são a consequência do fato de sua aura impingir-se psiquicamente à dos outros. O contato é invisível e não se manifesta no mundo físico, mas é muito real no mundo mental-emocional. Trata-se realmente de uma experiência psíquica para ambos: clara, precisa e corretamente compreendida pelo filósofo; vaga, perturbadora e totalmente incompreendida pelas pessoas comuns e pelos pseudobuscadores. É uma experiência tanto psíquica quanto mística para os que genuinamente buscam, e com os quais o filósofo tenha alguma afinidade interior, o alegre reconhecimento de um Irmão Mais Velho muito venerado e há muito perdido. Infelizmente, a despeito da generosa compaixão e da enorme boa vontade que ele reserva dentro do coração por todos igualmente, são os contatos desagradáveis que somam o maior número, sempre que o filósofo desce ao mundo. Que não o culpem se ele prefere a solidão à sociedade, pois nada pode fazer a respeito disso. As pessoas são o que são. Na maioria das vezes, quando tenta ser-lhes agradável, como se ambos pertencessem ao mesmo nível espiritual, ele fracassa. Aprende, um tanto exaustivamente, a aceitar como inevitáveis o seu próprio isolamento e a limitação das pessoas, e, no atual estágio da evolução humana, inalteráveis. Aprende, também, que é fútil desejar que essas pessoas sejam diferentes.
A paz da qual o filósofo se tornou herdeiro não é um descanso das outras atividades que abandonou, descanso no qual só pensa em si mesmo, mas um divino estado de alerta que subsiste sob as novas atividades que aceita.
Paul Brunton em, Ideias em perspectiva
Paul Brunton em, Ideias em perspectiva