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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

O descondicionamento e a afetação da libido


O descondicionamento e a afetação da libido

São muitos confrades que descrevem que, com o aprofundamento do processo de descondicionamento, sentem que a ereção não corresponde como antes. O prazer, não encontra mais sustentação na imaginação. Surge a dificuldade de manter a excitação sem fantasia — é exatamente a manifestação fisiológica e psíquica dessa ruptura de que falamos em texto anterior.

O sexo, no modo condicionado, não é só corpo. Ele é corpo alimentado por fantasia, memória e projeção. A excitação “normal”, como a sociedade a entende, depende desse motor imaginativo: a mente fabrica imagens, roteiros, fetiches, e o corpo responde. Quando a estrutura mental que sustentava essa engrenagem começa a ruir, o corpo simplesmente não encontra mais combustível. Não é disfunção no sentido clínico, é descondicionamento na carne. O corpo está dizendo: “sem ilusão eu não funciono do mesmo jeito”.

Isso é brutal porque desmonta uma das últimas ilusões: a de que o prazer sexual é natural e espontâneo. Ele é, sim, natural em nível instintivo, mas o formato em que vivemos hoje — excitabilidade dependente de fantasia, pornografia mental, reforço imaginal — é cultural, é psíquico. Quando o processo de esvaziamento começa, a mente já não sustenta esse teatro. Resultado: a ereção some rápido, o gozo fica mecânico, o desejo não se retroalimenta. É aí que muita gente se apavora, porque acha que “perdeu a potência”, quando, na verdade, está entrando em outra etapa.

O que esses confrades relatam é a morte do sexo mentalizado, e isso é revolucionário. É desconfortável, porque desmonta um condicionamento que foi a base de toda uma identidade masculina e humana. Mas também é a porta de entrada para outra coisa: um sexo despido de imaginação, mais cru, mais presente, mais conectado ao corpo real e não à projeção mental. Ou, em alguns casos, o recolhimento total da libido para dentro, até que essa energia se reorganize e renasça em outra forma — não mais como compulsão, mas como força de presença e de amor impessoal.

É por isso que o que esses confrades vivenciam nesse momento do processo, não é um problema, mas um sinal de travessia. A sociedade lê como disfunção; o iniciado reconhece como abertura do deserto. Esse vazio, essa falha de potência, essa “ereção que murcha sem fantasia” — tudo isso é a linguagem da própria vida arrancando o sujeito da dependência do imaginário. O corpo, nesse sentido, está sendo pedagógico. Ele está dizendo: “sem máscara, sem ilusão, sem fantasia, o que sobra de você?”.

E aí vem o terror, porque no começo sobra quase nada. Mas é desse quase nada que começa a nascer uma outra potência, não mais presa ao jogo mental de imagens, mas ancorada no real.

O colapso do sexo mentalizado e o nascimento da presença

Há um ponto no processo de desapego em que até a sexualidade, esse impulso considerado sagrado e instintivo, se revela em sua nudez condicionada. Durante boa parte da vida, acreditamos que o desejo é espontâneo, que a excitação é natural, que o prazer é vital como a fome e a sede. Mas quando a crise de descondicionamento avança, essa ilusão começa a ruir. O corpo, que antes respondia rápido à fantasia, de repente não obedece. A ereção não sustenta, o prazer não se retroalimenta, o orgasmo não vem com a mesma força ou, quando vem, parece mecânico, sem alma. Muitos pensam estar doentes. Mas não é doença: é a mente que perdeu a capacidade de sustentar o espetáculo da excitação.

O sexo, no modo ordinário, é profundamente mentalizado. Não basta o toque, não basta a presença do outro. O corpo se apoia no teatro da imaginação: cenas construídas, memórias, fetiches, fantasias, roteiros que a psique inventa para manter a chama acesa. A pornografia externa é só um sintoma do que já acontece dentro: cada um carrega seu cinema interno, suas imagens que reforçam a ereção e alimentam o prazer. Sem essas imagens, a excitação definha. Isso significa que o prazer sexual, tal como a maioria o conhece, não é puramente instintivo, mas híbrido: corpo e fantasia entrelaçados.

Quando o processo de descondicionamento começa a corroer a mente, esse mecanismo se quebra. O sujeito percebe que, sem fantasia, o corpo não responde igual. A ereção murcha, a excitação não sustenta, a performance falha. É um choque, porque atinge diretamente a virilidade, a identidade, a sensação de ser “capaz”. No entanto, esse colapso não é um acidente: é parte da pedagogia da vida. A sexualidade mentalizada precisa morrer para que outra energia desperte.

O falso personagem, no fundo, sempre utilizou o sexo como forma de reforço de si. A potência viril, a capacidade de excitar e gozar, o domínio da fantasia, tudo isso servia como alimento do “eu”. O prazer era narcótico, mas também era cimento. Ele mantinha a identidade coesa. O sexo dizia: “Você é alguém. Você tem poder. Você ainda existe”. Mas, no descondicionamento, até isso se dissolve. O sujeito se vê diante da impotência simbólica e real. Descobre que não é senhor de seu próprio corpo. Descobre que, sem a muleta da imaginação, não sabe se relacionar, não sabe gozar, não sabe sequer se relacionar com o outro em nudez.

Esse é um dos pontos mais cruéis do processo: o sexo, que antes era válvula de escape e fonte de vitalidade, se torna deserto. Não há mais reforço imaginativo, não há mais compulsão. O desejo, quando surge, é frágil, inconsistente. A excitação, quando aparece, parece carecer de fundamento. Muitos interpretam isso como disfunção erétil, como falha física, como decadência. Mas é algo mais profundo: é o desmonte do último reduto da ilusão. A fantasia mental que sustentava o prazer está sendo arrancada.

Esse deserto sexual não é apenas biológico; é existencial. Ele expõe o quanto a vida do homem moderno é sustentada pela projeção mental, pelo imaginário. Sem fantasia, o sexo se revela em sua crueza: atrito de carne, calor passageiro, estímulo mecânico. O mito do prazer eterno desmorona. O orgasmo, quando acontece, mostra sua face transitória, quase ridícula. O corpo treme, o gozo vem, mas em poucos segundos tudo termina e resta o vazio. Esse vazio, que sempre esteve ali, agora já não pode ser encoberto pela imaginação.

E o que fazer com isso? A primeira reação é desespero. O sujeito tenta forçar a fantasia, busca pornografia, inventa fetiches, procura estímulos químicos cada vez mais intensos para resgatar a potência perdida. Mas quanto mais força, mais falha. A mente já não sustenta a ilusão. O colapso é inevitável. É nesse ponto que muitos desistem, acreditam estar doentes, procuram tratamentos. Poucos percebem que essa impotência é pedagógica, que ela ensina algo.

O que ela ensina é simples e brutal: sem ilusão, sem máscara, sem fantasia, o que sobra de você? O que é o sexo sem imaginação? O que é a relação sem idealização? O que é o corpo sem projeção? Essa pergunta é o portal. Porque o que sobra, no início, é quase nada. Sobra o corpo cru, sobra o toque nu, sobra o silêncio desconfortável de dois seres que já não sabem como se encontrar sem histórias. É por isso que o deserto sexual é tão aterrorizante: ele expõe que nunca aprendemos a estar presentes, nem em nós, nem no outro. Sempre estivemos correndo atrás de uma imagem, fazendo uso de um corpo para transar com o imaginal adulterado e adulterante.

Mas se o sujeito suporta esse vazio, se não foge, se não tenta reviver compulsivamente a fantasia, então algo começa a mudar. Lentamente, uma nova energia desperta. Ela não é mais o fogo excitado da imaginação, mas um calor silencioso, uma vitalidade serena que nasce do corpo real. Não é desejo no sentido antigo, mas presença. O encontro sexual, nesse novo horizonte, deixa de ser espetáculo e se torna comunhão. Não há roteiro, não há performance, não há a obsessão de manter ereção ou atingir orgasmo. Há apenas dois corpos respirando, dois seres compartilhando presença. O sexo deixa de ser catarse e se torna meditação.

Esse renascimento da sexualidade não acontece rápido. Primeiro vem o luto: o luto da virilidade imaginária, o luto da potência performática, o luto do prazer como anestesia. Depois, vem a solitude: longos períodos sem desejo, sem interesse, sem energia sexual aparente. Essa fase é a incubação. É o recolhimento da energia para dentro, como se a vida estivesse condensando força em silêncio. Finalmente, em algum momento, essa energia retorna, mas purificada. Ela já não é compulsão de gozo, mas chama de presença.

Essa transformação não significa que o sujeito se torna assexuado. Significa que o sexo perde o papel de tirano. Ele deixa de ser um imperativo e se torna uma possibilidade. Pode acontecer ou não, pode surgir ou não. E quando surge, é outro tipo de fogo. É mais terno, mais lento, menos teatral. O orgasmo já não é objetivo; às vezes nem acontece, e não faz falta. O encontro é o próprio fim. A energia sexual se tornou energia de amor impessoal.

Esse amor impessoal não se limita ao sexo. Ele permeia toda a vida. O calor que antes se consumia em fantasias agora aquece o olhar, a escuta, a convivência. O sujeito descobre uma nova forma de estar no mundo: não mais buscando saciar carências, mas transbordando presença. A energia que antes corria para fora, em compulsão, agora se estabiliza dentro, como chama silenciosa. O sexo mentalizado morreu, mas em seu lugar nasceu algo maior: a lucidez viva.

Esse é o ponto de chegada, mas também de partida. Porque essa transformação não é linear, nem definitiva. O sujeito pode oscilar: às vezes volta à compulsão, às vezes sente o vazio, às vezes toca a presença. O processo é longo, exige paciência e vigilância. Mas o mapa já está dado: do sexo mentalizado à impotência, da impotência à incubação, da incubação ao renascimento da energia como amor impessoal.

A sociedade, com sua pornografia onipresente e sua idolatria da performance, não compreende esse caminho. Ela chama de falha o que é renascimento. Ela chama de doença o que é pedagogia da vida. Mas quem atravessa o deserto sabe: a impotência não é o fim, é o limiar. A falência da fantasia é a chance de descobrir a nudez do real. O sexo, despido de imaginação, é o espelho onde a consciência aprende a estar.

E quando essa consciência desperta, o prazer não desaparece — ele se transforma. Não é mais descarga, é comunhão. Não é mais catarse, é clareza. Não é mais dependência, é liberdade. O corpo continua, mas já não é prisão. O desejo pode surgir, mas já não é tirano. O amor floresce, mas já não é posse. A vida respira, enfim, em sua simplicidade nua.


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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill