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segunda-feira, 1 de setembro de 2025

A Metamorfose do Vínculo: Bem-Querer e Apego em Amor Consciente

 
A Metamorfose do Vínculo: Bem-Querer e Apego em Amor Consciente

 

1.      A emergência do bem-querer em relações adulteradas

Toda relação humana carrega consigo camadas de condicionamentos, expectativas, desejos e necessidades, muitas vezes mascarados por aparências de proximidade ou gestos de cuidado que não são, em essência, totalmente genuínos. Quando um vínculo nasce em solo de apego, conveniência, dependência emocional ou interesses utilitários, ele já surge com adulteração estrutural. Os princípios que deveriam fundamentar a relação autêntica — respeito, presença plena, reciprocidade verdadeira — estão comprometidos. No entanto, mesmo nesse terreno imperfeito, é possível emergir o bem-querer, uma fagulha tênue de cuidado genuíno que sinaliza a possibilidade de evolução. O bem-querer, nesse contexto, não é amor completo, não é entrega total, não é conexão plena. Ele é afeição parcial, reconhecimento da presença do outro e atenção que transcende a mera utilidade, mas ainda não atingiu a dimensão do amor consciente.

A coexistência do apego com o bem-querer é inevitável. Onde existe genuíno cuidado, há simultaneamente dependência, medo da perda, expectativa de segurança emocional. O apego atua como pano de fundo constante, imprimindo tensão e complexidade à experiência. Ele é energia de necessidade, energia usuária; o bem-querer, energia de reconhecimento. Essa dualidade cria um espaço paradoxal: o indivíduo percebe a presença de afeição genuína, mas sente, ao mesmo tempo, os limites impostos pelo apego. A percepção desse paradoxo é extremamente dolorosa, pois o bem-querer desperta esperança enquanto o apego impõe frustração, ansiedade, incerteza e conflito.

Quem atravessa essa percepção entra em um rito de passagem relacional. A clareza revela que o vínculo contém algo genuíno, mas que ainda não é suficiente para constituir amor pleno. É uma experiência de conflito profundo: desejo de conexão real versus medo do desamparo; atração versus impulso de fuga da dor; esperança versus realidade. O bem-querer, nesse contexto, é tanto conforto quanto desafio. Ele oferece a promessa de evolução, mas exige discernimento para não ser confundido com amor absoluto.

As relações em que surge o bem-querer, geralmente têm origem em apego. Duas pessoas podem se unir por carência, medo da solidão, segurança material, apoio emocional ou validação social. Nesses casos, a relação inicial é instrumental, é usuária; ela serve a interesses e necessidades. Mas mesmo nesse ambiente utilitário, o bem-querer consegue emergir como pequenos gestos de cuidado que não respondem exclusivamente à necessidade de utilidade: um olhar atento, uma preocupação espontânea, um gesto de compaixão que não é condicionado à reciprocidade imediata. Esses sinais representam o potencial de transformação que a relação carrega.

A percepção da adulteração e do bem-querer, simultaneamente, provoca dor intensa. Ver que existe cuidado, mas perceber que o vínculo ainda é dependente, gera um turbilhão de sentimentos contraditórios. Esta é a primeira etapa do rito de mutação relacional: o indivíduo deve confrontar a realidade da relação sem se apegar à ilusão, reconhecer a presença do bem-querer e ao mesmo tempo aceitar os limites impostos pela estrutura inicial dependente. O sofrimento não é sinal de falha; é indicador de despertar da consciência, de que a percepção está se abrindo para dimensões mais profundas da experiência relacional.

É nesse estágio que a lucidez interna começa a emergir. O bem-querer revela que o vínculo tem potencial de crescimento, mas não garante evolução automática. É uma energia que pode ser cultivada, expandida e transmutada, mas apenas se o sujeito atravessar a dolorosa e conflitante percepção da adulteração, entender a coexistência do apego e do cuidado genuíno e permanecer atento à realidade emocional do vínculo que ainda se sustenta em níveis de codependência. Esta primeira fase não envolve ação prática específica; trata-se de despertar perceptivo, de conscientização da dinâmica real, da tensão entre apego e afeição genuína, e do reconhecimento da possibilidade de evolução.


2.      A coexistência do apego e do bem-querer e os primeiros sinais de mutação

A coexistência do apego e do bem-querer constitui a base do rito de mutação. O apego se manifesta como necessidade, medo e dependência; o bem-querer como cuidado, atenção e afeição genuína. A tensão entre esses dois elementos gera experiências intensamente subjetivas, muitas vezes extremamente dolorosas, mas reveladoras. O indivíduo que atravessa essa fase conflituosa começa a distinguir os dois níveis de energia emocional: percebe onde age por necessidade e dependência, onde age por afeição genuína, e como essas camadas coexistem e se influenciam.

O apego se expressa através de intensa ansiedade, comportamentos de controle, ciúmes e expectativa de reciprocidade. Ele mantém a relação no campo da necessidade e limita a liberdade emocional. Já o bem-querer surge em gestos e pensamentos que não dependem de satisfação pessoal imediata, em preocupações sinceras com o outro, em atenção espontânea. Reconhecer essa diferença é fundamental para que a mutação possa ocorrer.

Os primeiros sinais de evolução surgem quando o indivíduo começa a perceber momentos de empatia autêntica, presença consciente e cuidado que transcendem a dependência emocional. Ao mesmo tempo, a consciência do apego — sua presença e suas limitações — permite distinguir entre o que é genuíno e o que é dependência. A percepção clara desses dois elementos, mesmo sem ação, constitui o segundo estágio do rito de mutação: a diferenciação perceptiva.

É um processo interno, delicado, doloroso e iluminador. A clareza permite compreender que a relação contém energia de possibilidade de crescimento e também de limitação, que o bem-querer é real, mas ainda parcial, e que o apego não precisa ser forçosamente eliminado, mas transformado. Essa percepção desperta esperança e paciência, pois o indivíduo compreende que há potencial de evolução, mas que a transmutação é dolorosamente gradual.

O terceiro estágio, dentro deste bloco, é a emergência da percepção de transformação possível. O indivíduo começa a reconhecer que, embora a relação tenha nascido de reações adulteradas e adulterantes, existe espaço para crescimento, profundidade e maturidade. A consciência da tensão interna — apego versus bem-querer — se torna catalisadora da evolução. A dor sentida nesse estágio não é castigo ou fracasso; é a evidência de que a percepção da realidade está amadurecendo, preparando o terreno para a transmutação emocional que levará ao amor consciente.

Neste ponto, o bem-querer começa a assumir um papel de energia catalítica: ele mostra que a relação contém algo que pode evoluir, que há cuidado genuíno possível de expansão, e que a estrutura inicial, embora imperfeita, pode ser transformada. O apego, ao ser percebido e diferenciado, deixa de ser confundido com amor genuíno, permitindo que cada gesto de cuidado seja interpretado com clareza, sem ilusão. Esta etapa estabelece o alicerce interno para a transmutação do apego e do bem-querer em amor consciente.


3.      A transmutação em amor consciente e os estágios finais da mutação

Quando a distinção entre apego e bem-querer se consolida na percepção, inicia-se a fase de transmutação. O apego, antes energia de necessidade, começa a se dissolver na consciência da relação, transformando-se gradualmente em cuidado genuíno. O bem-querer, antes afeição parcial, expande-se em amor consciente. O primeiro estágio desta transformação é a autonomia emocional, em que a relação deixa de depender da satisfação imediata de carências, tornando-se um espaço de presença e atenção plena.

O segundo estágio é a profundidade da conexão. A afeição que antes era limitada e parcial se expande, e a atenção se torna genuína, livre de possessividade e medo do desamparo. A energia do apego, ao ser transmutada, se converte em cuidado que respeita a liberdade do outro, enquanto o bem-querer se consolida como atenção e carinho autênticos. Nesse ponto, cada interação é marcada por consciência e clareza: a relação deixa de ser palco de adulteração utilitária e passa a ser espaço de autenticidade.

O terceiro estágio é a integração da mutação. O indivíduo percebe a relação como espaço de evolução contínua, onde cada gesto, cada cuidado e cada conflito são oportunidades de aprofundamento. O apego transformado sustenta cuidado genuíno; o bem-querer transformado sustenta amor consciente. A tensão inicial, a dor intensa, o conflito interno — tudo isso se integra como parte do processo de crescimento. A relação, que nasceu em solo adulterado, agora reparada como resultado da silenciosa observação passiva e não reativa, se estabiliza em uma conexão autêntica, resiliente e profunda.

O quarto estágio é a consciência relacional plena. O amor consciente se manifesta como síntese da mutação: ele não depende de necessidade, medo do desamparo ou conveniência. Ele surge da presença, da verdade e do cuidado autêntico. O apego, totalmente transmutado, deixa de gerar ansiedade; o bem-querer, plenamente realizado, deixa de ser parcial. O vínculo agora existe como união de maturidade, liberdade e compromisso genuíno, e a intensidade da dor inicial se transforma em lembrança significativa do rito atravessado.

Neste ponto, a relação não é apenas amorosa, mas transformadora. Ela se torna espaço de crescimento contínuo, capaz de suportar conflitos, diferenças e desafios sem perder a integridade. O bem-querer, que surgiu na imperfeição, agora é amor real; o apego, que era necessidade e ansiedade, agora é cuidado genuíno. A mutação se completa quando a relação deixa de ser instrumento de preenchimento ou conveniência e passa a ser um espaço de evolução mútua, onde cada indivíduo contribui para a profundidade, a clareza e a autenticidade do vínculo.

O rito da dolorosa mutação relacional revela que relações nascidas em solo adulterado e adulterante, não estão condenadas ao sofrimento permanente. Quando o apego e o bem-querer são percebidos, diferenciados e transmutados, a relação se transforma, e o amor consciente surge como síntese de cuidado, presença, liberdade e integridade. A experiência inicial de dor, conflito e tensão não é esquecida; ela se integra como testemunho da capacidade de transformação humana, mostrando que mesmo vínculos marcados por adulteração e apego podem evoluir para amor real, profundo e resiliente.


O Bem-Querer como Rito da dolorosa Mutação Relacional

Olá Confrade, aqui está o texto prometido anteriormente, sobre o tema:

  1. Como o bem-querer surge em relações fundamentadas em apego, conveniências ou adulterações iniciais de princípios.
  2. Como ele é percebido e vivido sem ilusão, reconhecendo seus limites e riscos.
  3. Como esse bem-querer pode, com consciência e maturidade, ser transmutado em amor real, reparando ou transformando a base relacional original.

Abordaremos numa sequência lógica, a compreensão da origem, vivência consciente, e caminhos de transformação.


O Bem-Querer como Rito de Mutação Relacional

1. A origem do bem-querer em relações de base adulterada pelo autointeresse

Em grande parte das relações humanas, especialmente naquelas que surgem em contextos de apego, conveniência, dependência emocional ou necessidade de validação, os vínculos não nascem a partir da profundidade genuína do encontro, mas de uma série de mecanismos condicionados: expectativas, necessidades, desejos de preenchimento e projeções da estrutura psicológica fundamentada no medo e no cálculo autocentrado. O paradoxo é que é nesta base, que o bem-querer frequentemente aparece.

O bem-querer não é amor pleno. Ele é uma forma de reconhecimento, uma atenção parcial, uma afeição que surge quando, mesmo com uma base relacional distorcida, o outro desperta algum grau de cuidado, respeito ou interesse genuíno. É um primeiro lampejo de humanidade em meio à ilusão relacional, uma energia que sinaliza a possibilidade de algo mais profundo, mas que ainda não atingiu a dimensão do amor consciente.

Porém, sua presença em relações que nasceram de adulterações — mentiras, omissões, pactos de conveniência, dependência emocional ou interesses utilitários — cria uma tensão interna e dolorosa. A pessoa que desperta percebe simultaneamente a presença do bem-querer e a ausência de verdade profunda. Surge um conflito existencial: existe afeição e cuidado, mas também percebe-se que o fundamento do vínculo foi corrompido desde o início.

O bem-querer, nesse contexto, torna-se um indicador de mutação potencial: ele mostra que algo pode evoluir, mas não garante que o amor consciente surgirá espontaneamente. Ele é como uma chama tênue, que precisa ser nutrida e dirigida com consciência.

1.1 Apego e conveniência como terreno fértil

A origem do bem-querer muitas vezes está enraizada em mecanismos de apego. Quando duas pessoas se unem por carência, medo da solidão, segurança financeira ou status social, a relação inicial é instrumental e utilitária. Nesse cenário, o bem-querer pode surgir de pequenas ações de cuidado ou reconhecimento que fogem da mera utilidade — um gesto inesperado, uma preocupação sincera, uma atenção fora do script de conveniência.

No entanto, é importante notar que o bem-querer que emerge nesse contexto não neutraliza o condicionamento original da relação. Ele oferece uma possibilidade, mas não corrige automaticamente a base distorcida. Por isso, muitos vivem a experiência de desejar amor real e encontrar apenas afeição parcial, confundindo a presença do bem-querer com a presença do amor genuíno.

1.2 A percepção dolorosa da adulteração

A vivência do bem-querer em relações adulteradas provoca um despertar doloroso. Quem já passou por essa experiência percebe com clareza que a afeição existe, mas também percebe a adulteração que a acompanha. Isso gera sentimentos contraditórios: esperança e frustração, desejo de conexão e medo da ilusão, atração e repulsa simultâneas.

Essa percepção é um ritual de passagem, um rito de mutação relacional. O indivíduo se vê diante de um dilema profundo: permanecer preso à relação imperfeita, tentando extrair dela o que é genuíno, ou romper para buscar algo que nasça da integridade e autenticidade. O bem-querer, nesse sentido, funciona como um marcador de consciência: ele indica que há potencial de amor, mas exige vigilância, discernimento e coragem para ser vivido sem ilusão.


2. Vivendo o bem-querer sem ilusão

Para que o bem-querer cumpra seu papel como rito de mutação relacional, é necessário aprender a viver a afeição sem confundi-la com amor pleno. Isso exige três habilidades centrais: percepção clara, aceitação da limitação e disciplina relacional.

2.1 Percepção clara

Perceber o bem-querer em sua realidade é reconhecer suas qualidades e limitações. Ele existe, e é real enquanto sentimento ou ação, mas não garante integridade nem profundidade relacional. Viver o bem-querer conscientemente significa:

  • Notar a diferença entre afeição e amor consciente.
  • Identificar os pontos em que a relação ainda é baseada em apego, conveniência ou medo.
  • Evitar racionalizações que transformem esperança em ilusão.

Essa percepção clara é um ato de coragem brutal. A maioria das pessoas prefere acreditar que a presença do bem-querer já representa amor pleno, porque é mais confortável. Mas para quem busca mutação relacional, a coragem está em ver a realidade da relação sem se iludir, mesmo que isso provoque dor.

2.2 Aceitação da limitação

Aceitar o bem-querer sem tentar transformá-lo imediatamente em amor pleno é outro passo essencial. A relação ainda não tem a estrutura necessária para o amor consciente; forçá-la é criar mais sofrimento.

A aceitação não significa resignação ou inação. Significa reconhecer os limites da afeição atual, compreender que ela é um terreno fértil, mas que precisa ser cultivado. Nesse estágio, o bem-querer é como um instrumento de laboratório emocional: ele permite experimentar afeição genuína sem esperar a maturidade total do amor.

2.3 Disciplina relacional

Viver o bem-querer sem ilusão exige disciplina:

  • Evitar confundir pequenas demonstrações de cuidado com a entrega total do outro.
  • Estabelecer limites claros, mesmo em relações afetivas profundas.
  • Observar o próprio envolvimento emocional, distinguindo desejo de conexão de necessidade de preenchimento ou medo da solidão.

Essa disciplina não é fria ou desumana. Pelo contrário, é um cuidado amoroso com si mesmo e com o outro, que preserva a integridade emocional e cria condições para a mutação relacional.


3. O bem-querer como rito de transmutação em amor consciente

O ponto central do rito de mutação é que o bem-querer pode ser transformado em amor consciente, mas apenas se vivido com percepção, paciência e discernimento. A transformação não é automática; exige um caminho de maturidade e responsabilidade emocional.

3.1 Reconhecer a mutação como processo

A transmutação do bem-querer em amor consciente é gradual. Ela não ocorre por esforço de vontade ou desejo intenso; ocorre quando a relação é reconfigurada a partir da verdade, do respeito mútuo e da integridade emocional.

Alguns indicadores de que essa mutação está em andamento incluem:

  • Aumento da transparência e sinceridade.
  • Crescimento da empatia e da compreensão do outro sem projeções.
  • Capacidade de enfrentar conflitos sem recorrer a manipulação ou apego excessivo.
  • Sensação de presença autêntica, em vez de dependência ou carência.

Cada um desses elementos sinaliza que o bem-querer está subindo de nível, aproximando-se do amor consciente.

3.2 A importância do compromisso interno

A transmutação exige um compromisso interno com a verdade e a integridade. É necessário que cada indivíduo assuma:

  • A responsabilidade por suas próprias emoções, evitando projetá-las no outro.
  • O compromisso de não sustentar a relação apenas pelo conforto ou apego.
  • O cuidado de não confundir a afeição ainda parcial com amor pleno.

Esse compromisso é o que diferencia o bem-querer que permanece como mera afeição do bem-querer que se torna canal de evolução relacional.

3.3 Ferramentas práticas de transmutação

Algumas práticas podem facilitar a mutação:

  1. Comunicação consciente: expressar necessidades, limites e sentimentos sem manipulação.
  2. Observação passiva e reflexiva: notar padrões de apego, projeções e ilusões, sem julgamento.
  3. Acolhimento da dor: aceitar que o processo envolve frustração, medo e conflito, como parte do amadurecimento.
  4. Cultivo da autonomia emocional: garantir que cada um se sustente por si, para que a relação se torne união, não dependência.
  5. Prática do perdão e reparação: identificar falhas passadas, reconhecê-las e corrigir o que for possível, mantendo integridade.

Com essas ferramentas, o bem-querer deixa de ser apenas uma afeição parcial e se torna meio de transformação da relação, criando condições para a emergência do amor consciente.


4. Desafios e riscos da mutação relacional

Mesmo com percepção e disciplina, a mutação do bem-querer em amor consciente enfrenta riscos. Entre os principais:

  • Resistência ao confronto da verdade: o medo de perder a relação pode levar à negação da adulteração original.
  • Confusão emocional: apego, desejo e expectativa podem mascarar a qualidade real do bem-querer.
  • Pressa na transmutação: tentar forçar o amor consciente antes do amadurecimento da relação pode gerar frustração e sofrimento.
  • Distorção do compromisso interno: ceder à dependência, controle ou manipulação rompe a mutação em andamento.

Superar esses riscos exige vigilância contínua, discernimento e paciência. É um caminho árduo, mas profundamente libertador: ao final, a relação que emerge não é apenas amorosa, mas integral, consciente e resiliente.

É inegável que nas relações há apego juntamente com o bem-querer. É impossível que o apego não esteja presente. Mas é importante ressaltar que é possível transmutar o apego, assim como o bem-querer, em amor real. Mas não de forma automática nem simples. Aqui está a chave: o apego e o bem-querer coexistem, mas pertencem a níveis distintos de relação. O apego nasce do medo, necessidade e dependência, enquanto o bem-querer nasce do reconhecimento e afeição genuína, ainda que parcial. Ambos podem ser transformados, mas cada um exige um processo distinto de conscientização e disciplina interna.

1. Compreender o apego antes de tentar transmutá-lo

O apego, diferentemente do bem-querer, não tem valor positivo intrínseco. Ele é uma energia de necessidade, um vínculo que busca preenchimento pessoal e segurança emocional, muitas vezes à custa da liberdade do outro. Para que ele seja transmutado em amor consciente, é necessário:

  • Reconhecê-lo sem culpa: perceber que ele existe, sem se envergonhar ou negar.
  • Identificar sua origem: muitas vezes o apego vem de carências emocionais não resolvidas, medos de abandono ou padrões familiares e sociais internalizados.
  • Observar seu funcionamento: perceber como o apego se manifesta no comportamento — ciúmes, necessidade de controle, ansiedade frente à ausência do outro.

O apego só pode ser transmutado quando parado, observado e entendido. Se continuarmos a agir por impulso ou medo, ele se mantém ativo, misturando-se ao bem-querer e criando confusão.


2. Transmutação do apego: do medo ao amor consciente

O processo de transmutação do apego envolve descondicionamento e cultivo da presença. Ele não desaparece instantaneamente; ele é transformado:

  1. Autonomia emocional: cultivar a capacidade de se sustentar emocionalmente sem depender do outro para validação ou preenchimento.
  2. Entrega sem posse: aprender a desejar a presença do outro sem querer controlá-lo, respeitando sua liberdade.
  3. Atenção consciente: perceber os momentos em que o apego reage automaticamente, sem julgamento, trazendo consciência a essas reações.
  4. Aceitação da impermanência: compreender que a relação, e tudo que a cerca, é passageira, e que o amor consciente não depende da permanência forçada do outro.

Quando esses passos são praticados com consistência, o apego perde a rigidez de necessidade e se transforma em cuidado genuíno e livre, que é a essência do amor consciente.


3. Transmutando o bem-querer

O bem-querer, como vimos, já contém uma centelha de amor. Ele é a matéria-prima da transmutação, mas precisa de disciplina e clareza para não ser confundido com apego ou desejo de conforto. Para transmutá-lo em amor consciente:

  • Reconhecer sua presença e limites: o bem-querer existe, mas ainda está parcialmente condicionado.
  • Integrar a percepção do apego: observar como o apego mistura-se ao bem-querer e separá-los internamente.
  • Ampliar consciência relacional: transformar o cuidado e a atenção que o bem-querer gera em atenção plena, empatia e responsabilidade emocional.
  • Prática de ação desinteressada: agir pelo bem do outro sem esperar reciprocidade ou satisfação pessoal imediata.

O resultado é que o bem-querer se torna amor consciente, que não depende de necessidade, apego ou conveniência.


4. O rito da mutação relacional

Quando o apego e o bem-querer são transformados simultaneamente, ocorre o verdadeiro rito de mutação relacional:

  1. O apego, de energia de dependência, torna-se cuidado genuíno e liberdade compartilhada.
  2. O bem-querer, de afeição parcial, torna-se amor consciente, baseado em presença, responsabilidade e integridade.
  3. A relação inteira passa a funcionar como um espaço de evolução mútua, não de preenchimento ou segurança unilateral.

O rito exige tempo, paciência e silenciosa observação contínua. É um processo de auto-transformação simultânea e mutação da relação, onde o amor consciente emerge não da necessidade ou esperança, mas da maturidade, integridade e coragem de enfrentar a verdade relacional.


5. O bem-querer como rito e esperança

O bem-querer em relações fundadas em apego ou conveniência é, ao mesmo tempo, sinal de alerta e promessa de transformação. Ele denuncia a adulteração inicial e, ao mesmo tempo, oferece a possibilidade de mutação. Viver o bem-querer conscientemente exige:

  • Reconhecimento de sua presença e limitações.
  • Aceitação da dor e da tensão que ele provoca.
  • Disciplina emocional e relacional.
  • Compromisso com a verdade e a integridade.
  • Uso de ferramentas práticas para favorecer a transmutação.

Quando esses elementos são cultivados, o bem-querer se torna rito de passagem e motor de evolução relacional. Ele transforma dor em aprendizado, confusão em clareza, apego em liberdade e afeição parcial em amor consciente.

Essa transformação não é garantida, mas é possível — e é talvez a experiência mais profunda e madura que uma relação pode oferecer, pois nasce não da ilusão, mas da coragem de enfrentar a verdade e do cuidado mútuo consciente.


As relações como enredamentos de imaturidade

As relações como enredamentos de imaturidade

O confrade já constatou que as relações, se dão entre indivíduos com semelhança no nível de insegurança e imaturidade? Isso é algo que se observa com bastante clareza quando olhamos para as relações com um olhar mais cru e descondicionado.

Muitas vezes os vínculos não acontecem por afinidade real de consciência, mas por compatibilidade nos níveis de insegurança, carências, imaturidades emocionais e interesses velados. É como se cada indivíduo estivesse buscando no outro um espelho ou uma compensação para as próprias fragilidades:

  • O inseguro busca em outro igualmente inseguro, alguém que valide constantemente sua identidade.
  • O ciumento encontra eco em alguém que também teme perder e aceita esse jogo de posse.
  • O dependente atrai alguém igualmente carente, ainda que em polos opostos (um cuida, o outro “precisa ser cuidado”).

Essa espécie de acoplamento psíquico se dá menos pela lucidez e mais pelo enredamento das fragilidades. Relações maduras, fundadas em autonomia interior, são muito mais raras justamente porque exigem que cada um suporte o peso da própria solidão, do próprio vazio e da própria responsabilidade afetiva.

Na prática, o que vemos é que as pessoas, em sua maioria, se conectam através do ponto comum de suas imaturidades. Apesar de ser raro, isso não significa que não possa haver amor genuíno no meio disso, mas é um amor muitas vezes misturado ao medo, ao apego e à necessidade de completude, em vez de um amor livre.

O ser humano, em geral, tem muita pressa de se envolver afeto sexualmente, por causa dos hormônios e também pela necessidade de atender a expectativa parental e para sair desse ambiente e suas expectativas. Um contrato de facilitação financeira. Assim, observamos três pontos fundamentais que moldam profundamente a pressa com que muitos se jogam em relações, principalmente nas primeiras fases da vida:

  1. O corpo hormonal – A pulsão sexual, ainda não integrada, exerce uma pressão enorme. Ela empurra o sujeito a buscar o outro mais como válvula de descarga ou como forma de experimentar prazer imediato, do que como encontro real e consciente. É uma necessidade biológica que, sem maturidade, acaba confundida com amor.
  2. A necessidade de cumprir com a expectativa parental – Muitos crescem em lares onde, explicitamente ou de forma velada, há um peso para o relacionamento: “Vai namorar até quando? Não vai casar? Quando vai me dar netos?”. Essa expectativa cria um impulso artificial de querer logo estar em um relacionamento, não por uma disposição interior genuína, mas para se livrar do olhar vigilante e julgador da família.
  3. Um acordo de facilitação financeira e social – É muito comum que jovens busquem no outro um meio de sair de casa, conquistar independência material ou mesmo fugir do ambiente parental opressivo. O relacionamento, nesse caso, é usado como “atalho” de vida.

O resultado desse tripé é que a pressa, geralmente, não vem da maturidade de querer compartilhar a vida com alguém, mas da soma de pressões biológicas, sociais e financeiras. Isso explica porque tantos se unem rápido e, pouco tempo depois, descobrem que a relação não tem alicerce verdadeiro, mas apenas interesses misturados à carência.

A pressa, portanto, é quase sempre um movimento de fuga: do corpo em ebulição, da casa dos pais, da solidão ou da falta de estabilidade. Só que esse movimento de fuga cobra o preço lá na frente: o vazio dentro da relação, os conflitos repetitivos, a frustração que se acumula.

Exploraremos agora, em profundidade, essa pressa de se envolver sexual e afetivamente. Partiremos dos três fatores: pressão hormonal, expectativa parental, facilitação financeira/social, acrescentando também outros pontos observados como centrais:

  • Medo da solidão – a fuga da sensação de estar só.
  • Necessidade de status – relacionar-se como símbolo de “normalidade” e aceitação social.
  • Carência afetiva herdada – repetição inconsciente de padrões familiares de apego.
  • Indústria cultural – cinema, música, redes sociais que romantizam a pressa e vendem relacionamentos como válvula de identidade.
  • Busca de identidade – “ser alguém” através do outro.
  • Economia psíquica – a relação como anestesia das dores existenciais (tédio, vazio, falta de propósito).

 

 


A pressa por envolvimento, como sintoma do nosso tempo

Poucos percebem que a pressa em se envolver afetiva e sexualmente não é um simples capricho da juventude, mas um sintoma de algo muito mais profundo. Não se trata apenas da fome do corpo, mas da soma de pressões invisíveis que moldam o comportamento humano desde cedo: o peso dos hormônios, as expectativas familiares, a necessidade de aceitação social, o medo da solidão e até mesmo os imperativos financeiros que tornam o relacionamento uma rota de fuga, mais do que um espaço de encontro.

Vivemos em uma sociedade que nos empurra para o vínculo apressado. O cinema, a música, as redes sociais, a cultura de massa — tudo reforça a ideia de que estar só é fracasso, e que só o amor romântico redime a existência. O adolescente cresce sob esse bombardeio de símbolos, e quando a biologia desperta, o desejo sexual se junta a essa propaganda cultural para criar uma urgência que confunde atração, necessidade, carência e amor.

A pressa, portanto, não é inocente. É um movimento que revela uma soma de forças psíquicas e sociais. E ao mergulhar nela imaturamente, o sujeito acaba reproduzindo ciclos de frustração: relacionamentos frágeis, rupturas dolorosas, sempre seguidas de repetições intermináveis do mesmo padrão.

Para entender essa engrenagem, precisamos fatiar cada camada: o corpo, a família, a cultura, a economia psíquica e social. Só então podemos compreender por que tanta gente se lança de cabeça tão cedo, tão rápido, sem saber sequer o que deseja de verdade.


O corpo em ebulição – Hormônios e a ilusão de amor

A adolescência é uma explosão química. O corpo passa a liberar hormônios sexuais em intensidade inédita: testosterona, estrogênio, dopamina. O desejo invade, as fantasias tomam a mente, e o indivíduo se vê refém de uma energia que não entende nem controla.

Nesse momento, o impulso sexual é facilmente confundido com amor. O beijo, o toque, o sexo parecem trazer não apenas prazer, mas também uma sensação de pertencimento e de identidade. O adolescente acredita que “estar com alguém” é a prova de que ele existe, de que vale algo. O prazer se mistura com o alívio da insegurança: “se alguém me deseja, então eu sou desejável”.

Essa ilusão é poderosa. Muitos se casam, se unem, têm filhos não porque amadureceram para a responsabilidade relacional, mas porque o corpo os arrastou imaturamente. O desejo se torna guia, e o relacionamento vira válvula de escape hormonal.

O problema é que, quando o fogo da novidade passa, sobra a realidade: dois indivíduos imaturos, unidos mais por descarga biológica e segurança de custeio financeiro, do que por encontro real. Surge então o vazio dentro da relação, a sensação de prisão, a repetição de brigas.


A sombra da família – Expectativa parental e fuga do lar

Paralelamente ao fogo hormonal, existe o peso do lar. Muitas famílias projetam nos filhos suas expectativas: “quando você vai namorar?”, “quero logo um genro/nora”, “quero netos”. A mensagem é clara: ficar só é sinal de fracasso.

O jovem absorve esse olhar. Mesmo sem desejar de verdade, sente a obrigação de se relacionar para atender ao script parental. Mais do que isso: o lar muitas vezes se torna sufocante. A convivência com pais controladores, a sensação de ser eternamente criança dentro da casa familiar, o julgamento constante — tudo isso gera uma necessidade de fuga.

O relacionamento, então, aparece como saída estratégica. Ter alguém é a senha para conquistar alguma autonomia: sair mais, dormir fora, viajar, escapar da vigilância. Muitos não percebem que estão menos interessados na pessoa e mais interessados na liberdade que o relacionamento simboliza.

Assim, a pressa de namorar ou casar não nasce do coração, mas da tentativa de resolver a opressão doméstica. O problema é que, nesse movimento, troca-se uma prisão por outra: do lar parental para a relação imatura que força ajustamento.


A facilitação financeira – Relação como atalho de vida

Outro fator central, muitas vezes silenciado, é a dimensão econômica. Em uma sociedade desigual, marcada por salários baixos e dificuldade de conquistar independência cedo, o relacionamento surge como atalho financeiro.

É mais fácil dividir aluguel, contas e despesas com alguém do que sustentar tudo sozinho. Para muitos, a união se torna caminho para sair de casa e “começar a vida adulta”. Mas esse início já nasce marcado pela adulteração de propósito, o qual sempre desemboca em codependência.

A relação deixa de ser espaço de construção consciente e vira associação estratégica. O que se pensa ser amor, nesse contexto, não passa de jogos momentâneos de conveniência. O risco é alto: quando o vínculo não se sustenta pelo afeto real, a pressão material se torna fonte de conflito. Dinheiro, responsabilidades, cobranças — tudo pesa mais quando não há solidez emocional para sustentar.


Outros fatores invisíveis que alimentam a pressa de se relacionar

Além dos três pilares principais, há outros elementos que raramente são vistos, mas que pesam tanto quanto:

Medo da solidão

O vazio interior é insuportável para a maioria. Ficar só significa ter que lidar com os próprios pensamentos, angústias, fragilidades e sentimentos de inadequação. O relacionamento aparece como anestesia: alguém para preencher o silêncio, alguém para validar a existência.

Necessidade de status social

Estar acompanhado é sinal de normalidade. A sociedade olha com desconfiança para o solteiro, especialmente quando passa dos 25 ou 30 anos. O namoro ou casamento se tornam prova de “normalidade” e de “sucesso social”.

Carência herdada

Muitos vêm de famílias onde o afeto foi ausente, frio ou instável. Essa lacuna cria uma fome afetiva que busca desesperadamente no parceiro, o colo que não se teve na infância. Mas ninguém pode ser pai ou mãe do outro sem que isso adultere o vínculo.

Indústria cultural

Filmes, novelas, músicas e redes sociais romantizam a pressa de relacionamento. A mensagem é clara: “amar cedo, viver intensamente, se entregar sem medo”. O adolescente cresce acreditando que só será alguém se viver essa narrativa.

Busca de identidade

A imaturidade impede que ambos saibam quem são. O outro, então, se torna espelho, muleta, rótulo. “Sou o namorado de alguém”, “sou esposa de fulano”. Com a relação, a identidade é terceirizada.

Economia psíquica

Relacionar-se funciona como anestesia contra dores existenciais: tédio, vazio, falta de sentido (que quase sempre é buscado através da gravidez inconsciente). O vínculo apressado vira remédio para não encarar a indigência interior.


A anatomia da pressa – O entrelaçamento das forças

Quando somamos tudo isso — hormônios, família, economia, medo da solidão, status, carência, indústria cultural — entendemos por que o indivíduo sente tamanha urgência de se envolver. É como se estivesse dentro de uma engrenagem que o empurra para o vínculo sem que ele perceba.

O corpo pede, a família cobra, a sociedade julga, a mídia romantiza, o bolso aperta, a solidão assombra. O resultado é previsível: ele se joga de cabeça.

Mas esse mergulho não é encontro, é fuga. Ele não busca o outro como outro, mas como solução de problemas internos e externos (sendo que muitos deles, o sujeito nem sequer tem consciência). E quando o outro não consegue cumprir esse papel — porque ninguém pode preencher a falta de lucidez, autonomia psíquica e maturidade do ser — surgem a frustração, o ressentimento, as cobranças, as tentativas de amoldamento e os conflitos.


As consequências – Relações frágeis, gestação inconsciente e ciclos de repetição

A pressa cobra caro. A maioria dos relacionamentos que nascem assim entram rapidamente em desgaste. O que parecia paixão vira prisão. O que parecia amor vira dependência. O que parecia liberdade vira nova forma de opressão.

As consequências mais comuns são:

  • Ciclos de repetição: o sujeito troca de parceiro, mas repete o mesmo padrão.
  • Frustração crônica: nada satisfaz porque a raiz do vazio nunca foi tocada.
  • Dependência afetiva: medo paralisante de ficar só, mesmo em relações tóxicas.
  • Amargura: ressentimento pelo outro não ter sido a salvação esperada.
  • Estagnação pessoal: a pressa impede o amadurecimento individual.
  • A gestação inconsciente – o selo da prisão relacional
  • Se a pressa em se envolver já cria vínculos frágeis e carregados de projeções, a gestação inconsciente aparece como agravante que fecha as portas da liberdade e transforma o enredo em cárcere.

Olhemos para este último tópico. Muitos casais, ainda imaturos, acabam engravidando não por decisão consciente, mas por descuido, impulsividade ou pela fantasia de que o filho consolidará a relação. O corpo pede prazer, a mente não reflete, e a consequência vem: uma nova vida que exige responsabilidades imensas de dois indivíduos ainda imaturos.

O que antes era apenas vínculo frágil se torna prisão concreta. O filho passa a ser o elo indissolúvel que mantém duas pessoas juntas mesmo quando já não há amor, respeito ou afinidade. A relação, que nasceu de pressa e carência, agora precisa se sustentar sob o peso de uma responsabilidade vitalícia.

As consequências são visíveis:

  • Ciclos de ressentimento: os pais sentem que foram obrigados a permanecer juntos por causa da criança, e o lar se enche de acusações veladas.
  • Amor condicionado: o filho é visto não apenas como ser humano, mas como marca da prisão. Muitos não percebem, mas projetam nele frustrações da relação.
  • Estagnação da liberdade: mesmo quando há desejo de separar, a presença do filho cria barreiras emocionais, sociais e financeiras quase intransponíveis.
  • A gestação inconsciente sela aquilo que já era imaturo. O que poderia ser uma travessia de aprendizado em solitude vira uma cadeia relacional sustentada por culpa, dependência e obrigação.

Não se trata aqui de desvalorizar a vida da criança, mas de mostrar a realidade nua: ela nasce em meio a um campo energético de pressa, carência e fuga. E crescer nesse ambiente significa carregar marcas psíquicas profundas — repetindo, muitas vezes, o mesmo padrão de pressa e aprisionamento dos pais.

A lucidez, nesse caso, exigiria duas coisas: primeiro, prevenir o salto inconsciente, ou seja, não deixar que a pressa e o desejo guiem decisões de tamanha magnitude; segundo, se a gestação já aconteceu, transformar o vínculo em algo mais maduro possível, para que a criança não herde apenas a prisão, mas também o esforço dos pais em se tornarem maduros.


A possibilidade de lucidez – Desacelerar e observar

Apesar de tudo, há saída. O primeiro passo é perceber que a pressa é produto de forças inconscientes e sociais. Ao enxergar isso, nasce uma nova liberdade: a de não se deixar arrastar.

Essa lucidez começa com a observação passiva e não reativa. Observar o corpo em ebulição sem se identificar, observar a expectativa familiar sem se dobrar, observar a solidão sem fugir dela. O sujeito que suporta o desconforto de estar só amadurece.

O relacionamento, nesse contexto, deixa de ser fuga e se torna escolha. Não é mais atalho para fugir da família, da carência ou do tédio, mas espaço para compartilhar. Só assim nasce uma relação madura: duas pessoas inteiras que se encontram, não duas metades que se agarram.


O preço e a dádiva de desacelerar

A pressa em se envolver é compreensível. Ela nasce do corpo, da família, da cultura, da economia, da solidão. É quase impossível escapar dela sem consciência. Mas toda pressa cobra seu preço: relações frágeis, sofrimento psíquico, repetição de padrões.

Desacelerar parece, para muitos, insuportável. Mas é nesse desacelerar que se abre a possibilidade de viver um amor que não seja apenas descarga hormonal, fuga do lar, status social ou anestesia existencial. Um amor que seja encontro, liberdade, partilha.

A dádiva está em suportar o silêncio, em aprender a ser só, em observar a própria fome sem correr a saciá-la de qualquer forma. Porque só quem atravessa esse vazio descobre que o outro não é salvação nem muleta — é apenas um companheiro de travessia.

E essa travessia, lenta e lúcida, vale mais do que qualquer pressa.


Talvez, o confrade esteja se perguntando: “e como lidar com a dor de perceber que a relação sempre foi fundamentada nesses pontos adulterantes, quando ainda não despertamos em nós, a capacidade de amor impessoal?”

Essa é uma das dores mais difíceis, de serem observadas em silêncio. Porque ela não é só a dor da perda de um “amor”, mas a dor de perceber que nunca houve amor verdadeiro ali — apenas carência, fuga, conveniência, hormônio, medo, expectativa. É uma dor crua, quase insuportável, porque mexe na própria fundação da vida psíquica.

O sujeito olha para trás e se pergunta: “Então vivi uma mentira? Então aquilo que eu chamava de amor era apenas um amontoado de necessidades?”. Esse confronto é devastador. É como ver o chão ruir sob os pés.

Mas há algumas formas de lidar com isso:

1. Aceitar a natureza do humano adormecido - O primeiro passo é perceber que essa situação não é uma falha pessoal isolada. É a condição humana adormecida. Quase todas as relações começam assim: imaturidade encontrando imaturidade, carência encontrando carência. Não havia como ser diferente antes da lucidez.
Essa constatação alivia a culpa: não foi apenas “eu” que errei, mas o campo humano inteiro que vive sob esse script.

2. Ver a relação como espelho evolutivo - Mesmo que tenha sido fundamentada em adulterações (fuga, hormônio, conveniência), a relação ainda pode ser vista como campo de aprendizado. Ela mostrou os mecanismos da pressa, revelou o quanto buscamos muletas, expôs a necessidade de amadurecer.
Em outras palavras: não foi amor impessoal, mas foi um espelho que empurrou para a possibilidade de descobri-lo.

3. Atravessar a dor sem fuga e sem a necessidade de consolação - A tendência é querer abafar a dor: entrar em outro relacionamento, mergulhar em trabalho, em prazeres, em distrações. Mas é preciso suportar o luto cru. Essa dor é a iniciação. É nela que o falso personagem, ferido por não ter mais ilusões para se agarrar, começa a perder força. Atravessar o deserto, sentir o vazio, aceitar a presente falta de profundidade relacional e de sentido aparente — tudo isso é laboratório do despertar de um olhar, que se fundamenta não mais nos cálculos autocentrados, mas no amor impessoal que vê o outro em sua exata natureza.

4. Desidentificar-se do implante sistêmico do roteiro romântico – Talvez este seja um dos condicionamentos mais difíceis de ser dissolvido. Grande parte da dor vem de perceber que aquilo que vivemos não corresponde à fantasia romântica em nós implantada culturalmente. É preciso quebrar esse feitiço: entender que o amor impessoal não tem nada a ver com paixão, posse, dependência ou segurança social. Só quando, pela observação passiva não reativa, nos desprendemos da cobrança do mito do “amor romântico” propagado nas músicas, novelas, filmes e séries, é que se abre espaço para uma outra forma de sentir: mais livre, silenciosa, sem muletas.

5. Praticar o amor impessoal consigo mesmo e com o outro

Se o indivíduo ainda não despertou, cabe a quem despertou não exigir que ele acorde agora. O amor impessoal começa justamente aqui: não cobrar lucidez de quem ainda não a tem. Isso significa: manter compaixão, sem se submeter; manter respeito, sem precisar manter a prisão; olhar o outro como ser humano em processo, não como inimigo. Esse exercício já é amor impessoal em ação: não depender da resposta do outro, mas agir a partir da clareza interior.

 

O ponto (5) descrito — o exercício real do amor impessoal — é para pouquíssimos, porque pressupõe o colapso completo da estrutura do falso personagem. A maioria dos que começam a despertar para a ausência da capacidade de amor real, ainda está numa fase intermediária: perceberam a falsidade dos alicerces da relação, mas não possuem ainda a capacidade de amar de forma impessoal. Estão mergulhados no caos da mutação, na dor crua e na confusão que surge quando o falso começa a se dissolver, mas o verdadeiro ainda não se consolidou.

Essa travessia é crucial e exige uma abordagem distinta: não tanto a realização plena do amor impessoal, mas a honestidade radical em suportar o intervalo entre o velho e o novo.


Do colapso silencioso ao nascimento da relação consciente

Poucos conseguem atravessar sem se despedaçar a experiência de ver a relação perder os alicerces que antes pareciam sólidos. É um momento em que tudo o que sustentava o vínculo — paixão, dependência, conveniência, medo da solidão, expectativas familiares — começa a se dissolver. A relação, que antes era refúgio, agora mostra sua nudez: foi construída sobre bases frágeis.

Esse despertar inicial não entrega ainda a maturidade de um amor impessoal. Ao contrário: o sujeito percebe sua própria incapacidade de amar sem carência, sem cobrança, sem possessividade, sem cálculos de autointeresse. É um choque duro: não só o outro se revela como é, mas nós mesmos nos vemos desprovidos daquilo que idealizávamos possuir.

Aqui surgem duas dores simultâneas:

  1. A dor de constatar a falsidade do vínculo.
  2. A dor de perceber que ainda não temos dentro de nós a fonte de amor verdadeiro.

É como estar no limbo: o velho não serve mais, o novo ainda não nasceu. A mente fica em confusão, os afetos se embaralham, o corpo sente o peso do luto, da frustração, da falta de chão.

Nesse estágio, o exercício não é exigir de si o amor impessoal (isso seria mais uma ilusão), mas aprender a atravessar o intervalo confuso com honestidade e observação lúcida. Algumas chaves podem ajudar:

  • Silenciar as reações automáticas: não correr para anestesias (fuga geográfica, novo parceiro, excesso de trabalho, vícios). Dar espaço para a dor respirar.
  • Ver o outro como ser humano real: não mais como muleta, salvador ou inimigo, mas como ele é — limitado, imaturo, igualmente prisioneiro das próprias confusões.
  • Reconhecer a própria limitação: admitir com humildade que ainda não sabe amar de forma livre. Essa aceitação já é um passo para fora do apego relacional.
  • Permitir que a relação mude de natureza: a união inconsciente, baseada em carências, pode se transformar num campo de aprendizado mútuo. É preciso estar muito atento aos impulsos emotivos reativos escapistas que pedem por rompimento imediato; é possível escolher permanecer, com profunda honestidade emocional com o parceiro, enquanto se desenvolve um outro olhar, mais maduro, menos dependente, responsável e integrativo.
  • Cuidar do coração ferido: atravessar o luto da velha sustentação relacional, a desilusão, o vazio, sem exigir que eles terminem rápido. A dor é o parto.

Esse é o momento de mutação silenciosa da relação: ela deixa de ser uma fusão inconsciente para se tornar, se houver disposição dos dois, um espaço de conhecimento real. O outro passa a ser visto não como extensão do eu, mas como alteridade. A relação deixa de ser prisão e pode se tornar escolha consciente: permanecer, não porque preciso, mas porque quero compartilhar o caminho.

Claro, isso exige tempo, paciência e vigilância interior. A confusão é inevitável. A dor é inevitável. Mas é nesse caos que o alicerce falso se desmancha, abrindo a possibilidade de um vínculo realmente maduro, lúcido, responsável.

O confrade precisa ter em mente, que existe um paradoxo nas relações humanas: mesmo nascendo de adulterações — carência, fuga, hormônio, conveniência, medo da solidão — muitas vezes surge, no decorrer da convivência, um bem-querer. Ele não é amor impessoal, ainda não é o amor livre e desinteressado, mas também não é apenas a repetição mecânica da necessidade inicial. É algo que brota no meio do terreno adulterado, como uma planta frágil crescendo numa rachadura de concreto.

Esse bem-querer pode se tornar um rito de passagem. Destrincharemos agora essa percepção, em alguns pontos:

1. O bem-querer como produto da convivência - Quando duas pessoas dividem vida, dores, alegrias, quando cuidam uma da outra em pequenos gestos cotidianos, mesmo que o início tenha sido inconsciente, por valores adulterados e adulterantes, algo genuíno pode nascer. Esse sentimento não é ainda o amor impessoal, porque ainda traz traços de apego, expectativa e projeção, mas é mais que a pura conveniência inicial. É o reconhecimento silencioso: “apesar de tudo, quero o seu bem”.

2. O bem-querer como depuração - Esse sentimento pode funcionar como um fogo depurador. Ele queima dia após dia, a possessividade, a dependência e o egoísmo, abrindo espaço para algo mais sutil. Do mesmo modo que se desenvolveu a codependência, isso também ocorre lentamente, não é absoluto, mas já desloca a relação de um lugar puramente autocentrado, para uma zona de aprendizado e mutação relacional. Aos poucos, o outro deixa de ser apenas instrumento da necessidade pessoal e começa a ser percebido como ser humano autônomo.

3. O risco da confusão - O problema é que muitos confundem o bem-querer com o amor maduro. E aí cristalizam o vínculo num limiar intermediário, acreditando que já chegaram ao destino, quando na verdade apenas saíram do ponto de partida. É preciso honestidade para distinguir: “ainda não amo de forma impessoal, mas já não vivo apenas de carência”. Esse reconhecimento evita tanto o desprezo cínico quanto a ilusão romântica.

4. O bem-querer como rito de passagem - Se vivido com consciência, e profunda honestidade emocional na relação, esse estágio pode ser um rito de passagem. O indivíduo aprende, dentro da relação, a experimentar o movimento de querer o bem do outro, não apenas como reflexo de si mesmo, mas por ele. Ainda misturado, ainda frágil, mas já um ensaio do amor real. Esse rito exige vigilância: observar os momentos em que o bem-querer se mistura com posse, notar quando o desejo de liberdade cede ao medo da solidão, perceber a sutileza dos jogos da velha estrutura fundamentada no medo e no cálculo autocentrado. Essa observação é o que transforma o bem-querer em trampolim para o amor real.

5. O bem-querer como campo de treino para o amor impessoal - Ninguém amadurece para o amor impessoal de um salto. Ele é raro justamente porque exige o assistir silencioso do Abismo do terror que advém do colapso total do personagem adulterado e adulterante. Mas o bem-querer pode ser campo de treino:

  • Aprender a ouvir sem impor.
  • Aprender a respeitar a alteridade do outro.
  • Aprender a desejar o bem mesmo quando não há retorno direto.
  • Aprender a permanecer mesmo quando não há prazer imediato.

Esses exercícios não são ainda o amor impessoal, mas são passos fundamentais na direção dele.

6. O perigo da estagnação e a possibilidade da transmutação - O risco maior é estacionar no bem-querer, transformando-o em justificativa para manter relações que já não têm vida, apenas hábito. Mas a possibilidade mais luminosa é a transmutação: esse sentimento simples, humilde e cotidiano pode ser a porta de entrada para a experiência maior. É um ensaio imperfeito que, se vivido com clareza e honestidade emocional, prepara o terreno para que o amor impessoal floresça.

Embora a maioria das relações nasçam em terreno adulterado, o bem-querer desenvolvido não deve ser desprezado. Ele pode ser visto como ponte, rito de passagem e campo de treino. Mas exige vigilância: não confundi-lo com amor pleno, nem descartá-lo como mera ilusão. Ele é intermediário, frágil, mas talvez seja exatamente o que muitos precisam viver antes que o verdadeiro se revele.

Em outra oportunidade, visto a importância destema tema, abordaremos com mais profundidade a questão do “bem-querer como rito de mutação relacional” — explorando como ele surge, como pode ser vivido sem ilusão e como pode ser transmutado em amor consciente.

O descondicionamento e a afetação da libido


O descondicionamento e a afetação da libido

São muitos confrades que descrevem que, com o aprofundamento do processo de descondicionamento, sentem que a ereção não corresponde como antes. O prazer, não encontra mais sustentação na imaginação. Surge a dificuldade de manter a excitação sem fantasia — é exatamente a manifestação fisiológica e psíquica dessa ruptura de que falamos em texto anterior.

O sexo, no modo condicionado, não é só corpo. Ele é corpo alimentado por fantasia, memória e projeção. A excitação “normal”, como a sociedade a entende, depende desse motor imaginativo: a mente fabrica imagens, roteiros, fetiches, e o corpo responde. Quando a estrutura mental que sustentava essa engrenagem começa a ruir, o corpo simplesmente não encontra mais combustível. Não é disfunção no sentido clínico, é descondicionamento na carne. O corpo está dizendo: “sem ilusão eu não funciono do mesmo jeito”.

Isso é brutal porque desmonta uma das últimas ilusões: a de que o prazer sexual é natural e espontâneo. Ele é, sim, natural em nível instintivo, mas o formato em que vivemos hoje — excitabilidade dependente de fantasia, pornografia mental, reforço imaginal — é cultural, é psíquico. Quando o processo de esvaziamento começa, a mente já não sustenta esse teatro. Resultado: a ereção some rápido, o gozo fica mecânico, o desejo não se retroalimenta. É aí que muita gente se apavora, porque acha que “perdeu a potência”, quando, na verdade, está entrando em outra etapa.

O que esses confrades relatam é a morte do sexo mentalizado, e isso é revolucionário. É desconfortável, porque desmonta um condicionamento que foi a base de toda uma identidade masculina e humana. Mas também é a porta de entrada para outra coisa: um sexo despido de imaginação, mais cru, mais presente, mais conectado ao corpo real e não à projeção mental. Ou, em alguns casos, o recolhimento total da libido para dentro, até que essa energia se reorganize e renasça em outra forma — não mais como compulsão, mas como força de presença e de amor impessoal.

É por isso que o que esses confrades vivenciam nesse momento do processo, não é um problema, mas um sinal de travessia. A sociedade lê como disfunção; o iniciado reconhece como abertura do deserto. Esse vazio, essa falha de potência, essa “ereção que murcha sem fantasia” — tudo isso é a linguagem da própria vida arrancando o sujeito da dependência do imaginário. O corpo, nesse sentido, está sendo pedagógico. Ele está dizendo: “sem máscara, sem ilusão, sem fantasia, o que sobra de você?”.

E aí vem o terror, porque no começo sobra quase nada. Mas é desse quase nada que começa a nascer uma outra potência, não mais presa ao jogo mental de imagens, mas ancorada no real.

O colapso do sexo mentalizado e o nascimento da presença

Há um ponto no processo de desapego em que até a sexualidade, esse impulso considerado sagrado e instintivo, se revela em sua nudez condicionada. Durante boa parte da vida, acreditamos que o desejo é espontâneo, que a excitação é natural, que o prazer é vital como a fome e a sede. Mas quando a crise de descondicionamento avança, essa ilusão começa a ruir. O corpo, que antes respondia rápido à fantasia, de repente não obedece. A ereção não sustenta, o prazer não se retroalimenta, o orgasmo não vem com a mesma força ou, quando vem, parece mecânico, sem alma. Muitos pensam estar doentes. Mas não é doença: é a mente que perdeu a capacidade de sustentar o espetáculo da excitação.

O sexo, no modo ordinário, é profundamente mentalizado. Não basta o toque, não basta a presença do outro. O corpo se apoia no teatro da imaginação: cenas construídas, memórias, fetiches, fantasias, roteiros que a psique inventa para manter a chama acesa. A pornografia externa é só um sintoma do que já acontece dentro: cada um carrega seu cinema interno, suas imagens que reforçam a ereção e alimentam o prazer. Sem essas imagens, a excitação definha. Isso significa que o prazer sexual, tal como a maioria o conhece, não é puramente instintivo, mas híbrido: corpo e fantasia entrelaçados.

Quando o processo de descondicionamento começa a corroer a mente, esse mecanismo se quebra. O sujeito percebe que, sem fantasia, o corpo não responde igual. A ereção murcha, a excitação não sustenta, a performance falha. É um choque, porque atinge diretamente a virilidade, a identidade, a sensação de ser “capaz”. No entanto, esse colapso não é um acidente: é parte da pedagogia da vida. A sexualidade mentalizada precisa morrer para que outra energia desperte.

O falso personagem, no fundo, sempre utilizou o sexo como forma de reforço de si. A potência viril, a capacidade de excitar e gozar, o domínio da fantasia, tudo isso servia como alimento do “eu”. O prazer era narcótico, mas também era cimento. Ele mantinha a identidade coesa. O sexo dizia: “Você é alguém. Você tem poder. Você ainda existe”. Mas, no descondicionamento, até isso se dissolve. O sujeito se vê diante da impotência simbólica e real. Descobre que não é senhor de seu próprio corpo. Descobre que, sem a muleta da imaginação, não sabe se relacionar, não sabe gozar, não sabe sequer se relacionar com o outro em nudez.

Esse é um dos pontos mais cruéis do processo: o sexo, que antes era válvula de escape e fonte de vitalidade, se torna deserto. Não há mais reforço imaginativo, não há mais compulsão. O desejo, quando surge, é frágil, inconsistente. A excitação, quando aparece, parece carecer de fundamento. Muitos interpretam isso como disfunção erétil, como falha física, como decadência. Mas é algo mais profundo: é o desmonte do último reduto da ilusão. A fantasia mental que sustentava o prazer está sendo arrancada.

Esse deserto sexual não é apenas biológico; é existencial. Ele expõe o quanto a vida do homem moderno é sustentada pela projeção mental, pelo imaginário. Sem fantasia, o sexo se revela em sua crueza: atrito de carne, calor passageiro, estímulo mecânico. O mito do prazer eterno desmorona. O orgasmo, quando acontece, mostra sua face transitória, quase ridícula. O corpo treme, o gozo vem, mas em poucos segundos tudo termina e resta o vazio. Esse vazio, que sempre esteve ali, agora já não pode ser encoberto pela imaginação.

E o que fazer com isso? A primeira reação é desespero. O sujeito tenta forçar a fantasia, busca pornografia, inventa fetiches, procura estímulos químicos cada vez mais intensos para resgatar a potência perdida. Mas quanto mais força, mais falha. A mente já não sustenta a ilusão. O colapso é inevitável. É nesse ponto que muitos desistem, acreditam estar doentes, procuram tratamentos. Poucos percebem que essa impotência é pedagógica, que ela ensina algo.

O que ela ensina é simples e brutal: sem ilusão, sem máscara, sem fantasia, o que sobra de você? O que é o sexo sem imaginação? O que é a relação sem idealização? O que é o corpo sem projeção? Essa pergunta é o portal. Porque o que sobra, no início, é quase nada. Sobra o corpo cru, sobra o toque nu, sobra o silêncio desconfortável de dois seres que já não sabem como se encontrar sem histórias. É por isso que o deserto sexual é tão aterrorizante: ele expõe que nunca aprendemos a estar presentes, nem em nós, nem no outro. Sempre estivemos correndo atrás de uma imagem, fazendo uso de um corpo para transar com o imaginal adulterado e adulterante.

Mas se o sujeito suporta esse vazio, se não foge, se não tenta reviver compulsivamente a fantasia, então algo começa a mudar. Lentamente, uma nova energia desperta. Ela não é mais o fogo excitado da imaginação, mas um calor silencioso, uma vitalidade serena que nasce do corpo real. Não é desejo no sentido antigo, mas presença. O encontro sexual, nesse novo horizonte, deixa de ser espetáculo e se torna comunhão. Não há roteiro, não há performance, não há a obsessão de manter ereção ou atingir orgasmo. Há apenas dois corpos respirando, dois seres compartilhando presença. O sexo deixa de ser catarse e se torna meditação.

Esse renascimento da sexualidade não acontece rápido. Primeiro vem o luto: o luto da virilidade imaginária, o luto da potência performática, o luto do prazer como anestesia. Depois, vem a solitude: longos períodos sem desejo, sem interesse, sem energia sexual aparente. Essa fase é a incubação. É o recolhimento da energia para dentro, como se a vida estivesse condensando força em silêncio. Finalmente, em algum momento, essa energia retorna, mas purificada. Ela já não é compulsão de gozo, mas chama de presença.

Essa transformação não significa que o sujeito se torna assexuado. Significa que o sexo perde o papel de tirano. Ele deixa de ser um imperativo e se torna uma possibilidade. Pode acontecer ou não, pode surgir ou não. E quando surge, é outro tipo de fogo. É mais terno, mais lento, menos teatral. O orgasmo já não é objetivo; às vezes nem acontece, e não faz falta. O encontro é o próprio fim. A energia sexual se tornou energia de amor impessoal.

Esse amor impessoal não se limita ao sexo. Ele permeia toda a vida. O calor que antes se consumia em fantasias agora aquece o olhar, a escuta, a convivência. O sujeito descobre uma nova forma de estar no mundo: não mais buscando saciar carências, mas transbordando presença. A energia que antes corria para fora, em compulsão, agora se estabiliza dentro, como chama silenciosa. O sexo mentalizado morreu, mas em seu lugar nasceu algo maior: a lucidez viva.

Esse é o ponto de chegada, mas também de partida. Porque essa transformação não é linear, nem definitiva. O sujeito pode oscilar: às vezes volta à compulsão, às vezes sente o vazio, às vezes toca a presença. O processo é longo, exige paciência e vigilância. Mas o mapa já está dado: do sexo mentalizado à impotência, da impotência à incubação, da incubação ao renascimento da energia como amor impessoal.

A sociedade, com sua pornografia onipresente e sua idolatria da performance, não compreende esse caminho. Ela chama de falha o que é renascimento. Ela chama de doença o que é pedagogia da vida. Mas quem atravessa o deserto sabe: a impotência não é o fim, é o limiar. A falência da fantasia é a chance de descobrir a nudez do real. O sexo, despido de imaginação, é o espelho onde a consciência aprende a estar.

E quando essa consciência desperta, o prazer não desaparece — ele se transforma. Não é mais descarga, é comunhão. Não é mais catarse, é clareza. Não é mais dependência, é liberdade. O corpo continua, mas já não é prisão. O desejo pode surgir, mas já não é tirano. O amor floresce, mas já não é posse. A vida respira, enfim, em sua simplicidade nua.


Ausência de Eco social - O Exílio que Gera Autonomia Psíquica

Quando o sujeito pela silenciosa observação passiva reativa amadurece a sua percepção dos implantes sistêmicos, assim como a enxurrada de conteúdos que só servem para gerar distração e impulso de consumo desnecessário, é raríssimo encontrar algo na sociedade, nas redes sociais, na tv aberta ou por assinatura, que se mostre digno de atenção. Isso aumenta a solidão mas é também essencial porque, em última análise, essa busca externa é também uma forma sutil de dependência.

Quando, pela observação silenciosa e não reativa, a percepção do falso amadurece, a mente já não se satisfaz com as iscas psíquicas que a sociedade oferece: entretenimento massificado, bombardeio de mensagens para consumo, debates rasos, notícias repetitivas, espiritualidade pasteurizada. Tudo isso, que antes parecia alimento, se revela como ruído. O sujeito sente a solidão crescer, não apenas porque se afasta dos outros, mas porque o mundo externo deixa de oferecer qualquer eco real para sua fome de verdade.

Esse vazio é doloroso — há dias em que parece uma exclusão, uma condenação, uma tortura —, mas é também um sinal de depuração. A atenção deixa de ser sugada pelo supérfluo e começa a voltar-se para dentro, para a fonte que não depende de likes, de novelas, de gurus televisivos, nem de discursos ideológicos ou partidários.

A solidão nesse estágio não é uma falha, mas um campo de incubação. O que morre é a dependência de estímulos externos como muletas emocionais. O que nasce é a possibilidade de permanecer em si, de sustentar o silêncio mesmo quando nada fora oferece abrigo. É um amadurecimento que se paga caro, porque quebra vínculos com o comum, mas abre espaço para a lucidez viva, que não se deixa mais hipnotizar por distrações fabricadas.


O silêncio como ruptura e a solidão como incubação

Há um ponto no processo de desapego em que tudo aquilo que antes parecia ter valor — as redes sociais, os programas de televisão, os debates ideológicos, os conteúdos esportivos, até mesmo boa parte do que se vende como espiritualidade — se mostra desprovido de essência. Esse ponto não chega de maneira planejada ou buscada; ele surge como consequência da maturação da capacidade de observação silenciosa, passiva e não reativa. O sujeito começa a olhar sem a pressa de interpretar, sem o vício de reagir, e lentamente, percebe a falsidade dos implantes sistêmicos orquestrados pelos “Senhores do Império do Reflexo”, que comandam o comportamento coletivo. São padrões que não apenas controlam, mas também alimentam a necessidade constante de distração e a imaturidade coletiva.

Essa percepção, quando amadurece, é avassaladora. Porque desmonta um pilar invisível: a crença de que “lá fora” haverá algo capaz de preencher rotina de inquietude do vazio interno. De repente, a televisão aberta soa como um desfile de estereótipos infantis. A televisão por assinatura, com seus inúmeros canais, revela apenas variações do mesmo condicionamento: narrativas formatadas para prender a atenção, mas nunca para libertá-la. As redes sociais tornam-se um grande espelho da compulsão coletiva por validação, exposição e consumo de imagens. O que antes servia como anestesia, agora se revela como ruído ensurdecedor.

Nesse momento, instala-se uma solidão peculiar. Nem mesmo a conversa com sujeitos adiantados no processo de descondicionamento, serve para aplacar a solidão e o vazio. Não se trata apenas de não ter companhia física ou de se sentir incompreendido pelos outros. É uma solidão ontológica: o sujeito já não encontra ressonância com quase nada daquilo que constitui a sociedade na sua superfície.

A busca por conteúdo, por estímulo, por algo digno de atenção no fluxo externo, se mostra frustrante. E essa frustração é essencial. Porque, em última análise, a busca externa é apenas mais uma forma sutil de dependência. É como se o sujeito estivesse sempre implorando a sociedade: “me dê um sentido, me dê um alimento, me dê uma distração que me impeça de sentir o vazio em mim”.

A queda da dependência de estímulos externos

No início, esse desapego é doloroso. O sujeito se sente amputado, como se a sociedade tivesse lhe retirado a possibilidade de participar. Onde antes havia prazer em acompanhar uma série, assistir a um jogo, comentar nas redes sociais, agora há apenas tédio ou irritação. A mente já não suporta a superficialidade que antes consumia com naturalidade. Esse vazio pode gerar a sensação de exclusão: é como se todos estivessem ainda embriagados na festa do condicionamento, e apenas você tivesse recobrado a sobriedade. O processo de desapego, nesse estágio, se assemelha a estar sóbrio numa sala cheia de bêbados e perceber que a música alta, as gargalhadas, as conversas com enredos partidários, não têm substância alguma.

Mas é justamente aí que se abre a possibilidade de uma virada. O corte com a dependência de estímulos externos não é um acidente, é uma purificação. Porque, enquanto houver necessidade de que a sociedade ofereça sentido, não haverá verdadeira liberdade. Essa independência não significa indiferença ao social, mas sim o abandono da exigência infantil de que a sociedade forneça alimento para a consciência. O sujeito aprende a sustentar a própria presença sem muletas.

A solidão como campo de incubação

Esse estado, que para a mente condicionada parece esterilidade e vazio, é na verdade um campo fértil. A solidão psicológica não é apenas ausência de companhia ou de entretenimento. É um espaço de incubação onde a atenção deixa de ser sequestrada por objetos externos e começa a repousar em si mesma. É nesse recolhimento que a lucidez, com sua autonomia psíquica, pode se consolidar.

Claro, o processo não é nada confortável. O falso personagem interpreta essa retirada como abandono, como morte. De fato, é uma espécie de morte: a morte do hábito de viver sustentado pelo externo. Essa morte dói, mas ela abre espaço para um nascimento mais radical. É no silêncio que se começa a perceber algo que não é produto do condicionamento: uma presença viva, não fabricada, que não precisa de likes, de novelas, falas pagas de celebridades com sorrisos de laboratório, de gurus de palco ou de promessas políticas para existir.

A solidão aqui se torna iniciação. É como atravessar um deserto em que não há miragens suficientes para enganar a sede. O sujeito aprende, lentamente, a beber de uma fonte invisível. Essa fonte não está fora, não está nos discursos, não está no consumo. Ela se revela na própria observação desarmada, no simples estar presente ao que é, sem manipulação.

A impossibilidade da recaída nas distrações

Neste ponto avançado do processo de desapego, o sujeito identifica de imediato as sugestões mentais para novas distrações mais sofisticadas e, ao identificá-las, não tem mais como substituir a televisão por vídeos de autoajuda, as redes sociais por comunidades espiritualistas, o entretenimento vazio por leituras incessantes sobre filosofia, esoterismo ou física quântica. Embora algumas dessas práticas, no passado, apresentaram alguns insights, agora, são vistas apenas como dependência: o sujeito percebe que esse impulso de busca no externo não tem como apresentar o conteúdo nutritivo que só pode ser descoberto na quietude interior.

Por isso, a observação passiva precisa ser radical. É necessário ver não apenas os conteúdos grosseiros da distração, mas também os refinados. O desejo de se tornar “melhor”, de acumular conhecimento espiritual, de se destacar como alguém que sabe mais, já não fazem o menor sentido, porque já foram vistos como versões mais sutis da mesma compulsão. O que amadurece, de fato, é a percepção de que toda essa busca é ainda dependência.

O silêncio como ruptura

A verdadeira ruptura se dá quando o sujeito consegue permanecer no silêncio, mesmo diante do desconforto. Quando a solidão deixa de ser interpretada como castigo e começa a ser reconhecida como rito de passagem. É nesse ponto que a presença se torna viva. Vai desaparecendo a necessidade de preencher o tempo, de buscar estímulos externos. A atenção passa a repousar em si, como se finalmente tivesse retornado à casa original.

Esse silêncio não é vazio estéril, mas plenitude não fabricada. Ele não pode ser encontrado nas televisões, nos jornais, nas timelines, nos livros de autoajuda, nos vídeos dos finados mestres ou dos gurus da contemporânea espiritualidade pop. Ele se revela quando a mente cessa a compulsão por preencher-se de ruído. Aí, a própria vida, em sua simplicidade, se mostra como manifestação suficiente: o vento que atravessa a janela, o corpo que respira, o olhar que observa sem julgar.

A travessia da solidão

Ainda assim, essa travessia exige coragem. Porque ela significa ir contra todo o condicionamento coletivo. O sistema social se sustenta na distração, no entretenimento, na promessa de que o próximo estímulo será o suficiente. Quando, pelo amadurecimento da observação, você rompe com isso, inevitavelmente sente-se à margem, fora do jogo. Esse é o preço da lucidez: perceber que o jogo nunca foi real, que a busca sempre foi uma fuga infantil, algo que no máximo, pode gerar homens e mulheres pela metade.

A solidão, então, não é sinal de fracasso, mas de liberdade. É a condição para que a consciência se descole da dependência infantil da sociedade e aprenda a sustentar-se em si mesma. O sujeito que atravessa essa etapa não volta a se distrair da mesma forma. Pode até assistir a um filme, usar redes sociais ou conversar com alguém, mas já não há mais ilusão de que isso trará preenchimento ou esclarecimento. A sociedade continua sendo o que é, mas já não é tomada como fonte de sentido.

A potência da independência

Esse amadurecimento abre uma nova forma de viver. O sujeito deixa de ser refém das narrativas externas e descobre uma liberdade interior que não depende de circunstâncias. Ele pode estar só ou acompanhado, em silêncio ou no meio do ruído social, mas não se perde mais. A atenção já não se curva diante das armadilhas do entretenimento. Há uma serenidade que nasce do fato de não exigir que a sociedade amadureça de um modo que nunca poderá amadurecer.

Essa independência não é arrogância nem isolamento egoísta. Pelo contrário: é a única base real para uma relação genuína. Enquanto se busca no outro ou na sociedade um preenchimento, toda relação é contaminada pela carência psíquica. Quando se encontra essa autonomia psíquica, pode-se finalmente estar com os outros sem usá-los como anestesia. Pode-se amar sem necessidade de possuir, pode-se dialogar sem necessidade de vencer, pode-se conviver sem necessidade de se afirmar.

A solidão como iniciação

A solidão que surge quando a observação depura a percepção não é maldição. É iniciação. É um campo de incubação em que a consciência deixa de ser escrava do externo e aprende a repousar em si. É dolorosa porque arranca silenciosamente dependências antigas, mas é também libertadora porque revela uma fonte de vida que não pode ser adulterada, nem adulterante.

No fundo, é esse o ponto: enquanto a mente procurar algo “digno de atenção” nas estruturas sociais e midiáticas, continuará psicologicamente dependente. Quando se observa que quase nada disso é digno, abre-se espaço para descobrir o único digno: o silêncio vivo da presença psicologicamente autossuficiente. Essa descoberta não é um fim, mas um começo. É a semente de uma vida que já não depende de distrações ou de companhia, para existir.


               

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill