Para que a Verdade possa existir, o pensamento deve estar em silêncio. Não deve o pensamento estar em busca de recompensa ou punição, e nem ter apreensões. Só nesse estado de espírito em que não há busca, é possível manifestar-se a Verdade. A Verdade resultante de busca não é Verdade nenhuma; não é senão uma voz projetada do “eu”, traduzindo-lhe a ambição de preenchimento. Assim, pois, ao perceber tudo isso, ao perceber na sua inteireza o quadro em que se mostra como a mente opera, não há então pensamento para controlar nem disciplinar; todo pensamento tem então importância; há a OBSERVAÇÃO DO PENSAMENTO, COM O PENSAMENTO NO PAPEL DE OBSERVADOR QUE OBSERVA O PENSAMENTO, coisa essa dificílima de se experimentar, uma vez que requer uma extraordinária lucidez e tranquilidade de espírito. Todo pensamento é resultante da memória — da memória que não é mais do que um nome. Porque, em Verdade, nós pensamos com palavras; seu pensamento é produto ou “projeção” da memória; e memória se constitui de imagens, símbolos, palavras. Portanto, enquanto houver aquela “projeção”, haverá pensamento. Um homem interessado em compreender o pensamento deve, por conseguinte, compreender todo o processo da sua produção: dar nome, se lembrar, reconhecer. Só então há possibilidade de se tornar, a mente, totalmente tranquila. Essa tranquilidade vem com a compreensão. Pode então a Verdade, dispensar ao indivíduo as suas bênçãos, se chegar a ele, libertá-lo de todos os seus problemas; somente aí surge o ente criador — que não é o homem que pinta quadros, escreve um poema ou trabalha dez horas por dia.
Krishnamurti — Autoconhecimento — Base da Sabedoria