Tem-me sido dito por muitas
pessoas aqui, na Europa, como também na Índia e na América, que o que eu digo
não é novo. Nada existe de novo sob os céus. Porém, para todo o homem que descobre,
que atinge, tudo é novo. Se, pois,
nada encontrais de novo no que eu digo, a culpa não é minha, é culpa daqueles
(se realmente for uma culpa) que nada têm de novo em si mesmos. Assim como cada
dia se torna renovado e penetrante, assim como cada primavera é nova, assim
também, se quiserdes encontrar algo novo, original, claro, diferente, precisais vós mesmos ser diferentes.
Para algo novo descobrirdes, deve existir em vosso coração o desejo de romper
com o que é antigo.
1ª Pergunta: Constantemente nos dizem que o que dizeis acerca da
inutilidade das cerimônias, igrejas (inclusive a Igreja Católica Liberal),
religiões, não se aplica ao momento presente, porém destina-se à Sexta sub-raça.
Que dizeis acerca deste fato?
Krishnamurti: Quando tendes fome, adiais a hora de vossa refeição?
Quando vos afogais, prestareis ouvidos a um home que vos diga: “Amanhã eu vos
salvarei?” Quando estais em tristeza, postergais o obter alívio, nessa hora
sufocante, por meio do esquecimento? Que fazeis em tais casos? Quando tendes
fome, saís em busca de alimento. Se vos estais afogando, lutais para obter ar
fresco e se vos achais em tristeza quereis que ela vos seja removida
imediatamente. Expliquei outro dia o que entendo pelo momento eterno e, do meu
ponto de vista, este momento eterno deveria ser a preocupação de todos e não
somente de uns poucos. Esta realização não é para o futuro, precisais obtê-la
agora. Que valor terá ela no futuro? Quem dela se beneficiará? Nem vós mesmos
nem vosso próximo.
Não quereis todos vós ser livres?
Livres da tristeza, do constante aguilhoar da desgraça, AGORA? De que vale
olhar para o futuro? Tendes que solver vossos problemas agora, tendes que viver
agora, tendes que lutar agora em vossa vida diária. Tendes que alterar as
circunstâncias que vos rodeiam agora. Tendes que limpar a floresta e abrir
caminho agora, não no futuro. O futuro
será sempre futuro se não fizerdes as alterações agora. O futuro será sempre um
mistério se não dominardes o presente. Vossa dificuldade é a de não saberdes
que sois prisioneiros. Quando estais em tristeza — tristeza real —, não vos
servis dessa tristeza para derrubar as paredes que criam outras tristezas? É o
AGORA que importa: o modo pelo qual viveis, o modo pelo qual vos comportais, o
modo pelo qual amais as outras pessoas, o modo pelo qual pensais a seu
respeito. Que importa o que vireis a ser no futuro? Se não crescerdes ao
máximo, agora, pelo vosso esforço sustido, o futuro iludir-vos-á sempre. Se não
crescerdes agora para essa incorruptibilidade, construireis muros maiores,
maiores barreiras, entre vós e o vosso atingir, e por meio delas criareis
maiores limitações e maior tristeza.
Pensais que sois fracos, que
dentro de vós não existe a força para vos suster em vossa integridade,
imaginais que vos não podeis manter de pé por vós mesmos. Eu digo que podeis,
se realmente o quiserdes, se tiverdes o formidável desejo de buscar a verdade,
de procura-la, de raciocinar e lutar em prol dela e, por esse modo,
estabelece-la dentro de vós — e precisais fazer isso AGORA, não no futuro. No
futuro a treva e o mistério da morte vos esperam; assim, enquanto viveis, deveis
vos preocupar com a vida, e alterar o curso dessa vida, despedaçando todas as
barreiras, limitações, trivialidades, que existem entre vós e o vosso maior
entendimento. Porque esperais pelo futuro e qual o valor de por ele esperardes?
Porque modo o futuro vos há de proporcionar sua consecução, se não edificardes
com grandeza, com vastidão, perigosamente, no momento presente? Vós matais o
futuro por meio do presente . Esse futuro será sempre torcido, pervertido, se
não viverdes no momento presente. Não posso conceber porque vos é tão difícil
compreender o que vos estou dizendo. Que há nisso de tão complicado? Digo que
ninguém, do exterior, vos pode proporcionar incorruptibilidade da mente e do
coração e somente nessa incorruptibilidade reside a perfeição da vida, a
beleza, a formosura, da qual cada um é parte. É tão simples, isto, que quereis complica-lo
por meio de filosofias, sistemas, credos, religiões, igrejas, ritos. Como
podereis viver com grandeza, com vastidão, com deleite, com beleza no futuro,
se não lançardes o alicerce agora, se agora não viverdes nessa eternidade, com
a vossa maior capacidade, com todo o vosso entusiasmo e ardor?
Se tendes fome, ides à procura de
trabalho que vos proporcione dinheiro para comprar alimento. Não postergais a
hora de comer, sais e lutais para satisfazer vossos anseios. Pelo fato de não
possuirdes a ânsia real e ardente de encontrar a Verdade imediatamente, AGORA,
é que existem todas essas complicações. O possuir essa incorruptibilidade do eu
no momento presente, AGORA, é da maior e máxima importância. É somente AGORA
que a podereis encontrar, e não no futuro. Ide a alguns dos bairros pobres de
Londres ou de qualquer outra grande cidade e perguntai ao povo ali se quer ser
provido de alimento, conforto, luz, no futuro.
Vós todos vos encontrais muito
confortáveis em vossas mentes e corações, bem como fisicamente também. Estais
satisfeitos e estagnados e, no entanto, quereis a verdade, que não provem da
satisfação e da estagnação.
Krishnamurti, 7 de agosto de 1929, Acampamento de Ommen