Pergunta: Como podem duas publicações de títulos tão contraditórios
como as que se seguem: “O Caminho” e “Realidade sem Caminhos”, ser publicadas,
pelo mesmo autor?
Krishnamurti: A resposta
é muito simples. Uma tal foi escrita há seis ou sete anos, a outra recentemente.
O Caminho foi escrito por mim quando
eu ainda dividia a vida neste mundo de enganos. Agora, para mim, não há mais
coisa que se pareça com divisão de vida: ela é tudo, pois que a vida reside em
toda a coisa, em toda a haste de relva, em toda a pedra, em toda a folha, em
todo coração e mente humanos. Para essa verdade não há caminhos, porque ela
está em cada mente e em cada coração. Esta verdade não exige caminhos. O que
ela exige é concentração, acautelamento, recolhimento, conduta, comportamento.
Para isto, não necessitais de caminhos — é a existência de todos os dias que a
ela vos conduz. Quando me apercebi disto plenamente, Realidade sem Caminhos veio à existência. Assim, pois, é
perfeitamente possível escrever algo em uma época e contradizê-lo mais tarde. É
pela afirmação e pela contradição que se chega à verdade. Em vós deve existir
toda a contradição e afirmação, pois que a Vida contém tudo. Pela contínua
busca, pelas contradições, pelas afirmações, pelas estatuições positivas é como
se chega à verdade. Então, não mais sereis colhidos pelo apego, pela cobiça,
pelas posses, pela avareza; então, em vossa mente haverá tranquilidade que não
conhece separação; então o pensamento será ilimitado, pelo fato de haver tocado
essa fonte de realidade que é Onipresente, Onisciente, que é a própria vida
existente por si mesma e em todo o ser humano.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 4 de agosto de 1930
(Campfire)