Pergunta: O homem que não é livre necessita de constante auto-exame e
apercebimento de cada pensamento, sentimento e ação intencional, afim de viver
na luz de sua meta. Não pode isto tender para a introspecção mórbida? Será a diferença
entre o reto auto-exame e a espécie mórbida de auto-introspecção a de que uma
tem sempre que resultar em ação, ao passo que a outra não? Por outras palavras,
qual, do vosso ponto de vista, é a diferença entre a espécie de auto-apercebimento
que conduz à liberdade e aquele que tem efeito oposto?
Krishnamurti: O
auto-exame não conduz à introspecção mórbida se fordes plenamente cognoscentes
da finalidade da existência individual. A morbidez surge por meio do medo da
conduta ineficaz em ação. Atemorizai-vos de vossa própria fraqueza, e assim,
dependeis de outrem, ao passo que, pelo contínuo exame, analise, vigilância, reto
recolhimento, realizais o verdadeiro propósito da existência individual — o
qual é o de tornar-se essa totalidade, ser
o todo — não vos tornareis mórbidos.
“Será a diferença entre o correto auto-exame e a espécie mórbida de
introspecção a de que uma delas sempre resulta em ação e a outra não?”
Perfeitamente correto. A espécie verdadeira de auto-exame, de análise, tem que
levar à verdadeira ação a qual é a remoção dessa limitação entre a autoconsciência
sub-humana e o apercebimento do puro
homem. A verdadeira ação é o remover da parede que tão tenuamente divide o puro homem do sub-humano. A morbidez que
surge da introspecção, não conduz à ação; é tristonha, ineficiente; cria cada
vez maior treva.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 5 de agosto de 1930