Pergunta: Em resposta à pergunta “Por que nos encontramos aqui?”,
haveis dito em Ojai, que o homem cresce da perfeição inconsciente para a
perfeição consciente. Podeis explicar-nos a necessidade disto? Por que é
perfeição inconsciente no começo?
Krishnamurti: “Podeis explicar a necessidade disto?”
Não posso. Ela é um fato. Podereis arquitetar uma teoria; eu posso
proporcionar-vos uma teoria; porém que valor têm essas teorias? Quando me sirvo
das palavras “perfeição inconsciente”, quero dizer que a Natureza esconde a
vida e que a Natureza se preenche a si mesma na consciência individual a qual
se apercebe da separatividade, que é imperfeição consciente, esforço, luta,
nascimento e morte, tristeza, prazer e dor, variedade de costumes, enfim,
mutabilidade de prazeres. A consciência individual preenche-se a si mesma no ser
consciente, o qual é pura felicidade. Agora, quereis saber por que a
perfeição é inconsciente no começo? Na Natureza existe a perfeição inconsciente
porque a Natureza é instintiva, ao passo que o propósito do homem é transformar
esse instinto em razão por meio do esforço.
Pergunta: Por que dizeis “Vida é criação”, em lugar de dizerdes “A Vida
é criativa?” Não é criação a coisa formada e não é a vida o principio dessa
formação?
Krishnamurti: Para mim, a
vida é tanto o criador como o criado, tanto o sujeito como o objeto, todo o
imanifesto como o manifesto. A partir do momento de vista da totalidade da vida,
não existe sujeito nem objeto. Aquilo em quem toda a totalidade, toda a
separatividade estão contidas, não pode estar apercebido de objeto e sujeito. É tudo.
Não se apercebe da coisa criada como estando aparte de si mesmo. O homem que se
acha separado apercebe-se de sujeito e de objeto; porém, aquilo que tanto é
sujeito como objeto, não pode estar apercebido seja do objeto seja do sujeito.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 24 de julho de 1930