Pergunta: Dizeis que o “bem” é a capacidade de resistir ao não-essencial. O essencial acha-se determinado por aquilo que vós próprio reconheceis ser o propósito da vida individual. Se o meu propósito — no sentido de meu maior bem, tal como o vejo presente — é ganhar dinheiro, então será bom para mim prosseguir em meu propósito, mesmo sem olhar às consequências que daí possam provir para mim mesmo?
Krishnamurti: Para mim, a beleza é a inexistência da noção da autoconsciência, a beleza é isenta de esforço e o bem é, da mesma maneira, isenta de esforço. A virtude somente é virtude quando não mais existir esforço. O bem — uso esta palavra sem lhe impor limitação — é, portanto, ser sem esforço. Daí, abranger tanto a resistência como a falta de resistência.
Portanto, a pergunta é: Se um homem deseja adquirir riqueza, será ou não um bem para ele que assim faça? Ao enunciar a pergunta “será um bem” já se está consciente do esforço e o esforço implica tristeza e por meio da tristeza aprende-se. Muita gente no mundo, no momento presente, acha-se em busca da riqueza, pensando que ela lhes trará essa suprema, essa tranquila realidade que é a felicidade. Se, porém, examinardes a ideia impessoalmente, se a analisardes com cuidado, verificareis que na posse somente se encontra uma outra ilusão, outro apego, no qual a felicidade não pode ser encontrada. O dinheiro não traz a plena felicidade da vida. O dinheiro é apenas um bilhete para vos conduzir a um lugar qualquer, porém, de nada serve o amontoar bilhetes como muita gente faz. Quando derdes o valor reto às coisas, de todas elas ficareis livres e nessa liberdade está a iluminação.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 1 de agosto de 1930