Pergunta: Posto que digais não existir bem nem mal, quando falais
acerca do essencial e do não-essencial, não são isto apenas nomes diferentes
para a mesma coisa? Se as pessoas, mesmo vivendo no mundo, abandonarem todas as
ocupações ordinárias e também os divertimentos da humanidade, os quais, mesmo
quando inofensivos são, de vosso ponto de vista não essenciais, não estarão
vivendo tão “fora da vida” como se estivessem em retiro em um mosteiro?
Krishnamurti: Por último,
nessa totalidade da vida que é a sua liberdade, não existe coisa que se pareça
com bem nem mal, pois que ela a tudo abrange; porém, para vós, como indivíduos,
que sois autoconscientes, existe bem e existe mal, essencial e não-essencial, a
continua batalha pelo ajustamento, a continua luta por chegar a esse perfeito equilíbrio
que é liberdade. Nessa batalha achai-vos conscientes daquilo que é perfeito e
daquilo que é imperfeito, daquilo que é belo e daquilo que é menos belo — para
vós existem estas diferenças, porém elas não existem para o homem que está
liberto.
A pergunta a fazer é esta: Sois
escravos da sensação, da satisfação, do prazer? Se assim é, então, a questão
para vós é a de como vos haveis de libertar do apego, de como haveis de ficar
serenos. Não ficareis, porém, desapegados e serenos pelo fato de abandonardes o
mundo, nem pelo vos retirardes para um mosteiro. Somente vos afastareis da vida
pelo receio de ficardes embaraçados. Homem sábio é aquele que coloca à prova o
seu desapego no mundo de modo a
chegar a essa serenidade que não depende do prazer, do divertimento ou da
satisfação da sensação.
Krishnamurti em Acampamento da estrela de Ommen, 2 de agosto de 1930