Pergunta: Qual a maneira pela qual eu posso colocar à prova a mim mesmo
para verificar se realmente desejo essa verdade da qual falais, ou se me encontro
apenas superficialmente interessado?
Krishnamurti: Isto somente podereis
verificar pondo em prática o pouco que houverdes compreendido em relação a essa
realidade de que eu falo. No levar vosso entendimento à prática, verificareis
dentro em pouco a intensidade de vosso desejo no sentido de conquistar o
conjunto. Antigamente, aqueles que pretendiam encontrar a verdade, abandonavam
todo o mundo, retiravam-se para a vida ascética ou monástica. Ora, o esforço deve
ter lugar onde quer que estejais, dentro de vós mesmos, rodeados por todas as
espécies de confusões, de ideias contraditórias, por aquilo que denominais
tentações. (Do meu ponto de vista não existe coisa que se pareça com “tentação”).
Se eu formasse uma corporação exclusivista de ascetas, talvez a ela vos filiásseis
— ou antes talvez não o fizésseis, pois que isto demandaria demasiada energia
de vossa parte, muito desconforto — porém isto seria apenas um mero
reconhecimento superficial daquilo que pretendeis realizar.
O deixar de lado um vestuário e o
adotar um outro não vos vai fortificar em vosso desejo. No vigiar, no
encaminhar esse desejo, no estardes a todo o momento auto-apercebidos em vossa
conduta, em vosso pensamento, em vossos movimentos, em vosso comportamento, a
todo o instante ajustando-vos àquilo que verificais ser o propósito da
existência individual — somente por este modo encontrareis a prova positiva, e
não pelo pertencerdes a seitas, sociedades, grupos e ordens. Então,
servir-vos-eis da experiência; não vos tornareis escravos da experiência.
Portanto, a conduta pura exige pureza de sentimento. Por “pureza” entendo eu a
pureza resultante da razão, não a decorrente da sentimentalidade da crença. A
razão é a essência da vossa experiência — ou da experiência de outrem à qual
tenhais examinado impessoalmente, sem o desejo de consolo ou de autoridade — à
qual tenhais analisado e criticado impessoalmente. Esta é a prova única e este
é o valor único da vida — não as inúmeras teorias.
Escutando aquilo que hei dito
acerca da pura ação, da realização,
do puro ser, não vos percais em
abstrações e metafisicas, esquecendo a conduta ordinária, a maneira de
viverdes, a maneira de ser. Podeis
possuir teorias acerca deste puro ser
ou felicidade, ou como quer que queirais chamar-lhe: se, porém, fordes
ciumentos, invejosos, cobiçosos de bens, cruéis, irrefletidos, inconsiderados,
que valor têm as vossas teorias? Para chegar à realidade tendes que vos
libertar dessas coisas e para delas vos libertardes tendes que possuir a visão
compreensiva dessa realidade, e leva-la à prática. De outro modo sereis
colhidos pelas meras expressões.
Krishnamurti em Reunião de Verão, 24 de julho de 1930