Pergunta: Verificamos que usais das palavras somente por conveniência;
existirá, assim, para vós uma distinção entre pensamento e ideia? Devemos nos
libertar também de vossas ideias? Se assim for, não vos parece que seja fútil o
nos dirigirdes a palavra?
Krishnamurti: Certamente
que existe uma diferença entre ideia e pensamento. Geralmente, uma ideia, nada
mais é do que a retenção do pensamento-emoção, que se torna cristalizado por
meio da reação pessoal, ao passo que o pensamento-emoção está sempre fluindo,
ilimitado, e nele não existem reações pessoais. Ele é a substância perdurável
da Verdade. Porém a mente, escrava de uma ideia, é incapaz de viver com
infinitude, e assim existe diferença entre pensamento e ideia.
Isto não é ginástica intelectual;
se simplesmente o compreenderdes e viverdes isto, sabereis o que significa. Há
aí um êxtase. Não é uma fria concepção intelectual, muito menos uma sensação emocional.
Perguntais: “devemos também nos libertar de vossas ideias? ” Espero não vos ter
transmitido ideias. Vós estais habituados aos “sins” e aos “nãos”, estais
habituados aos sistemas, às filosofias, às ideias concretas, nas quais vosso
pensamento se pode cautelosamente envolver a si próprio, e chamais a isto
viver. Eu não vos estou dando um sistema. Eu vos estou falando de um modo de
viver no qual existe o apercebimento, sempre presente, da chama do
pensamento-emoção. Se eu tivesse que vos relatar o que constitui o mínimo das
necessidades, que espécie de meditação deveríeis fazer, que gênero de ideias deveríeis
ter, de como deveríeis viver no presente, então, teríeis que vos libertar
dessas ideias pois que elas viriam escravizar a vossa mente e corromper o vosso
pensamento. Eu não vos dou ideias, falo da plasticidade da mente-emoção afim de
poderdes viver com harmonia, nessa tranquilidade que sempre está se renovando.
Krishnamurti, Acampamento de
Ojai, 4 de junho de 1932