Sustento que a Verdade, a Vida
Eterna, está oculta em todo o ser humano, porém está coberta pela
eu-consciência. Nesta completude não pode haver dualidade; a dualidade surge
somente na eu-consciência. A ação puta tem sua origem na completude; porém o
bem e o mal, os opostos, vêm à existência por causa da ilusão da
eu-consciência.
Na realização da Verdade não há
tempo; o tempo brota da eu-consciência. A ideia de progresso surge da
eu-consciência, progresso no sentido de ação no tempo. Não podeis realizar a
Verdade por meio da perfeição no tempo. A Verdade não evolui, não está limitada
pelo tempo. A ilusão pode progredir, porém a Vida não. Por glorificada e
perfeita que seja essa ilusão, ela jamais entenderá a Verdade. A completude é
eterna, e, já se vê, não é a indefinida continuidade do tempo. Ela está sempre
renovando a si própria e sustenta-se por si mesma. Para além desta completude
não existe coisa alguma, ela é absoluta, posto que não seja uma finalidade.
Vivendo no tempo, que é o incessante vir a ser, atribuis progresso à Verdade;
porém, a Verdade
só pode ser realizada quando estiverdes libertos do vir a ser.
A completude é harmonia da mente
e do coração. A
mente precisa estar completamente descarregada de ideias, da vontade e
da imaginação, pois que estas coisas pertencem à eu-consciência. O
centro do eu está sempre criando sua própria desarmonia e, enquanto este centro
existir, não podeis atingir essa harmonia da qual vos falo. Para dissolver o
centro do eu tendes que vos tornar plenamente responsáveis pelas vossas ações;
assim, somente, por meio da chama da eu-consciência, podeis realizar a Verdade,
a harmonia da Vida. O amor é sua própria eternidade e enquanto outrem, o objeto
existir, há a tristeza da solidão.
Imaginais que pelo acumular
experiência, vem o entendimento. Pensais que a multiplicação das experiências
no tempo vos proporcionará a plenitude do entendimento. Para mim, o que ocorre
é justamente o contrário. O que vos proporciona entendimento, a realização da
completude, é a compreensão do pleno significado da ação como experiência no
presente.
Essa flor do entendimento, que
está para além do tempo e para além de todas as limitações, acha-se encrustada
no pensamento e na emoção. Somente a podeis realizar por intermédio de vosso
pensamento e da vossa emoção e não fugindo de tais coisas. Limitados pela eu-consciência, separais a
Verdade de vossas ações diárias; pensais que esta Realidade deve ser encontrada
em outro plano da existência, fora de vós. Não podeis separar o perfume, da
flor. É por meio da intensidade da eu-consciência — sendo a eu-consciência individualidade,
ego — pelo vos tornardes plenamente responsáveis, que realizais a completude.
Enquanto a ação brotar da
irresponsabilidade, jamais pode existir esse intenso fogo da eu-consciência
através da qual, somente se acha a completude. Para despedaçar essa limitação
da irresponsabilidade, não há necessidade de examinar o passado. Não tem
valor algum examinar o que aconteceu ontem, porém, tornai-vos sim, plenamente
conscientes das vossas ações no presente. Na libertação da consciência reside a
verdadeira espontaneidade.
A maioria das pessoas são
irresponsáveis porque são arrastadas pelas suas sensações; são escravas de suas
emoções e vivem meramente nesse círculo de escravidão. Não sendo eu-conscientes
e, portanto, sendo irresponsáveis, suas ações não as libertam. A ação, assim,
conduz à ignorância.
Tornando-vos conscientes, auto-recolhidos,
responsáveis, estais derrubando as limitações que vos aprisionam no círculo da
ignorância. Não vos é possível disfarçar a vossa tristeza ou deixar-vos arrastar
pela alegria, pois que ambas as emoções são passageiras. Por meio da
eu-consciência descobris as secretas origens do desejo. A tristeza tem que
existir enquanto houver eu-consciência e, se a disfarçardes pelo conforto, pela
irresponsabilidade, apenas estareis atando-vos a vós próprios na ignorância.
Krishnamurti, reunião de verão em Ommen, 1931