Pergunta: Em toda a educação as crianças são adestradas na direção de
um certo padrão que lhes é imposto pelos pais e professores. Por acaso temos o
direito de lhes impor um padrão qualquer? Se assim for, onde estão as
linhas dele? São a limpeza, as boas maneiras, a gentileza, etc., coisas
puramente artificiais ou elas acrescentam na verdade a felicidade do indivíduo?
Muitas pessoas no passado recomendaram a honestidade, a castidade, a obediência
e outras pretensas virtudes. Por acaso a
observância destas coisas as conduziu à felicidade, à Verdade, ou ao seu
inverso? Como podemos assegurar-nos de que um padrão qualquer seja na realidade
verdadeiro? Gostamos da limpeza e da delicadeza e por isso as impomos — haverá,
porém, alguma razão subjacente para isto, exceto a de nos convir?
Krishnamurti: A maioria
das pessoas possuem um certo princípio que desejam ver estabelecido como um padrão
para outrem, seus filhos inclusive. Para mim, todos os princípios e crenças são
relativos e não se pode fixa-los como um padrão. Portanto, não se trata de estabelecer um
ideal para que vossas crianças o imitem, ou força-las a adotar um padrão de conduta. Pela vossa própria
conduta, pela vossa própria atitude em face da vida, podeis criar verdadeiro
descontentamento; não somente descontentamento com coisas superficiais, porém o
descontentamento que traz o entendimento da vida. Inteligência é a escolha do
essencial. Para discernir com justiça é preciso que não tenhais preconceitos,
nem consciência de classe, nem sentimento de superioridade e inferioridade, nem
sentimento de nacionalidade, nem escravidão a qualquer sistema de pensar, todos
os quais, inevitavelmente, matam a ação criativa.
Pergunta: Haveis dito que a uniquidade é o único guia até que tenhamos
atingido a meta. Podeis, por favor, explicar mais plenamente o que entendeis
por uniquidade?
Krishnamurti: A
uniquidade pertence ao particular, ao ego, à eu-consciência, à individualidade.
Aquilo que é todo-inclusivo, auto-existente, completo, não pode ser único. A
uniquidade não é um processo ou uma técnica conducente à Realidade, porém sim o
modo pelo qual interpretais cada experiência até a mais plena capacidade de
vossa inteligência.
Krishnamurti, reunião de verão em Ommen, 1931