A Verdade constitui um perigo para
todas as sociedades, para todas as crenças organizadas, para todos os sistemas
de pensamento. Se você, como indivíduo, possuir a Verdade, então, será
automaticamente uma casa de força que há de varrer, todas as coisas não
essenciais que o rodeiam. Porém, você não poderá organizar a Verdade. Se você
perceber essa Verdade e viver essa Verdade, e se tornar parte dessa Verdade,
então você se tornará como a luz a solar que dissipa todo o nevoeiro.
A Verdade da qual falamos, constitui
um perigo para o que quer que seja não essencial. Porém, você tem que verificar
por si mesmo, o que é essencial e o que não é. Ninguém pode lhe dizer.
Você não pode organizar a Vida ou a
Verdade. Todas as crenças, todas as ideias de salvação, de se ser conduzido
para um céu especial, são tentativas para organizar o pensamento humano. Porém,
não se pode sistematizar o pensamento, e por meio dessa sistematização,
escravizar a mente.
O que importa é aquilo que você é, e
não o que faz ou de como há de converter a sociedade. Você o fará, se for belo
e bondoso, se seu semblante evidenciar seu pensamento, se realmente for alegre,
pois que, então, todos virão a você para ver como se arranja para conseguir
isso nesse mundo tão caótico.
É como indivíduo que você dever
tornar centro dessa energia dinâmica, a qual varre para o lado, tudo que não é
essencial — como indivíduo, não como corporação organizada. Se, como indivíduo,
você for inquebrantável a respeito de certa coisa, por saber ser ela real,
então virá a modificar a sociedade. Porém, não poderá modificá-la se você mesmo
se encontrar inseguro. Para você se certificar da Verdade do que estamos lhe
dizendo, em primeiro lugar deverá ponderar se sua edificação da vida é baseada
na autoridade, se os seus deuses, se os seus temores têm existência real, e,
depois, pelo processo de “interna” eliminação, começar a ter em consideração,
os verdadeiros valores da vida. A fixação interna do que é essencial, esse é o
seu vital trabalho preliminar.
Quando falamos a respeito do medo da
salvação, tínhamos em vista, apontar o apego ao culto, à prece, ao Deus
externo, às autoridades, às superstições, aos ritos, às igrejas, aos
santuários, e aos templos. O fato de você se amedrontar com tudo isso,
significa que ainda se apega ao que não é essencial. Seja realmente honesto,
não hipócrita, e então verificará como essas coisas afetam a vida.
A partir do momento em que você
tenha se certificado das coisas essenciais das quais lhe falamos, naturalmente
você modificará a si mesmo. Isso é o que realmente importa. Você deve se
assegurar de tal modo, do que é essencial, que possa proporcionar ao “Eu”, o
manto da incorruptibilidade e, pelo fato de envergar esse manto — se tornará um
perigo para tudo quanto for corruptível.
É como indivíduo que você cria as
coisas que não são essenciais. Elas não veem à existência por si próprias, você
as cria, por não saber como distinguir entre o que é essencial e o que não é.
Quem criou todas as mesquitas, templos e igrejas do mundo? Os supersticiosos,
os sacerdotes, você e nós. Por causa da nossa falta de discernimento daquilo
que é duradouro e daquilo que é transitório.
Quando você deixar de dar expressão
às coisas externas, não essenciais, naturalmente virá a criar o que é
essencial. E esta criação é da máxima importância, não simplesmente o
afastamento daquilo que é antigo, porém, a criação do que é novo.
Krishnamurti, 1929