Você não pode se aproximar da Verdade por um caminho, seja ele qual for, nem por qualquer religião, nem por um rito qualquer, ou qualquer cerimônia, nova ou antiga. Todas as formas de cerimonia religiosa, destinadas a auxiliar o homem, não podem de modo algum ajudar o homem quanto a Verdade. Se são antigas ou novas, é coisa que nada significa. Se você não as tiver novas, buscará as antigas. Muitos deixaram formas antigas e tomaram outras novas, na esperança de encontrarem a Verdade, e não a encontraram.
Para agora mesmo encontrar a Verdade, você necessita libertar-se de todas essas coisas. Para ajudar fundamentalmente, você não deve proporcionar auxílio exterior, mas sim ajudar a purificar o esforço individual e a fortificar a incorruptibilidade do eu. Esta é a única coisa que importa, e não todos os seus sistemas espirituais, igrejas e rituais. Você deseja todos esses sistemas, porque não pode se manter por si mesmo, livre, seguro, certo do que está buscando. Se você não tiver um sistema, inventará outro, pois que todos os sistemas são feitos pelo homem. Esses sistemas espirituais não são a resultante da Vida, nem corporificam a Verdade.
Sustentamos que encontramos, aquilo que todo homem no mundo anda buscando, e dizemos que, se do mesmo modo você desejar achar, precisa ser forte, livre, e colocar de lado todas essas coisas infantis. Você não poderá encontrar auxílio perdurável, verdadeiro, incondicional, vindo do exterior, nem a indulgência com essas coisas representa verdadeira auto-expressão.
Enquanto você vai adorar em um santuário fechado, a Vida dança continuamente nas ruas e escapa de você. Você quer encontrar a Verdade nos santuários e nos tabernáculos feitos pela mão do homem, porém, você não quer adorar a Vida, em si mesma, que está por toda parte, o coração, na luta de todos os que lhe rodeiam.
Existe algo maior do que todas essas criações objetivas do homem, e você não pode chegar ao maior, por meio dessas. A essas você quer usar como muletas, como brinquedos, com os quais joga as crenças para o fortificar. Se você não experimentar a sua força deixando de lado as muletas, como poderá chegar a conhecer sua integridade, sua vitalidade? A Verdade não reside em nenhum sistema, crença ou ritual, em nenhum desses caminhos. É distanciando-se dessas coisas, as quais são sombras, irrealidades, que você encontrará o criador de todas as sombras, a semente de todas as coisas e a própria criação em si mesma.
Portanto, preocupe-se com a Vida, que é o eu de todo ser humano; fortifique, purifique e torne incorruptível esse eu, e então, serão perfeitas as formas criadas por esse eu. Você está tomando a sombra pela realidade, adorando as sombras e esquecendo as realidades. Se você realmente se acha ansioso de encontrar, de estabelecer a felicidade em si mesmo, tem que abandonar seus jardins de infância. Se você arder pela Verdade, tem que sair de suas sombras, deixar seus brinquedos, e gozar aquilo que cria todas as coisas e que é você mesmo.
Krishnamurti, 1929