A Verdade e a mentira não podem morar juntas. Você deve ser inteiramente pela Verdade, ou inteiramente contra ela, você não pode condescender. Você não poderá avançar por qualquer outro modo. Você não pode permanecer na sombra e adorar o sol; você tem que sair da sombra e deleitar-se ao sol, regozijar-se em sua pureza, a fim de que você mesmo se torne puro, perfeito, incorruptível. Você não pode transigir, pois a Verdade não reside em esperanças mortas.
Na mente da maioria que nos escutam, existe uma inclinação a acreditarem que aquilo que dizemos é puramente destrutivo, e, daí, algo negativo, que a todo o instante estamos derrubando, que não somos construtivos. O que dizemos não é construtivo nem destrutivo, porque falamos da Vida, e na Vida não há nem destruição nem construção. É insensatez dividir a vida em construtivo e destrutivo. Porém, quando dizemos que algumas coisas são infantis, desnecessárias, insensatas, não essenciais, falsas, é porque desejamos tornar clara a única coisa realmente essencial, nítida, positiva, evidente, distinta. Somente de você, portanto, de todo indivíduo, é que depende a destruição e a reconstrução. No próprio processo de desconstrução, você está construindo. É isto que você não percebe. Logo que você tenha deixado de lado todas as coisas infantis, todas as muletas, todas as coisas não essenciais, fúteis, triviais, dentro de você começa a crescer essa certeza segura que está acima de todas as coisas transitórias, e que é constante, que é a verdadeira medida do seu entendimento.
Portanto, isso não é uma questão de destruição, mas sim, antes, de um desejo de descobrir por si mesmo o verdadeiro valor e significado, o verdadeiro propósito da vida. Para este descobrimento, você necessita deixar de lado tudo que é de pequeno valor, pois que de outro modo, sua mente se perverterá, seu julgamento será distorcido.
Você tem que vir a esta Verdade da qual falamos, a qual afirmamos ter atingido, sem fardos, imaculados. A ela você não pode vir com a mente prejudicada e ideias preconcebidas, com falsas esperanças e temores, ambições e glória pessoal. Colocando de lado todas as coisas que antes tínhamos por necessário, é que achamos aquilo que é Eterno, incondicionado, que é a própria Verdade.
Foi rudemente rompendo inteiramente com o passado, dentro de nós mesmos, que encontramos aquilo que é perpétuo, que não é passado e nem futuro, que não tem começo e nem fim, que é Eterno. Tendo por esse meio encontrado aquilo que é perdurável — e não existem outros meios — gostaríamos de dar aos outros o entendimento.
Krishnamurti, 1929