Para você viver de modo verdadeiramente grandioso, você deve ter pleno entendimento do propósito da vida. Este pleno entendimento, do qual unicamente provêm as verdadeiras ideias, conduz à uma vida harmoniosa, à incorruptibilidade do pensamento e à perfeição do amor. Queremos estabelecer dentro de cada um de vocês, o equilíbrio, a harmonia que é a verdadeira criação.
O que é a sua vida? Se você a observar de modo impessoal e cuidadosamente, verificará que a sua vida está entravada por pequenas e contínuas manias e angústias, por aborrecimentos, depressões, incertezas, esperanças vãs de consecução, por um implorar e um rogar, por descontentamentos e ambições infrutíferas, e pelo prazer que sempre termina em lágrimas. Este é o estado interno de todo ser humano: um torvelinho, uma luta contínua e um esforço infindável. Qual a causa disto? Sustentamos que as suas ideias sobre a vida, não correspondem ao que é Eterno.
Sustentamos que para viver com grandeza, com êxtase de propósito, você necessita colocar a raiz de suas ideias no Eterno, no perdurável.
Para você vencer esta incerteza, esta enorme luta, este caótico combate, suas ideias, sua vida, sua razão, seus pensamentos, seus afetos, devem ter o seu ser naquilo que é Eterno.
É na sua vida diária que você tem de realizar a eternidade. É em todas as suas ações, em cada um de seus pensamentos, em cada um de seus sentimentos, que você deve contemplar a eternidade. Você não pode fugir para um outro mundo em busca da felicidade. É enquanto vive neste mundo que você precisa encontrar a Verdade. É pelo processo de viver neste mundo, que você atinge a vastidão da vida. São seus pensamentos diários, seu amor de todos os dias, seus atos jornalísticos que criam a luta, a angústia, o prazer, a solidão, a corruptibilidade da vida. É com essas coisas que o homem está a todo instante lutando, e em sua expressão de luta, ele rouba a luz de terceiros, e cria o caos ao redor de si. É somente pelo encontro da Verdade, que você modifica essas expressões.
Portanto, se faz necessário o descobrimento da Verdade; ela deve ser estabelecida na conduta da sua vida, pelo modo como você trata as pessoas, na maneira pela qual as julga, nas ações que nascem do pensamento e do afeto. A Verdade somente reside neste processo. No processo de estabelecer a incorruptibilidade, de atingir a perfeição do pensamento e do amor, é que a Verdade se encontra.
Você não deve fazer disto uma religião, um dogma, ou uma crença, porém, pela conduta de sua vida, você deve mostrar que compreende e que tem seu pensamento e seus afetos, radicados no eterno, o qual, sustentamos, é a libertação de toda a corrupção, pois a corrupção é uma limitação. Portanto, você deve buscar a incorruptibilidade do eu, o eu que está dentro de cada um, pelo esforço individual, não coletivo, pois somente nesta incorruptibilidade do eu, é que reside a liberdade.
Liberdade do eu limitado é verdade. Conhecimento do Eu ilimitado é vida eterna, é libertação, esse equilíbrio que é verdadeira criação. Pois o eu é o Eterno, ele não tem começo e nem fim, não conhece morte e nem nascimento. ELE É. O eu limitado, que existe em cada um em estado de corrupção, está buscando estabelecer esta incorruptibilidade, a qual é a verdade. No processo de tornar esse eu incorruptível, é que reside a libertação.
Você precisa entender isto, e deste entendimento, fazer derivar suas ideias da vida. Então, tudo o que você fizer, sejam quais forem as suas ações, seus pensamentos e sentimentos, trarão eles a marca da eternidade. Das manifestações do eu limitado, das expressões da sombra, você busca suas razões de conduta e extrai suas conclusões. Sustentamos que isto é errado e resulta no caos que lhe rodeia. Porém, se você quiser entender a verdade e estabelecer suas ideias na verdade, deve buscar a esse eu e torná-lo incorruptível. Somente desta verdade você deve tirar suas ideias e viver continuamente focalizado nessa verdade.
Dessa primavera terna, a qual é a incorruptibilidade do eu, que é vida, devem nascer seus atos, pensamentos e seu amor. E então, você será como a chuva que desce sobre as terras estéreis, tornando todas as coisas renovadas e frescas, outorgando deleite e êxtase, destruindo aquelas perversões e ilusões, que os homens tomam como realidade.
Krishnamurti, 1929