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quarta-feira, 11 de abril de 2018

Existe algo além do tempo, algo imensurável?


Existe algo além do tempo, algo imensurável?

[...] Existe algo além do tempo, algo imensurável, atemporal; mas, para o encontrardes, para o descobrirdes, deveis lançar a base adequada; e para lançardes essa base, cumpre despedaçar a sociedade. Por “sociedade” não entendo a estrutura externa; não se trata de dinamitar edifícios, de tirar as roupas e vestir um manto de sannyasi, de tornar-se eremita; isso não fará ruir a sociedade. Quando falo de sociedade, refiro-me à estrutura psicológica, à estrutura interna de nossa mente, de nosso cérebro, aos processos psicológicos de nosso pensar; estes têm de ser completamente destruídos, para que se possa descobrir, criar uma mente nova. Vós necessitais de uma mente nova, porque, se observardes o que se está passando no mundo, vereis cada vez mais claramente que a liberdade está sendo negada pelos políticos, pelo progresso, pelas religiões organizadas, pelos processos mecânicos, técnicos. Mais e mais os computadores estão substituindo o homem, e está certo que assim seja. A virtude está sendo “produzida” com preparados químicos: tomando determinado preparado químico, podeis ficar livre da cólera, da irritabilidade, da vaidade; podeis quietar vossa mente, tomando um calmante, e podeis tornar-vos muito pacífico. Como vedes, vossa virtude está sendo regulada quimicamente; já não precisais submeter-vos à tirania da disciplina para vos tornardes virtuoso. Tudo isso está ocorrendo no mundo. E, assim, temos de criar um novo mundo, não no sentido químico, nem industrial ou político, porém espiritualmente — se posso usar esta palavra já tão gasta, tão desvalorizada pelos políticos, pelos religiosos. Não podeis ser espiritual se pertenceis a alguma religião, a alguma nacionalidade. Se vos denominais hinduísta, parse, muçulmano ou cristão, nunca sereis espiritual. Só sereis espiritual ao destruirdes a estrutura social de vosso ser — isto é, o mundo em que viveis, mundo de ambição, de avidez, de inveja, de sede de poder. Para a maioria de nós, esse mundo é a realidade, e nada mais o é; é a ele que todos nós aspiramos; do mais alto político à mais insignificante pessoa do povo, do maior dos santos ao devoto vulgar — é a ele que todos aspiram. Se não o quebrardes, não importa o que façais, nunca tereis amor, nunca atingireis a felicidade, e estareis sempre em conflito e aflição.

Assim, como disse, vamos investigar a estrutura da sociedade. Essa estrutura é produzida pelo pensamento; a estrutura da sociedade nasceu no cérebro que atualmente possuímos — o cérebro de que agora nos servimos para adquirir, competir, tornar-nos poderosos, ganhar dinheiro honesta ou desonestamente. O cérebro é o resultado da sociedade em que vivemos, do meio cultural em que crescemos, dos preconceitos, dogmas, crenças, tradições da religião; tudo isso é o cérebro — resultado do passado. Examinai a vós mesmos, por favor, não vos limiteis a ouvir o que se está dizendo.

Há duas maneiras de escutar. Uma delas é: ouvir meramente as palavras e seguir o seu significado — e isso é escutar, ouvir comparativamente, quer dizer, comparar, condenar, traduzir, interpretar o que se está dizendo. É o que faz a maioria das pessoas; é assim que escutamos. Quando se diz uma coisa, vosso cérebro imediatamente a traduz— por efeito de reação — em vossa própria terminologia, vossas próprias experiências; e, ou aceitais o que agrada, ou rejeitais o que desagrada. Estais apenas “reagindo”, não estais escutando. E há a outra maneira de escutar. Esta requer imensa atenção, porque nesse escutar não há tradução, não há interpretação, nem condenação, nem comparação; estais escutando, simplesmente, com todo o vosso ser. A mente capaz de escutar tão atentamente compreende de imediato; está livre do tempo e do cérebro, que é o resultado da estrutura social em que fomos criados. Enquanto esse cérebro não se tiver tornado de todo quieto — mas ao mesmo tempo intensamente atento, ativo —, enquanto isso não ocorrer, cada pensamento, cada experiência será por ele traduzida de acordo com seu condicionamento e, por conseguinte, cada pensamento, cada sentimento se tornará um obstáculo à investigação total.

Vede, senhores, a maioria das pessoas aqui presentes é parse, hinduísta ou cristã. Desde a infância vos dizem que sois hinduísta; essa lembrança se conserva por associação nas células cerebrais; e cada experiência, cada pensamento é traduzido segundo esse condicionamento; e esse condicionamento impede a vossa compreensão total da vida. A vida não é a vida de um hinduísta, ou de um cristão; a vida é algo muito mais vasto, muito mais significativo, que a mente condicionada de modo nenhum pode compreender. A vida é ir para o emprego; a vida é sofrimento; a vida é prazer; a vida é extraordinário senso da beleza; a vida é amor; a vida é pesar, ansiedade, sentimento de culpa — tudo isso. E se não a compreendeis, nada descobrireis. Não há “saída” do sofrimento. E, para compreender a totalidade da vida, o cérebro deve estar completamente quieto — o cérebro que está condicionado pelo meio cultural em que fostes criado, por cada pensamento, que é reação de vossa memória, por cada experiência, que é “resposta” a desafio, “resposta” do passado, nele concentrado. Se não compreendermos todo esse processo, o cérebro nunca ficará quieto. E para que possa nascer uma mente nova, é absolutamente necessário que o cérebro compreenda a si próprio, esteja apercebido de suas próprias reações, seu próprio embotamento, estupidez, condicionamento. O cérebro deve estar apercebido de si próprio e, por conseguinte, deve “interrogar” a si próprio, sem buscar resposta, porque toda resposta será projetada do seu próprio passado. Por conseguinte, quando “interrogais” interessado numa resposta, a resposta estará ainda dentro dos limites da mente condicionada, do cérebro condicionado. Assim, ao “interrogardes” — o que significa que estais apercebido de vós mesmo, de vossas atividades, de vossas maneiras de pensar, de sentir, de vossa maneira de falar, de andar, etc.— não busqueis resposta, porém apenas, olhai, observai. E vereis que, como resultado dessa observação, o cérebro começará a perder o seu estado condicionado. E quando isso acontecer, estareis fora da sociedade.

Assim, o mais importante de tudo é vos investigardes — e não o que o Sankara, Buda ou vosso guru vos disse; investigar a vós mesmo, investigar os movimentos de vossa mente, de vosso cérebro, os movimentos de vosso pensamento.

E mutação difere de mudança. Por favor, escutai, prestai atenção! Mudança implica tempo, gradualidade, mudança implica continuidade do que foi; mas, mutação implica uma quebra completa e a verificação de algo novo. Mudança implica tempo, esforço, continuidade, modificação que requer tempo. Na mutação, não existe o tempo; ela é imediata. O que nos interessa é a mutação, e não a mudança. O que nos interessa é a completa e imediata cessação da ambição, e essa quebra imediata da ambição é mutação — que ocorre imediatamente, que não admite o tempo.

Continuaremos a examinar esta questão. Mas, por ora, procurai aprender o significado disto: até agora vivemos através de séculos de tempo, mudando gradualmente, gradualmente moldando nossa mente, nosso coração, nossos pensamentos, nossos sentimentos; nesse processo temos vivido, em constante sofrimento, constante conflito; nunca houve uma dia, nunca houve um momento de completa libertação do sofrimento; o sofrimento sempre existiu, escondido, reprimido. E a coisa sobre que agora estamos falando é uma terminação completa e, portanto, uma total mutação; e essa mutação é a revolução religiosa. Explicaremos isso, um pouco, nesta tarde.

O importante é compreender a capacidade de ver, a capacidade de escutar. Há duas maneiras de ver — só duas. Ou vedes com o conhecimento, com o pensamento; ou vedes diretamente, sem conhecimento, sem pensamento. Quando vedes com o conhecimento, com o pensamento, o que realmente sucede é que não estais vendo, porém interpretando, dando opiniões, impedindo a vós mesmo de ver. Mas, quando vedes sem pensamento, sem conhecimento — o que não significa que, quando vedes, vossa mente está “em branco”; a o contrário, vedes completamente — esse ver é o fim do tempo e, por isso, há mutação imediata. Por exemplo, se sois ambicioso, dizeis que gradualmente mudareis — esse é o hábito que a sociedade sempre aprovou; a sociedade inventou todos os meios e modos possíveis, de vos livrardes a pouco e pouco de vossa ambição; no entanto, no fim de vossa vida sois ainda ambicioso, estais ainda em conflito — e isso é completamente infantil, sem madureza. Madureza é enfrentar o fato e dar-lhe fim imediato. E podeis pôr fim ao fato prontamente quando o observais sem pensamento, sem conhecimento.

O conhecimento é a acumulação do passado, da qual brota o pensamento. Por conseguinte, o pensamento não constitui o meio de promover a mutação; ele impede a mutação. Por favor, tendes de examinar isto muito atentamente, e não apenas aceitá-lo ou rejeitá-lo. Considerarei isso durante estas palestras; mas procurai desde já apreender o seu significado, o seu perfume. Porque, para mim, só há mutação, e não mudança. Ou sois ou não sois; não se trata de, quando sois ambicioso, cuidardes de tornar-vos menos ambiciosos; isso é proceder como os políticos que falam da extinção da política e do poder, e continuam na política. São falas insinceras. O que nos interessa é a terminação imediata, para que possa nascer uma mente nova.

E vós necessitais de uma mente nova, porque um novo mundo precisa ser criado — não pelos políticos, não pelos indivíduos religiosos, não pelos técnicos, porém por vós e por mim, que somos simples pessoas comuns; porque somos nós que temos de mudar completamente, somos nós que temos de operar uma mutação em nossa mente e nosso coração. Isso pode ser feito imediatamente, desde que possais ver o fato e “permanecer com o fato” — sem procurar pretextos, dogmas, ideais, fugas; “permanecer com o fato” totalmente, completamente. Percebereis, então, que o ver completo põe fim ao conflito. O conflito tem de terminar. É só quando a mente está por inteiro quieta, e não num estado de conflito, é só então que ela pode penetrar fundo nas esferas que estão além do tempo, do pensamento, do sentimento.

Krishnamurti, Nova Déli, 21 de fevereiro de 1962, A mutação Interior

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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill