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segunda-feira, 2 de abril de 2018

O medo destrói o amor

O MEDO DESTRÓI O AMOR

Num dia da semana, ver tanta gente, parece um absurdo, não? Espero que todos vocês não se incomodem de se escutarem uns aos outros. A última vez que nos encontramos aqui, no sábado, falamos sobre o que é o amor. Você pode recordar se esteve aqui. E vamos nos perguntar juntos, quero dizer, juntos, sobre este problema, muito, muito complexo. E se você não se importa, terá que pensar, não só concordar, não dizer, “Sim, você tem razão”, e depois seguir seu próprio caminho. Então, vamos nos perguntar juntos sobre o problema do que é o amor. Juntos. Não que o orador seja o único a falar, mas juntos vamos examinar. Isto não é uma conferência, não para instruir, ou guiar, ou ajudar. Isso seria muito estúpido, porque temos tido todo esse tipo de ajuda por gerações sobre gerações e ainda somos o que somos agora. Devemos começar com o que somos agora. Não o que temos sido no passado ou o que seremos no futuro. O que seremos no futuro é o que somos agora. O que somos agora, nossa avareza, nossa inveja, nosso ciúmes, nossas grandes superstições, nosso desejo de adorar a alguém, para dizer: “Você é um homem santo” e tudo mais. Então, isto não é uma conferência, não é um entretenimento, não é algo para se aceitar ou negar, mas estamos falando como dois amigos, ou se quiser, dois inimigos do outro lado da fronteira. Mas estamos falando juntos. Então, você deve exercitar seu cérebro, conduzi-lo, forçá-lo, pensa-lo.

Então, vamos entrar nesta pergunta: o que é o amor? E, para investigar profundamente, profundamente nisto, também devemos perguntar primeiro: O que é a energia? Energia. Cada gesto que você faz se baseia na energia. Enquanto escutamos o orador, você está exercitando sua energia. Viemos aqui desde uma longa distância, desde Benares, ou mais para cima, você tem que usar uma grande quantidade de energia. Certo? Para construir uma casa, plantar uma árvores, fazer um gesto, falar, desde a infância, desde bebê, o primeiro choro de um bebê, se baseia na energia, sustentando no momento pela mãe e assim sucessivamente. Não entrarei nisso. Então, devemos perguntar: o que é a energia? Está certo? Podemos continuar? Posso continuar, em alta voz continuamente, indefinidamente, porque tenho estado nestes últimos 60 anos, ou 70 anos, colocando o mesmo em diferentes palavras. Então, se amavelmente, escute seriamente, porque escutar é uma grande arte, talvez uma das grandes artes. Para escutar o que a outra pessoa tem a dizer, não interromper, não dizer, “Sim, estou de acordo com você e falaremos de outra coisa”. Temos que perguntar primeiro se você pode escutar em absoluto.  Isto não é uma conferência, ou uma instrução e tudo isso, estamos juntos examinando, questionando, duvidando, nunca, nunca aceitando o que o orador diz. Nunca. Certo? Não diga, “sim, estamos de acordo”; mas logo sigamos aceitando. Ele não tem autoridade. Então, começaremos.

O que é energia? Este tem sido uma das perguntas dos cientistas. E disseram que a energia é matéria. Certo? Mas, antes disso: o que é energia? Você compreende? Pode ser matéria. Pode ser todo tipo de coisas. Mas, o que é a energia? Energia primordial? Quem trouxe esta energia? Você está entendo o que estou falando? Não estou seguro (Risos) Porque esta tem sido uma pergunta muito, muito séria. Assim que estamos juntos fazendo uma longa viagem, juntos, você e eu caminhando pela mesma corrente. Você não está somente seguindo o orador. Não está só dizendo, “Sim, isso soa muito bem, como os Upanishads e o Gita e tudo o que tem sido dito, então o entendemos”. Tampouco é assim. Antes de nada, você tem que ter grandes dúvidas. Certo? Grande ceticismo, não é verdade, senhores? Não, não esteja de acordo, não esteja de acordo. Você não duvida de nada, aceita tudo. Então, a dúvida, o ceticismo de sua própria experiência, de seus próprios pensamentos, das suas próprias conclusões, duvidando, questionando, não aceitar nada de nenhum livro, inclusive os meus. (Risos) Sou somente um transeunte, não sou importante. E vamos perguntar juntos, isso é muito importante, por favor, juntos. Você sabe o que isso significa. Cooperando juntos para construir algo, perguntar a respeito de algo, ver o que está claro, o que é duvidoso, o que não está claro. Você o está fazendo. E o orador está fazendo isto, mas você tem que fazê-lo. Assim que estamos juntos caminhando por uma corrente muito longa. Você pode fazer com que essa transição seja muito, muito, muito forte corrente que lhe apagará, lançando-lhe aos bancos, ou pode lidar com isso. Então, isso requer sua energia. Certo? Requer sua energia.

Então, perguntamos: o que é a energia? Esse chamado do corvo é parte da energia. Certo? As árvores, os pássaros, as estrelas, a lua, o nascer e o pôr do sol, tudo é energia. Certo? Provavelmente você duvide, mas isso não importa. E seja o que for que você faça requer energia. O primeiro choro do bebê fora do útero, esse choro é parte dessa energia. Certo? Tocar um violino, falar, se casar, sexo, tudo na terra requer energia. Certo? Então, juntos perguntamos o que é esta energia, qual é a origem, qual é a fonte, como começou, quem criou esta energia? Por favor, cuidado, não diga “Deus” e fugir com isso. Não aceito a Deus; o orador não tem deuses. Está tudo bem? Você aceita isso? Você aceitará qualquer coisa, então, não importa, continuarei. Por favor, não se permitam a aceitar o que o orador está dizendo a qualquer momento, em seus livros, em suas falas, em seus vídeos em tudo isso. Então, o que é energia?

Não podemos existir sem energia. Certo? Não há existência na terra sem esta energia: as árvores, tremenda energia para tirar a água até a parte superior, toneladas dela. Essa é uma energia tremenda. Para construir um avião, centenas de pessoas são responsáveis por isso. Para ir até a lua e mais. Então, tudo o que fazemos, é energia. Certo? A bailarina, o violinista, o pintor, a casa mãe, o general do exército, tudo requer energia. Certo? Isso é um fato. Seja se você o aceita ou não, não importa. E estamos perguntando: o que é essa energia? A origem disto, não só: “sim, energia”. Ou aceite o que dizem os cientistas, que é a energia é matéria e tudo o mais. Não entrarei em tudo isso porque o orador tem falado com muitos deles sobre este assunto. E as pessoas religiosas dizem, “Deus” e isso termina. Ou algum guru o diz, e isso também termina. Não perguntam, não têm dúvidas. Eles não questionam, não têm ceticismo. Certo? Então, aqui estamos dizendo, se você pode, abandone tudo isso: seus livros, o que é sânscrito, o que as pessoas antigas têm dito, abandone tudo isso e deixe-o na beira do caminho e faremos uma viagem juntos. Se você não pode deixar tudo isso de lado, ou deixá-lo no caminho, não pode seguir ao orador, não pode entendê-lo. Certo? Não se incomode em entendê-lo, não importa. Mas, desafortunadamente, você escuta muitas palavras, e você diz, “Sim, isso soa razoável”, e assim sucessivamente. Não estamos lidando com palavras; as palavras não são a montanha. A palavra “montanha” não é a montanha. Certo? A palavra “K” não é o K. Você compreende tudo isto? Então, seu nome não é você. É, para lhe reconhecer, mas seu nome não é você. Creio que isto é importante de entender. A palavra não é o real. Certo? Está claro? A palavra “árvore” não é a árvore. A palavra “árvore” não é isso. Certo? Então, devemos ser muito cuidadosos agora, não estar preso com as palavras. Pergunto-me se seguem tudo isto. Certo, posso continuar porque meu amigo me deu um sinal, meu velho amigo.

E vamos entrar em algo, isso requer sua energia, todo seu cérebro, que é matéria, que é a experiência acumulada de milhões de anos, e toda essa evolução significa energia. Certo? Assim que estou dizendo... Pergunto-me, você está perguntando por si mesmo, então começo a perguntar-me: há energia que não esteja contida, ou estimulada, ou que se mantenha dentro do campo do conhecimento? Você entende? No campo do conhecimento. Quer dizer, dentro do campo do pensamento. Por favor, não esteja de acordo com isso. Eu gostaria de cegar-me a mim mesmo, porque você está de acordo com cada maldita coisa que está se passando. Então, pergunto-me: há uma energia que não se ajunta, se estimula, aparada pelo pensamento? Você entende? O pensamento lhe dá muita energia. Para ir ao trabalho todas as manhãs às 9 em ponto, ou às 8:30, o pensamento lhe faz, lhe dá essa energia. Certo? Devo ganhar mais dinheiro, ter uma casa melhor. Certo? Pensar, pensar, lhe dá a energia. Creio que se necessitarem duzentas ou trezentas pessoas ou três mil pessoas para construir um foguete que foi à lua. Certo? Então, tudo isso requer energia. Entrelaçar a mão e dizer: “Como vai você?”, reconhecer velhos amigos sentados ali, alegro-me de que tenham encontrado um lugar, podemos ver. Então, pergunto-me, se pensar, pensar, pensando no passado, pensando no futuro, planejar para o presente, isso dá uma tremenda energia. Certo? Não é verdade, senhor? Pensando. Devo construir uma casa, assim que vou ao arquiteto, estou de acordo com ele, e assim sucessivamente. E requer uma grande quantidade de energia para ser educado. Certo? Por ignorância, como o chamam — não digo que seja ignorância —, por não saber matemática, gradualmente você aprende e energia para ir à universidade e logo se converter numa espécie de algo ou outro. E você tem um trabalho, para isso todos os dias da sua vida se vai. Ou você se retira a uma idade precoce e morre. Assim que penso — por favor entenda isto, é muito importante que assim o faça — o pensamento cria esta energia para construir um avião. Pense no que está envolvido nisso. Centenas de pessoas estão trabalhando nisso, passo a passo, passo a passo, o construíram, e produziram o 747, ou o que seja, a máquina mais maravilhosa que nunca pode se dar mal — o homem pode fazer com que se dê mal. E assim sucessivamente e assim sucessivamente. Então, o pensamento é um instrumento extraordinário para criar energia. Certo? Posso continuar? Certo.

Se você não vê isso como um fato real, então estará fora da marca. Certo? Se não o vê como um fato real, esse pensamento cria uma tremenda energia. Quer se converter num homem rico, trabalha para chegar a ser um homem rico. Certo? Você quer fazer algum tipo de louca propaganda e trabalha muito duro; você se une a grupos, seitas, gurus e todo esse tipo de negócio. Então, o pensamento é um instrumento extraordinário de gerar pensamento. Certo? Pensamento que gera energia. Certo? Não esteja de acordo. Então, temos de investigar muito, muito, muito a própria natureza do pensamento. Certo? Não digo, bem, todas as desculpas. Não se preocupe com isso. Cai ontem e me machuquei, isso é tudo. Isso está encerrado. Você pode prestar atenção a outra coisa. Assim, penso que tem planejado esta sociedade, que tem dividido o mundo em Ásia e Europa, o comunista, o socialista, o capitalista e o republicano democrata, tudo foi criado pelo pensamento. É simples. O exército, as forças armadas, a força área, para matar, não só para o transporte, senão também para matar. Isto é óbvio, não? Então, o pensamento é muito importante em nossa vida, porque, sem pensar, não podemos fazer nada. Certo? Para que você venha de longe, o planejamento é necessário, os ajustes, pegar um trem, um avião, pegar um ônibus, etc., etc., tudo isso faz parte de seu pensamento. Certo? Então, o que é você está pensando?  Resolva isso, não me escute. O que está pensando? Você não pode viver sem um certo tipo de pensamento. Certo? Planejando, regressando para a sua casa, voltar aos seus trabalhos e tudo mais, você está casado, sexo e... Tudo está contido no processo de pensamento. Então, o que você está pensando? O orador tem falado muito disso, assim que não retorne aos seus livros. Não diga, “Sim, já lhe ouvi antes”. Mas aqui, esqueça-se de todos os livros, todas as coisas que tenha lido, porque devemos nos aproximar disto de maneira nova.

Então, pensar está baseado no conhecimento, certo? Se não tenho nenhum conhecimento, como vir aqui ou tomar um ônibus ou isto ou aquilo, você não estaria aqui. Então, conhecimento, memória, pensamento. Certo? E temos acumulado um tremendo conhecimento: como vendermos, como explorar-nos uns aos outros, como construir pontes, como criar deuses e templos, temos feito tudo isso. Os vários ashrams onde estão todos... — você sabe todo esse negócio —, certo tipo de campo de concentração. Então, o pensamento tem feito tudo isto. Criou o exército, as forças armadas, o avião. O pensamento também tem, através do conhecimento, templos e todo esse negócio. Então, sem experiência não há conhecimento. Certo? Sejam lógicos, senhores. A lógica é necessária até certo ponto. Mas se você começa sem a lógica, sem clareza, então pode fazer — se tornar supersticioso, imaginativo, chegando a conclusões, construindo templo e todo esse tipo de bobagens. Então, sem experiência, não há conhecimento. Os cientistas estão agregando algo novo todos os dias. Por favor, siga isto com cuidado, se não se importa. A experiência é limitada, certo? Porque estamos agregando mais e mais a isso através do conhecimento. Experiência, conhecimento armazenado no cérebro como memória e logo esse é o conhecimento do pensamento. Certo? Estou certo? Tenho razão? O que você diz? Deus, você não sente nada? Então, a experiência é sempre limitada. Certo? Porque está agregando mais e mais e mais, todos os dias no mundo científico, em sua própria vida, você aprende algo mais. Então, a experiência é limitada, portanto, o conhecimento é limitado, a memória é limitada e, portanto, o pensamento é limitado. Certo? Estou são ou louco? (Risos)

E vivemos por pensamento. Então, nunca o reconhecemos, ainda que o pensamento possa imaginar o céu e o inferno mais extraordinários, os deuses olímpicos dos gregos, os deuses egípcios, você sabe algo de tudo isso? Não, não importa. Então, seu pensamento é sempre limitado e teus deuses a quem o pensamento tem criado sempre será limitado. Certo? Sei que você não gosta disto, mas não o discute. Então, seus deuses, seu pensamento, por mais amplo que seja, ou por mais estreito que seja, tudo isso é limitado. E, a partir desta limitação, tratamos de encontrar a energia. Você entende o que estou dizendo? Tratamos de encontrar a origem, o começo da criação.

Então, o pensamento tem criado medo. Certo? Não? Não é assim? Você não tem medo do que pode ocorrer dois aos depois? Não? Não tem medo de perder seu emprego, de não passar nos exames, de não subir no escalão — sabe o que quero dizer com subir no escalão: obter mais e mais e mais sucesso. E você tem medo de não poder cumprir. Tem medo de não poder estar só, ser forte para si mesmo. Certo? Você sempre depende de alguém. Tudo isso gera tremendo medo. Certo? Não vai me piscar?

Então, um de nossos fatos cotidianos é que somos pessoas amedrontadas. Certo? Você estaria de acordo com esse fato tão simples? Que somos pessoas assustadas? O medo surge quando queremos segurança. Certo? Você só escuta. De acordo, continuarei. Não se inquiete, continuarei. O medo destrói o amor. Você não pode ter amor sem... O amor não pode existir onde está o medo. O medo é uma tremenda energia por si mesmo. E o amor não tem relação com o medo. Estão totalmente divorciados. Certo? Então, qual é a origem do medo? Certo? Tudo isto é para entender, estar vivo à natureza do amor. Se você não entende tudo isto, logo vê e continua com o que esteja fazendo. Seja feliz com isso, divirta-se, ganhar dinheiro, posição e todo esse blá blá blá. Mas, se você quer entrar nisto com muito cuidado, não só tem que examinar o que está pensando e as máquinas, os computadores estão fazendo isso maravilhosamente, você não sabe nada, o último. Falei com alguns dos professores na Inglaterra, pouco antes de chegar à Índia, antes que o orador chegasse à Índia. Há computadores que podem pensar para trás e para frente. Você entende o que isso significa? Eles podem pensar o que tenho... Você tem que se levantar as seis, portanto, tem que planejar levantar-se às seis. Certo? E depois das seis, o que tem que fazer. E creio que a isso se chama... esqueci, retornarei. Então as máquinas, por favor, entendam isto, as máquinas, os computadores... Sabem essa piada? Você está orando para Deus, e há um computador ao lado, de joelhos, e o computador diz: “Para quem você reza? Deus está aqui” (Risos) Não senhor, não sabe o quão sério é. Então... Arquitetura, essa é a palavra. Quando — só aprendi isso recentemente e posso estar equivocado, posso ser corrigido — um computador puder pensar o que lhe ocorreu e planejar o que ocorrerá no futuro. O que o cérebro está fazendo, você entende? Você planeja vir aqui, gasta tanto dinheiro, tanto tempo e logo retorna, segue adiante. Então, os computadores podem pensar para frente e para trás, o que creio se chama arquitetura, podem ter mudado o nome por hora. Vou perguntar a um dos especialistas daqui.

Então, pensar tem criado medo. Certo? Pensando no futuro, pensando no passado, e não ser capaz de se adaptar rapidamente ao meio ambiente, etc., etc. Então, pensamento é tempo. Certo? Não, você não compreende. Continuarei. Pensamento do amanhã, o que poderia ocorrer, minha esposa poderia me deixar ou poderia morrer. Sou um homem solitário, então, que devo fazer? Tenho vários filhos, assim que é melhor me casar, voltar a casar com alguém ou outro, porque ao menos pode cuidar dos meus filhos. E assim. Isso é pensar o futuro baseado no passado, não é verdade? E então o pensamento e o tempo estão envolvidos nisto. Certo? Pensando no futuro, futuro sendo depois de amanhã ou amanhã e pensar nisso causa medo. Certo? Então, o tempo, o pensamento, são os fatores do medo. E o sabemos, temos examinado o pensamento, temos examinado o tempo. O tempo é o passado, o presente e o futuro. O nascer do sol e o pôr do sol, plantar uma semente e converter-se numa grande árvore. Isso é tempo. E também temos o tempo interior: eu sou isto, mas me coverterei em um rico milionário. Sou cobiçoso mas, dê-me tempo, não o serei — talvez na próxima vida. E assim sucessivamente e assim sucessivamente. Então, o tempo e o pensamento são os fatores centrais do medo. Estou buscando um relógio.

Audiência: Dez e seis.

K: Grato. Então, tenho falado durante uma hora e quanto?

Audiência: Quarenta minutos.

K: Isso tudo? Que lástima! Portanto, deixe-me terminar isto. Deixe-me outros vinte minutos, se não se importam. Você se importa? Não lhe tomarei muito tempo. Não fará nenhuma diferença se você me escuta ou não. Você continuará exatamente da mesma maneira como tem vivido. Não mudará, não fará nada, porque está preso numa rotina, em um sulco, em um padrão. E você continuará e a morte estará logo aí. Certo?

Então, estamos investigando algo que pode ser que você não entenda, mas não importa. O tempo, o pensamento, são nossos principais fatores da vida. E ambos tempos interiormente, eu sou isto, mas serei isso, ou tenho sido, serei, sou, serei — tudo isso implica tempo. E o tempo é pensamento, não são duas coisas separadas. Ambos são movimentos.

Então, o que significa a morte? Compreendem, senhores? Que lugar em minha vida tem a morte, o sofrimento, dor, ansiedade, solidão, todas essas coisas terríveis pelas quais tenho passado?

Muito obrigado.  Senhor, será melhor pegar o seu relógio. Quem pode lhe dar? Poderia perdê-lo, ou você poderia perdê-lo.

Você entende, senhor, por favor, compreenda isto muito cuidadosamente. O tempo, o pensamento, são os fatores centrais da vida. E estamos dizendo que o pensamento e o tempo são os fatores do medo. Isso é um fato, goste você ou não.

Então, o que tem que ver o sofrimento com o tempo? Você está seguindo tudo isto? O que tem o sofrimento, a dor, a ansiedade, a solidão, o desespero? E todo o trabalho que atravessa o homem, o que tem isso?... É isso toda nossa vida? Você entende o que estou perguntando? Estamos viajando juntos. Você não está sentado aí e escutando a um orador sem sentido. Estou lhe perguntando. Esta é sua vida, não é verdade, senhores? Fatos, não imaginação. Você nasce, é educado e  se encaixa em BA, MA, e tudo o mais, doutores, para conseguir um trabalho ou se converte num grande Primeiro Ministro, ou ministro, pelo amor de Deus, entende? Esta é sua vida. Esta é sua consciência. Sua consciência está composta de seus medos, de seus conhecimentos, de seu tempo, você já sabe, consciência. Seu conhecimento, tudo está em sua consciência. E, nessa consciência, da qual você é, essa consciência que você sempre pensou que fosse sua, “minha”, “minha consciência”. Entendem minha pergunta? Não cruze as pernas, simplesmente sente-se comodamente como você estava. Estou lhe observando, não mude de repente. Sua consciência, se a examinar com muito cuidado, não examiná-la através de juízos, avaliações, o que você sabe, mas sim a examiná-la com muito cuidado, sua consciência está composta de seu conteúdo. Certo? Entende o que digo? O que você pensa, qual é a sua tradição, qual é a sua educação, quantos medos, se você quer mudar para uma nova esposa, ou se vai a um certo templo, tudo isso, solidão, medo — é o que você é! Você pode pensar que é divino por dentro, mas ainda está pensando. Quando você diz: “Sim, há Deus em mim”, ainda é produto do pensamento.

Então, sua consciência, que é o que você é, não fisicamente, mas psicologicamente, internamente, que é a sua consciência é a consciência da humanidade. Escute cuidadosamente. Não aceite nada do que eu lhe disse. Todo ser humano nesta terra passa por isso: tristeza, dor, ansiedade, incerteza, insegurança, lutas, persuasão, quere isto, não querer. Tudo isso é o que você é. Se você imagina que é um deus encarnado, isso é parte do pensamento. Certo? Pensamento — como assinalamos — isso é limitado. 

Então, sua consciência, o que você é, é o resto da humanidade. Todo homem passa por isto, ou todas as mulheres. Todo ser humano passa por isto. Certo? Cada humano: seu vizinho, seu pai, sua avó, e as últimas gerações em todo o mundo. Então, você não são indivíduos. Isto é um golpe. Não o aceite. Examine-o, não diga, “Está podre” ou, “Não é um fato porque o Gita disse algo ou os Upanishads dizem algo, ou a Bíblia diz algo”. É um fato que você, seu sofrimento, sua dor, sua ansiedade, seu conhecimento, é comum a — não usarei “comum” — é compartilhado por cada ser humano. Certo? Então, você não é uma alma separada, um Atman separado. Sei que você não gosta disto porque você foi criado para engolir tudo o que se passa.

Então, deve haver liberdade do medo, das feridas, de todo tipo de coisa que os seres humanos têm reunido. Deve haver liberdade, você entende, não só palavras. “A Índia deve estar livre do resto do mundo”. Isso é uma besteira. Ninguém pode viver só, necessitam de um amigo, necessitam alguém para ajudar.  Então, estamos tratando de averiguar, de investigar o que é o amor. Certo? Estamos dizendo, enquanto houver medo de qualquer tipo, biologicamente, medo do apego, medo da perda, medo de qualquer tipo, o outro não pode existir. Se há algum tipo de arquivo adjunto, o outro não pode existir, e o outro é o amor.

Então, vamos perguntar, se o tempo o permite, logo vendo tudo isto, desde o começo, desde o bebê até o homem adulto, vendo o que é o mundo e indagando sobre o que é a morte. Porque todos estamos tão assustados com a morte? Você entende? Você sabe o que significa morrer? Não tem visto dezenas de pessoas assassinadas, feridas ou... não? Não? Você é uma pessoa estranha, ou o que? (Risos) Você pertence a um planeta diferente? Temos visto a morte. Nunca investigamos profundamente sobre o que é a morte. É uma pergunta muito importante, como o que é a vida. Você entende? Dizemos que a vida é tudo isto — podridão. Temos dito que a vida é conhecimento, aprendizado, você sabe, todas essas coisas, ir ao trabalho regularmente todos os dias às 9 em ponto ou às 10 em ponto, luta, batalhas, querer isto e não querer, está seguindo? Sabemos o que é viver. Certo? Uma série de ações produz uma série de reações e tristeza, dor, essa é a nossa vida.

Então, se isso é viver, o qual é, não diga: “Sim, viver é algo extraordinário acima”. Isto é viver: lutas, divórcios, lutas. Mas nunca temos investigado seriamente o que é a morte. Você entende do que estou falando? Sabemos o que é viver, se você é honesto e pode imaginar o que quiser, mas isto é viver. Você pode imaginar que o céu está aí e Deus lhe faz um festo com a cabeça, cada oração é respondida e tudo isso se apodrece. Ao menos para mim, para o orador. Mas nunca temos investigado seriamente o que está morrendo. Está bem, senhor? O que está morrendo?  Morrer deve ser algo extraordinário, não? Uma coisa extraordinária. Tudo se findou: seus arquivos adjuntos, seu dinheiro, sua esposa, seus filhos, seu país, suas superstições, seus gurus, seus deuses... Tudo se foi. Certo?  É possível que deseje levá-lo ao outro mundo, mas não pode pegar seu dinheiro, sua conta bancária, certo? Seus arquivos adjuntos, seus gurus, seus templos.  Você pode inventar templos mais acima, não depois da sua morte, mas enquanto você vive pode inventar todos os deuses na terra. Mas quando chega a morte e diz: “Olhe, você não pode levar nada consigo. Todos os seus arquivos adjuntos, todos os seus afetos, todas as suas feridas, todas as coisas que você reuniu na vida, você não pode carregar, não há espaço para isso”. Certo? Então a morte diz: “Seja totalmente desapegado”. Certo?  Isso é o que ocorre quando chega a morte. Não tem ninguém em quem possa se apoiar, não há nada. Certo. Você entendeu isto? Você pode acreditar que reencarnará na próxima vida. Essa é uma ideia muito reconfortante, mas pode não ser um fato, pode ser sua imaginação, seu anseio, seu “não posso deixar a minha esposa, tenho desejado tanto para um filho, mas o encontrarei na próxima vida, assim que o repreenderei”, e assim sucessivamente.

Então, estamos tratando de descobrir o que significa morrer — enquanto está vivo, não se suicide, não estou falando desse tipo de besteira. Quero saber o que significa morrer. Não saltar no rio, não me refiro a isso, ou ir aos Himalaias e morrer ali.  Mas quero descobrir por mim mesmo o que significa morrer. O que significa que posso estar totalmente livre de tudo que esse homem tenha criado, incluindo-me a mim mesmo? Sabe que há uma piada italiana, perdão por repeti-la: “Todo mundo morrerá, quem sabe, incluindo a mim”. (Risos). Então, quero descobrir qual é o fato real quando a more diz, é o suficiente. Certo? Você quer investigar isso? Não.  De verdade quer sabê-lo?  O que significa morrer? Renunciar a tudo. Certo? Não sacrificar, não use essas palavras tolas. Ela lhe corta com uma lâmina muito, muito afiada, de seus apegos, de seus deuses, de suas superstições, de seu desejo de conforto, a próxima vida e assim sucessivamente, etc. Assim que averiguarei o que significa a morte, porque é tão importante como a vida. Então, como posso averiguar, na realidade, não teoricamente? Fazer avaliações a respeito e formar sociedades e, você já sabe, todo esse circo. Mas na realidade que averiguá-lo, já que você quer saber. Estou falando para você, assim, que não se ponha a dormir.

Então, o que significa morrer? Você é muito saudável, o corpo está funcionando, não há enfermidade, como K, aos noventa e um anos, não tem nenhuma enfermidade, nem dor, etc., etc., porque tenho visto especialistas, doutores. Então, o que significa morrer? Faça-se essa pergunta, não me escute. Enquanto você é jovem, ou quando é muito velho, esta pergunta está sempre aí. Certo? Sempre pergunta e exige o que significa morrer. Você está interessado nisto? É você? Oh, não, não mova a cabeça, senhor!Sabe o que significa? Para ser totalmente livre, estar totalmente desacoplado de tudo o que o homem tenha juntado ou que tenha reunido, totalmente grátis. Sem arquivos adjuntos, sem deuses, sem futuro, sem passado. Você tampouco sabe o que significa tudo. Não vê a beleza disso, a grandeza de si mesma, a extraordinária força da mesma. Então, enquanto vive, você morre. Entende o que isso significa? Enquanto vive, a cada momento se está morrendo. Assim que durante toda a vida, você não está se apegando a nada: sua esposa, seu pai, sua mãe, sua avó, seu país, sua... Nada. Porque isso é o que a morte significa. Certo? Pode desejar outra vida. Isso é demasiado fácil, demasiado simples, demasiado idiota.

Então, a vida se está morrendo. Você entende? Viver significa todos os dias que você está abandonando tudo ao que está apegado, ao que você adora, ao que pensa, ao que não pensa, seus deuses, seu país — nada! Você pode fazer isso? Pode fazer isso? Um fato muito simples, mas tem tremendas implicações. Para que cada dia seja um novo dia. Você entende? Cada dia você está morrendo e encarnando. Oh! Você não entende! Há uma grande vitalidade, energia ali. Você entende? Porque não há nada de que tenha medo. Não há nada que possa lhe irritar, não pode ser ferido.

O pensamento é limitado, portanto, não tem importância; tem importância porque tenho que levantar-me e partir em cinco minutos, mas o tempo, o pensamento, o medo, o apego e todas as coisas que o homem tem ajuntado têm que ser totalmente abandonado. Isso é o que significa morrer. Deus pode estar esperando para lhe salvar no céu, tudo isso soa tão ridículo. Então, você pode fazê-lo? Você o tentará? Experimentará isso? Não só por um dia. Cada dia. Não, senhor, não pode fazê-lo. Seus cérebros não estão treinados para isto. Seus cérebros têm sido condicionados tão fortemente por sua educação, por sua tradição, por seus livros, por seus professores, por seu... tudo o mais. Isto requer averiguar o que é o amor. E o amor e a morte caminham de mãos dadas. Porque a morte diz: “Seja livre, não conectado, nada que você possa levar consigo”. E o amor diz... Não há palavra para isso. Então o amor pode existir só quando há liberdade, não de sua esposa, de uma nova filha ou de um novo esposo, mas da sensação, da enorme força, da vitalidade, da energia completa.

Na próxima vez que nos encontrarmos, falaremos sobre religião e meditação. Espero que esteja bem.  Lamento que só haja três palestras, mas o orador não pode continuar. Vocês entendem? Ele tem noventa anos e se isso é o suficientemente bom. Acabou-se, senhor!

Krishnamurti, segunda palestra em Madras (Chennai),
01 de janeiro de 1986
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"Quando você compreende, quando chega a saber,
então traz toda a beleza do passado de volta
e dá a esse passado o renascimento, renova-o,
de forma que todos os que o conheceram
possam estar de novo sobre a terra
e viajar por aqui, e ajudar as pessoas." (Tilopa)



"Nos momentos tranqüilos da meditação, a vontade de DEUS pode tornar-se evidente para nós. Acalmar a mente, através da meditação, traz uma paz interior que nos põe em contato com DEUS dentro de nós. Uma premissa básica da meditação, é que é difícil, senão impossível, alcançar um contato consciente, à não ser que a mente esteja sossegada. Para que haja um progresso, a comum sucessão ininterrupta de pensamentos tem de parar. Por isso, a nossa prática preliminar será sossegar a mente e deixar os pensamentos que brotam morrerem de morte natural. Deixamos nossos pensamentos para trás, à medida que a meditação do Décimo Primeiro Passo se torna uma realidade para nós. O equilíbrio emocional é um dos primeiros resultados da meditação, e a nossa experiência confirma isso." (11º Passo de NA)


"O Eu Superior pode usar algum evento, alguma pessoa ou algum livro como seu mensageiro. Pode fazer qualquer circunstância nova agir da mesma forma, mas o indivíduo deve ter a capacidade de reconhecer o que está acontecendo e ter a disposição para receber a mensagem". (Paul Brunton)



Observe Krishnamurti, em conversa com David Bohn, apontando para um "processo", um "caminho de transformação", descrevendo suas etapas até o estado de prontificação e a necessária base emocional para a manifestação da Visão Intuitiva, ou como dizemos no paradigma, a Retomada da Perene Consciência Amorosa Integrativa...


Krishnamurti: Estávamos discutindo o que significa para o cérebro não ter movimento. Quando um ser humano ESTEVE SEGUINDO O CAMINHO DA TRANSFORMAÇÃO, e PASSOU por TUDO isso, e esse SENTIDO DE VAZIO, SILÊNCIO E ENERGIA, ele ABANDONOU QUASE TUDO e CHEGOU AO PONTO, à BASE. Como, então, essa VISÃO INTUITIVA afeta a sua vida diária? Qual é o seu relacionamento com a sociedade? Como ele age em relação à guerra, e ao mundo todo — um mundo em que está realmente vivendo e lutando na escuridão? Qual a sua ação? Eu diria, como concordamos no outro dia, que ele é o não-movimento.

David Bohn: Sim, dissemos que a base era movimento SEM DIVISÃO.

K: Sem divisão. Sim, correto. (Capítulo 8 do livro, A ELIMINAÇÃO DO TEMPO PSICOLÓGICO)


A IMPORTÂNCIA DA RENDIÇÃO DIANTE DA MENTE ADQUIRIDA
Até praticar a rendição, a dimensão espiritual de você é algo sobre o que você lê, de que fala, com que fica entusiasmado, tema para escrita de livros, motivo de pensamento, algo em que acredita... ou não, seja qual for o caso. Não faz diferença. Só quando você se render é que a dimensão espiritual se tornará uma realidade viva na sua vida. Quando o fizer, a energia que você emana e que então governa a sua vida é de uma frequência vibratória muito superior à da energia mental que ainda comanda o nosso mundo. Através da rendição, a energia espiritual entra neste mundo. Não gera sofrimento para você, para os outros seres humanos, nem para qualquer forma de vida no planeta. (Eckhart Tolle em , A Prática do Poder do Agora, pág. 118)


O IMPOPULAR DRAMA OUTSIDER — O encontro direto com a Verdade absoluta parece, então, impossível para uma consciência humana comum, não mística. Não podemos conhecer a realidade ou mesmo provar a existência do mais simples objeto, embora isto seja uma limitação que poucas pessoas compreendem realmente e que muitas até negariam. Mas há entre os seres humanos um tipo de personalidade que, esta sim, compreende essa limitação e que não consegue se contentar com as falsas realidades que nutrem o universo das pessoas comuns. Parece que essas pessoas sentem a necessidade de forjar por si mesmas uma imagem de "alguma coisa" ou do "nada" que se encontra no outro lado de suas linhas telegráficas: uma certa "concepção do ser" e uma certa teoria do "conhecimento". Elas são ATORMENTADAS pelo Incognoscível, queimam de desejo de conhecer o princípio primeiro, almejam agarrar aquilo que se esconde atrás do sombrio espetáculo das coisas. Quando alguém possui esse temperamento, é ávido de conhecer a realidade e deve satisfazer essa fome da melhor forma possível, enganando-a, sem contudo jamais poder saciá-la. — Evelyn Underhill