A LIBERDADE
E A PRISÃO
KRISHNAMURTI: Me pergunto se esta manhã poderíamos
considerar o significado da percepção. Longe do que tenham dito os
tradicionalistas, os profissionais e as interpretações, o que significa a percepção?
O que é perceber? É um mero processo intelectual, uma capacitação visual, ou
uma combinação de ambas as coisas? É um estado psicossomático ou é algo
completamente diferente?
A mente capta muito mais que os olhos. Assim, pois,
quando falamos da percepção, que entendemos por essa palavra? É um processo
intelectual, uma conclusão verbal, uma compreensão verbal? O olho, vê em uma
dimensão linear ou horizontal?
Interlocutor B: Por
“olho”, você entende aqui o órgão sensorial?
KRISHNAMURTI: Sim.
SW: A percepção
do olho, a visual, a percepção sensorial do olho, é constante? Chegamos a esta
residência, eu vejo o desenho sobre o tapete. Prontamente o vejo e não o vejo.
O olho físico tampouco vê todo o tempo de um modo constante. Tem que haver
algum outro fator que o contato entre o objeto e os sentidos ao dar-me conta de
que “eu vejo”. A primeira tomada de consciência com respeito a minha intenção,
me vem deste modo.
KRISHNAMURTI: Não cheguei a esse ponto. Trato de
compreender o que é que essa palavra comunica. Não estou falando de atenção ou
desatenção. Tudo o que sei é que eu vejo. Existe a percepção visual. Existe a
percepção sensorial. Eu vejo a você sentado aí. Há, pois, a imagem sustentada
pela percepção sensorial, a qual se soma a capacidade intelectual do
pensamento. Isso é o que geralmente chamamos percepção, não é assim? Onde
intervém nisso a atenção ou a desatenção?
A: Eu vejo um
objeto. Então há uma imagem desse objeto. Logo está a recordação dessa imagem.
Depois vejo algo diferente, e outra vez começa todo o processo.
KRISHNAMURTI: Todas as impressões sensoriais, as
impressões que se registram — tanto as conscientes como as inconscientes —, as
diversas imagens, conclusões, preconceitos, tudo isso abarca a percepção.
Olhe, há a percepção visual e as diferentes imagens
que a percepção, as associações, os preconceitos, tem edificado. E eu vejo a
você, e tenho outra série de imagens. E assim, milhares e milhares de imagens
se registram, se gravam e são retidas nas células cerebrais. E quando me
encontro com você ligo minha atenção e as imagens emergem. Isto é o que
chamamos percepção, não é verdade? Este é o maquinário que opera na palavra
“percepção”, este é o processo operacional comum da percepção. Eu quero ver.
Isso é tudo o que sei. Onde renasce a dificuldade? Bem, o que há de errado
nele?
A: O fator de
sensibilidade e seus diversos graus, não são um elemento vital da percepção?
Minha percepção da sujeira é diferente de sua percepção. Podemos separar a
percepção, dos graus de sensibilidade? A percepção não é igual para você que
para mim.
KRISHNAMURTI: Quando tenho todas estas imagens
acumuladas, conscientes ou inconscientes, minha mente está carregada com elas.
Onde há ligar para a sensibilidade?
A: A percepção
não é um ato passivo da memória. Sempre há algo novo que está aí com cada nova
percepção. O fator do grau de sensibilidade é inerente a cada nova resposta que
eu chamo percepção. Eu não compreendo porque existe esse grau, nem de onde
provém, porque a ignorância é imponderável.
B: Ainda este
ver é como uma câmara fotográfica que vê seu obturador, mas não o objeto.
A: Se eu olho
através da ideia, então não há percepção.
KRISHNAMURTI: A que vê é uma mente atestada de
impressões e informações com relação ao objeto. A mente, o cérebro, toda a
estrutura jamais está vazia. Está cheia, e é através desta carga que observa.
Observa a você com suas próprias associações, com o ciúme, o prazer, a
dor. O que há de errado nele?
R: Nunca estou
frente a frente com o fato. Vejo que há percepção sensorial, logo as imagens,
depois o agrado, o desagrado; esses também são fatos. São fatos dos quais não
me dou conta.
KRISHNAMURTI: São fatos, tanto como o fato de que você
está sentado aí. O que ocorre, pois? Cada vez o vejo através de uma tela. O que
há de mal nisso? Não é um processo natural por acaso?
SW: Nesse
estado, eu não uso em absoluto.
KRISHNAMURTI: Primeiro quero ser claro com respeito a
isso. Há milhares de impressões, milhares de percepções sensoriais, milhares de
conclusões — abrangeremos tudo isso com a palavra “conclusões”. Através destas
conclusões, “olho”, e ao fazê-lo assim, as conclusões aumentam ou diminuem;
jamais desaparecem. Cada subsequente percepção sensorial reforça a mesma
percepção. Este é o processo que prossegue todo o tempo, ao longo de toda a
vida.
Assim é que a formação de imagens e a conclusão, são
do passado. A percepção é instantânea, e a conclusão se converte em passado. De
modo que eu o olho através dos olhos do passado. É isso o que fazemos. Esse é o
fato. O que há de errado nisso, senhor? Por que não devo olhá-lo desse modo? O
que começou como percepção não é, absolutamente, percepção. Todavia, não a
condene, isso é o que fazemos o tempo todo. Antes quero estar seguro de que
vamos mais longe. Avancemos devagar.
É assim que toda percepção se traduz em termos de
conclusões. Esse é um fato que todos conhecemos. Isso é tradição, não é assim?
Isso é experiência, conhecimento, tradição; tudo isso está contido na palavra
“passado” e na palavra “conclusão”; e essa é a estrutura e a natureza das
células cerebrais. As células cerebrais são o passado. Elas retêm a memória do
passado porque nisso há segurança, proteção — tanto nos processos biológicos
como nas acumulações psicológicas —. Há nisso uma tremenda segurança.
SW: De que modo
há segurança? Está se realmente seguro?
KRISHNAMURTI: Todavia, não o questione. Olhe-o. Se
assim não fosse, você não saberia seu nome, não saberia como ir a Bangalore,
não poderia reconhecer a esposa ou o marido. Nessa tradição, no conhecimento, a
experiência, as conclusões, existe o sentimento de completa segurança. Isso é
absolutamente certo.
SW: Não há nada
que perturbe.
KRISHNAMURTI: Qualquer coisa nova é perturbadora, e
como as células cerebrais necessitam de ordem, elas encontram ordem no passado.
A: Mas voltemos
a sua pergunta, o que há de mal nisso?
KRISHNAMURTI: Não há nada de mal nisso. Estou
examinando a natureza da percepção sensorial, visual, as operações do cérebro,
o mecanismo do pensamento e o modo como a mente opera; há segurança na
percepção, na imagem, na conclusão, no passado. Tudo isso é tradição. Na
tradição há segurança. No passado há segurança completa.
SW: A segurança
implica luta.
KRISHNAMURTI: A segurança implica o sentimento de não
querer ser perturbado; não sei se tem notado isso, o cérebro necessita ordem.
Pode estabelecer a ordem na desordem, que é neurose. Necessita ordem e,
portanto, achará ordem na desordem, e se tornará neurótico, você vê isso?
O cérebro exige ordem porque na ordem há segurança.
SW: Isso é
perfeitamente claro.
KRISHNAMURTI: Na tradição há ordem. Na continuidade há
ordem. O cérebro, buscando ordem, cria segurança, um porto em que se sente a
salvo. E vem “K” com ideias revolucionárias e lhe diz que isso não é ordem, e
então há conflito entre você e ele. Você reduz o novo a termos do velho e aí
encontra proteção, segurança. Por que a mente faz isso? A revolução russa e a
revolução francesa derrubaram toda a estrutura estabelecida, mas muito
prontamente o cérebro criou ordem da desordem, e se encerrou a revolução.
A: Temos
descoberto algo: no momento em que vejo algo novo que cria uma perturbação, a
percepção é o instrumento mediante o qual converto o novo em velho.
KRISHNAMURTI: Isso é o processo biológico do cérebro.
Para ele é uma necessidade biológica, porque nisso encontra o modo mais
eficiente de funcionar.
A: Você quer
examinar a inata capacidade do cérebro para ver, e a qualidade que tem de
deformar o novo?
KRISHNAMURTI: Espere, senhor. A menos eu veja que as próprias
células cerebrais compreendem o perigo do passado, o perigo de buscar segurança
no passado, as células cerebrais não verão nada novo. Se veem algo novo o
traduzirão em termos do velho. Portanto, as próprias células cerebrais têm que
ver o perigo imenso de considerar que a segurança pode encontrar-se no passado.
A: ...O qual
significa uma mudança total.
KRISHNAMURTI: Não sei nada. Só vejo percepção
sensorial, imagens, conclusões, segurança nas conclusões. Pode ser uma
conclusão nova, uma conclusão desordenada, mas há segurança ao; por neurótica
que seja essa conclusão, nessa neurose há segurança.
Veja a beleza disso. Esta é a verdade, e por isso é
bela. Como é que o cérebro, que insistentemente exige segurança, como fará esse
cérebro para ver que no passado não há segurança, senão que ela se encontra
sempre no novo?
As células cerebrais buscam segurança, tanto na
desordem como na ordem. Se você oferece ao cérebro um sistema, uma ordem
metodológica, o cérebro o aceita. Esse é todo o processo biológico, todo o
processo tradicional — segurança no passado, nunca no futuro nem no presente,
senão absoluta segurança no passado. Absoluta.
E isso é o conhecimento: o conhecimento biológico, o
conhecimento tecnológico e o conhecimento que tem se acumulado através da
experiência. No conhecimento há segurança, e o conhecimento é o passado. Qual é
então a pergunta seguinte?
SW: Existe uma
continuidade modificada neste processo. Isso cria uma sensação de progresso.
KRISHNAMURTI: Enquanto você tenha conhecimento, este
poderá ser continuado, modificado, mas isso seguirá estando dentro do campo do
conhecimento; aí está toda a coisa. O que há de errôneo nisto?
SW: Tudo o que
você disse é real. Sem dúvida, existe outro fator. Esta não é toda a coisa. Há
algo fundamental que falta nisto.
KRISHNAMURTI: O que é que falta nisto? Vá passo a
passo. Esta é a estrutura. O que é que não está de todo correto? Investiguemos.
O demonstrarei.
SW: Não há
permanência.
KRISHNAMURTI: O que você diz? O conhecimento é a coisa
mais permanente que há. Eu vejo que o conhecimento é necessário, e o
conhecimento é o passado; portanto, a mente sempre está vivendo no passado.
Assim, a mente é sempre prisioneira (Pausa).
Do que fala um prisioneiro? De liberdade. Por que você
não vê isto? Estando na prisão, ele fala de liberdade, moksha, nirvana. Ele sabe que sua prisão não é a liberdade, mas
deseja a liberdade porque na liberdade há alegria, há beleza, algo ocorre. Sua
vida presente é reinterativa, é uma continuidade mecânica. Portanto, tem que
inventar um ideal, tem que inventar um moksha,
um céu. Também no futuro há segurança, correto? Assim, inventa a Deus, persegue
a Deus, a verdade, a iluminação; mas enquanto inventa, está sempre ancorado no
passado. Este ancoradouro é necessário — biologicamente necessário —. Pode o
cérebro ver que o conhecimento é necessário, e pode o cérebro ver o perigo do
conhecimento, o qual produz divisão? É o conhecimento o fator que divide?
SW: Sim, certamente.
KRISHNAMURTI: Não esteja de acordo; “veja-o”. Podem as
células cerebrais buscar a segurança no conhecimento, e saber que no
conhecimento existe o perigo de divisão?
A: Sabendo que o
conhecimento é aqui necessário...
KRISHNAMURTI: E que também o conhecimento é um perigo
porque divide.
SW: ver ambas as coisas ao mesmo tempo é difícil.
KRISHNAMURTI: “Vê-las” ao mesmo tempo. De outro modo
não as “verá”.
A: O que é que o
conhecimento divide?
KRISHNAMURTI: O conhecimento é divisor em si mesmo. O
conhecido e o desconhecido. Ontem, hoje e amanhã. O hoje é modificado pelo
ontem, que é o passado, e também o amanhã se modifica. Nisso há divisão. O
conhecimento é: “Eu lhe conheço”; aí está a imagem, a conclusão. Mas você,
entretanto, tem mudado. Minha imagem de você nos divide. O conhecimento é
segurança. E podem as células cerebrais que buscam segurança no conhecimento,
saber que o conhecimento é necessário a um nível, e que em outro nível é
divisório e, portanto, perigoso? O fator de divisão é a formação da imagem.
Podem, pois, as células cerebrais ver que o conhecimento é necessário para
estar fisicamente seguro, e ao mesmo tempo ver que o conhecimento baseado na
imagem que se deriva da conclusão, é divisório? Qual é então o próximo passo?
SW: Existem dois
tipos de formação de imagens. No conhecimento também há um registrar, um
gravar, e isso também é um modo de formar imagens.
A: Nós estamos
empregando o conceito “formação de imagens”, e nele há certo conteúdo
emocional. No outro não é assim. Como uma fuga disto, surge a projeção de liberdade.
KRISHNAMURTI: O cérebro sabe que nisto não há
liberdade e, portanto, tem que inventar uma liberdade que esteja fora da
prisão. Quando você vê a estrutura completa do conhecimento, então está tudo
compreendido.
A: Há uma
pergunta que quero formular: é que a mente possui a capacidade de verbalizar
algo que ela não experimenta mas que desejará experimentar?
KRISHNAMURTI: Ainda não terminamos, senhor. O
conhecimento psicológico, tecnológico, biológico, está todo incluído na palavra
“conhecimento”. Eu vejo — a mente vê — que o conhecimento é tanto divisório
como unificador.
Nisto radica a escravidão do tempo. Mas as células
cerebrais sabem também que nisto não há liberdade, e elas necessitam liberdade.
Na liberdade pode ser que se encontre a super-segurança, por isso é que desde
tempos imemoriáveis o homem tem falado de liberdade. Mas como a liberdade não
se acha dentro da prisão, o homem sempre tem pensado na liberdade como algo
exterior. E nós dissemos que a liberdade está aqui, não fora, correto?
SW: O desejo de
liberdade, é uma característica biológica? Não é também biológico o desejo de
uma super-segurança?
KRISHNAMURTI: Há liberdade, pois, em todas estas
coisas que o pensamento tem construído, inclusive no pensamento de liberdade? O
cérebro não pode encontrar liberdade nisto, de modo que diz: o pensamento tem
construído esta liberdade dentro da prisão; portanto, a liberdade deve
encontrar-se fora.
SW: Em outras
palavras, há liberdade no conhecimento?
KRISHNAMURTI: Há liberdade no passado? O conhecimento
é o passado. O conhecimento é a acumulação de um milhão de anos de experiência.
A experiência dá liberdade? Obviamente, não. Existe então uma coisa tal como a
liberdade?
SW: Não sei.
Vejo que a liberdade não se encontra fora. Isso é uma projeção. E sem dúvida,
não há liberdade internamente.
KRISHNAMURTI: Não sei. Sempre tenho pensado na
liberdade como algo externo. Todos os livros religiosos, as práticas, a tem
considerado desse modo. Pode ser que haja liberdade absoluta aqui.
Eu já entendi: sei, o cérebro sabe, o pensamento se dá
conta de que ele tem criado esta prisão. Tudo o que o pensamento sabe é que ao
exigir segurança, tem criado a prisão. E ele deve ter segurança, de outro modo,
não pode funcionar. Assim é que o pensamento e pergunta onde se acha a
liberdade. A busca em alguma parte onde ela seja perceptível, onde não seja
projetada, nem formulada, nem inventada, onde na seja a projeção do passado, o
qual segue sendo conhecimento. A liberdade tem que estar em alguma parte.
A: Ela é um ato
de percepção?
KRISHNAMURTI: Este é um ato de percepção. Visualmente
eu lhe percebo; a percepção visual tem criado tudo isto, tem criado o
conhecimento. O conhecimento e o não-conhecimento são ainda projeções do
processo de pensar.
R: O que é
não-conhecimento?
A: Nós
concebemos o desconhecido como a liberdade.
KRISHNAMURTI:
Portanto, o desconhecido é o conhecido. Agora é muito simples. Esta é a
estrutura das células cerebrais que com suas recordações, são as responsáveis
do pensamento. Esta é a estrutura do pensamento. Este nos diz que o
conhecimento é necessário. Mas como se tem questionado, o pensamento diz que
tampouco ali há liberdade. Então, que é a liberdade? Há em absoluto uma coisa
semelhante?
A: Nós só vemos
que qualquer coisa das que são produzidas pelo pensamento, não é liberdade.
KRISHNAMURTI: Que diz, pois, o pensamento? Há
segurança nele? O pensamento tem criado tudo isto. Há intrinsecamente segurança
no próprio pensar?
SW: É o pensar o
que tem feito tudo isto.
KRISHNAMURTI: Portanto, existe a segurança? Tenho
suposto a existência da segurança. Tenho dito que devo possuir conhecimento,
mas, isso é segurança? Vejo as guerras, as divisões, o seu e o meu, o nós e
eles, minha família e sua família; há segurança nisto tudo?
Vê o que foi descoberto? No conhecimento há segurança,
mas não é isto que é o resultado do conhecimento. Assim que o próprio
pensamento se pergunta: há segurança na própria estrutura do pensar? Correto?
Há segurança no passado? Há segurança na tradição? Há segurança no
conhecimento? As células cerebrais tem buscado segurança nisso, mas, existe tal
segurança? As células cerebrais têm que ver por elas mesmas que não há
segurança aí. Para mim, O que ocorre então? (Pausa).
Eu vejo que não há segurança aí. Para mim, esse é um
tremendo descobrimento. Então, o pensamento se pergunta: qual é o próximo
passo? Eu devo matar-me — disse o pensamento —, devo destruir a mim mesmo
porque eu sou o maior dos perigos.
Bem, agora, quem é o “eu” que vai destruir a si mesmo?
Portanto, o pensamento torna a dizer: “não devo dividir”.
SW: Assassina o
assassino.
KRISHNAMURTI: A prisão é o prisioneiro, o assassino é
o assassinado... Há, pois, um fim para o “mim mesmo” sem divisão? A divisão
significa contradição. Pode terminar-se o “mim mesmo” sem esforço algum? Nisso
está a condição de sensibilidade. Então, pode o pensamento cessar por si mesmo?
Para tudo isto tem sido necessária uma grande atenção, uma grande e lúcida
percepção sensível; avançar passo a passo, sem passar por alto nem uma só
coisa, constitui uma ação que tem sua própria disciplina, sua própria ordem. O
cérebro é agora completamente ordenado, porque tem seguido passo a passo, vendo
suas próprias atitudes lógicas, explorando em coisas que não possuem segurança,
vendo que ele tem buscado sempre a segurança na divisão. Agora vê que na
divisão não há segurança; portanto, cada passo é um passo dentro da ordem e
essa ordem é sua própria segurança. De modo que a ordem é a percepção das
coisas como elas são. A percepção do que você é, não minha conclusão a respeito
do que você é.
Digo que perceber é ver as coisas como são, e não posso
ver as coisas como são se tenho uma conclusão a respeito delas. Portanto, na conclusão
há desordem. O pensamento tem buscado a segurança na conclusão, o qual tem propagado
a desordem, que é insegurança. Em consequência, ele recusa imediatamente a conclusão
porque necessita de segurança. Por conseguinte, o pensamento funciona só onde é
necessário — no conhecimento —, mas em nenhuma outra parte, porque em toda outra
parte a função do pensamento é a de criar conclusões, imagens. Portanto, o pensamento
toca a seu fim.
Rishi Vale, 24
de janeiro de 1971
Tradição e Revolução
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